Recursos para enfrentar e superar situações de crise
Não raro, no ministério pastoral, as crises podem surgir imperceptivelmente e tomar diferentes formas. Morte, acidente, separação conjugal, fuga de um filho, conflito teológico, desafios à liderança pastoral, queixas, comissões ácidas, igrejas divididas, disputas pelo poder, conflito interpessoal; bem, a lista vai longe.
A tendência humana de nos sentirmos pessoalmente ameaçados e vulneráveis toma as crises assustadoras e potencialmente destrutivas. Qualquer que seja sua origem, a crise rápida e facilmente se toma um desafio ao nosso ego. Nós a tomamos pessoalmente. Preocupamo-nos sobre como reagiremos. Esperamos provar que somos adequados e competentes. Identificamo-nos com a pessoa em crise e nos sentimos vulneráveis. Permitimos que a crise se tome referência sobre nosso valor pessoal, como pastores e indivíduos.
Esse último conceito é especialmente verdadeiro quando a crise é centralizada no desempenho pastoral. Um membro da igreja nos escreve, sugerindo que poderíamos ser mais felizes fazendo outra coisa em outro lugar. Ouvimos que pessoas estão insatisfeitas com nossa liderança. Somos transferidos para outro lugar, e ficamos sabendo que a igreja anterior gostaria mesmo de ter um melhor pregador. O presidente da Associação nos chama ao seu escritório e conversa sobre as queixas de alguns irmãos.
Como reagir a tais crises? Que deveríamos fazer? O que não deveríamos fazer? Acredito que as sugestões seguintes podem ajudar a responder essas indagações.
O que não fazer
Não se sinta vítima. Você não está desamparado. As pessoas têm diferentes personalidades e perspectivas. Só porque elas não concordam com você, não significa que você seja um pobre coitado. Houve um tempo em que me senti incomodado por alguns irmãos, e sua crítica anuviou meus pensamentos e percepções. Queixei-me disso a alguns colegas e de quão difícil era pastorear aquela igreja. Até que um deles me ensinou a mudar minha perspectiva. Compreendi que eu não era a vítima. Escolhi pastorear e parar de me queixar. Escolhi não ser vítima.
Não fique na defensiva. Conserve a boca fechada e respire pelo nariz! Ouça cuidadosamente. Busque compreender em vez de ser compreendido. Não explique; apresente razões, ou argumentos.
Não se leve tão a sério. O que você está enfrentando não é uma catástrofe. Você não é o primeiro pastor a ser criticado, nem será o último. Concentre-se sobre o que pode aprender da crise. É normal ser humano e falhar. Depois de tudo, até o maior apóstolo disse: “Quem, porém, é suficiente para estas coisas?” (II Cor. 2:16). A resposta é clara: ninguém. Você é apenas um servo de Deus; não tem de ser Deus. Relaxe.
Não fique ansioso nem se sobrecarregue. Deus vê todas as coisas; está no controle, à sua frente. Ele o ajudará a gerenciar toda dificuldade. Também não precisa exibir -se, mostrando um catálogo de soluções para tudo. Não tente resolver todos os problemas de todas as pessoas.
Não tente controlar todas as coisas. Tudo o que você conseguirá tentando controlar as pessoas é o entre-choque de vontades. Nem Deus tenta controlar as pessoas. Ele lhes dá liberdade de escolha.
Não se distancie das pessoas. Quando estamos magoados, a tendência natural é nos afastarmos dos que nos ferem. Não importa quão dolorosa seja a situação, busque as pessoas e gaste tempo com elas. Se você se afastar – tanto no sentido físico ou emocional —, aumentará o desentendimento e porá mais combustível no fogo do conflito. Você tem de permanecer engajado. Você deve estar presente, e essa presença não pode ser ansiosa, se é que deseja curar-se.
Não tente tornar as pessoas iguais a você. Nós, pastores, somos motivados pelo desejo de que as pessoas sejam iguais a nós. Isso é compreensível, mas não é o melhor. Devemos estar mais preocupados com o bem das pessoas às quais servimos do que com a semelhança delas conosco. Deus não nos chamou para preencher todas as necessidades das pessoas, mas para torná-las seguidoras de Cristo.
Não manipule. Manipulação significa tentar levar pessoas a fazer alguma coisa que elas não querem fazer. Não raro, fazemos isso arranjando as circunstâncias de modo que elas não tenham escolha, a não ser fazer o que desejamos Geralmente, isso acontece nos bastidores.
Não vacile. Sua hesitação causa ansiedade em outras pessoas. Um velho adágio, entre carpinteiros, diz o seguinte: “Meça duas vezes; corte uma vez.” Com muito cuidado, reflexão e oração, decida o que fazer. Então, faça-o, sem hesitar. Líderes que fazem as coisas sabendo o que estão fazendo acalmam a ansiedade e reduzem as tensões.
