Os idosos são um grupo de pessoas que tende a crescer como grupo social. A ciência médica está conseguindo aumentar a expectativa de vida das pessoas, e a população profissionalmente ativa ganha a cada dia uma quantidade de cidadãos jubilados para manter. Países do primeiro mundo gastam mais recursos com os velhos do que com as crianças. Porém, as exigências econômicas contemporâneas, como a vida urbana, têm possibilitado tempo às famílias, para que cuidem de seus velhinhos.
De acordo com as Escrituras, eles merecem todo o respeito dos crentes e embora não estejam livres de exortação, isso deve ser feito “como a pais” (I Tim. 5:1). Espera-se dos idosos que atuem com sabedoria, aceitando conselhos (Ecl. 4:13), vivendo a altura da experiência que acumularam (Tito 2:2 e 3).
Os idosos estão no centro de um reavivamento da fé entre o povo de Deus. Ele os faz instrumentos para evitar a vergonha do Seu povo (Joel 2:26-28); também recebem o Espírito Santo Joel 2:28-32).
Em resumo, os idosos da Bíblia ocupam um importante lugar dentro do povo de Deus. Contudo, é reconhecido que inevitavelmente aparecerão limitações físicas, sem que percam necessariamente o bom juízo. Este é usado muitas vezes em favor dos mais jovens. Cabem então as perguntas: como continuar obtendo o benefício da experiência e sabedoria dos idosos? Conseqüentemente, quem deve cuidar deles?
Dever pastoral
Do pastor espera-se que não apenas esteja consciente dessas realidades, mas que se familiarize com alguns preconceitos sobre os idosos, os quais são expressados em frases de conotação negativa, com o denominador comum de “perda”, “saúde precária”, “mentalmente ausentes”, “personalidade de criança”, “irritadiços”, etc. O próprio idoso pode repetir a si mesmo e aos outros a idéia de que “sem saúde ninguém é coisa alguma”, um conceito nem sempre válido.
Essa idéia é relativa porque os cristãos que aguardam a vinda de Cristo não esperam ter saúde absolutamente perfeita antes desse evento. Ademais, muitos cristãos aprenderam do apóstolo Paulo que, diante de alguma enfermidade, a resposta do Pai amoroso pode ser “Minha graça te basta” (II Cor. 12:7-9). Dessa experiência, Paulo nos ensina que é possível obter sentido para a vida, apesar dos sofrimentos. Finalmente, milhões de pessoas “funcionam apropriadamente” e fazem o mundo marchar, mesmo que não se sintam maravilhosamente bem.
Os idosos acima de 65 anos apresentam condições muito variadas de saúde e personalidade. Há os que devido a alguma enfermidade crônica têm sérias limitações, e aqueles que sentem e agem de modo que podem constituir uma nova família. Algumas mulheres depois dos 65 podem esperar viver mais uns 20 anos. A capacidade mental de pessoas entre 40 e 60 anos pode incrementar-se. É depois dos 60 anos que essa capacidade diminui, ao contrário do que se pensava antigamente.
Por outro lado, é bom lembrar que a fragilidade física é comum nos 80 anos, mas não aos 65. Para muitos que vivem na terceira idade, o calendário diz alguma coisa, mas eles se sentem outra. Aparentemente, vivemos numa época quando a antiga aspiração humana de acrescentar mais anos à vida tem-se cumprido em parte (Luc. 12:25). Segundo Salomão, a boa vida poderia ir-se com a idade avançada (Prov. 20:29). A variedade de situações é uma das características principais dos anciãos.
A saúde dos idosos não depende unicamente de fatores médicos. A própria atitude da pessoa, o ambiente social no qual vive, e outras variantes sociais e espirituais, fazem com que a saúde de um idoso dependa de seu estado físico e de fatores de conduta. É aqui, na área das atitudes diante da vida que o pastor pode ajudar de forma relevante aos idosos.
Considerações práticas
No desempenho de seu trabalho com os idosos, o pastor deve ter em mente as seguintes responsabilidades que lhe são atribuídas:
Educar a igreja e as famílias com respeito às reais possibilidades e limitações dos idosos.
