“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes.” (I Tim. 4:16).

Embora esse sábio conselho do apóstolo Paulo tenha sido legado ao jovem Timóteo, há 1933 anos, continua sendo muito oportuno para o ministério dos dias atuais. Timóteo, então pastor das igrejas cristãs de Éfeso, na Grécia, deveria precaver-se contra os muitos tipos de corrupção que grassava na sociedade dos seus dias. Quanto à doutrina, como bom pastor do rebanho da infante igreja cristã, deveria protegê-la contra a onda de falsos ensinamentos que a ameaçava a partir da sexta década do primeiro século.

O conselho é oportuno porque hoje, quase dois milênios passados, os dois fatores em tela – corrupção e falsas doutrinas – são bem mais abundantes e aperfeiçoados. É uma advertência tão oportuna como abrangente, pois são vários os aspectos da vida pessoal de um ministro sobre os quais ele deve exercer cuidado.

Saúde

O mesmo Paulo, dirigindo-se à igreja de Corinto, afirmou que o corpo é o “santuário do Espírito Santo” (I Cor. 6:19 e 20). Nosso ser inteiro é um complexo indivisível tripartite: corpo, espírito e alma, que merece redobrado cuidado a fim de que o poder do Espírito encontre boa recepção. O pastor tem o dever de zelar por sua saúde, alimentando-se adequadamente, exercitando-se regular-torna, dessa maneira, um exemplo positivo para o rebanho que lhe foi confiado.

Estando em boa forma física, ele se previne contra o estresse e outros distúrbios orgânicos. Conseqüentemente, a execução do seu ministério será mais vibrante, com resultados positivos, abundantes e perenes. Ele mesmo se torna, dessa maneira, um exemplo positi­ vo para o rebanho que lhe foi confiado. Já dizia Cícero, pensador romano, que “o exercício e a temperança são capazes de preservar parte da força da nossa juventu­ de, mesmo na velhice”.

Vida sexual

O relacionamento excessivamente liberal com o sexo oposto é um dos instrumentos mais bem-sucedidos, em todos os tempos, do arsenal de Satanás. O manda-mento é claro: “Não adulterarás” (Êxo. 2:14); e, no entanto, talvez seja um dos mais transgredidos atualmente.

Uma enquete entre as igrejas cristãs dá conta de um assustador número de líderes e ministros, que, precocemente, abandonam o ministério por causa de transgressão moral. Essa é uma razão pela qual o elevado conceito que o pastor hoje desfruta entre a irmandade já não é o mesmo que possuíam os pastores de antigamente, até meados deste século. Veja-se, por exemplo, os pioneiros heróis da História Eclesiástica, e poderosos pregadores do passado, tão venerados pelos cristãos.

Um deles, Carlos Spurgeon, conhecido como o “príncipe dos pregadores”, costumava advertir seus alunos: “Tenham cuidado consigo mesmos, para que não este-jam vazios daquela graça salvadora de Deus que oferecem a outros, e não sejam estranhos àquela obra eficaz efetuada por aquele evangelho que pregam; e para não acontecer que, enquanto proclamam ao mundo a necessidade de um Salvador, os seus próprios corações O negligenciem, e lhes falte interesse por Ele e por Seus benefícios salvíficos. Tenham cuidado consigo mesmos, para que vocês não pereçam enquanto chamam a atenção de outros a que se cuidem para não perecerem, e para que vocês não morram de fome enquanto dão alimento para eles.” (Lições Aos Meus Alunos, vol. 2, pág. 8).

Pela própria natureza de seu ofício, o ministro deve ser comunicativo, social e amável com todas as pessoas. Não precisa ser descortês com o sexo oposto, até porque ele não existe para lhe causar problemas. Bondosas, dedicadas e muito capacitadas irmãs são uma valiosa ajuda ao pastor e à igreja. Elas devem ser tratadas apenas respeitosa e cuidadosamente. Intimidade deve ser reservada à esposa.

No ritual do Santuário, nos dias do Ve-lho Testamento, o sacerdote deveria ter em suas vestes campainhas e romãs. Umas figurando a sã doutrina e outras simbolizando a santa e frutífera vida sacerdotal (Êxo. 28:33 e 34). O Senhor será santificado naqueles sacerdotes que andam junto dEle (Isa. 52:11), pois os pecados dos sacerdotes levam o povo a aborrecer as ofertas ao Senhor (I Sam. 2:17). Sua vida ímpia lança vergonha sobre o seu ensino. Como disse ainda Spurgeon, “a conversão é uma condição sine qua non em um ministro – uma condição indispensável. … O ministro santo é uma temível arma na mão de Deus.”

