prezados pais, quem, escreve também é um pai…
Com profundo pesar, lhes confesso que gostaria de apresentar um testemunho positivo de minha experiência como pai, das minhas alegrias, das boas recompensas recebidas dos filhos, dos frutos dos meus ensinamentos a eles, mesmo que estes fossem colhidos tardiamente. Porém, não é o que tenho para lhes mostrar agora. De fato, jamais o terei.
No entanto, quero desabafar a dor proveniente de uma ferida interior incurável e, quem sabe, poder alertar aqueles que ainda têm a oportunidade de exercer a paternidade, ou, aqueles que ainda pretendem ser pais.
Tive dois filhos – dois meninos que eram a nossa alegria. E, mesmo a despeito de eu ter muitas exigências relacionadas ao meu trabalho – eu era a maior autoridade do setor judiciário de meu país -, procurava mostrar a eles que os amava. De vez em quando, brincava com eles, lhes dava muitos presentes, procurava agradá-los bastante.
Eles eram meninos normais: brincavam, riam, choravam, faziam peraltices, alimentavam manhas, eram sadios. Quanto a mim, sempre me considerei um bom pai. Aparentemente, tudo corria bem. E, algo importante: muitas vezes, eles iam à igreja comigo, pois ali eu ocupava um cargo de grande importância, que também tomava parte significativa de meu tempo. Fazendo-me acompanhar dos meus meninos, eu imaginava poder prepará-los a fim de que, um dia, fizessem o mesmo que eu fazia.
Os meninos foram crescendo, e suas atividades e interesses foram mudando. Tornaram-se adolescentes. Vocês sabem, não é?… Vida de adolescente não é fácil. Coitados, eles não sabem se são gente grande ou se são crianças. Os pais precisam ter muita paciência com eles. E eu, ah!…, como tinha paciência!… Permitia-lhes fazer o que quisessem, porque, afinal, eu não podia nem queria afastar meus filhos de mim. E eles iam fazendo suas escolhas, seus horários, suas amizades, com toda a liberdade que eu lhes dava.
Certo dia, fiquei muito chateado com um irmão da igreja. Ele veio reclamar que achava meus filhos muito irreverentes. Não gostei da crítica e falei que meus filhos tinham que ter liberdade na igreja porque, do contrário, perderíam a vontade de freqüentá-la. Pouco tempo depois, outro irmão veio fazer novo comentário sobre os meninos. Imaginem vocês, eu era um homem honrado na sociedade e tinha um cargo muito importante na igreja. Não era justo ter que ouvir que precisava educar melhor os meus filhos. Isso foi demais…
Bem, mas se fosse hoje, eu teria pensado diferente…
Sempre fui um pai amoroso. Nunca ralhei com meus filhos. Nunca levantei a voz com eles. Eles nunca apanharam. Minha filosofia educacional era a do “amor”.
Ah, o “amor”… E foi exatamente aí, caros pais, que eu me enganei completamente…
Hoje, posso afirmar, com lágrimas, que amar não significa ser conivente com todos os hábitos dos filhos. Eu fui conivente; fui transigente demais; fui permissivo. Como lamento! Como eu gostaria que o tempo voltasse para poder reparar os danos que eu mesmo permiti que fossem cultivados em meus filhos!
Fui um pai amante da comodidade. E apenas hoje, sim, apenas hoje consigo enxergar quantas vezes deixei de exercer a minha autoridade para corrigi-los. Era mais fácil pensar que aquela fase de rebeldia passaria e que, com o tempo, eles poderíam amadurecer e Se tomar adultos sérios.
Meus adolescentes se tomaram homens, mas o tempo não os transformou em cidadãos responsáveis, honestos e tementes a Deus. Eles eram arrogantes, desonestos, prepotentes, irônicos, orgulhosos, e faziam pouco das coisas de Deus. Tolo. Fui um verdadeiro tolo em nunca contrariar as vontades egoístas de meus filhos! Quanto remorso eu sinto…
Finalmente, passei a sentir certa vergonha do comportamento deles e, numa tentativa desesperada de ainda consertar as coisas, coloquei meus dois filhos para atuar na igreja, sob minha determinação.
