Desde o momento em que iniciei minha caminhada com Cristo, o desafio tem sido compreender e aceitar Sua vontade e Seus planos para minha vida. A história de Abraão sempre me motivou. Esse herói da fé era inteiramente comprometido com Deus, a ponto de aceitar Suas ordens sem questionar e ir aonde o Senhor mandasse. Comentando a respeito do patriarca, Ellen White escreveu: “O lugar mais feliz da Terra para ele seria aquele em que Deus quisesse que ele estivesse” (Patriarcas e Profetas, p. 126).

No entanto, eu não sou Abraão, e tampouco Deus fala audivelmente comigo dizendo exatamente aonde tenho que ir ou o que devo fazer. Nesse sentido, obedecer às ordens divinas, em questões mais específicas, torna-se um enorme desafio. Contudo, o Senhor jamais me desamparou. Ele tem usado maneiras diversas para me mostrar Seu querer. Uma delas foi como ocorreu meu chamado para ser missionário em terras estrangeiras.

Em 2011, ainda cursando a faculdade de Teologia, senti que Deus estava me impulsionando a um novo desafio. Procurei o Núcleo de Missões do Unasp, Engenheiro Coelho, e conversei com o pastor Berndt Wolter. Contei-lhe sobre meu desejo de trabalhar como missionário em algum país da América do Sul e que já havia escolhido o Peru. Ele se ajeitou na cadeira e disse: “Fábio, veja bem, o Peru é um país que anda com as próprias pernas, e o evangelismo lá está indo muito bem. Eu creio que você precisa de algo mais desafiador, algo que vai exigir mais de você. O que acha do Uruguai?”

Tivemos uma longa conversa. O pastor Wolter me falou a respeito das dificuldades existentes nesse pequeno país: cultura liberal, ideologia política humanista e forte influência do secularismo europeu que ridiculariza a religião, afirmando ser ela algo retrógrado. Todos esses fatores repercutiam no crescimento lento da Igreja Adventista no Uruguai. Os preparativos foram feitos, e a viagem aconteceu.
Durante os dez primeiros dias procurei me inteirar das particularidades do local e apoiar a União Uruguaia no que fosse possível. Logo depois, uma parceria entre o Núcleo de Missões e a União Uruguaia ajudou a realizar um evangelismo de Semana Santa. Na sequência, participei de séries evangelísticas durante três meses.

Em 2012, iniciei o último ano da faculdade. Contudo, uma dúvida pairava em meus pensamentos: “Por que tudo isso aconteceu? Será que foi somente mais uma experiência para meu currículo?” A formatura chegou, e também meu casamento. Recebi um chamado para o estado do Rio Grande do Sul. Estava feliz pelas conquistas, mas inquieto e sem respostas para minhas dúvidas.

Quatro anos se passaram. Eu trabalhava como pastor distrital na cidade de Lajeado, RS. Certa manhã, enquanto organizava a agenda de compromissos, recebi um e-mail do pastor responsável por minha sede regional. Nele, dizia que a sede da Igreja Adventista para a América do Sul estava em busca de um pastor que estivesse disposto a trabalhar alguns anos como missionário no Uruguai. Naquele instante, senti que Deus estava respondendo minhas dúvidas. Mas ainda faltava algo muito importante: a opinião da minha esposa. Mostrei o e-mail para ela e perguntei: “Você estaria disposta a ir?” Ela abriu um sorriso e disse: “Vamos!”

Tivemos que passar por um processo seletivo, pois outros pastores também haviam se candidatado. Mas eu tinha certeza de que Deus estava nos chamando.

Há três anos, pastoreio um distrito na capital do país, Montevidéu. As dificuldades são diversas. As pessoas são resistentes ao evangelho, e é grande o preconceito em relação à religião. Apesar disso, a obra tem crescido, e o Senhor tem realizado milagres na vida de muitas pessoas. Cada dia estou mais convicto de que esse é o lugar que Ele, anos atrás, preparou para que estivéssemos. Apesar da distância da família e dos desafios naturais de uma cultura diferente, o lugar mais feliz é o lugar que Deus deseja que estejamos. 

Fábio Martinelli é pastor em Montevidéu, Uruguai