O Pastor Ted N. C. Wilson, 51 anos, é filho do Pastor Neal Wilson, ex-presidente da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia, e Elinor Wilson. De seu casamento com Nancy Louise, nasceram as filhas Emilie Louise, Elizabeth Esther e Catherine Anne.

Iniciou suas atividades pastorais em 1974, como pastor distrital na Associação de Nova Iorque, após concluir a Faculdade de Teologia no Columbia Union College, e o mestrado na Universidade Andrews. Ph.D, em Educação Religiosa, serviu como missionário na África (1981-1990), secretário associado da AG (1990-1992), foi presidente da Divisão Euro-Asiática (1992-1996), e diretor geral da Review Herald Publishing Association (1996-2000). Atualmente é um dos vice-presidentes da Associação Geral.

Nesta entrevista, o Pastor Ted Wilson fala sobre o trabalho do pastor e do secretário ministerial, com seus desafios e alegrias, do crescimento da Igreja e de questões relacionadas com a escatologia adventista.

Ministério: Quais foram a motivação e os principais objetivos das recentes reuniões consultivas realizadas pelos departamentos da Associação Geral?

Pastor Ted Wilson: O grande propósito dessas reuniões foi dar oportunidade para que os líderes das Divisões mundiais discutissem e planejassem juntos ações para o presente qüinqüênio. O tipo de abordagem para cada reunião variou de acordo com o departamento e as necessidades dos Campos. Verificou-se um grande espírito de unidade e encorajamento espiritual. A presença de Deus foi sentida.

Ministério: Quais as expectativas da liderança AG quanto aos resultados práticos desses encontros?

Pastor Wilson: A Associação Geral quer disponibilizar os recursos necessários para o cumprimento da missão. O Senhor nos deu muitos recursos que necessitam ser partilhados. Mais do que recursos financeiros, estamos falando de idéias e programas utilizados para o evangelismo público e nutrição espiritual dos membros. Isso necessita ser partilhado com o Campo mundial. Cada Divisão, União e Campo local, deverá adaptar e contextualizar o formato dos programas às suas realidades específicas. Mas a mensagem é clara: levar Cristo às pessoas e chamar-lhes a atenção para a proximidade da Sua segunda vinda. Isso é um privilégio.

Ministério: Como o senhor pessoalmente avalia a importância das reuniões?

Pastor Wilson: A importância reside nos objetivos orientados para a missão e nos resultados que virão. É importante que trabalhemos unidos, como uma Igreja mundial, sob a guia do Espírito Santo. O que o inimigo mais gosta é de criar facções. Mas se orarmos, estudarmos e trabalharmos juntos, podemos crescer no Senhor e em direção aos alvos que Ele tem para a Sua Igreja nos últimos dias.

Ministério: O senhor esteve boa parte do tempo com os secretários ministeriais. Qual a sua visão do papel do secretário ministerial na Igreja?

Pastor Wilson: O secretário ministerial desempenha um papel muito im-portante. Ele deve conservar unido o ti-me pastoral, treinar e motivar pastores e líderes voluntários para o evangelismo, assistir aos pastores e respectivas famílias em suas necessidades espirituais; é um pastor de pastores. Como tal, deve conservar o pastorado olhando a Cristo e crescendo espiritualmente em Sua dependência. O secretário ministerial necessita constantemente imprimir em nossos pastores a unicidade da nossa missão como adventistas do sétimo dia. Não somos apenas mais uma Igreja. Temos a missão de proclamar a mensagem de Apocalipse 14:6-12.

Ministério: Algumas pessoas identificam certa tensão entre o trabalho do secretário ministerial e o do administrador. Como o senhor vê isso?

Pastor Wilson: Se existe, não deveria haver tensão nenhuma. Administradores e secretários ministeriais devem trabalhar juntos. É bom lembrar que o secretário ministerial é o secretário da Associação Ministerial, cujo diretor é o presidente do Campo. Portanto, o presidente também deve estar pessoalmente envolvido na promoção do bem-estar espiritual e crescimento dos pastores, trabalhando junto ao secretário ministerial, apoiando os planos evangelísticos e facilitando o crescimento educacional e espiritual dos pastores e respectivas famílias.

Ministério: Que qualidades específicas um secretário ministerial deve possuir?

Pastor Wilson: O principal critério para alguém ser escolhido como secretário ministerial é que ele seja uma pessoa altamente espiritual, íntimo de Cristo e capaz de cuidar e nutrir os pastores em sua importante missão.

Ministério: O que o senhor pensa do envolvimento de mulheres no ministério pastoral?

