Estratégias da Igreja Adventista para a evangelização na internet

A comunicação digital se tornou a espinha dorsal da vida moderna, materializando-se em uma sociedade que se mostra cada vez mais integrada. O impacto é perceptível naturalmente, ainda mais quando consideramos as novas gerações, que estão crescendo nesse mundo globalizado. A simplicidade e a praticidade do uso do telefone celular permeiam os relacionamentos, o tempo e a administração da vida pessoal e profissional, facilitam o acesso a um volume incalculável de informações e distrações, mudam a formação acadêmica e a forma de se consumir entretenimento.

Alguns pensadores da comunicação preveem que, em um futuro próximo, mais mudanças virão dentro de um processo de desenvolvimento de novas ferramentas. “Uma vez que a comunicação eficiente é uma característica fundamental da raça humana, a transformação da comunicação afeta todos os níveis da vida e, talvez, leve a mudanças em nossas conexões cerebrais com o tempo.”1

A tecnologia, e como as redes de comunicação são geridas e administradas pessoalmente, moldam o processo de mobilização e, consequentemente, o de mudança social, tanto como processo quanto como resultado. A ascensão das redes de comunicação digital como forma principal de interação humana cria uma nova estrutura social, no centro da composição da sociedade em rede, na qual os movimentos sociais do século 21 estão sendo formados.

Impacto social

Em 2008, com a eleição de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos, muitos especialistas em tecnologia apontaram que seu grande trunfo foi a maneira com que ele conseguiu atrair eleitores jovens, pois soube como conquistá-los e engajá-los em sua campanha. Seu sucesso, bem como o uso da comunicação digital durante seus oito anos de mandato, se tornaram objeto de vários estudos.

“A transformação mais importante na comunicação nos últimos anos foi a transição dos meios de massa para a intercomunicação individual, que é um processo de comunicação interativa que também tem um potencial para alcançar uma audiência massiva, mas na qual a produção da mensagem é autogerada, a recuperação da mensagem é autodirigida, a recepção e a recombinação do conteúdo oriundo das redes de comunicação eletrônicas são autosselecionadas.”2

O próprio Obama explicou o uso estratégico da comunicação nesse momento de virada: “A tecnologia e as redes sociais permitem hoje gerir uma campanha presidencial da mesma forma que eu geri a minha primeira eleição, para o comitê da escola, há 20 anos, que é bairro a bairro, falando com alguém aqui, pedindo a alguém que fale com um amigo acolá. Isso vai mudar, para sempre, a forma com que as
campanhas são feitas.”3

Necessidade de adaptação

Conforme a internet se expande para se tornar o principal meio de comunicação da era digital, ocorre um fenômeno em que os meios convencionais também se moldam às plataformas móveis de comunicação.

A tecnologia das redes digitais permite que pessoas e organizações gerem seu próprio conteúdo e alcancem públicos específicos. Isso não significa substituição de mídias, mas uma acomodação que abre novos mercados, especialmente com as novas gerações. Assim, redes horizontais e formas tradicionais de comunicação linear, como a televisão, o rádio e a mídia impressa, estão cada vez mais misturadas, formando um sistema de comunicação híbrido que usa a flexibilidade da tecnologia para distribuir e entregar seu conteúdo ao maior número de pessoas.

Além disso, as possibilidades também se multiplicaram com o avanço e a popularização da comunicação digital móvel. A principal característica dessa comunicação sem fio não é apenas a mobilidade, mas a conectividade contínua, por meio da promoção de planos de conexão baratos que expandem o acesso às informações nos meios digitais.

Diante dos avanços tecnológicos, das alterações de comportamento e das mudanças dos meios de comunicação, a Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul tem procurado se adaptar aos novos tempos para aproveitar ao máximo as oportunidades de evangelização que surgem. Isso não tem que ver somente com as novas ferramentas, mas lida também com novos padrões de conduta advindos das novas tecnologias.

Rede de pessoas

A internet não pode ser vista apenas como uma rede de computadores, pois ela é muito mais do que isso. É uma rede de pessoas que usam os computadores, celulares ou tablets para se comunicarem umas com as outras. Por trás de cada dispositivo existe uma pessoa, e é com ela que buscamos contato, porque o alvo da igreja é a pregação do evangelho a toda tribo, nação, língua e povo. Devemos estar onde as pessoas estão. Na comunicação digital, precisamos de uma estratégia definida e ações claras de acordo com a necessidade do usuário, para estabelecer vínculo entre as pessoas e a mensagem bíblica.

Por isso, a Igreja Adventista tem trabalhado diretamente com o atendimento às pessoas nas redes de comunicação digital em todas as plataformas, abrindo-se para o diálogo, oferecendo oração intercessora, estudos bíblicos, respostas às dúvidas bíblicas e aconselhamento dentro de um processo para criar uma experiência positiva. Assim, cada usuário tem suas necessidades pessoais e espirituais atendidas.

Números interessantes

Os números justificam a necessidade de um atendimento digital especializado. Em primeiro lugar, porque a Igreja Adventista, por meio de todas as suas instituições, possui mais de 15 milhões de seguidores no
Facebook e, no último ano, teve um aumento de 44% no número de seguidores no Instagram e de 75% no YouTube.

