“Quanto mais importante é a posição de alguém, e maior sua influência, maior é a necessidade de que cultive a paciência e a humildade“
Confesso que, durante algum tempo, tive dificuldade para entender a justiça de Deus, ao impedir, como punição, a entrada de Moisés na Terra Prometida (Num. 20:2-13). Porém, o capítulo 37 do livro Patriarcas e Profetas é rico em detalhes e não deixa dúvidas quanto ao fato de que, o maior líder humano de todos os tempos vacilou na maturidade de sua fé. No lamentável episódio de Meribá, ele insinuou atribuir para si a capacidade de matar a sede do povo, esquecendo-se de que isso era prerrogativa exclusiva de Deus. “Porventura faremos sair água desta rocha para vós outros?”, perguntaram Moisés e Arão, pondo-se “no lugar de Deus, como se o poder estivesse com eles, homens possuídos de fragilidade e paixões humanas” – Patriarcas e Profetas, pág. 418.
Perante a revoltosa multidão, demonstrando falta de humildade, paciência, fé e domínio próprio, com ímpeto de ira, Moisés feriu a rocha duas vezes com a vara. A fascinação do poder subiu à cabeça do respeitável homem de Deus, ofuscando-lhe a visão espiritual, impedindo-o de ver naquela rocha o próprio Cristo. Que tremenda lição para líderes de todos os níveis e áreas: pastores, administradores, educadores e pais.
Estando ainda na Terra, os santos não se encontram livres dos ataques sutis do inimigo das almas, que não dá tréguas na tentativa de abater, através do orgulho, os servos de Deus. Quando se perde a batalha contra o “eu”, perde-se a batalha da vida. “A verdadeira grandeza dispensa ostentação”, diz Ellen G. White (DTN, 242). Foi por absoluta misericórdia de Deus que a água jorrou abundante, saciando a sede do povo. Ele é sempre o verdadeiro provedor do êxito. É dEle a iniciativa de salvar homens e mulheres. Somos apenas Seus instrumentos.
A meia-volta
Pai amoroso que é, o Senhor não repreendeu Seu servo publicamente. Nos bastidores, entretanto, a correção foi severa: “Visto que não crestes a Mim, para Me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei”. Num. 20:12. Deus ama o pecador, mas abomina o pecado cometido por quem quer que seja. Moisés voltou à faina e viu a morte de Arão, seu irmão mais velho e companheiro de ministério. E esperou sua vez de encerrar seu trabalho e a vida de 120 anos.
O ponto culminante dessa crise foi o retorno de Moisés à verdadeira grandeza, reconhecendo o erro cometido. E “o Senhor aceitou seu arrependimento, embora não pudesse remover a punição, por causa do mal que seu pecado poderia fazer entre o povo” – Patriarcas e Profetas, pág. 419. Então, “contou ao povo que, visto ter deixado de conferir glória a Deus, não os poderia guiar à Terra Prometida”.
Moisés tinha tudo para revoltar-se e ficar amargurado. Porém, não lamentou não se queixou, nem se insurgiu contra Deus. Devido a seu fiel e constante colóquio com Ele, alcançou a bênção de ser recolhido para o Céu, antes da futura ressurreição dos justos (Mat. 17:3).
O que aprendemos
Domínio próprio. Diante das dificuldades e provas, o líder não deve se exasperar. Afinal, a causa não lhe pertence, mas a Deus. Este, sim, é o Senhor da missão. Ponha-se apenas como fiel mordomo e instrumento em Suas mãos.
Humildade. Quando errar, reconheça o erro e o confesse. Moisés não perdeu autoridade, dignidade nem admiração diante do povo, ao admitir que errou. Quando morreu, o povo o pranteou durante 30 dias (Deut. 34:8).
Maturidade. O exercício de liderança requer maturidade. Ressentimento diante da repreensão indica falta dessa virtude indispensável ao líder.
Vigilância pessoal. O líder deve manter permanente vigilância sobre os pontos vulneráveis da natureza humana. Cada indivíduo conhece os seus, e eles estão na mira do adversário. Moisés foi vítima de um momentâneo descuido.
Percepção clara. “Falai à rocha”, foi a expressa ordem de Deus. Foi no fragor da crise e sob intensa pressão que Moisés e Arão confundiram a solução apresentada por Deus. Precisamos ter claro discernimento.
Finalmente, embora nos seja dito que “quanto maior a luz e os privilégios concedidos ao homem, maior será sua responsabilidade, mais grave a sua falta, mais severo o seu castigo”, podemos estar seguros de que Deus repara nossos erros e, por Sua graça, nos receberá também na Canaã celestial como servos bons e fiéis.
Manuel Xavier de Lima, pastor e administrador, jubilado, reside em Artur Nogueira, SP