AIguma vez você já tentou descobrir a diferença que existe entre um discurso e um sermão? O objetivo do discurso é basicamente fazer uma exposição; enquanto a pregação tem como alvo final persuadir, ou seja, levar as pessoas a comprometer-se com a mensagem apresentada. Nesse sentido, a pregação é, de certo modo, como o trabalho da Colportagem. Que valor teriam uma grande abordagem do cliente, uma excelente apresentação do produto e uma extraordinária conclusão se a venda não fosse concretizada? Se você já colportou alguma vez, sabe perfeitamente que o que realmente importa não é que o cliente concorde com os benefícios do livro, mas que ele o adquira.

Alguns diretores de Publicações, inclusive, preparam uma folha de papel contendo argumentos para refutar as objeções do cliente. O colportor eficiente não aceita uma resposta negativa. A falta de dinheiro ou de tempo, o preço do livro, ou qualquer outra objeção não pode ser obstáculo que impeça a venda de um livro.

A mesma coisa acontece na pregação.

Infelizmente, muitos pregadores parecem ignorar essa verdade inquestionável. Um sermão somente alcança o seu objetivo final quando compromete os ouvintes com a mensagem apresentada. Ele pode ter sido uma obra prima da homilética moderna, com um título atrativo, introdução interessante, mensagem causadora de impacto, conclusão ao ponto, tudo entremeado de frases cativantes e ilustrações oportunas, mas, se ficar limitado a isso, o pregador simplesmente fracassou.

O apelo

Na verdade, todo o sermão é apenas o caminho percorrido pelo pregador, para chegar ao que realmente importa: a decisão das pessoas. O instrumento específico que ele utiliza para alcançar essa meta é o apelo.

Os mestres da pregação moderna, porém, estão divididos em dois grandes grupos. Martyn Lloid Jones, por exemplo, defende a idéia de que fazer apelos é ir contra a soberania de Deus. Segundo ele, o pregador deve apresentar a mensagem e deixar que o Espírito Santo realize a Sua obra no coração do ouvinte.

Billy Graham, por sua vez, afirma: “O apelo é a parte que se segue ao sermão, no qual eu convido as pessoas a se levantarem e vir à frente. Esse ato representa um compromisso com Jesus. É preciso dar aos ouvintes uma opção clara de aceitar ou rejeitar o evangelho.” (Ultimato, ano 19, nº 178, pág. 10).

Ao longo de minha vida, como pregador, aprendi que para alcançar o ser humano em sua totalidade não basta apresentar a verdade lógica, nem simplesmente tocar as emoções. É preciso ir um pouco mais longe, porque o homem, além de possuir intelecto e emoções, também possui um corpo. O apelo é o momento em que o pregador alcança o ouvinte na sua dimensão física, fazendo com ele levante a mão, acene com a cabeça, fique em pé, ou venha até a frente.

Nos escritos de Ellen White encontramos declarações contundentes, relacionadas com esse assunto: “Com a unção do Espírito Santo, que lhe incuta responsabilidade pelas almas, [o pregador] não despedirá a congregação sem apresentar-lhe a Jesus Cristo, único refúgio do pecador, fazendo apelos veementes que cheguem ao coração dos ouvintes. Deve ele ter a consciência de que talvez nunca mais se encontre com esses ouvintes antes do grande dia de Deus.” (Evangelismo, pág. 280).

“Ora, o ministro não deve meramente apresentar a Palavra de Deus de maneira tal que convença do pecado de forma geral, mas terá que exaltar a Cristo perante seus ouvintes. O que Cristo deles requer tem que ser esclarecido. As pessoas devem ser instadas a decidirem-se, precisamente agora, a colocar-se do lado do Senhor.” (Ibidem, pág. 283).

“Abandonai toda aparência de apatia, e levai as pessoas a pensar que há vida ou morte nestes assuntos solenes, segundo os recebam ou rejeitem. Ao apresentar verdades decisivas, perguntai amiúde quem de-pois de ter escutado as palavras de Deus, que lhes aponta o dever, está disposto a consagrar a Cristo Jesus o coração e a mente com todos os seus afetos.” (Ibidem, págs. 284 e 285).