Não polarize nem permita polarização. Não alicie adeptos; não exclua pessoas que discordem de você. Não coloque seus liderados em campos o-postos, nem permita que isso seja feito. Quando existe polarização, as pessoas ficam obrigadas a defender suas posições. É muito fácil transformar uma discordância em algo como “nós versus eles”. Quando isso acontece, a razão foge pela janela. A tensão aumenta e o conflito sobe a escala ascendente.
Não forme triângulo. Um triângulo acontece quando você entra no conflito entre duas pessoas, entre dois grupos, ou entre duas idéias opostas. Dois membros da igreja em conflito relatam a você, cada um, a visão deles sobre a questão em pauta, esperando que você tome partido. Não aceite compor o triângulo, nem dê ouvidos a fofocas de um sobre o outro.
Não tente socorrer toda vez que alguém tiver um problema. Sempre que vemos alguém em apuros, mesmo que esteja colhendo conseqüências dos próprios erros, queremos socorrê-lo. Em muitos casos, as pessoas são mais resilientes do que acreditamos que sejam. Nem sempre necessitam ser socorridas, podendo administrar a situação e crescer a partir da experiência vivida. Ao lado disso, nosso esforço para socorrer impede que venham à tona questões reais que, assim, nunca serão administradas.
O que fazer
Partilhe sua visão. Fale às pessoas a respeito de seus sonhos, quais metas você tem para a igreja e seus membros. Pinte um quadro convincente a respeito de um futuro melhor. Em vez de responder ataques ou críticas, diga o que, e onde, você está tentando fazer.
Conserve-se otimista. Você pode avançar através de seus problemas, porque Deus está ao seu lado. Ele é fiel e não vai abandoná-lo. Continua sendo sua Rocha e Fortaleza, sua Torre segura. As pessoas que se opõem a você não são más nem são o demônio. Elas apenas têm um ponto de vista diferente do seu.
Mantenha o senso de humor. Tente encontrar alguma coisa divertida, mesmo em situações difíceis.
Capacite as pessoas. Ajude seus liderados, incluindo os oponentes, a dizer o que querem dizer. Expresse sua confiança neles, a fim de facilitar o tratamento da crise.
Permaneça conectado. Mantenha-se unido a todos, especialmente àqueles que despertam as reações mais desagradáveis em você. Não os evite. Trabalhe no sentido de criar um relacionamento ainda mais forte com eles.
Discorde com diplomacia. Seja sempre polido e respeitoso. Quando perceber que suas emoções estão à flor da pele, faça uma pausa e conte até dez.
Controle o timon e conserve o barco na rota. Não comece a navegar em toda direção, tentando agradar a todo mundo. Ouça cuidadosamente cada parte. Porém, isso não significa que você fará necessariamente o que seus críticos desejam que você faça.
Gerencie o triângulo. A regra básica para manejar triângulos é conseguir que as pessoas ou grupos nos outros dois vértices tratem diretamente entre si da questão conflitante, em vez de fazer isso por seu intermédio. Como? Recusando-se a guardar segredos que cada um contra sobre o outro. Abra portas e janelas; deixe entrar tanta luz e ar quanto for possível. Nada de reuniões e conversas privativas. Nada de segredos.
Mantenha sintonia com Deus. Situações de conflito deveriam motivá-lo a manter-se de joelhos. É aí que Deus Se torna seu verdadeiro refúgio e fortaleza. Fique sintonizado; ore. Ouça Sua voz. Caso Ele o convide a se arrepender de algo que fez ou disse, arrependa-se e acerte-se com Ele. Se necessitar desculpar-se com alguém, pelo que fez ou disse, faça isso; porém, esteja seguro de que não está querendo apenas agradar a essa pessoa.
Seja aberto e direto. Agendas misteriosas, escondidas, criam problemas. Diga o que você pensa e pense o que você diz. Paulo falou do benefício mútuo, para quem diz e para quem ouve, de se falar “a verdade em amor”, e como esse hábito nos ajuda a crescer em Cristo (Efés. 4:15).
Estabeleça limites bem claros. Conheça bem seu espaço, quais assuntos lhe são pertinentes e quais não são. Pense em sua vida como sendo sua propriedade. Há uma linha que separa seu terreno do terreno do vizinho. O que estiver do seu lado é seu; o que estiver do outro lado é dele. Determine para si mesmo, pela graça de Deus, como sentir. E deixe que o Espírito Santo faça o mesmo pelos que o rodeiam.
Controle necessário
Administrar conflito não é coisa fácil. Todos nós possuímos temores secretos. Quando alguém aciona nosso “interruptor”, reagimos, porque certamente um desses temores está sendo atingido. Quando isso acontece, ficamos assustados, entramos em pânico, e começamos a agir defensivamente. Nosso corpo se agita; nosso coração acelera, as pupilas dilatam-se. O sangue toma o rumo dos nossos músculos, saindo dos órgãos internos, e deixamos de ser racionais. Isso acontece a toda pessoa, em alguma extensão. A boa-nova é que temos tempo entre o estímulo e a resposta. Então, podemos usar esse tempo para escolher uma resposta diferente daquela que poderia vir naturalmente.
Davi VanDenburgh, pastor em Kettering, Ohio, Estados Unidos