Não existe e nunca existirá amor maior que o de Cristo pela raça humana. Sempre que leio sobre o plano da redenção, fico sensibilizada com as palavras escritas no livro O Desejado de Todas as Nações, à página 22, mencionando que o plano de nossa redenção não foi um pensamento posterior, “formulado depois da queda de Adão. Foi a revelação do ‘mistério encoberto desde tempos eternos’”.

Mais adiante, lemos: “Foi um sacrifício voluntário. Jesus poderia haver permanecido ao lado de Seu Pai. Poderia haver retido a glória do Céu, e as homenagens dos anjos. Mas preferiu entregar o cetro nas mãos de Seu Pai, e descer do trono do Universo, a fim de trazer luz aos entenebrecidos, e vida aos que estavam prestes a perecer.”

Considerando esse tão grande amor, cooperar com o trabalho de Deus é um grande privilégio. Dedicar a vida a Seu serviço é participar dessa obra redentiva.

Trabalhando por mais de 30 anos para a Igreja, tenho ouvido algumas queixas de filhos de pastores e obreiros que têm me sensibilizado muito. Por esse motivo, uma carta que recebi de Lilian Becerra de Oliveira, a qual transcrevo na íntegra, fez com que eu participasse de uma bela experiência. Ela é uma jovem senhora, filha de pastor, com dois filhos pequenos, que sempre irradia felicidade, ao participar desta missão.

O que faz a diferença

“Minhas lembranças de adolescente levaram-me a pensar nas conversas com as minhas amigas mais chegadas. Filhas de obreiros adventistas, falávamos acerca do nosso futuro, de nossas aspirações e do lar que queríamos formar. Um dia, perguntei a uma delas: ‘Você se casaria com um pastor ou um missionário que trabalha para a Igreja?’ Poucas se animaram com a idéia. A maioria respondeu com um ‘não’ que transmitia um profundo desagrado. Qual a razão desse sentimento negativo?

“Como filha de pastor, mais de uma vez sofri as pressões sociais e momentos desagradáveis, que, felizmente, não me deixaram marcas. Ao contrário, sempre mantive o desejo de casar-me com um pastor. Hoje, ao escrever, sinto-me completamente realizada. Meu esposo é pastor distrital e, ao acompanhá-lo em seu ministério e apoiá-lo em suas diferentes atividades, sinto-me completamente feliz, provando que o sonho se transformou em realidade. Nada me faz mais feliz do que ser esposa de pastor.

“Porém, hoje, como mãe de uma linda menina, às vezes questiono o porquê desses sentimentos negativos da parte de alguns filhos de missionários quanto ao serviço para a Igreja. Será que nós, como pais, temos algo a ver com os pensamentos desenvolvidos no coração dos jovens, a favor ou contra Deus e Sua Igreja? Há alguma coisa que eu possa fazer para que minha filhinha ame a Deus e à Sua Igreja como eu amo?

“Lembro-me do que os meus pais fizeram por mim. Houve alguma coisa na educação, no viver diário, ou alguma prática familiar que motivou a diferença?

“Os cultos familiares. O local onde aprendi a amar e a respeitar a Deus foi nos cultos familiares, principalmente os de sexta-feira ao pôr-do-sol. Meus pais faziam desse culto um momento agradável. Era a ocasião para cada um de nós mencionar as bênçãos recebidas durante a semana. Todos participávamos. Cantávamos, sorríamos, estudávamos e orávamos juntos. Era um mo-mento solene, porém alegre. Recordo das lindas histórias e também de uma deliciosa ceia. Todo o sábado era um dia feliz. Papai sempre reservava tempo para nós.

“A oração. Não estou pensando na oração pelos alimentos, ou na oração de rotina na hora dos cultos. Refiro-me à oração particular dos meus pais. Elas provocaram em mim uma forte impressão sobre o cuidado e proteção de Deus. Desde pequena, tocava o meu coração, quando por algum motivo abria a porta do quarto dos meus pais e os encontrava ajoelhados, pela manhã ou pela noite; mais ainda, quando oravam em voz alta. Fui testemunha da amizade deles com Deus.

“A devoção pessoal. Nunca apreciei levantar muito cedo, mas quando isso acontecia, mais de uma vez via, por debaixo da porta, a luz acesa no escritório. Poderia ser meu pai ou minha mãe estudando a Bíblia. Que lição prática para a minha vida! Não era só meu pai que estudava profundamente a Palavra de Deus. Minha mãe, de igual forma, tinha o hábito de fazê-lo. Até hoje, ela não somente cuida da casa, como trabalha fora, servindo à Igreja. Pergunto a mim mesma como lhe é possível fazer tudo isso.

“As críticas. Aceito que os pontos acima mencionados deveriam formar parte do viver de todo lar adventista, mas há um ponto que me parece fazer a diferença. Como adulta, olho para o passado e lembro de situações e momentos que justificassem uma queixa ou uma crítica da parte dos meus pais para com a Organização ou seus líderes. Nunca ouvi tal reclamação. O exemplo de lealdade dos meus pais com a Organização ou com a liderança, não importando as circunstâncias, ficou profundamente gravado em meu ser. Sem dúvida, houve observações quanto às pregações, preocupações quanto ao salário ou sentimento de reações no trato de certos líderes. Cada comentário negativo, evidentemente ficou limitado às conversas privadas entre eles e não foram transmitidas a nós. Como poderia amar a minha Igreja, se meus pais não tivessem tido esse cuidado, numa idade em que não estávamos em condições de entender muitas coisas?

“Respostas aos chamados. Sendo esposa de pastor, hoje começo a compreender como os chamados implicam mudanças e que, inevitavelmente, provocam transtornos grandes e pequenos em nossa vida pessoal e profissional. Em nossa família, os filhos são um motivo de júbilo. Meu pai cuidou de transmitir-nos que uma mudança era um chamado de Deus e não dos homens. Jamais soube que ele desejara um cargo ou uma posição, ou que ele tenha rejeitado um chamado. Admiro mais os meus pais por acompanhá-los e apoiá-los nessa convicção. Assim, como filha, aprendi desde pequena que é Deus quem dirige a nossa vida.

“O que acabo de mencionar não é necessariamente algo extraordinário. São realidades simples, praticadas diariamente na vida de todos e que fizeram uma diferença em minha vida. Na verdade, é uma grande diferença que me faz feliz, enquanto sirvo ao meu Deus e à minha Igreja.”