Estávamos em novembro de 1996, após dialogar com Manuel, um aluno que vibrava com o trabalho desenvolvido entre a juventude, atraído pela idéia de ser um capelão. Foi aí que me senti motivado a escrever este artigo.

Depois de seis anos na Capelania do ensino médio ou secundário, descobri que é possível partilhar alguma coisa com aqueles companheiros de ministério que estão iniciando esta saudável experiência e para aqueles que nutrem uma visão diferente a respeito do ministério de capelão escolar.

Tal como o pastor distrital, o professor, o médico-missionário e o colportor, o capelão também é um ministro de Deus. Aliás, nele se encontra o perfil pastor-mestre.

Considero ser o ministério da Capelania uma bênção inefável. Ao ser convidado a desempenhar o trabalho de capelão, pela segunda vez, aceitei o chamado sabendo que Deus nem sempre chama pessoas capazes, mas capacita a todos os que chama. Por isso mesmo, orei muito, consultei colegas que estavam no mesmo trabalho, ligados a instituições educativas próximas, e deles aprendi as noções básicas para iniciar o trabalho. Isso sem falar nas orientações valiosas recebidas de ex-professores.

No desenvolvimento dessa experiência, cheguei à convicção de que o capelão é o pastor da unidade educativa. Possui uma igreja com o número de membros equivalente ao registro de alunos da instituição. Os professores, além de ovelhas, também são seus mais íntimos colaboradores e diretores dos departamentos da igreja estudantil.

Tentarei apresentar o assunto a partir de duas perspectivas: a função óbvia do capelão na área docente, e sua função pastoral e evangelística. Na verdade, a separação existe somente para efeito de exposição, porque, na realidade, as duas funções formam uma unidade indivisível.

A experiência docente

A primeira preocupação era relacionada com o que deveria ensinar. Felizmente, para esse caso, já existia um programa básico de religião, com o conteúdo que serviu de pauta para escolher os temas e desenvolvê-los. Nesse ponto, foi simplesmente vital a informação de que o conteúdo programático poderia ser desenvolvido de acordo com as necessidades e realidades dos alunos.

Após haver relacionado a maior quantidade possível de idéias, comecei o trabalho de planejamento a fim de integrá-las ao processo ensino-aprendizagem. Anotei cada coisa que lia e que poderia ser util no desenvolvimento do meu novo trabalho. Sabendo que teria poucas regras, porém claras, anotei-as em uma ficha específica para cada curso.

Pela graça de Deus, foi possível construir um agradável ambiente na sala de auIa, que foi-se aperfeiçoando à medida que eu crescia em experiência. O único requisito era a presença dos alunos com a Bíblia, com o que estava assegurada a participação de todos, e me permitia tanto avançar no conteúdo regular como realizar jogos bíblicos.

Pela idade dos jovens atendidos inicialmente, entre 14 e 17 anos, as ilustrações foram uma das coisas que ocupou muito do tempo disponível, para tornar as aulas mais atrativas e participativas. Creio que, nesse sentido, foram uma ajuda significativa as experiências vividas com infanto-juvenis, das quais foi possível extrair magníficas lições. Além de tudo, encontrei um livro que continha experiências químicas aplicadas à religião, que representou mais um novo método para gravar as lições na mente dos alunos.

A Bíblia, os escritos de Ellen White, especialmente Conselhos aos Professores. Pais e Estudantes, e outros livros cristãos especializados no assunto constituíram-se uma fonte de inspiração e instrução. Todos eles apontavam na direção de que fosse empregada a maior quantidade de recursos audiovisuais. Entre as variedades, foram realizadas semanas especiais de oração, dentro das próprias salas de aulas, durante o período normal de estudo (quatro horas por semana). O pregador era o capelão e os alunos formavam a igreja, que inclusive ficava responsável pela organização do programa (plataforma, música, etc).

