Faz algum tempo desde que escrevi à Review. O silêncio, no entanto, não é sinônimo de inatividade. Passei algum tempo tentando revalidar meu diploma de medicina neste país [Argentina]; mas, por enquanto, tive que desistir da ideia de receber reconhecimento nacional por causa do preconceito contra os norte-americanos, especialmente aqueles que são profissionais. Um dos secretários me disse que era inútil tentar, pois eles não me aprovariam. Isso, porém, só aconteceu depois que se passaram três meses e de eu visitar os escritórios mais de cinquenta vezes para obter o direito de fazer o exame.

O resultado final foi uma grande decepção, mas não me desanimou. Isso me deu a chance de sair a campo novamente. Acabei de voltar de uma viagem pela região norte da Argentina, onde visitei alguns irmãos que tive o privilégio de levar à verdade e batizar cerca de dezoito meses atrás. Isso foi próximo da cidade de Empedrado, na província de Corrientes. Uma das famílias desceu o rio Paraná e se mudou para uma cidade próxima na mesma província, chamada Bella Vista. O lugar é realmente bonito, pois grandes pomares de laranja margeiam o rio por alguns quilômetros.

Essa família, apesar de incapaz de ler uma palavra, começou a trabalhar por aqueles a quem conheceu e, de maneira simples, dizer a verdade. Alguns ficaram muito interessados e, ao adquirir Bíblias, começaram a ler, embora o professor não pudesse citar-lhes um único texto bíblico. Mais tarde, alguns irmãos passaram pelo lugar a caminho do encontro da União Sul-Americana, no Paraná, em março passado. Tendo que esperar o barco por dois dias nesse local, aproveitaram o tempo visitando aqueles interessados. Durante a primeira parte do mês passado, esses mesmos dois irmãos voltaram e passaram vários dias na cidade, dando estudos bíblicos e fazendo visitas de casa em casa. Assim, o interesse foi aprofundado e alguns começaram formalmente a deixar de trabalhar no sábado.

Os dois irmãos haviam lhes prometido que um ministro os visitaria, e eles estavam esperando ansiosamente que a promessa fosse cumprida. Então, quando cheguei, estavam tão prontos para ouvir quanto a casa de Cornélio quando Pedro chegou. Fiz visitas de casa em casa, tratando os doentes e ministrando estudos bíblicos. Todas as noites realizávamos uma reunião pública, apresentando as profecias e as verdades especiais para este tempo. O Senhor abençoou grandemente o trabalho, e o interesse era muito maior quando eu parti do que quando cheguei.

O padre fez advertências contra nós na escola pública, mas a influência da Palavra continuou aumentando. De modo especial, meu trabalho com os doentes abriu as portas em muitos lugares. Antes de partir, tive o privilégio de batizar quinze pessoas, e há outras dez que esperam ser batizadas em breve. Foi organizada uma Escola Sabatina de cerca de trinta membros, e os batizados se uniram a uma igreja do outro lado do rio, na qual os dois irmãos mencionados anteriormente são ancião e diácono.

É inspirador ver a prontidão com que muitas dessas pessoas católicas recebem a verdade para este tempo. Certamente o Senhor tem muitas joias entre os milhões de católicos de fala hispana; mas onde estão os obreiros que devem alcançá-las? Estamos orando para que o Senhor da seara envie trabalhadores para Sua seara. Alguns jovens fortes que podem ler este relato não se oferecerão para nos ajudar? Existem nesses campos milhões de pessoas a mais do que missionários para levar-lhes a Palavra. Que o Senhor ponha sobre nós o fardo da mensagem!

Referência

Extraído de “Argentina, South America”, Review and Herald, 6 de dezembro de 1906, p. 15.

Robert Habenicht, pioneiro adventista na Argentina