“E eis uma voz do Céu que dizia: Este é Meu Filho amado em quem Me comprazo.” (Mat. 3:17).

Jesus Cristo iniciou Seu ministério animado por essas palavras pronunciadas por Seu Pai celestial. São as mesmas palavras que um seminarista de teologia ou um aspirante ao ministério precisa ouvirem seus anos de preparo ou início do labor ministerial. Este artigo tem como objetivo partilhar alguns conselhos para esses dois grupos encontrados na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em primeiro lugar, apresentaremos um perfil dos adultos jovens. Em seguida, uma consideração sobre Cristo nosso modelo, unida a uma breve reflexão da teologia e dos adultos jovens. Finalmente, abordaremos alguns aspectos da vida social e financeira dos dois grupos.

Considerando que os estudantes do Seminário Adventista Latino-americano de Teologia, Salt, e os aspirantes ao ministério estão no primeiros anos da segunda década de sua existência, podemos chamá-los de “adultos jovens”. Quais são então suas principais características?

Primeiramente, eles vivem os anos do “estabelecimento”. Tendo amigos, porém com desejos de diferenciação própria. Um espírito criativo os induz a escolher hobbies, inclusive a vocação.

Também suas crenças e religião são submetidas a um rigoroso escrutínio da razão. No entanto, o professor pode saber que é possível viver sem todas as respostas para todas as perguntas.

Há uma mudança no foco da autoridade, transferida dos pais para si mesmos. Isso gera tensão emocional na forma de medo de enganos que comprometam o futuro. A tensão agrava-se pela diminuição dos anos da adolescência. A maioridade começa aos 18 anos, embora a Organização Mundial de Saúde considere os 19 anos.

Fisicamente falando, esta é a idade de ouro para ambos os sexos: 18 a 26 anos. No aspecto mental, devemos lembrar que, da adolescência à idade adulta, foram equipados com valores e crenças adquiridos no lar. Agora são expostos a novos desenvolvimentos da vida social (internatos) e a novos recursos externos. A habilidade de criticar, questionar, pode afetar sua relação com outros e poderia gerar uma quota de suficiência própria. Contudo, essa superestimação de si é frágil. Tal fragilidade revela-se ao encarar assuntos em solidão e isolamento relacionados com o ministério. Em suma, têm grande capacidade intelectual que usam de maneira crítica.

Suas transições espirituais não estão isentas de dificuldades. Da adolescência à juventude há mais que uma troca de mentalidade; é um processo doloroso de separação e reconstrução: internamento, decisões, prova da realidade, etc. Esse processo leva tempo, além dos quatro anos no campus. Busca liberdade de escolha, porém está muito consciente do grupo e é orientado em função dele.

Nesse processo espiritual, sua fé está mais associada com um verbo do que com um substantivo. É aqui onde se relaciona com outros, em uma experiência que implica compromissos e crenças em comum, amor e riscos.

O Modelo

Para um adolescente, jovem ou adulto jovem, o exemplo da formação de Cristo é crucial. Como isso aconteceu?

De acordo com Ellen White, “Jesus foi educado nas fontes designadas pelo Céu, no trabalho útil, no estudo das Escrituras, na Natureza e nas experiências da vida.” (A Ciência do Bom Viver, pág. 311).

Notemos as quatro fontes aqui assinaladas para a formação integral de um indivíduo. Aparentemente duas são dadas diretamente por Deus como a revelação de Si mesmo: as Escrituras e a Natureza. Entre-tanto, as outras duas, trabalho útil e experiências da vida, parecem ser transmitidas mediante a tradição. Os adultos retransmitem a sabedoria por preceito e exemplo em

Israel. Isso é explicado pelo fato de que essas duas fontes não são herdadas nem são instintivas. O trabalho prático foi um aspecto da vida e formação equilibrada de Cristo.

O centro da educação e formação é Cristo. Os discípulos “vieram a Cristo em cada fase da vida” (Atos dos Apóstolos, pág. 18). Outras alternativas educativas ou formadoras podem ser excludentes, unilaterais ou extremistas.

