A Igreja Adventista do Sétimo Dia é um movimento de alcance global. Essa realidade significa que, muitas vezes, é necessário conviver e trabalhar com pessoas de vários contextos culturais e sociais, com diferenças notáveis que dificultam a convivência. Contudo, Deus nos convida a viver em harmonia, compartilhar as bênçãos do evangelho e nos preparar para Seu reino vindouro. Que desafio! Entretanto, a graça divina acompanha a ordem do Senhor.
O Novo Testamento descreve uma comunidade de crentes que viviam em harmonia, apesar de suas diferenças, para cumprir uma missão comum. O conceito, chamado de koinonia em grego, e traduzido geralmente pelo termo “comunhão”, indica essa realidade.
No livro de Atos, Lucas mostra que essa koinonia, no entanto, não estava isenta de tensões e desafios. Atos 6:1 a 6 narra uma grande preocupação que surgiu acerca da distribuição diária de alimentos para as viúvas na comunidade cristã. Parece que os 12 apóstolos, responsáveis por essa obrigação, provavelmente preferissem algumas viúvas a outras. A lição desse episódio deve ser lembrada com humildade: Até mesmo os líderes mais abençoados, incluindo eu e você, podem cometer equívocos quando se trata de relacionamentos interpessoais.
Os apóstolos não tentaram dar nenhuma desculpa para o erro. Eles foram sinceros e reconheceram a existência do problema. Então, fizeram algo surpreendente: convidaram o grupo que tinha sido prejudicado a participar na busca de uma solução para o transtorno. Foi assim que sete homens foram selecionados para cuidar da distribuição de alimentos às viúvas, tanto judias quanto gregas. Desse modo, os apóstolos renunciaram a uma tarefa de seu ministério para se concentrarem em outras atividades.
A ideia foi excelente e pode ser a chave para resolver com êxito qualquer conflito em uma comunidade cristã. Quando um grupo ou uma pessoa é prejudicado, os responsáveis pelo erro devem reconhecê-lo imediatamente, aproximar-se da parte lesada e convidá-la a participar da busca de uma solução para o problema, a fim de resolver a situação.
Há muita confiança, graça e amor nesse relato. Os apóstolos perceberam um problema e confiaram em seus irmãos para ajudá-los a encontrar a melhor solução e sugerir a nomeação das pessoas certas para implementá-la. O que surpreende é que os sete homens designados para a distribuição de alimentos eram de origem grega, precisamente o grupo prejudicado. Os apóstolos confiavam neles porque acreditavam que eles também haviam recebido o Espírito Santo e estavam igualmente comprometidos com o bem-estar do povo do Senhor.
Esse pode ser um bom caminho para solucionar algumas tensões que às vezes surgem em nossas igrejas. O que aconteceria se, diante de um conflito, disséssemos honestamente uns aos outros: “Lamentamos que vocês tenham sido prejudicados e pedimos perdão”? Seria melhor ainda se colhêssemos sugestões da parte lesada e nos comprometêssemos a implementá-las efetivamente.
O conceito de unidade é destacado no livro de Atos. No fim do capítulo 2, Lucas descreve como era a igreja apostólica, logo após a experiência do Pentecostes: “Perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão [koinonia], no partir do pão e nas orações. […] Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. […] Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo” (At 2:42-47).
Sem dúvida, a igreja apostólica experimentou a verdadeira koinonia, apesar de suas diferenças. Essa comunhão permitiu que eles tivessem força para encontrar uma solução surpreendente para a tensão que vivenciaram mais tarde. Não acho que ter a mesma visão para a atual comunidade de crentes seja um sonho impossível. Que Deus nos ajude!
Walter Steger, mestrando em Teologia, é editor associado da Ministério, edição em espanhol