Pastor Wilson: Há muito trabalho para todos os que desejam cumprir a mis-são da Igreja. Uma pessoa não precisa ser ministro ordenado para fazer um trabalho abençoado. As mulheres podem atuar junto aos pastores distritais como obreiras bíblicas, professoras, conselheiras, além de ajudar na Capelania de instituições. Com o apoio dos pastores, e devidamente treinados, mulheres, homens e jovens podem se tornar ganhadores de almas e alimentar a igreja local. A esposa do pastor pode trabalhar com ele. Aliás, Ellen White aconselha que a esposa que trabalha junto com o marido pastor deveria receber salário. O Senhor necessita de todos, homens, mulheres, crianças e jovens, trabalhando em Seu favor nos últimos dias da história terrestre.

Ministério: Como o senhor vê o pastor adventista diante dos desafios do mundo moderno?

Pastor Wilson: Necessitamos de confiar completamente no Senhor e em Sua Palavra. Necessitamos ter melhor compreensão da Bíblia. Necessitamos compreender a importância da comunhão com Deus. Necessitamos revelar Cristo em nossa vida e no púlpito. O demônio fará tudo para desviar a nossa atenção. Nesta era altamente tecnológica, necessitamos trabalhar sem perder de vista que o tempo de comunhão com Deus é mais importante do que tudo o mais. Maiores desafios ainda virão. E somente em estreita comunhão com Cristo e Sua Palavra estaremos capacitados a enfrentá-los com êxito.

Ministério: Quais deveriam ser os critérios de avaliação de um pastor, consideran-6 • Julho – Agosto • 2001 do que alguns trabalham sob condições menos favoráveis que outros?

Pastor Wilson: A Escritura diz que toda boa árvore produz bons frutos. Um pastor deve ser alguém respeitado como pregador da Palavra em qualquer circunstância. Alguém que produz bons frutos evangelísticos através de seu trabalho e do treinamento de outras pessoas para o testemunho. Sua família deve ser um modelo do que Deus deseja para as famílias. Os membros da igreja devem perceber o pastor como uma pessoa que tem um conhecimento experimental de Cristo. A congregação precisa ver no pastor um ministro de reconciliação, promotor da harmonia e unidade em Jesus.

Ministério: Como vai a Igreja Adventista no mundo?

Pastor Wilson: A Igreja está crescendo em muitas partes. Diariamente, três mil novos crentes, em média, são conquistados. Estamos presentes em 204 dos 299 países do mundo, publicando literatura em cerca de 310 idiomas e proclamando o evangelho em 803 línguas e dialetos. Pelo poder de Deus, quase um milhão de conversos são acrescentados à Igreja to-dos os anos. Em algumas partes cresce-mos mais devagar devido ao materialismo, secularismo e outras razões. Deve-mos orar e trabalhar por essas áreas, a fim de encontrar os sinceros filhos de Deus. O Espírito Santo, não tenho dúvidas, nos guiará. Somos aproximadamente 12 milhões de membros batizados e cresceremos mais ainda, através dos pequenos grupos, evangelismo público, distribuição de literatura, evangelismo do rádio e TV e ministério pessoal.

Ministério: Quais são os maiores desafios missionários da Igreja hoje?

Pastor Wilson: Alguns dos nossos maiores desafios estão sendo estudados pelo Conselho de Evangelismo e Testemunho da AG. Há quatro áreas que estão sendo observadas com cuidado: 1) evangelização das cidades e áreas urbanas do mundo; 2) evangelização de pessoas com mentalidade secularista; 3) evangelização da chamada Janela 10-40; e 4) parceria evangelística com os jovens. As grandes cidades apresentam cada vez maiores desafios. Mas Ellen White nos dá muitos conselhos sobre como trabalhar nessas cidades. Necessitamos usar o contato pessoal e programas via satélite. Também precisamos desenvolver métodos pelos quais os irmãos possam estabelecer contato com pessoas que aparentemente não têm o menor interesse nas coisas espirituais. O desafio da Janela 10-40, região do mundo onde as pessoas conhecem muito pouco de Cristo, é um dos maiores. Precisamos de sabedoria divina para alcançar muçulmanos, budistas, hindus e outros que necessitam ser alcançados pela salvação de Jesus. A parceria com nossos jovens é uma das grandes oportunidades evangelísticas para o futuro. Nossa Igreja foi estabelecida por jovens e eles têm um grande papel a desempenhar no cumprimento da missão.

Ministério: Como alguém que trabalhou no território da antiga União soviética, fale-nos algo a respeito do trabalho nessa área.

Pastor Wilson: Foi um grande privilégio trabalhar na Divisão Euro-Asiática durante quatro anos. O Senhor abriu as portas e o evangelho está sendo pregado com poder naquela região do mundo. Foi uma grande alegria ver as pessoas respondendo tão positivamente à mensagem do evangelho e à oportunidade de ter a Bíblia nas mãos. Muitas reuniões evangelísticas foram realizadas e igrejas foram construídas. Existe liberdade religiosa em muitas partes daquele território. Entretanto, há locais onde ainda existem restrições quanto a se fazer reuniões evangelísticas ou construir igrejas, considerando que a influência de um grupo religioso maior cria limitações. Em todo caso, o trabalho está crescendo e estão acontecendo milagres no sentido de alcançar muitos grupos de pessoas. O materialismo e o secularismo são muito fortes ali. Devemos continuar orando por nossos pastores e irmãos da Divisão Euro-Asiática.

