Marcos acabara de sair do seminário quando assumiu seu primeiro distrito pastoral. Cheio de entusiasmo e planos evangelísticos, trabalho pessoal e crescimento da igreja, logo encontrou-se submerso no que ele mesmo pensou ser uma barragem de crítica injusta.

Algumas pessoas queixavam-se dos seus sermões; outros, do seu estilo de liderança. Um ancião achava que ele empregava demasiado tempo em casa. Outros se queixavam de que Marcos não era suficientemente receptivo às suas necessidades. Não importava o que ele fizesse, sem-pre tinha alguém que ficava insatisfeito. Às vezes, o desencorajamento era tão esmagador que ele chegava a questionar seu futuro como pastor.

Ninguém, evidentemente, gosta de ser criticado. Mas nenhum pastor pode evitar isso. Imaginar o contrário é pura fantasia. Assim sendo, nós que estamos engajados no ministério evangélico, ou aqueles que tencionam fazer parte dele, deveriamos perguntar-nos sobre qual a melhor maneira de responder ao criticismo. Se você entrega-se a um sentimento de autopiedade ou tem uma grande necessidade de afirmação por parte das pessoas, o ministério não é para você.

As pessoas raramente dão ao pastor apoio emocional, porque isso parece ser o desempenho impróprio de um papel reverso. Espera-se que o pastor seja uma fonte de força espiritual, nutrição e compaixão para com outros. Se o pastor, em contrapartida, busca reafirmação e apoio dos seus fiéis, para si mesmo, freqüentemente será uma ameaça para eles. Você, pastor, é a fonte de apoio para as necessidades emocionais do seu rebanho.

A causa mais comum de crítica ao pastor está enraizada na transferência, um fenômeno psicológico no qual o pastor é subconscientemente percebido como uma figura paternal. Isso significa que a reação das pessoas à autoridade ou aos problemas emocionais pendentes, trazidos da infância, será direcionada ao pastor. Indivíduos que se sentem negligenciados pelos pais, tendem a sentir a mesma coisa em relação ao pastor. Pessoas que sentem algum tipo de rejeição por parte de familiares ou amigos, verão rapidamente essa rejeição a elas, também no pastor. Aí a crítica será inevitável.

Ouvindo boatos

Devido à percepção de que o pastor é uma autoridade, as pessoas nem sempre empregam tempo e esforço para confrontá-lo diretamente. O que lhe chega aos ouvidos, em vez disso, é a crítica indireta. Nesse caso, o melhor é ignorar a crítica e deixar o tempo correr. Ouvir a crítica que vem através da fofoca pode dar uma dimensão exagerada a uma observação despretenciosa ou um resmungo insignificante.

O povo algumas vezes fala do pastor co-mo alguém poderia falar de um governante: como um símbolo, não um ser humano. Se o pastor dá ouvidos às queixas filtradas através de boatos, ele poderá ficar desanimado e perder a perspectiva. Depois de tudo, más notícias viajam mais rápido que as boas notícias. O boato raramente produz elogios. E as pessoas, algumas vezes em momentos de irritação, dizem coisas das quais podem se esquecer dez minutos de-pois. Nunca supervalorize os boatos.

Na verdade, algumas críticas podem ser abertamente hostis. Mais freqüentemente do que parece, isso representa simplesmente uma tentativa de influenciar o pastor a satisfazer as necessidades do crítico. Muitas vezes essa é a maneira que certas pessoas encontram para solicitar ajuda.

É interessante observar que o problema da transferência pode agir por outra via. Expressivos líderes locais podem ser encarados pelo pastor como uma ameaça, especialmente se eles têm uma postura crítica. Outrossim o pastor pode considerar seus administradores com as mesmas expectativas emocionais irreais que o povo alimenta em relação a ele.

Ouvir a crítica que vem através da fofoca pode dar uma dimensão exagerada a uma observação despretenciosa ou um resmungo insignificante.

Saídas

Felizmente, há instrumentos cuja utilização pode ser eficaz no enfrentamento da crítica. Enumeramos alguns deles:

Cultive sua rede de apoio. A melhor maneira do pastor enfrentar a crítica é bus-car apoio e conselho de outros ministros, amigos e colegas que não fazem parte da sua congregação. Aí está o ambiente mais apropriado para sentir-se humano. Livre do papel imposto pelas expectativas simbólicas e responsabilidades, o pastor pode conseguir apoio entre as pessoas mais aptas a compreender suas lutas.

Dê à crítica sua verdadeira dimensão. A crítica necessita ser processada, não engolida totalmente e crua. Compreenda que você provavelmente ouve a crítica mais ruidosamente que o louvor, e que a membresia satisfeita recebe a assistência, sente-se atendida, mas se esquece de expressar apreciação.

Seja sempre positivo. Não tente neutralizar o sofrimento causado pela crítica buscando afirmação positiva entre seus paroquianos; senão você será enfraquecido para enfrentar sentimentos mais dolorosos, se o apoio lhe for negado. Você pode, entretanto, dar demonstrações públicas de apoio e reconhecimento a outros. As pessoas são mais prontas a expressar apreciação se sentem que são apreciadas.

Mantenha o foco sobre sua identidade e missão. Deixe-se motivar pelo amor e assim busque alcançar as pessoas. Não acaricie as feridas ocasionadas por palavras. Algumas vezes, mesmo os amigos e protetores podem dizer palavras descuidadas. Não arrisque perder amigos por causa de uma crítica. Vá em frente. As pessoas que o criticam hoje, poderão elogiá-lo amanhã.

Permaneça calmo. Sob o estresse do trabalho, pressão e senso de alienação, é fácil exagerar a ameaça que a crítica pode trazer implícita. Aceite-a pelo que ela realmente é: um inevitável espinho no roseiral da vida. Ossos do ofício. Deixe a mente demorar-se sobre o positivo, alimentando-se de aspectos agradáveis do seu ministério, e não pelo que supostamente há de negativo.

Não se torne seu perseguidor. Por que definir-se a si mesmo de acordo com as mais negativas impressões dos outros? Toda pessoa pode cometer enganos. A vi-da é um processo de aprendizado, e o ministério é um trabalho que não tem fim. É verdadeira a crítica? O melhor que você pode fazer é corrigir a situação que a originou. Como esperar que os outros esqueçam seus erros se você mesmo não o faz?

Seja humilde. Ninguém pode trabalhar em um tal nível, ou manipular a opinião pública de tal maneira, que evite a crítica. Todas as pessoas precisam aprender a conviver com ela. O perfeccionismo é uma futilidade tão grande que os pastores não podem querer consegui-lo.

Não retalie. Isso é essencial. Não responda à crítica com crítica, nem fofoque sobre seus opositores. Tudo o que você conseguirá é ofender. Procure estar em paz consigo mesmo e coloque um ponto final no conflito, tomando a iniciativa de deixá-lo de lado, avançando em seu trabalho.

Finalmente, espere a crítica. Ela virá. É uma parte inevitável do trabalho. Mas com um pouco de calma neutralidade, nós podemos colocá-la em sua verdadeira perspectiva e, na realidade, usá-la como um instrumento para nosso crescimento

Desafortunadamente, essa foi a lição que Marcos jamais aprendeu. Ele retaliava, enervava-se, e tomava toda crítica como algo pessoal. Em dois anos, amargurado, desanimado e hostil à sua igreja, ele deixou o ministério.

Mas não tem que ser assim.