Educar a família no sentido de assumir sua responsabilidade integral, tipos de cuidados e benefícios, para com um idoso dentro de casa.
Prestar assistência aos idosos que não têm família. Coordenar os esforços do Estado, da igreja e de alguma família com o dom da hospitalidade.
Animar o idoso quanto a avaliar seu próprio estado geral de saúde; apreciar e aceitar as iniciativas de outros agentes em prol de seu bem-estar; envolver-se, de acordo com suas forças, em contribuir para o bem-estar de outros (especialmente os mais jovens).
Lembrar-se de que, “com a idade vem a sabedoria, e com o tempo a compreensão” (Jó 12:12). Essa sabedoria permite ao idoso, entre outras coisas:
Fazer o que pode, enquanto seja possível.
Enfrentar os riscos da vida, sem os quais não haveria estímulos, triunfos, nem vida abundante.
Sem ser teimoso, não permitir que a família o sufoque com cuidados. Ter independência e não ser meros agregados em casa, nem fantoches.
Colocar em ação sua inteligência, antes de compadecer-se de si mesmos.
Procurar ser útil e não simplesmente aceitar que o entretenham.
Não dedicar tanto tempo a “fazer algo” para si ou para outros, mas também para ordenar seus próprios pensamentos e emoções.
Aceitar que, finalmente, o povo o deixe em paz.
Viver sem ter que guardar as aparências. Retomar a alegria sem ser criança. Espairecer.
Ficar em casa com um amigo em vez de ir a reuniões enfadonhas.
O pastor pode estar certo de que o problema não é o prolongamento da velhice, mas a sua qualidade.
O papel da família
Não é demais insistir em que o pastor deve levar a família à verdadeira compreensão do seu papel no cuidado dos idosos. Em primeiro lugar, eles devem sentir “a benéfica influência da família”. Essa observação inclui os que tradicionalmente não têm sido tão ativos nesses deveres. É tarefa do pastor velar para que a família seja mais empática e solidária. O cônjuge deve assumir a responsabilidade pelo outro. Quando um deles não vive mais, geralmente são as filhas, ou uma delas, que assumem a responsabilidade pelo que ficou. Normalmente é uma filha casada, que deve lutar em duas frentes: cuidando dos próprios filhos e do esposo, e do pai ou da mãe idosos.
Há, Conseqüentemente, um agudo desgaste físico e emocional. A carga não é maior, entretanto, pela doença do idoso, mas por fatores interpessoais. Se a relação entre a filha e o dependente ancião não foi boa, tende a deteriorar-se ainda mais nesta etapa.
O ideal é que o casal assuma a responsabilidade mencionada. Receber ajuda do Estado, de outros familiares ou amigos, não desonra os tutores. Ellen White chama a atenção dos jovens a realizar a sua parte: “Há bênção na associação de idosos e jovens.” Os jovens podem projetar “esperança e ânimo ao idoso”. Por outro lado, também tiram proveito da sabedoria e experiência deles. Especialmente, podem aprender a servir com abnegação. Os filhos devem tratar os pais tendo em vista a regra áurea. Um idoso em casa contribui para que os jovens aprendam e saibam encarar o ciclo da vida e da morte.
A família pode comunicar a um idoso recém-jubilado que está começando uma nova e genuína era da vida. Se o idoso for considerado inútil, em termos de produtividade, devemos perguntar-nos como estamos educando nossos filhos: simplesmente para que ganhem a vida, ou estamos ensinando a viver?
Diante da viuvez, verificou-se que os viúvos idosos resistem melhor a crise da perda que os jovens. As mulheres viúvas se sobrepõem melhor que os homens.
Em segundo lugar, como tratar idosos no contexto da família? Qual a estratégia geral recomendada? Cada iniciativa deve evitar tanto cair no extremo de dar-lhes tarefas além da sua capacidade, como o da superproteção. Eles podem realizar tarefas caseiras, de acordo com suas forças; devem ser animados a tomar parte nos interesses e ocupações da casa. Isso faz com que eles percebam que ainda conservam sua utilidade, e que sua ajuda é apreciada. A família deve animar o idoso não meramente por compaixão, mas porque está convencida de que realmente ele é útil.