O trabalho deve ser visto como um aspecto de um todo integral. Tendemos a ser unilaterais ou extremistas. Os resultados sempre são nefastos, e até podemos citar alguns exemplos.

Do ponto de vista da formação ministerial, poderiamos ter, por um lado, um humanismo geral coroado com “coisas” divinas. Por outro lado, poderiamos ter o estudo especializado de matérias distintas não necessariamente relacionadas entre si.

O propósito da educação teológica é a saúde da congregação, e não a formação do futuro ministro. Em contrapartida, alguns professores vivem absorvidos pelos livros e não pela vida.

Falando de John Harvey Kellogg, Arthur White escreveu que ele “estava tão pressionado por seus deveres e responsabilidades que tinha muito pouco tempo para os interesses teológicos da Igreja”. (Ellen G. White.The Lonely Years, pág. 39). Ao lado disso, estavam sua impaciência com os que se demoravam em adotar suas idéias, seu interesse unilateral com a obra médico-missionária entre os pobres e necessitados. O resultado não poderia ser outro senão apostasia.

Tudo isso explica a razão pela qual a formação ministerial adventista mantém um ideal, um conceito do que não é e do que é: a educação teológica adventista não é educação para o ministério, mas educação no ministério, ou seja, no serviço ativo, incluindo o trabalho útil.

A teologia e o adulto jovem

Depois de mencionar algumas implicações práticas da formação de Cristo para um estudante de teologia, cabe aqui a pergunta: Como os estudos teológicos poderiam ajudar a um adulto jovem? Ou a um aspirante ao ministério?

Ellen White afirma que a teologia deve ser estudada sem descuidar-se a religião experimental. Da teologia aprendemos como é Deus: da religião, como viver em Deus.

James Fowler sugere um retorno à prática de um estudo devocional das Escrituras, e não simplesmente como uma busca de conhecimento com fins meramente intelectuais ou apologéticos.

Os estudos teológicos sistemáticos e aplicados têm o potencial de satisfazer as necessidades dos adultos jovens. Essas necessidades são as originadas pelo trabalho ministerial, o casamento e a paternidade. As deserções ministeriais acontecem em maior escala nas áreas vinculadas com a moralidade.

Os estudos teológicos podem conter o estudo dos adultos jovens bíblicos e suas etapas de desenvolvimento espiritual: Daniel (Dan. 1:3, 4, 6-9); Ezequiel (Eze. 1:1-3; 2:1-6); os três jovens hebreus em Babilônia (Dan. 3:12-28); Timóteo (II Tim. 3:15 e 16); João, o mais jovem discípulo de Cristo (Mat. 4:21; Mar. 1:19 e 20). A Bíblia também parece sugerir através dos escritos de Salomão, que há certas etapas no desenvolvimento integral de um crente. Seus escritos parecem denotar um progresso na vida. Nesse contexto, é provável que tivesse escrito Cantares em sua juventude; Provérbios em sua idade adulta, madura, quando foi capaz de fazer escolhas judiciais e, finalmente, pode ter escrito Eclesiastes quando era velho, estava preparado para escrever acerca da futilidade da vida. É interessante notar que ele dedicou Eclesiastes aos jovens (Profetas e Reis, pág. 58).

Conduta social

As imagens do fermento no pão e do sal no prato nos dizem do impacto social que Cristo espera exerçamos na sociedade, para seu bem. A vida social e financeira de um cristão tem muito a ver com esse impacto benéfico no mundo. Não buscamos apenas ser peculiares. Tampouco dividir o mundo entre os responsáveis e os irresponsáveis nesses aspectos. Uma vida sóbria em matéria social está relacionada com a missão e a terminação da obra de pregação.

Nos parágrafos seguintes o adulto jovem não encontrará receitas ou pressupostos ideais (que geralmente funcionam só na mente de quem os ensina), mas sugestões de atitudes a serem tomadas diante de certas situações da vida.