Pelo menos em uma oportunidade, eles mesmos fizeram um programa impresso e providenciaram uma caixa onde eram colocados os pedidos de oração. Com o passar do tempo, alguns deles foram os pregadores de outras semanas, para seus companheiros de curso. Não faltou tempo para a sociabilização. Várias vezes foram realizados jogos e brincadeiras, em sala de aula ou ao ar livre.

Os programas especiais do Departamento de Jovens, como koinonia e outros, também geraram um bom ambiente de trabalho com os alunos.

Pastor e evangelista

Buscando na Bíblia alguém que houvesse realizado um trabalho semelhante ao de um capelão, encontrei um bom modelo: Abraão. Embora o grupo pelo qual ele queria trabalhar não fosse semelhante a um grupo de alunos, há elementos que me serviram de motivação (Gên. 18:23-32). Descobri que era necessário ter uma comunhão muito íntima com Deus, para viabilizar o tipo de diálogo que o patriarca teve com Ele, ao interceder pela cidade de Sodoma. Insistiu seis vezes no mesmo pedido; eram amigos (Gên. 18:17; Isa. 41:8) e Abraão desfrutava de um bom testemunho diante do Senhor (Gên. 18:19).

Como cada classe tinha aproximadamente 40 alunos, a quantidade pela qual Abraão intercedeu (50) abarcava pouco mais de classe inteira. Sendo amigo de Deus, apelou para o Seu amor (Gên. 18:23 e 24). E o Senhor lhe deu a certeza de que, por amor a eles, os perdoaria. Aqui Ele deixa transparecer Sua justiça e misericórdia (Gên. 18:26). Na segunda intervenção, Abraão se reconhece como pó e cinza (Gên. 18:27), manifestando sua humildade.

Mas a preocupação pelo grupo continua. De 50 possibilidades, baixou para 45, 40, 30, 20 e, finalmente, dez. Por mais três vezes, Deus continuou repetindo que Sua resposta se ajustaria ao amor sentido por eles. Sabemos como terminou a história, porém quero ressaltar que esse modelo de capelão busca encontrar o melhor dentro de suas respectivas classes, e dá o melhor de si para que os alunos não apenas sejam bons estudantes, mas também se tornem excelentes cristãos. E intercede incessantemente por eles.

Por ocasião do início de cada ano letivo, no primeiro encontro, sempre solicitava aos alunos que preenchessem uma ficha com informações que me permitiam conhecê-los melhor. Dessa forma, conseguia saber algo a seu respeito. Depois de cada entrevista ou estudo bíblico, registrava a data e o conteúdo básico para acompanhamento posterior. Durante as tardes, ao realizar o trabalho de visitação nos lares, sempre tinha comigo as fichas, para facilitar a busca do endereço e anotar o que acontecia durante o encontro. Conseguia visitar praticamente 50% dos lares dos alunos e seus respectivos pais.

Às vezes, durante o recreio, procurava conversar com os alunos, no pátio ou no escritório da Capelania. Alguns que eram retirados da classe devido a algum problema, também eram recebidos no escritório. Os estudos bíblicos eram ministrados pessoal e coletivamente. Nesse trabalho também contava com a ajuda de outros colegas que concordavam em dar estudos bíblicos pessoais. Nos estudos coletivos, foi significativa a ajuda do pastor distrital.

Foram batizados tanto alunos como alguns pais. Cada ano, havia pelo menos duas cerimônias batismais. A média de batismos durante os anos de Capelania no Colégio Adventista do Chile foi de 20 pessoas. O ano de 1987 foi muito abençoado. Nesse período foram batizados 33 jovens, além de alguns pais, familiares, e professores não-adventistas. Essa proporção de batismos era como ganhar uma classe inteira para Cristo.

Aos pais e familiares também foram oferecidos diferentes programas como seminários, cursos de nutrição, estudos bíblicos, entre outros, o que permitia mais aproximação entre professores e pais. Tanto nos seminários como nos cursos e estudos bíblicos, pude contar com a ajuda valiosa dos outros professores. Esse trabalho de equipe continua dando bons frutos.