Já teve você o dissabor de ouvir expressões tais como: “Você não consegue fazer nada direito”, ou “você não serve para nada”? Já disse ou pensou a mesma coisa, em relação a alguém? São frases precipitadas, que revelam o desconhecimento de que, no íntimo de cada ser humano criado à imagem e semelhança de Deus, há uma vocação esperando ser descoberta. Deveriamos nos empenhar em ajudar às pessoas no sentido de descobrirem tal vocação. Afinal, cada cristão chamado a ser um discípulo possui o desejo de fazer algo para seu Mestre. Mesmo que alguém, com certa dose de complexo de inferioridade, imagine-se incapaz de fazer alguma coisa na igreja, é nosso dever mostrar-lhe justamente o contrário. Até porque o serviço prestado em favor da missão salvadora é um privilégio da graça de Deus concedida a Seus filhos.
O chamado e capacitação
Nos escritos de Paulo a graça e a vocação missionária estão juntas. É assim que ele escreveu aos efésios: “E a graça foi concedida a cada um de nós segundo a proporção do dom de Cristo. Por isso diz: Quando Ele subiu às alturas, levou cativo o cativeiro, e concedeu dons aos homens. E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres.” (Efés. 4:7, 8 e 11).
O próprio apóstolo Paulo associa o seu desempenho missionário à graça de Deus: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a Sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus comigo.” (I Cor. 15:10).
Além do perdão e da salvação que nos possibilita, a graça também significa força e poder para o serviço de Deus. Ele pode tomar nossas limitações e transformá-las em grandes potencialidades. Nossa parte é simplesmente colocar-nos sobre o Seu altar, da maneira como somos. O Senhor nos escolheu e espera que realizemos grandes coisas para Ele. Isso significa, muitas vezes, tarefas altamente desafiadoras. No entanto, Sua graça nos capacitará a executá-las.
Quando aprendemos a depender da graça divina também no que tange à realização das tarefas a nós confiadas, em lugar do cansaço e do estresse, receberemos vigor e disposição renovada para cumprir o Seu querer.
Disponibilidade e humildade
Qualquer pessoa que tenha consciência do chamado divino deve atendê-lo com prontidão, confiando em Sua providência. Qualquer demora pode representar uma brecha por onde o inimigo poderá encontrar uma chance de agir, levando-nos à frustração e à derrota. Moisés recebeu o melhor preparo intelectual dos seus dias, nas universidades do Egito. Tinha tudo para ser um dos faraós da nação. Mas, ao receber o chamado de Deus preferiu juntar-se aos humildes hebreus, mostrando-se consciente do dever.
Além dessa disponibilidade, cada indivíduo deve compenetrar-se de suas fraquezas e deficiências, para que receba o auxílio de Deus. “A mim, o menor de to-dos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo.” (Efés. 3:7 e 8), reconheceu Paulo.
E mais: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados, com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.” (Efés. 4:1 a 3).
Jamais devemos nos esquecer de que Moisés possuía cultura, autoridade e força, mas é mencionado nas Escrituras como sendo um homem “mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a Terra” (Núm. 12:3). Todos, homens e mulheres, que desejam ser úteis à Causa de Deus devem ser adestrados pela mais severa disciplina mental e moral. E Deus os ajudará em seus projetos, bem como no desempenho do seu ministério, unindo o poder divino ao esforço humano.
Motivação correta
Cada filho de Deus recebe pelo menos um dom, além de uma considerável porção da graça divina, a fim de que seja capacitado a desenvolvê-lo e usá-lo para a Sua glória. Mas há pessoas que demoram-se em descobrir essa verdade, simplesmente porque hesitam quanto a uma entrega total e plena. A não ser que mudem de atitude, jamais poderão sentir o poder de Deus operando em seu ser, através do dom outorgado.
Na parábola dos talentos, contada por Jesus Cristo, um dos servos tomou o talento que lhe fora dado e o escondeu, com medo do seu senhor. No momento do acerto de contas, o talento foi-lhe tomado e entregue a um outro servo que já tinha outros. A parábola é concluída com estas palavras: “Portanto, a todo o que tem se lhe dará em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado.” (Mat. 25:29).
O sentimento que deve nos motivar para o serviço não é o temor das conseqüências de havermos negligenciado o uso dos dons, mas o desejo de sentir a operação da graça divina através de nós, em benefício da salvação de outras pessoas, em qualquer lugar ou função para a qual Deus nos chamar. Simplesmente devemos atendê-Lo, e Ele nos indicará os caminhos pelos quais devemos nos conduzir.
Não existem pessoas insignificantes na Causa de Deus. Ele tem um plano especial para nossa vida. E podemos cumpri-lo mediante a Sua graça.