Situações da vida em família são caminhos pelos quais podemos conduzir nossos filhos a Deus

Raquel Arrais – Diretora dos Ministérios da Criança e do Adolescente, da Divisão Sul-Americana

Como pais, desejamos que nossos filhos experimentem a alegria de conhecer Jesus desde os primeiros dias de vida. E junto com esse desejo, vêm-nos também à mente perguntas que nos fazem pensar. Por exemplo, quanto pode uma criança realmente compreender sobre a Divindade? Como isso muda à medida que ela cresce? A fim de ajudar nossos filhos a desenvolverem a fé que levarão para a vida adulta, é essencial que atuemos em cada estágio de seu desenvolvimento.

Os primeiros anos são fundamentais para o desenvolvimento espiritual da criança. E Ellen G. White orientou sobre a importância desse estágio, ao escrever o seguinte: “Nunca se pode acentuar demasiadamente a importância da educação ministrada à criança em seus primeiros anos de existência. As lições aprendidas, os hábitos formados durante os anos da infância, têm mais que ver com o caráter e a direção da vida do que todas as instruções e educação dos anos posteriores.

“Os pais devem considerar isso. Eles precisam compreender os princípios que fundamentam o cuidado e a educação das crianças.”1

Oportunidades áureas

Nós, os pais, procuramos sempre estar presentes, prontos a alimentar o bebê faminto, brincar com ele quando acorda, ou niná-lo para dormir. Por meio dessa experiência, a criança desenvolve o fundamento do amor e da confiança em nós e, posteriormente, em Deus também.

Outra grande oportunidade que podemos utilizar para ensinar os filhos a adorarem a Deus, é aproveitar a curiosidade natural que eles possuem e falar-lhes a respeito do poder e da criatividade do nosso Senhor. Devemos falar de Deus como o Criador, enquanto caminhamos em meio à natureza, quando lemos livros com ilustrações a ela relacionadas, ou quando visitamos um jardim zoológico. Essas atividades

simples produzem resultados significativos no desenvolvimento emocional e cognitivo da criança. E o que é aprendido aqui fica registrado para sempre em sua memória.

Ao chegar à faixa dos três e quatro anos, a criança expressará muitas vezes os seus pensamentos e sentimentos, durante as horas em que estiver brincando. Esse é um bom momento para estar perto e partilhar experiências. À medida que nossos filhos aprenderem mais a respeito do amor de Deus, alimentarão o desejo de Lhe demonstrar também o seu amor infantil. E o farão através de hinos e singelas orações.

Esse é um estágio de rápido desenvolvimento mental. Com a capacidade intelectual em expansão, a criança vai adquirindo melhor compreensão a respeito do certo e do errado. Assim, enquanto nossos filhos aprendem as verdades bíblicas, como amar as pessoas, respeitar os pais, e ser verdadeiros, podem começar a colocá-las em prática. “É durante os primeiros anos da vida da criança que sua mente é mais suscetível a impressões, sejam boas ou más. Durante esses anos, faz-se decidido progresso, quer na direção certa, quer na errada. De um lado, muita informação inútil pode ser adquirida; de outro, conhecimento muito sólido e valioso.”2

Muitas crianças, que nasceram e foram criadas em lares cristãos, por volta dos seis anos, estão prontas para convidar Jesus a fim de que Se torne amigo delas por toda a vida. Embora seja esse um período emocionante para os pais, é importante que as crianças tomem sua própria decisão.

Perguntas inquietantes

Quando chega aos sete e oito anos, a criança começa a fazer indagações mais profundas. Mas não devemos nos preocupar. Perguntas e dúvidas indicam que estão amadurecendo e aprendendo a buscar suas próprias respostas. E quando descobrirem tais respostas, pesquisando as Escrituras ou conversando sobre o assunto, estarão se equipando melhor para seguir a Deus por decisão livre, em lugar de serem obrigadas por nós a fazer isso. Devemos incentivar nossos filhos a empregarem suas capacidades e habilidades especiais para servir a Deus e às pessoas que os cercam.

O conselho seguinte é sobremodo oportuno: “As crianças de oito, dez, ou doze anos, já têm idade suficiente para serem dirigidas ao tema da religião individual. Não ensineis vossos filhos com referência a um tempo futuro em que eles terão idade bastante para se arrependerem e crerem na verdade. Caso sejam devidamente instruídas, crianças bem tenras podem ter ideias corretas quanto a seu estado de pecadores, e ao caminho da salvação por meio de Cristo. Os pastores são em geral bastante indiferentes para com a salvação das crianças, e não se dirigem a elas tão pessoalmente como deveriam. Passam com frequência desaproveitadas áureas oportunidades de impressionar a mente delas.”3

A relativa calma que presenciamos na criança, quando ela alcança nove e dez anos de idade, parece desaparecer por volta dos onze, quando a sua mente dá um salto dramático do comportamento de seguir regras concretas para um mundo de possibilidades infinitas. Nessa época da vida, as crianças começam a pensar e a fazer interrogações como: “e se…?” “E se Jesus não tivesse morrido?” “E se isto ou aquilo tivesse acontecido?” “E se isto ou aquilo não tivesse acontecido?”

Projeto de longo prazo

Devemos buscar juntos as respostas para questões difíceis. A pesquisa em si irá mostrar à mente adolescente que a fé é um processo de crescimento e aprendizagem, até mesmo para os adultos. É nessa fase que nossos filhos começam a lutar com sua própria identidade e buscam se “encaixar” no mundo. E o momento de ficarmos ao seu lado e ajudá-los a encontrar essa identidade no Senhor Jesus, dedicando-lhes tempo, cuidado e oração.

À medida que eles crescem e se desenvolvem, devemos manter sempre os olhos abertos aos indícios de seu avanço na maturidade espiritual e estar por perto, a fim de ajudá-los nessa jornada.

Ensinar aos filhos a experiência de adoração a Deus não é um projeto de curto prazo. Devemos sempre buscar formas de demonstrar nosso amor, que é a expressão mais aproximada que temos do verdadeiro amor que flui do nosso Pai Celestial. Que nossas ações possam encorajar nossos filhos a descobrir, apreciar e então responder ao amor de Deus.

Referências:

1 Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, pág. 380.

2 _______________, Orientação da Criança, pág. 193.

3 ________________, Testemunhos Seletos, vol. 1, págs. 150 e 151.