A doutrina

O noviço ministro Timóteo devia ser um permanente vigilante da doutrina cristã, ardoroso estudante e expositor das Escrituras. Isso lembra a comunhão pessoal com Deus e o conseqüente resultado no seu dia-a-dia: vivendo o que prega e pregando o que vive, não se esquecendo do zeloso cuidado pelo bem-estar do rebanho. Deparei-me certa vez com um jovem pastor, que viajara a pé, cerca de 40 quilômetros, levando nos ombros a bagagem, nos causticantes sertões do Estado de Tocantins. Seu objetivo era encontrar uma ovelha que precisava ser reanimada e salva espiritualmente.

O pastor deve ser um defensor das verdades cristalinas da Palavra de Deus, mantendo-se vigilante por seu rebanho, contra as heresias e filosofias que tendem a minar sua fé no Salvador. “Ao enviar os Seus ministros, nosso Salvador deu dons aos homens, pois por meio deles Ele comunica ao mundo as palavras da vida eterna. Este é o meio ordenado por Deus para o aperfeiçoamento dos santos em conhecimento e verdadeira santidade. A obra dos servos de Cristo não é meramente pregar a verdade; devem vigiar pelas almas, como os que têm que dar contas a Deus. Devem redargüir, repreender, exortar, com toda a longanimidade e doutrina”, diz Ellen White.

Nesse sentido, “os ministros de Cristo sobre a Terra são indicados para agir em Seu lugar”, como diria ainda a Sra. White (Atos dos Apóstolos, pág. 122). E isso é um privilégio, como também uma grande responsabilidade.

Cuidar da doutrina, no entanto, não significa apresentá-la de maneira árida, fria e legalista como se ela possuísse, em si mesma, algum poder salvador. Por isso, é oportuno atentar para mais este conselho de Ellen White:

“Anseio ver nossos ministros se demorarem mais na cruz de Cristo, o coração enternecido e subjugado pelo incomparável amor do Salvador, amor que inspirou o sacrifício imenso. Se a par da teoria da verdade, nossos ministros se demorassem mais sobre a piedade prática, falando inspirados por um coração possuído do espírito da verdade, veriamos muito mais almas se arrebanharem em torno do estandarte da verdade; o coração ser-lhes-ia tocado ante os apelos da cruz de Cristo, da infinita generosidade e piedade de Jesus em sofrer pelo homem. Esses assuntos vitais, aliados aos pontos doutrinários de nossa fé, efetuariam muito bem entre o povo. O coração do mestre, porém, precisa achar-se possuído do conhecimento experimental do amor de Cristo.

“O poderoso argumento da cruz convencerá do pecado. O divino amor de Deus pelos pecadores, expresso no dom de Seu Filho para sofrer vergonha e morte de modo a que eles fossem enobrecidos e dotados de vida eterna, constitui estudo para toda a existência. Peço-vos que estudeis de novo a cruz de Cristo. Se todos os orgulhosos e vangloriosos cujo coração anseia aplauso dos homens e distinção acima de seus companheiros pudessem estimar devidamente o valor da mais exaltada glória terrena em comparação com o valor do Filho de Deus – rejeitado, desprezado, cuspido por aqueles mesmos a quem viera salvar – quão insignificantes pareceríam todas as honras que o homem mortal pudesse conferir!”

Dwight Moody foi um poderoso e fluente pregador do século passado. Alguns dos seus biógrafos dizem que ele teria levado cerca de meio milhão de pessoas a Cristo. Ainda jovem, foi assaltado por tremenda dúvida: continuar a vida de empresário no ramo de sapatos, ou ser ministro. Um dia, a inquietação foi dissipada, quando ouviu do evangelista Henrique Varley o seguinte pensamento: “O mundo ainda não viu o que Deus fará com, para, e pelo homem inteiramente a Ele entregue.” (Heróis da Fé, pág. 240).

Naquele momento, em pranto, Moody disse: “Eu quero ser esse homem.”

E quanto a nós, caro colega de ministério? Vamos ser também esse homem.