Foi um verdadeiro vexame! Os membros vinham reclamar constantemente das atitudes anticristãs com as moças, das palavras obscenas, da desonestidade e das ações que executavam visando apenas ao próprio interesse.
No começo, eu dava desculpas e inventava todo o tipo de pretexto para a conduta deles. Mas, as coisas foram de mal a pior e, com o coração angustiado e pesaroso, decidi, finalmente, chamá-los para uma conversa séria. Que decepção! Aqueles dois homens nunca haviam aprendido a respeitar alguém na vida. Não seria agora que fariam diferente…
Chamei-os novamente, clamando para que me ouvissem. Apenas me viraram as costas, ignorando-me em completo desrespeito e desconsideração. Chorei amargamente. E eles viram, e sabiam qual era a causa, mas o coração endurecido que possuíam não se comoveu nem um pouco.
Sim… Foi isso que eu cultivei neles a vida inteira. Minha resistência em corrigi-los cedo, quando era necessário, foi exatamente o que os impeliu rumo à arrogância e à presunção. Evitar o confronto com suas atitudes de desobediência desde a mais tenra infância, para mantê-los sempre perto de mim, gerou efeito contrário do que eu esperava, pois os afastou de mim. Meu excesso de afeto e consideração, somado à falta de limites, os tornou prepotentes e sem afeto.
Pais, eu fui covarde, indolente, e me sinto gravemente responsável pelos males que poderia ter evitado, bem como pela péssima influência que meus filhos geraram na igreja e na sociedade.
Ah, se eu tivesse ouvido a Palavra de Deus: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo” (Gn 18:19).
Senti, na própria carne, os efeitos da péssima educação que ministrei a eles. Pais, quando nós levamos em consideração todos os desejos de nossas filhos, sendo frouxos, mesmo naquilo que sabemos não ser o melhor, eles perdem totalmente o respeito por nós e toda consideração pela autoridade de Deus. E a influência exercida se toma um desastre para a sociedade.
Ah, se eu tivesse ouvido a Palavra de Deus: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do Senhor e pratiquem a justiça e o juízo” (Gn 18:19).
Senti, na própria carne, os efeitos da péssima educação que ministrei a eles. Pais, quando nós levamos em consideração todos os desejos de nossas filhos, sendo frouxos, mesmo naquilo que sabemos não ser o melhor, eles perdem totalmente o respeito por nós e toda consideração pela autoridade de Deus. E a influência exercida se toma um desastre para a sociedade.
Eu já estava no fim de meus dias, idoso, cego e frustrado. Num confronto político, meus dois filhos foram assassinados no mesmo dia. Foi um duro golpe para o coração já machucado de um pai. Contudo, um golpe ainda mais doloroso irá comigo para o túmulo: a dor de saber que não poderei encontrá-los no Céu.
Eu não os preparei para que estivessem lá…
Por isso, pais, eu lhes faço este último apelo: Não esperem ter que passar pelo que eu passei, até perceberem a grande responsabilidade que têm nas mãos. Não dêem tudo o que seus filhos lhes pedem; não sejam acomodados e covardes, como eu fui, para lhes inspirar o respeito e a autoridade que Deus conferiu a vocês. Não se intimidem com birras, reclamações e ataques histéricos que venham a ter. Há bons recursos que ajudam a refrear esses ensaios de ranzinice, que, se não podados em tempo, se estenderão pela vida adulta. Uma vara bem administrada por mãos sábias e sensatas, uma ou duas vezes na vida, pode fazer milagres na prevenção de grandes males. Amem seus filhos; portanto, eduquem-nos.
Um dia, todos nós teremos de prestar contas a Deus daquilo que fizemos com os filhos que nos foram dados. E tudo aquilo que neles plantamos será colhido… Eu já fiz a minha trágica colheita.
Eli, pai de Hofni e Finéias.