Em lugar de baixar o padrão na tentativa de entreter o jovem, devemos dar-lhe responsabilidades na igreja

Recentemente, assisti a um congresso cristão. Tendo trabalhado com jovens durante muito tempo, eu estava interessado no que fora planejado para eles, de modo que lá estava em companhia do meu filho de 15 anos. Assisti a uma apresentação multimídia que foi uma boa entrevista com o presidente da Associação. Ele respondeu a questões sobre coisas relacionadas aos adolescentes, e o fez com admirável sinceridade. O que se seguiu me surpreendeu totalmente. Muitos rapazes lideravam o cântico, tocando guitarras elétricas, um teclado e bateria. No fim da segunda música, alguns jovens dançavam nos corredores e eu emudeci.

Sempre tive a fama de ser um adventista progressista. Em anos passados, eu estaria de guitarra em punho onde aqueles rapazes estavam agora. De modo que me surpreendí quando a seguinte observação estalou na minha mente: “As coisas que descrevestes como ocorrendo em Indiana, o Senhor revelou-me que haviam de ocorrer imediatamente antes da terminação da graça. Demonstrar-se-á tudo quanto é estranho. Haverá gritos com tambores, música e dança. Os sentidos dos seres racionais ficarão tão confundidos que não se poderá confiar neles quanto a decisões retas. E isto será chamado operação do Espírito Santo.” — Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 36.

No rastro dessas palavras, vieram outras: “Não julgueis para que não sejais julgados” (Mat. 7:1). Resolvi aproveitar o evento da melhor forma possível, imaginando que a Associação convidara aquele grupo em uma tentativa de alcançar os jovens. Por anos, tenho trabalhado com pessoas honestas, preocupadas com o fato de que, com a televisão, Internet, os filmes e videogames, os jovens já não se contentem com a simplicidade das reuniões religiosas. Mas agora temo que nossas tentativas de equiparar-nos à cultura moderna possam levar-nos a gerar cristãos nominais.

Estágios de crescimento

Antes dos cinco ou seis anos, as crianças têm ansiedade para saber que Jesus as ama. E elas O amam também. Mas, sempre acontece algo: as mesmas pessoas que quando eram crianças gostavam de ir à frente e ouvir a história infantil, estão agora na última fileira da galeria, com as mangas das camisas arregaçadas, gravata frouxa e o pensamento longe do culto.

Muitos adolescentes estão inseguros quanto a seus sentimentos em relação a Deus. E querem ter certeza de que podem ser amados por Ele. Penso que o segredo para ganhar e conservar os jovens é traduzir a segurança de sua posição diante de Deus em linguagem que eles entendam. Meu problema com o programa anteriormente mencionado não era a bateria nem o ritmo da música. Aliás, uma leitura cuidadosa da declaração de Ellen White mostra que ela não se prendeu a detalhes. Sua preocupação era a totalidade do que estava acontecendo em nome de Deus, e que estava confundindo a percepção racional.

Quando penso nisso, concluo que, em nossos esforços para levar pessoas a Cristo, devemos ser cuidadosos para não introduzirmos qualquer coisa que confunda ou embote os sentidos de tais pessoas. Também não podemos nos permitir ignorar o componente racional do indivíduo. Devemos apelar a essa parte da consciência humana, de tal modo que ajudemos as pessoas a compreender que estar em Cristo envolve uma escolha consciente.

Necessitamos integrar aos nossos métodos evangelísticos aquilo que os especialistas ensinam sobre o desenvolvimento cognitivo infantil. Jean Piaget identificou quatro estágios desse desenvolvimento: o período sensorial-motor (do nascimento aos dois anos); pensamento pré-operacional (dois a seis ou sete anos); operações concretas (seis/sete a onze/doze); e operações formais (onze/doze à vida adulta). Gostaria de me deter nos dois últimos.

Cedo demais

Muitas igrejas tentam alcançar as crianças enquanto elas ainda estão na fase das operações concretas. Alguns argumentam que, se não as batizarmos logo, provavelmente elas se perderão. Mas, nesse estágio, embora a criança possa compreender e repetir uma doutrina religiosa, ainda não pode administrar problemas abstratos ou considerar todos os resultados logicamente possíveis. Em outras palavras, estamos tentando alcançar essas crianças antes que sejam plenamente “seres racionais.”

