“Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição ” — I Tess. 4:3

No coração de todos os homens, mes-mo os bons cristãos, trava-se uma batalha tão real como uma guerra lite-ralmente deflagrada. É uma batalha por integridade, decência e pureza; uma luta que supera as forças que parecem humanamente incontroláveis. E muitos estão perdendo essa batalha.

Dom distorcido

O sexo é um precioso dom de Deus. Mas de todos os dons da criação é provavelmente o mais embaraçoso. Há mais potencial para o pecado no domínio da sexualidade do que em quase qualquer área de nossa vida. A admoestação de Paulo aos tessalonicenses indica o poder que o sexo exercia já em seus dias.

Em mais de 30 anos de prática clínica, trabalhando com homens cristãos e pastores, não tenho encontrado um tópico mais desconcertante do que este. Apesar da revolução sexual, ou talvez por causa dela, os homens parecem estar cada vez mais confusos do que antes, frente à sua sexualidade. Lutam para compreender o seu poder, como controlá-la e, acima de tudo, como santificá-la, de acordo com a advertência paulina.

Por que será que muitos lutam tanto para equilibrar a ação dos hormônios com seu desejo de serem bons, devotados e fiéis maridos e pastores? Uma razão é que as tensões que sentimos na vida sexual parecem corresponder à “concupiscência da carne”. Outra razão é que vivemos em uma época de estímulos sobrecarregados de sexo.

Esses homens engajam-se numa luta que é indiscutível, como todo conselheiro familiar o sabe. Mesmo homens bons têm dificuldade para diferenciar entre a sexualidade saudável, daquela que é anormal. Muitos deles temem que, pelo fato de possuírem um forte direcionamento sexual, tenham algum desvio. Alguns temem que possam ser pervertidos ou viciados em alguma aberração sexual.

O pano de fundo da questão é que to-dos os homens lutam para conservar a cabeça acima das turbulentas ondas de seu testosterona. O direcionamento sexual é uma força poderosa em homens saudáveis e, logicamente, alguns lutam mais que outros. Homens com forte direcionamento sexual podem facilmente desenvolver um penetrante senso de culpa e auto-rejeição, embora esse forte direcionamento não seja anormal.

Que nós devemos controlar nossos impulsos sexuais e canalizá-los para um escape apropriado é o desafio que todos enfrentamos. Mas como vamos conseguir fazê-lo? Qual é o real problema?  Certamente não é a sexualidade em si mesma, já que ela é parte da criação de Deus. Acredito que esse dom divino tem sido distorcido, e os homens em particular têm perdido o rumo. O que Deus tencionava fosse uma feliz e transcendente experiência de união entre um homem e uma mulher acabou sendo um aborrecido e frustrante desafio.

Fontes de distorção

Podem ser identificadas muitas fontes de distorção sexual. A primeira delas é o véu do silêncio. Isso aumenta a influência distorcida da sexualidade masculina. Embora a média dos homens pense muito em sexo, esse é um assunto muito pessoal e íntimo para ser discutido abertamente. Eles nem querem admitir quão freqüentemente pensam a respeito do assunto.

Alguns homens fazem piadas com o sexo, mas dificilmente falam seriamente sobre ele. O resultado? Muitos garo-tos crescem lutando para distinguir entre o que é normal e saudável do que é doente e pecaminoso. Não têm sentido de onde reside o normal porque não sabem o que outros estão pensando ou sentindo intimamente.

Esse véu de silêncio pode ter conseqüências devastadoras. Por um lado, os garotos não obtêm informação acurada e saudável sobre sexo, da parte dos pais, à medida que crescem. O que eles aprendem com os amigos é cheio de distorções ou emoldurado com a culpa tão associada ao sexo em alguns lares cristãos.

Há, entretanto, uma penalidade muito mais séria para o silêncio dos homens: o fracasso em ajudar os pais a modelarem uma sexualidade saudável. Muitos filhos não vêem os pais como seres sexuais e isso pode, por exemplo, privá-los de aprender como se comportarem diante de uma mulher. Sem modelos adequados, os meninos desenvolvem uma sexualidade que é desencaminhada e, em muitos casos, imoral e perigosa.

Pornografia e cibersexo são a segunda fonte de distorção sexual. Não existe maior ameaça a uma saudável e santificada sexualidade masculina do que a pornografia. Ela está devastando nossos filhos e criando uma epidemia de viciados em imagens sexualmente estimulantes. Através da pornografia e dos meios de comunicação que a exploram, muitos homens têm desenvolvido ou exacerbado uma sexualidade obsessivo-compulsiva. Têm manipulado os aspectos físicos da sexualidade humana e agido compulsiva e obsessivamente em relação a eles.

