As palavras de Paulo a Timóteo se aplicam com igual força a todos os ministros de Cristo até o fim do tempo: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela Sua manifestação e pelo Seu reino: prega a Palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina.” II Tim. 4:1 e 2.
Esta solene recomendação para alguém tão zeloso e fiel como Timóteo, é um testemunho enfático da grande importância e responsabilidade do ministro evangélico. O apóstolo intima Timóteo, por assim dizer, perante o tribunal da justiça infinita, e da maneira mais impressionante o exorta a pregar a palavra; não os costumes ou dizeres dos homens, mas a Palavra de Deus; pregá-la como alguém absolutamente sério – “quer seja oportuno, quer não” – quando quer que seja apresentada uma oportunidade; em tempos determinados e ocasionalmente; para grandes congregações, ou para círculos privados; pelo caminho, ou nas casas; diante de amigos e inimigos; para um só homem ou para muitos; quer possa falar com segurança ou em meio a agruras e perigos, reprovações e perdas.
Paulo continua sua exortação: “Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.” II Tim. 4:5. Agora que Paulo é chamado a encerrar sua carreira, ele deseja que Timóteo tome o seu lugar, e guarde as igrejas das fábulas e heresias de Satanás e seus agentes. Paulo sabia que o inimigo procuraria, por todas as formas, afastar aquelas igrejas da simplicidade da verdade. Ele portanto o admoesta a fugir de todo o interesse e embaraço temporal que o impediria de entregar-se a esta obra; a suportar de bom grado a oposição, o opróbrio e a perseguição a que estaria exposto por sua fidelidade; e a dar prova cabal de seu ministério, pelo emprego de todos os meios ao seu alcance para fazer o bem às almas de homens por quem Cristo morreu.
Paulo jamais teve medo ou se envergonhou de confessar a Cristo diante dos homens. Não estivera em nenhuma posição duvidosa, mas sob todas as circunstâncias havia se colocado sem hesitação ao lado da justiça e retidão. Sua própria vida era uma ilustração viva das verdades que ensinava; e nisto repousava seu poder diante do povo. A voz do dever era para ele a voz de Deus. Acariciando em sua própria alma os princípios da verdade, ele nunca recuava de mantê-los em plena vista do mundo. Sua alma estava sempre imbuída de um senso profundo e permanente de sua responsabilidade diante de Deus; e ele vivia em íntima e constante comunhão com Aquele que é a fonte de justi-ça, misericórdia e verdade. Apegava-se à cruz de Cristo como sua garantia única de sucesso. O amor de Cristo era o motivo onipotente e imorredouro que lhe dava a vitória em seus conflitos com o eu e o poder de Satanás, em suas lutas contra as forças espirituais do mal nas regiões celestes, em labores constantes, ao avançar contra a hostilidade do mundo e o fardo de suas próprias enfermidades.
O que a igreja necessita nestes dias de perigo é de um exército de obreiros que, como Paulo, se tenham educado para a utilidade, que tenham uma profunda experiência nas coisas de Deus, e que sejam cheios de fervor e zelo em Seu serviço. Necessita-se de homens preparados, refinados, santificados e abnegados; homens que não se esquivem a provas e responsabilidades, mas que ergam os fardos onde quer que sejam encontrados; homens que sejam corajosos e fiéis, homens que tenham a Cristo formado dentro de si, e que, com lábios tocados pelo fogo sagrado, “preguem a Palavra” em meio aos milhares que estão pregando fábulas. Por falta de tais obreiros, a causa de Deus definha, e erros fatais, como veneno mortal, pervertem a moral e minam as esperanças da raça humana.
Paulo levava consigo, em sua vida na Terra, a própria atmosfera do Céu. Todos os que se associavam com ele sentiam a influência de sua ligação com Cristo e a companhia dos anjos. Aqui reside o poder da verdade. A influência espontânea e consistente de uma vida santa é o mais convincente sermão que pode ser pregado em favor do cristianismo. O argumento, mesmo quando irrespondível, pode provocar somente oposição, mas o exemplo piedoso tem um poder ao qual é impossível resistir completamente.
Vinte séculos se passaram desde que o idoso apóstolo derramou seu sangue em testemunho da Palavra de Deus, e em testemunho de Cristo. Nenhuma mão fiel registrou para as gerações vindouras as últimas cenas da vida desse santo homem; a inspiração, porém, preservou o seu testemunho ante a aproximação da morte. Como o clangor de uma trombeta, sua voz tem repercutido através de todos os séculos, fortalecendo com sua coragem a milhares de testemunhas de Cristo, e fazendo vibrar em inúmeros corações, feridos pela tristeza, o eco de sua alegria triunfante:
“Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado. Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda.” II Tim. 4:6-8.
Ellen G. White