A história da Igreja cristã foi marcada, entre outras coisas, pela diferença de opiniões sobre o assunto da perfeição. Efetivamente, não faltam injunções bíblicas com o intuito de manter o crente desperto na perseguição desse elevado objetivo: “… anda na Minha presença e sê perfeito” (Gên 17:1); “Perfeito serás para com o Senhor, teu Deus” (Deut. 18:13); “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mat. 5:48); “… para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes” (Tiago 1:4). Essas são apenas algumas dentre muitas passagens que tratam do assunto.

Mas em que termos as Escrituras colocam a experiência da perfeição cristã? Trata-se, porventura, de perfeição absoluta? Sem pecado? Em outubro de 1970, a re-vista Ministry explorou o tema ao publicar três artigos, os quais reapareceram num encarte inserido na edição de agosto deste ano da mesma revista. Um deles, de autoria do Dr. Edward Heppenstall, renomado teólogo adventista nas décadas de 60 a 80, é uma das principais matérias desta edição de Ministério e contém respostas para essas questões.

A verdade é que o Antigo e o Novo Testamentos ensinam um conceito profundo e prático de perfeição. Por sua vez, os escritos de Ellen White contêm numerosas declarações sobre o tema, de modo que é um privilégio para o investigador adventista apropriar-se corretamente desses recursos, evitando assim interpretações distorcidas.

Segundo o ensinamento bíblico, a experiência da perfeição é nada mais que um caminhar constante com Deus, em direção ao crescimento e à maturidade espirituais, como fizeram Abraão, Moisés, Paulo e outros personagens das Escrituras. Esse caminhar com Deus está enraizado na Sua graça restauradora. É um viver diário na certeza do perdão de Deus e sob Sua misericordiosa proteção. Tal relacionamento implica uma transformação de caráter no homem, através da justificação e progressiva santificação pela fé no Redentor. Essa vida de reconciliação com Deus é manifestada em nosso dia-a-dia, no relacionamento interpessoal.

Embora o cristão deva buscar zelosamente o crescimento e maturidade espirituais, é certo que a única manifestação de caráter absolutamente perfeito, inerentemente sem pecado, somente foi vista na vida de Cristo Jesus. O cristão não tem perfeição em si mesmo. E quanto mais se aproxima da excelência de Cristo, mais imperfeito e indigno se percebe. Contudo, não será sempre assim. Ele prossegue em esperança, no temor do Senhor, aguardando ansiosamente a consumação da obra de Cristo em sua vida e na própria natureza, por ocasião da segunda vinda (Rom. 8:22 e 23).

Para o cristão, essa esperança não é um mero desejo, mas um poder santificador que o habilita para o glorioso encontro com seu Senhor e Salvador: “E a si mesmo se purifica todo o que nEle tem esta esperança, assim como Ele é puro” (I João 3:3).

Zinaldo A. Santos