A média dos homens hoje é bombardeada de todo lado por estímulo sexual. A mídia descobriu que a publicidade apelativa ao sexo vende mais do que qualquer coisa. Poucos homens escapam a essa influência. A pornografia também alimenta expectativas irreais de recompensa, muda a visão dos homens em relação às mulheres, que passam a ser vistas apenas como objetos sexuais, e fomenta a sexualidade sem compromisso. Isso significa que muitos homens usuários da pornografia não sabem como se relacionar com as mulheres e têm grande dificuldade em resolver esse problema.

Mas a pornografia é apenas a ponta do iceberg. O cibersexo está se tomando a principal fonte de pornografia. Existem hoje milhares de websites oferecendo sexo explícito em privacidade total. Isso já é uma grande tentação para homens cristãos. Há um panorama mais assustador que transforma a pornografia em sexo virtual, onde computadores ligados à Internet oferecem uma variedade de experiências sexuais, em tempo real, com parceiros virtuais. Isso é tão viciante que é apontado como abuso na lista de preocupações sociais.

Finalmente, a terceira fonte de distorção sexual está relacionada com a puberdade, adolescência e o “longo período de espera”. A influência deletéria da pornografia é particularmente severa quando captura jovens. Nesse contexto, necessitamos estar despertos para um significativo efeito biológico: a idade da puberdade cada vez é mais precoce. Essa realidade sempre aparece como uma surpresa em qualquer lugar onde faço palestras sobre o assunto. Para meninos e meninas, quanto mais desenvolvida é uma cultura, mais cedo ocorre a puberdade. Muitos fatores, incluindo condições de vida saudável e melhor nutrição, são considerados como causa do problema.

Há 200 anos, a puberdade ocorria somente por volta dos 17 ou 18 anos, quando um jovem estava perto de casar. Era um curto período de espera pelo sexo. Quando eu era adolescente, a idade média para a puberdade era 13 anos. Meus netos estão agora atingindo a puberdade por volta dos onze anos. Quem sabe quando esse fenômeno vai se estabilizar? É assustador perceber que garotos com onze anos possam estar fisicamente maduros para fazer bebês, mas não estejam suficientes maduros para alimentá-los e criá-los. Mas essa é a realidade do nosso mundo hoje.

Há mais potencial para o pecado no domínio da sexualidade do que em quase qualquer área da vida.

Em suma: o período de espera entre a puberdade e o momento quando um jovem pode legitimamente experimentar o sexo no casamento já está longo e continua aumentando. Esse longo período de espera é altamente influenciável em prover oportunidades para o desenvolvimento de distorções sexuais no jovem.

As alternativas seculares, comuns, hoje, são o sexo livre de qualquer compromisso, com risco de gravidez indesejada e as distorções psicológicas culturais e sociais decorrentes, ou a masturbação associada à pornografia. Não raro ocorre uma combinação das duas coisas. Seguramente, uma forte dependência de pornografia, por homens, nesse período da vida, deve criar sérias tendências viciantes que dificilmente serão quebradas.

O caminho saudável

Diante do que foi dito até aqui, nunca será exaustivo afirmar quão importante é que abordemos esse assunto em nossas igrejas. Não existe outra estrutura social em que devamos colocar nossa esperança. Devemos dar a mais alta prioridade em modelar uma saudável sexualidade em nossos jovens, especialmente meninos.

Também necessitamos prover oportunidades para ajudar os homens. Incriminá-los porque eles parecem fora de controle, não ajuda. Isso apenas produzirá mais culpa, remorso e silêncio. A batalha pode ser vencida somente se os ajudarmos a desenvolver uma sexualidade saudável. Os desafios são enormes e não quero dar a impressão de que existam soluções rápidas e fáceis. Entretanto, aqui estão alguns caminhos práticos que podem começar a reconstruir o maravilhoso presente que Deus nos deu:

Intervenção divina. Embora haja muitas ajudas terapêuticas oferecidas, somente o poder de Deus pode resgatar um homem de qualquer grau de sexualidade distorcida.

Rompendo o véu. Devemos ajudar a Igreja a quebrar o véu de silêncio que envolve a sexualidade. É chegado o tempo para discussão franca e aberta, nas igrejas, sobre os perigos de fantasias sexuais, da exposição de crianças à pornografia, e sobre a importância de uma vida equilibrada e saudável. Quando a vida de alguém é rica em significado, as tentações sexuais perdem sua força.

Ajuda conjugal. Os casais necessitam ajuda para tratar de seus problemas sexuais no casamento. Igrejas que mantêm distância desses assuntos ou que não oferecem programas de ajuda a casais em suas lutas e diferenças estão apenas perpetuando o problema.

Ajuda aos filhos. Os pais necessitam aprender ajudar seus filhos, especialmente meninos, a desenvolverem uma sexualidade saudável. Isso deve ser feito sem fingimentos, sem criar culpa, que é inadvertidamente a maneira mais comum à qual os pais cristãos recorrem.

Os problemas enfrentados pelos homens enquanto eles procuram desenvolver uma sexualidade santificada não vão terminar. Os desafios serão ainda maiores. Mas a igreja deve estar comprometida a restaurar a sexualidade santificada.