“Existem em toda congregação almas hesitantes, quase persuadidas a se dedicarem inteiramente a Deus. A decisão está sendo feita para o presente e para a eternidade; mas muito amiúde acontece que o ministro não possui no próprio coração o espírito e o poder da mensagem da verdade, pelo que não faz apelos diretos às almas que tremem na balança. O resultado é que as impressões não se aprofundam no coração dos convictos, e saem da reunião sentindo-se menos inclinados a aceitar o serviço de Cristo, do que quando chegaram.” {Ibidem, págs. 279 e 280).

Vencendo o medo

Há muitos anos, depois de ler algumas das citações apresentadas, pedi a Deus que me ajudasse a nunca ocupar o púlpito apenas para preencher o tempo. Por isso, quando me encontro sozinho, durante minhas horas de estudo, peço ao Senhor que me ilumine no sentido de preparar justamente o tema que as pessoas estão necessitando ouvir. Mantenho-me em atitude de espera até que possa ter a consciência plena de que a mensagem que será apresentada é algo que poderá mudar vidas. Assim, desde o início da pregação, tento levaras pessoas a compreenderem a importância daquilo que estão ouvindo. Uso palavras simples, ilustrações que irradiam luz sobre a mensagem e, muitas vezes, frases de impacto.

Tento olhar cada rosto, e, para conseguir isso, movimento-me na plataforma. Também procuro encurtar a distância em relação aos ouvintes; não apenas a distância física, mas a psicológica, usando o pronome “você”. Falo como se estivesse pregando para uma só pessoa, embora ali estejam milhares, às vezes. Tudo isso tem em vista preparar o caminho para o apelo, o momento de puxar a rede.

É preciso ter cuidado para colher o maior número possível de decisões. Por isso a dependência do Espírito Santo é indispensável, porque a resposta do público não será outra coisa senão o fruto do Seu trabalho nos corações. Isso não dispensa a participação humana que deve ser feita da melhor maneira. “Este é o seu grande momento”; “Você não pode adiar esta decisão”; “É agora que você está sentindo a voz do Espírito Santo”; “Abra o coração a Jesus enquanto pode ouvir o Seu convite”; são frases que mostram a necessidade e a urgência da decisão a ser tomada. E aí termina a parte do pregador. O que vem depois é obra exclusiva do Espírito Santo.

Quando era jovem, eu temia que ninguém se levantasse no momento do apelo. Aterrorizava-me a idéia de não saber o que fazer se ninguém respondesse ao apelo. Hoje penso diferente. Sei qual é a minha parte e peço a Deus que me ajude a desempenhá-la bem. Insisto. Espero. Coloco-emoção nas palavras. Mas, apesar disso, já houve ocasiões em que ninguém se levantou. Fracassei? Não. O Espírito Santo fracassou? Também não. Apenas o ser humano exerceu a liberdade de aceitar ou rejeitar. Mas todos tiveram a oportunidade de decidir.

Sugestões

Se você quer ser usado por Deus, com poder, para levar pessoas à compreensão da verdade, conseguindo delas uma decisão em favor de Cristo, preste atenção aos seguintes conselhos:

Jamais termine um sermão sem fazer um apelo. Como já foi visto, existem muitas formas; mas o que realmente importa é que as pessoas tenham uma oportunidade de dizer sim ou não à mensagem apresentada. Termine seu sermão com um convite em forma de pergunta: “Não gostaria você de entregar seu coração a Jesus agora?”; “Você quer dizer a Deus que dará lugar a que o Espírito Santo o torne completamente vitorioso?”; “Deseja dar o passo definitivo para o batismo?” Depois disto dê um tempo para as pessoas responderem. Às vezes, uma oração silenciosa de 15 segundos, feita com o coração, é a melhor resposta.

Mostre a necessidade e a urgência da decisão. “Esta é a mensagem que Deus me confiou para Sua igreja hoje. Mas ela estará incompleta se você não se comprometer. Não basta receber a informação; é preciso que a mensagem se torne experiência em sua vida. Portanto, não quero sair do púlpito sem lhe dar a oportunidade de tomar sua decisão. Quer você…?”

