Quando, no início dos anos 70, foi lançado o programa evangelístico da Semana Santa, uma expressão servia para caracterizar a participação de obreiros voluntários e pastores no estabelecimento e liderança de pontos de pregação: “levantar um calvário”.
Embora hoje a palavra calvário, às vezes, ainda seja empregada no mesmo contexto, outras frases foram criadas com o objetivo de identificar a programação com algum fato ou alguma promoção especial destacados durante o ano. Mas, inegavelmente, nenhum outro lema ou frase superam o profundo significado da primeira, especialmente quando lembramos as palavras de Cristo, ditas a alguns gregos que manifestaram desejo de vê-Lo, uma semana antes da Sua morte: “E Eu, quando for levantado da Terra, atrairei todos a Mim mesmo.” (João 12:32).
Quando foi pronunciada, essa declaração era surpreendente. Se fosse mencionada por alguma autoridade que tivesse à sua disposição toda a riqueza do Império Romano, e todo o poder de suas legiões, poderia até ser levada a sério. Mas não era esse o caso do humilde Mestre galileu. O caráter insólito da afirmação de Jesus é evidenciado também pela razão invocada para explicar como Ele Se convertería no centro de atração do mundo – “quando for levantado da Terra” -, e que também é enfatizada pelo evangelista: “Isto dizia, significando de que gênero de morte estava para morrer.” (v. 33).
Noutras palavras, o segredo da atração de Cristo não seria a Sua vida, nem Seus ensinos, por mais belos, sublimes e inimitáveis que tenham sido, mas Sua morte. E morte de cruz. De repente, a fria e repulsiva morte se torna em algo atrativo. A repelente e ignominiosa cruz é tomada por um magnetismo salvador. Não por méritos próprios, mas pelo poder do amor de Deus manifesto através delas.
A partir de então, o poder atrativo de Jesus manifestou-se maravilhosamente. Roma, Atenas e Jerusalém simbolizavam, por assim dizer, toda a sociedade do Império Romano. Roma possuía a riqueza, o poder, a organização e a jurisprudência. Atenas era detentora do pensamento e da arte em todas as suas manifestações. Jerusalém era a dona da verdade religiosa e a mais alta norma moral do Império. No entanto, elas se odiavam entre si, formando uma sociedade grandemente dividida.
Mas quando os discípulos começaram a “levantar” a Jesus por todos os quadrantes do Império, o ódio foi dando lugar ao amor em muitos corações, que, esquecendo-se de que eram gregos, romanos ou judeus, tornaram-se irmãos cristãos. Cederam à atração de Jesus, exercida desde o Calvário, e se uniram uns aos outros no Seu amor.
O mundo hoje não está menos dividido. Há um emaranhado de pensamentos que se entrechocam, ideologias e conceitos que se bifurcam. Vivemos numa sociedade contraditória. Porém, onde quer que se levante um calvário, onde quer que se levante a Jesus, os resultados serão os mesmos do primeiro século da Era Cristã. Milhares de pessoas sinceras e desejosas de salvação, se deixarão atrair pelo poder do amor que teve na cruz sua expressão máxima.
Quando criança, fui aprendiz do ofício de sapateiro com meu pai. Algumas vezes, na modesta oficina, a tarefa a mim designada era a de recolher os pregos que sobravam do trabalho dos operários mais experientes. Para isso, tinha que passar um ímã por cima das mesas, balcão, e até no chão. Depois de recolhê-los, deveria selecionar os que ainda poderiam ser reutilizados. Mas, como criança, eu não perdia a oportunidade de me divertir um pouco. E brincava com o ímã, aproximando-o dos pregos somente para vê-los, de início, manifestar aparente “resistência” àquela força, movendo-se de um lado para outro, e, finalmente, serem captados.
Há uma lição nesse fenômeno: Jesus é o grande ímã. Quem for achado no campo magnético do Seu amor, não resistirá muito tempo. E, mais uma vez, estamos diante da oportunidade de erguê-Lo diante de homens e mulheres, jovens e crianças, através do evangelismo da Semana Santa. Apenas o Seu amor quebranta corações.
Diz Ellen White: “O sacrifício de Cristo como expiação pelo pecado, é a grande verdade em torno da qual se agrupam as outras. A fim de ser devidamente compreendida e apreciada, toda verdade da Palavra de Deus, de Gênesis a Apocalipse, precisa ser estudada à luz que dimana da cruz do Calvário. Apresento perante vós o grande, magno monumento de misericórdia e regeneração, salvação e redenção – o Filho de Deus erguido na cruz. Isto tem de ser o fundamento de todo discurso feito por nossos ministros.” (Evangelismo. pág. 190)