Solidão. Essa é uma área de real preocupação para o aspirante. Enquanto estudava no internato, desfrutou do companheirismo e proximidade de seus amigos e colegas. Muitas dessas amizades perdurarão. Mas, estando num distrito, essa proximidade não pode continuar. E mais, deve ha-ver uma certa distância entre o jovem ministro e os membros, não devendo ele mostrar favoritismo. É aqui que o aspirante enfrenta solidão, mas ele deve aprender a resolver esse problema por si mesmo. Dificilmente algo lhe poderá ser ensinado nesse aspecto. Um lar feliz com interesses comuns pode fazer muito para compensar essa dificuldade. Quão importante é para o aspirante e sua esposa terem hobbies e atividades para executarem juntos!

Esposa. A importância da esposa do aspirante não pode ser passada por alto. Ela pode ser uma ajuda real para ele de muitas maneiras. Não deveria manter-se alijada dos membros da igreja,, mas fazer sua parte no programa da congregação. Os membros a buscarão para obter conselho e direção. O Senhor pode abençoá-la a realizar fielmente sua tarefa, para glória do Seu nome.

Crítica. O aspirante jamais deveria criticar o trabalho do pastor titular ou antecessor, especialmente, diante dos membros da congregação. Podemos aprender duas coisas do trabalho de alguém: o que fazer e o que não fazer. O aspirante não é responsável pelas ações do pastor titular – se tem feito o melhor para apoiá-lo -, ou do antecessor. Deve ser absolutamente leal ao programa geral da congregação e não de-veria dar ouvidos às críticas, pois logo poderia ser tido como o “presidente da comissão de lamentos”. Essa não é a melhor função para um jovem ministro.

O respeito e a consideração mútuos parecem ser sempre a melhor atitude. “Tratemos com respeito aos membros jovens da família do Senhor. Os jovens que acabam de entrar no ministério podem cometer muitos erros, porém os ministros de mais idade não estão livres de cometer erros apesar dos anos de trabalho.” (Evangelis-mo, pág. 497). E mais: “Não é sábio comparar-nos com outros obreiros, falar de suas falhas, e levantar objeções com respeito a seus métodos de trabalho. Não seria uma surpresa se aqueles que estão trabalhando sob graves responsabilidades e que têm muitas provas que enfrentar, às vezes cometam erros. Sejamos familiares com o bem que tem sido feito por nossos irmãos e falemos disso.” (Idem, pág. 633).

Amizade. O jovem ministro deveria procurar ser igualmente amistoso com to-dos os membros, porém não ser íntimo de nenhum. Seu alvo é servir a toda a igreja. Nada de favoritismos. Também não deveria, jamais, solicitar simpatia da congregação, fazendo-a sentir compaixão dele. Essa prática não somente é antiética, mas pouco sábia. Uma das mais pobres relações que podemos favorecer é a de compaixão própria.

Reputação. A reputação do ministério, de outros colegas, está nas nossas mãos. O trato com homens de negócios, sexo oposto e os jovens deve estar permeado pelo conceito da dignidade e respeito ao ministério.

Ciúme. Existem três áreas de cuidado para o aspirante: a administração do tempo, a solidão e a ética ministerial. Muitas vezes, porém, os membros e interessados preferem levar seus problemas ao pastor titular, quando é o caso de existir, passando por alto o aspirante ou assistente. Ajudar alguém que enfrenta agudos problemas emocionais é enriquecedor. Mas quando acontece a situação descrita antes, o aspirante pode sentir-se enciumado. O fato é que todas as profissões têm o mesmo problema. É melhor aceitar essa conduta das pessoas como parte da vida e fazer o melhor em todos os casos. Mas o pastor titular pode ajudar o aspirante apresentando-lhe estudos de casos.

Conduta financeira

No ministério, as atitudes são tudo. Assumir uma sã atitude financeira é uma questão que deve ser adotada em meio da resolução de um dilema como de uma tensão. Nessa área, o dilema de muitos parece ser: até que ponto devo sacrificar minha vida presente para cuidar do futuro? Ou, colocando de outra maneira, que dimensão de minha vida devo favorecer: o futuro ou o presente? A resposta às duas perguntas determinará os hábitos financeiros diários de uma pessoa.