Seja claro e honesto na hora do apelo. O apelo deve ser feito de maneira corajosa e sem hesitações, mas também com muito amor e carinho. O que você quer das pessoas? Que elas tomem a decisão para o batismo? Então peça isso de forma clara e cordial. Já vi muitos apelos estranhos, como por exemplo, pedir que as visitas levantem as mãos, e depois convidá-las para ir à frente receber um presente, ou receber uma oração. E depois o pregador diz que elas tomaram a decisão para um futuro batismo. Isso não é honesto. Quando elas levantaram as mãos não o fizeram para demonstrar disposição de serem batizadas, mas porque eram visitantes e como tais foram convidadas a fazê-lo. Acontece que o pregador foi levando-as com “esperteza” para uma decisão que elas não queriam tomar e, efetivamente, não tomaram.

Não faça apelos constrangedores, como dirigir-se pessoalmente a alguém, num lugar onde todos podem identificar a pessoa. Coloque-se em seu lugar. Como você se sentiria? Às vezes, o único caminho que há é levantar-se e “aceitar”, mas apenas pelo constrangimento causado pela situação. Algumas vezes tenho feito convites pessoais, mas em lugares onde havia milhares de pessoas, e a pessoa a quem me dirigia não seria identificada de forma alguma. E tem dado certo.

Leve seu auditório de decisões menores para maiores decisões. Jamais coloque as pessoas numa situação em que elas tenham que dizer não. Cada decisão negativa forma no coração de uma pessoa algo como uma parede de concreto que um dia ninguém poderá derrubar. Portanto, não peça decisões que o público não está preparado para tomar. Apesar do auditório ser formado por pessoas inteligentes e cultas, às vezes elas são como bebês que precisam ir crescendo nas suas decisões espirituais.

As pessoas respondem aos apelos por etapas. Os mais sensíveis se levantam logo que o apelo é feito. Espere-os com paciência, falando de vez em quando palavras de ânimo e encorajamento enquanto eles vêem à frente. Um hino cantado será um instrumento valioso que o Espírito Santo usará nessa hora para impressionar os corações. Depois que as primeiras pessoas responderam, pode estar seguro de que há um segundo grupo pronto a se levantar mas não tem coragem de fazê-lo. Insista com esse grupo. Diga-lhe que se hoje não for tomada a decisão, amanhã, com certeza, será mais difícil. Mencione que Jesus pode fazer tudo em sua vida, menos decidir por ele. Cada um terá que levantar-se e ir a frente. Sem estender-se muito, mencione casos como o do paralítico no tanque de Betesda, ou a mulher com o fluxo de sangue, onde a decisão pessoal foi vital. Você poderá ver então o segundo grupo de pessoas. Primeiro um, depois outro e outro. Mesmo quando esse segundo grupo já tiver respondido e você tiver a impressão de que ninguém virá, acredite, ainda existem pessoas sofrendo em seu coração. Descreva para elas esta situação: “Suas mãos estão suando? Suas pernas parecem de chumbo? Quer se levantar e não está conseguindo? Ouça agora a voz de Jesus.” Para esse terceiro grupo, costumo dizer: “Será que esta noite poderia esperar pelo menos cinco ou dez ou 15 mais?” Essa frase faz com que a rede comece a fechar para as pessoas. Ela transmite um sentido de urgência. “É agora, tem que ser agora.”

Certo dia, depois da pregação, aproximou-se de mim um homem que disse: “Pastor, há dez anos o senhor estava pregando e no fim fez um apelo para as pessoas entregarem o coração a Jesus e se unirem à Igreja de Deus na Terra. Muitas pessoas foram à frente. Eu as via, mas pessoalmente não queria nenhum compromisso. De repente, o senhor começou a descrever o que eu estava sentindo. Parecia que o meu coração era uma carta aberta. Tentei fugir de lá, mas o Espírito de Deus não permitiu que o fizesse e, finalmente, aceitei o convite. Hoje eu sou um ancião de igreja e queria agradecer-lhe por isso.”

Quando um pregador recebe testemunhos como esse, chega à conclusão que a pregação precisa ser levada a sério. E que dentro dela o momento do apelo é a hora quando o Espírito Santo concretiza tudo o que aconteceu ao longo do sermão. Não gostaria você de suplicar a Deus que continue usando-o com poder?