A superproteção não favorece o idoso. Se ele for para a casa de um filho para ficar inativo, sua morte está sendo apressada. Essa estratégia pode projetar o que não procuramos e não desejamos: que perceba que não serve para nada. Em consulta com um médico, deve ser estabelecido um programa de atividades para o idoso. A família poderia reduzir sua ajuda direta alguns dias.
Um idoso pode ficar inabilitado prematuramente quando não recebe nenhuma assistência, como por exemplo, depois de sofrer uma crise aguda de saúde.
A família deve estar consciente da disfunção progressiva dos sentidos do idoso. A perda gradual da audição, por exemplo, é um problema sério. Implica a interrupção da comunicação com os demais. Como não pode estar pedindo repetidamente que lhe repitam frases e palavras, tende ao isolamento. Poderia desconfiar que outras pessoas estejam “cochichando coisas” a seu respeito. A família também se isola porque é difícil comunicar-se com ele.
O idoso sofre de uma surdez seletiva. Isso significa que os tons mais altos são de mais difícil captação do que os tons baixos. Essa perda diferenciada da audição o leva a pedir em algum momento que lhe falem mais forte, para logo depois pedir que não gritem. Pela mesma razão é que os sistemas eletrônicos de audição representam uma vantagem e um problema ao mesmo tempo. Alguns acabam deixando de usar e a família imagina que se trata de mais uma reação senil.
Nesses casos, recomenda-se que o idoso viva num ambiente com pouco ruído. Uso de tapetes e instalação de janelas com vidro espesso também podem ajudar. Ellen White, mais uma vez com muita sensibilidade, aconselhou os líderes da Obra colocar os obreiros idosos e próximos da jubilação, em lugares de trabalho sem “ruído, agitação, confusão” (Evangelismo, pág. 57).
A perda da visão é da mesma natureza da perda de audição. É necessário conhecer a natureza do problema e seguir uma estratégia semelhante à utilizada no caso da audição. Dado que o idoso requer mais luz, recomenda-se usar lâmpadas e não tubos fluorescentes. Deve-se educá-los em como andar em lugares com iluminação escassa e em escalas. O pastor que tem um escritório com iluminação pobre está afugentando o idoso. Se este se mostra inquieto durante uma entrevista não é que seja resistente; apenas tem limitações físicas concretas que devem ser levadas em conta.
O papel da igreja
A igreja, quer possua a imagem de um forte ou de um hospital, tem um papel importante a cumprir, depois da família, no cuidado dos idosos.
Uma de suas funções é educar. O idoso precisa aprender a como cuidar de si mesmo, especialmente na dieta, e a como prevenir a doença.
A igreja pode intensificar seus esforços na atenção integral aos idosos mediante a estrutura e pessoal da Escola Sabatina. O pastor da igreja pode fazer muito pelos idosos, tendo-os em elevada estima. Certo pastor, consciente de que compartilhava a mesma humanidade com os anciãos, visitando um grupo deles pregou sobre Marcos 10:13-16, que relata o incidente envolvendo Jesus, os discípulos e as crianças que Lhe eram trazidas. Não foi difícil aplicar o texto a eles, com base nas seguintes idéias; as crianças estavam no caminho, como um estorvo, na visão dos discípulos; requeriam atenção especial; não podiam oferecer ajuda ao programa de Jesus; não tinham dinheiro para contribuir.
No fim do sermão, os idosos em cadeiras de rodas viram-se a si mesmos na descrição feita sobre as crianças. O pregador não apenas compartilhava a mesma humanidade, mas demonstrou empatia para com eles.
A igreja é um lugar onde o idoso pode se encontrar e interagir com aquelas pessoas as quais conhece e ama. Essas pessoas que fazem parte do seu passado podem animá-lo e ajudá-lo em relação ao futuro.