Existe uma tensão entre a tradição adventista e o tipo de mundo em que vivemos. Por um lado, quando lemos os conselhos de Ellen White e nos familiarizamos com a vida dos pioneiros do adventismo, temos a forte impressão de que eles sacrificaram seu presente, em favor do futuro. Seria tal atitude válida para hoje? De onde obtiveram eles esse conceito: da cultura social predominante, ou de outra fonte? É provável que de ambas as fontes.

Por outro lado, a sociedade do final do século XX é uma continuação ainda mais desenvolvida da filosofia que Paulo mencionou em seus dias: “Comamos e beba-mos que amanhã morreremos” (I Cor. 15:32). Lançados à morte, os homens vivem com máxima intensidade o presente, hipotecando seu futuro e o de seus filhos.

É provável que uma breve consideração bíblico-teológica nos ofereça alguns ele-mentos para tomar uma decisão frente ao dilema e tensão já mencionados.

Uma das chaves da relação entre Deus e Seu povo é a de promessa e cumprimento. Existe um fluxo e refluxo entre o que Ele prometeu a um indivíduo e o que este recebeu. O caso de Abraão ilustra bem es-se ponto. Em Gênesis 15, é-lhe prometida uma grande descendência, e ele acaba recebendo um filho, o da promessa, o do milagre. Hebreus 11 apresenta muitos que morreram sem haver recebido em seus dias a totalidade do que lhes foi prometido, porém não o fizeram com mãos vazias.

Tudo isso nos fala de um Deus que Se conduz com os homens com uma visão de futuro, sem deixar órfãos Seus filhos, na dimensão presente da vida. Israel aprendeu dessa maneira a ser mais responsável diante dos filhos que diante dos pais. Como evitar roubar-lhe ao futuro? Como evitar hipotecar o futuro dos filhos? A resposta nesses dias é muito simples: economizando desde já.

Portanto, responsabilidade financeira e economia não são uma herança da rica tradição adventista que nos chegou por uma indução sociocultural, mas fundamentada na Bíblia. Ter uma visão de futuro e cuidar dele é um método divino de ação.

Levar isso em consideração implica ausência de dívidas. Outra aplicação prática relaciona-se com o hábito de fazer um orçamento pessoal. Isso não significa coletar o que se pode receber e usar de acordo com os fundos que se tenha à mão intuitiva e espontaneamente. Fazer um orçamento é estimar as necessidades e desejos do casal (também aplicado à igreja local), e planejar ganhar o suficiente para cobrir tais gastos. É um elemento de incentivo para conquistar sempre mais.

Há outros aspectos da vida financeira que devem ser lembrados. Por exemplo, o uso de cartões de crédito. O acesso a uma conta-corrente bancária. Qual será a realidade para o ano 2000? Quem terá conta-corrente até o final do século: Os fatores confiança, antiguidade e credibilidade sempre foram de extrema importância na igreja e no mundo financeiro.

Deve-se também levar em conta os regulamentos denominacionais financeiros. A quem é melhor dever: a um membro da igreja ou ao Campo? Há também as ajudas vigentes (aluguel, equipamento, quilometragem, etc.).

Ofertas, liquidações, promoções ocasionais de produtos e alimentos devem ser aproveitadas pelo obreiro, pois significam oportunidade para economizar.

Uma atitude equilibrada nos aspectos social e financeiro será um sermão permanente e eloqüente que apressará a vinda do Senhor. Os estudos teológicos que combinam teoria e prática podem favorecer um desenvolvimento normal do adulto jovem. O modelo de Cristo, especial-mente como foi formado, é crucial para o jovem seminarista e o aspirante. O mesmo Pai celestial deseja repetir para os tais: “Tu és Meu Filho amado em quem Me comprazo.” Deus espera que os pastores de mais experiência tornem suas essas palavras e as apliquem de forma prática à vida dos seminaristas e aspirantes a ministros.