Então, não poderemos esperar nem exigir delas além do que podem dar. O batismo não as amadurece; elas continuam sendo crianças. Até que alcance o estágio da operação formal, a criança não é capaz de pensar de forma lógica e abstrata. Nesse ponto, ela também pode raciocinar teoricamente. E isso suscita uma questão desconfortável: Desejamos batizar nossas crianças em uma condição que pode originar inseguranças, de modo que a fé não resista ao escrutínio lógico da juventude? Certamente, não. De todas as denominações cristãs, a nossa é vista como a única na qual todas as doutrinas cabem em uma totalidade lógica.

Recomendações

O que fazer para que nosso esforço na direção de salvar nossos filhos não se tome um desserviço? Primeiramente, devemos abandonar a noção de que precisamos competir com o uso da tecnologia moderna e seus efeitos no entretenimento. Podemos, de fato, usá-la a nosso favor. Mas, pensar que te O que fazer para que nosso esforço na direção de salvar nossos filhos não se tome um desserviço? Primeiramente, demos de competir com o mercado da diversão, barateia o evangelho e transforma o pastor em artista. Não somos chamados a entreter, mas para alcançar a mente e o coração das pessoas, em parceria com Deus.

A linguagem que usamos pode nos trair. Pregamos da plataforma ou do teatro7. Levantamo-nos diante de um auditório ou de uma congregação7 Nossos diáconos são porteiros ou diáconos? A igreja, independentemente do que faça, nunca pode competir com a indústria do entretenimento. Este trabalha com emoções; o culto, com a mente e o coração.

A segunda coisa que devemos fazer, e bem, para alcançar nossos filhos, é ensiná-los, desde os onze ou 12 anos, como aplicar os princípios espirituais na sua vida. As doutrinas são importantes. O que cremos sobre o estado dos mortos, a segunda vinda e o sábado vai se tornar mais importante ao nos aproximarmos do fim. Mas as doutrinas, em e por si mesmas, por mais importantes que sejam, não são suficientes. A menos que levemos nossos jovens a refletir sobre o lugar de Deus na vida deles, simplesmente esquentarão os bancos da igreja, se tanto.

Devemos tomar os vários assuntos que nos desafiam e modelar uma forma efetiva de lidar com eles diante dos jovens, mostrando-lhes como aplicamos a Palavra de Deus em nossa vida. Eles aprenderão a fazer isso por si mesmos.                              

Outra coisa que devemos fazer é integrar os jovens na liderança e em ativo ministério. Não estou falando de colocar uma divisão infantil para cantar algum cântico no 13° sábado; nem de reservar um “sábado dos desbravadores” no qual um juvenil lê o sermão que o pai ajudou a preparar. Estou falando de darmos aos jovens responsabilidades genuinamente significativas. Eles devem saber que realmente estão contribuindo para a vida da igreja e a vida das pessoas ao seu redor. Há uma infinidade de modos pelos quais juvenis e jovens podem ajudar. De modo que, ao invés de baixar o padrão na tentativa de entretê-los, deveríamos lhes dar responsabilidades e ajudá-los em sua transição para a vida adulta.

Finalmente, devemos ouvir os jovens. Todo pastor deveria gastar tempo ouvindo as preocupações dos membros jovens da sua igreja. O pastor pode conhecer perfeitamente bem toda preocupação que um jovem pode ter; mas, sem engajar-se em um processo de ouvir, estará impedindo um mútuo relacionamento pleno. Embora não acreditemos que os pastores sejam substitutos de Deus, enganamo-nos se não compreendemos que, de muitas formas, ele representa a Igreja diante do jovem.

Durante toda a minha vida adulta, tenho testemunhado a luta da Igreja para alcançar o jovem. Embora sempre nos perguntemos como fazer isso, esquecemo-nos de que Deus usou adolescentes para ajudar a implantação do movimento que se tornou a Igreja Adventista do Sétimo Dia. Primeiramente chamou uma garota de 17 anos para dar Sua mensagem e, a partir daí, muitos outros e durante muitos anos foram usados.

No século 19, muitos jovens regularmente assumiram responsabilidades na Igreja. Seguramente, temos boas lições a aprender e colocar em prática, hoje, do modo como aquelas pessoas inteligentes viam a Igreja.

L. Albert Mathewson, Psiquiatra no Instituto de Saúde Mental Lakeshore, Tennessee, Estados Unidos