Tendo como destinatários aqueles “que conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (II Ped. I: I), a segunda carta do apóstolo Pedro foi escrita provavelmente em Roma, pouco antes de 67 d.C., ano do seu martírio. O tema, semelhante ao da primeira carta, é de cunho pastoral. O apóstolo exorta a seus leitores no sentido de que continuem crescendo na graça e no conheci-mento espiritual, a fim de que possam cumprir o propósito de Deus através de seu chamado e vocação.

No primeiro capítulo, ele procura animá-los, mencionando sua experiência pessoal e a segurança da palavra profética. No segundo, adverte contra os falsos mestres. Finalmente, no terceiro capítulo, depois de falar sobre a rejeição da promessa da segunda vinda, por parte dos críticos do seu tempo, conclui com uma afirmação de certeza na concretização desse acontecimento e o conselho para que os leitores estejam preparados para ele.

Especialmente um verso do capítulo três nos convida a uma oportuna reflexão: “Visto que todas essas coisas hão de ser as-sim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade…” (v. I I). Isto é, em vista de que toda forma de pecado será completamente destruída, é necessário que os que sabem da iminência desse acontecimento sejam diligentes em permitir que Cristo elimine todo rastro pecaminoso de sua mente e de sua vida. A expectativa da volta do Se-nhor sempre inspira os cristãos a uma vida santa. Por outro la-do, a descrença freqüentemente produz indiferentismo no comportamento, tal como acontecia com os mestres dos dias de Pedro.

Em meio a uma existência precária num mundo precário, é importante ter em mente, como nos ensina esse verso, que as pessoas são mais importantes do que as coisas, embora muito facilmente nos esqueçamos disso. Em geral, desenvolvemos o hábito de pensar que o mundo, suas atrações e máximas são mais importantes do que as pessoas. E é justamente nesse ponto que nos pomos a construir castelos, elaborar planos, acariciar sonhos de grandeza pessoal usando as armas do mundo, inspirados por seus conceitos, suas opiniões e idéias.

Pedro, como sábio pastor, conclama seus leitores a refletir e aplicar-se à compreensão da verdade irrefutável que o caráter do homem é a única coisa que ele pode levar para além deste mundo. É com ele que Deus Se preocupa primariamente. Moldá-lo segundo a Sua vontade deve ser também nossa primeira preocupação. Santidade de vida, glorificação a Deus e serviço à Igreja comprada com o sangue de Cristo são qualidades que devem caracterizar nossa experiência, em contraste com a vaidade pessoal, o apego ao poder, o descaso para com as coisas santas e a indiferença em relação ao fim, tão comum no mundo atual.

Se o conselho de Pedro era válido em seus dias, muito mais o é agora, quando, na irreversível sucessão de dias e noites, chegamos ao ano 2000. Aguardado com inusitada expectativa, previsões apocalípticas e esperanças místicas, ele não é especial apenas por ser o ano 2000, e sim, por ser mais um novo ano que nos coloca mais próximos do dia do Senhor e sob o sagrado dever de viver segundo a elevada vocação à qual fomos chamados, “esperando e apressando a vinda do dia de Deus” (v. 12). Isso significa ação.

O verbo esperar, do grego prosdokáo, aparece três vezes nos versos 12-14 e contém a idéia de uma antecipação afanosa. É nesse sentido que devemos aguardar a vinda de Cristo. Não se trata de uma espera infrutífera, mas um tempo de cooperação ativa com Deus na redenção da sociedade. A expressão “apressando” realça o sentido desse pensamento. Ela implica nosso envolvimento em facilitar a chegada “do dia de Deus”; desejá-lo ferventemente.

Embora não tenhamos definida a data desse dia, o desenrolar dos acontecimentos nos indica sua iminência. Entre outras coisas, ele significará o fim do milenar conflito entre Cristo e Satanás, no qual estamos diretamente envolvidos. Apesar da gravidade dessa batalha, temos à disposição recursos celestiais que garantem a nossa vitória. Não demorará muito e a guerra recrudescerá, tendo como principal ponto de discórdia o dia de adoração a Deus. O campo de batalha está definido. Nos bastidores, as forças inimigas já estão adiantadas no desenvolvimento de anunciadas estratégias. Não temos tempo a perder.

É necessário que voltemos às nossas origens, tanto no que diz respeito a um cada vez mais definido foco da sagrada missão que nos foi confiada, quanto no que tange à submissão à graça de Cristo e ao poder do Espírito Santo, a fim de vivermos “em santo procedimento e piedade”. A solenidade do tempo não permite menos que isso. – Zinaldo A. Santos