Ministério: Alguns críticos argumentam atualmente que a Igreja está se tornando mais ecumênica do que deveria, na tentativa de aproximação com outros grupos. Como o senhor lhes respondería?

Pastor Wilson: Devemos ter cuidado com a idéia de ecumenismo. Devemos conservar sempre o privilégio da liberdade religiosa e de consciência. Temos crenças distintas, baseadas nas Escrituras, e não devemos comprometê-las sob nenhuma hipótese. Mas isso não significa que não possamos nos relacionar bem com outros grupos cristãos. Devemos ser o povo mais feliz e amistoso do mundo, já que temos muita informação sobre o grande amor de Deus pelas pessoas. Devemos partilhar com outros o que temos, de um modo amoroso. Não há necessidade de causar atritos e dificuldades, embora isso vá acontecer no devido tempo. Em lugar de atacar, devemos mostrar às pessoas a verdade em toda a sua glória. Pela graça de Deus, devemos ser amistosos com outros grupos religiosos, mantendo a distinção de nossas crenças. No livro Eventos Finais, página 41, lemos o seguinte: “Os adventistas do sétimo dia foram escolhidos por Deus como um povo peculiar, separado do mundo… Em sentido especial foram os adventistas postos no mundo como atalaias e portadores de luz. A eles foi confiada a última mensagem de advertência a um mundo a perecer. Sobre eles incide maravilhosa luz da Palavra de Deus. Confiou-se-lhes uma obra da mais solene importância: a proclamação da primeira, segunda e terceira mensagens angélicas. Nenhuma obra há de tão grande importância. Não de-vem eles permitir que nenhuma outra coisa lhes absorva a atenção.”

Ministério: Como o senhor vê a influência política dos Estados Unidos e a liberdade religiosa ao redor do mundo?

Pastor Wilson: Sabemos, pela profecia de Apocalipse 13, que os Estados Unidos terão uma grande parte, junto com outros países, em limitar a liberdade religiosa e liberdade de consciência. À medida que observamos o atual crescimento da influência política, econômica e social desse país, com uma superpotência mundial, podemos entender como ele e outras nações controlarão os indivíduos e suas atividades religiosas. Devemos estar vigilantes para proteger a liberdade de consciência diante das autoridades em qualquer país. Também devemos ser cuidadosos, evitando especular sobre fatos isolados como se eles fossem algo que realmente não são. É importante que usemos o tempo que ainda nos resta para pregar o evangelho e manter um forte programa de educação com líderes governamentais sobre a santidade da liberdade religiosa e de consciência. Certamente muitos eventos no mundo e nos Estados Unidos indicam que estamos perto do fim da história terrestre. Mas devemos estar preocupados em nos consagrar diariamente ao Senhor, pedindo-Lhe que nos use em Sua obra. Nossa ênfase deve ser a proclamação do evangelho, em vez de focalizar nossa atenção tentando interpretar cada pequena nuance dos acontecimentos. Deus está no controle; o que há de vir virá.

Ministério: Como um vice-presidente da Associação Geral, que objetivos o senhor gostaria de ver cumpridos na vida de cada pastor e respectiva família?

Pastor Wilson: Como um pastor, eu me incluo na visão de quais objetivos deveriam ser cumpridos em nossa vida. Através de um relacionamento íntimo e diário com Cristo, devemos crescer mais e mais na dependência dEle, compreendendo nossa fraqueza e nossa necessidade de Sua graça e justiça. Na medida em que focalizamos sobre o que Jesus fez por nós no Calvário, o que Ele faz agora como Sumo Sacerdote no santuário celestial, e o que fará por nós quando vol-tar, podemos entender nossa total necessidade dEle. Atiremonos a Seus pés, cada dia, e entreguemos nossa vida e nossas ações em Suas mãos. Meditemos nEle. Necessita-mos nos tornar, por Seu Espírito, mais e mais semelhantes a Cristo Je-sus. Juntamente com nossos familiares, devemos ser mais ativos em ajudar nossos irmãos a desenvolver planos para alcançar seus familiares e amigos com o evangelho. Conservemos nossa missão e nossos objetivos bem claros diante de nós, sem que desviemos o olhar de Jesus. Pelo poder do Espírito Santo, precisamos cumprir cabalmente o nosso ministério. Há muitas coisas que tentam nos distrair da verdadeira missão. O pastor é alguém que ama as pessoas, é aceito como alguém espiritual e humilde, empenhado em levá-las a Cristo e prepará-las para Sua segunda vinda. Nada disso é possível sem que o pastor e sua família vivam em total dependência de Cristo.