Além disso, a cada ano a igreja tem aumentado o número de iniciativas digitais (sites, aplicativos, redes sociais, etc.), despertando um grande número de interessados em saber mais sobre a mensagem bíblica. Entre eles se encontram ex-adventistas e pessoas simpáticas à igreja, que ainda não se sentem confortáveis em procurar uma congregação local.

Por fim, a expansão do acesso à internet demonstra o tamanho do campo missionário virtual que temos diante de nós. Atualmente 51% da população mundial tem acesso à rede. No Brasil, cerca de 65% da população se comunica por WhatsApp, o que resulta em aproximadamente 120 milhões de usuários. É por meio dessa plataforma que a Igreja Adventista está entregando conteúdos missionários e, assim, ampliando o contato com as pessoas. As vantagens da interação são muitas, mas entre elas, as principais são:

Foco nas necessidades do internauta e segmentação de conteúdo. Utilizamos abordagens distintas para responder a cada tipo de público. Essas iniciativas são semanalmente disponibilizadas por meio de lives via Facebook (https://www.facebook.com/adventistasbrasiloficial), YouTube e Instagram ou pelo portal de vídeos Feliz 7 Play (www.feliz7play.com), onde estão disponíveis séries, músicas, sermões e filmes com conteúdo cristão para crianças, jovens e adultos.

Relacionamento individualizado e de longo prazo. Mantemos contato com as pessoas semanalmente e enviamos conteúdos relacionados a profecias, família, saúde, estudos bíblicos, aconselhamento e crescimento espiritual. Isso é feito por uma equipe de profissionais.

Nutrição constante e automática. Por meio de um robô, o Esperança, enviamos conteúdos relevantes de maneira automatizada, atendendo o usuário mediante inteligência artificial e guiando-o aos materiais de seu maior interesse, no momento que ele precisar ou quiser.

Atendimento missionário

O fluxo que está sendo seguido pelos canais digitais da Igreja Adventista é ilustrado com o funil na página ao lado.

O processo tem início com a produção de conteúdos que captam a atenção de um número considerável de pessoas. Cada material publicado ou transmitido visa à interação intencional para abrir um canal de diálogo, que leva para o segundo passo: o relacionamento. Ao estreitar o relacionamento, sugere-se a participação em um estudo bíblico e, na sequência, um atendimento pessoal por alguém designado pela igreja mais próxima do internauta. Desse modo, o final do processo ocorre quando a pessoa é acolhida por uma das nossas igrejas, de tal maneira que o relacionamento digital se torne uma relação presencial.

O mapa a seguir ilustra esse fluxo de atendimento:

Um usuário – Com um problema – Encontra um atendente que entende seu problema (empatia) – E apresenta Deus e a Bíblia como origem da solução – Que o leva a fazer um estudo bíblico – Que resulta em – Visita à igreja – ou Sem interesse

Perspectivas futuras

O que tudo isso nos possibilita? Por que a Igreja Adventista continuará investindo nessa estratégia? Alguns pontos justificam as iniciativas da igreja até aqui.

Personalização. A personalização trata a pessoa como única diante da sua necessidade presente. Desse modo, espera-se que o usuário alcançado consiga suprir suas dúvidas, solicitar esclarecimentos ou mesmo encontrar mais conteúdos que abordem o mesmo tema.

Atendimento. O usuário é atendido na plataforma a que está acostumado, ou seja, sem a necessidade de que mude para outra plataforma virtual.

Conhecimento. O conteúdo é estrategicamente produzido de acordo com as perguntas feitas pelos usuários.

Relacionamento. A amizade com o usuário tem por objetivo levá-lo a enxergar na igreja um ponto de apoio e auxílio perene, além de sua necessidade imediata.

Rapidez. Pode-se atender a pessoa no momento de sua disponibilidade ou quando surgir a necessidade.

Automação. Por meio da inteligência artificial, é possível enviar sistematicamente estudos bíblicos e outros materiais, de acordo com a publicação de novos conteúdos nos canais oficiais.

Convergência. Como não existem barreiras geográficas no mundo digital, iniciativas evangelísticas de qualquer região são potencializadas para alcançar pessoas que estão nas redes, não importando onde vivam.

O futuro é agora, e novas iniciativas são confirmadas pela voz profética. Ellen White escreveu: “Alguns dos métodos usados nesta obra serão diferentes dos que foram usados no passado; mas não permitamos que ninguém, por causa disso, ponha obstáculos no caminho mediante a crítica.”4 Assim, a Igreja Adventista avança com segurança, fazendo da revolução digital uma oportunidade para revolucionar a pregação do evangelho. 

Referências

1 Manuel Castells, O Poder da Comunicação (São Paulo: Paz e Terra, 2013), p. 35.

2 Ibid., p. 29.

3 Alexandre Soares, “Números e Tecnologia: O segredo da vitória de Obama”. Disponível em <https://veja.abril.com.br/mundo/numeros-e-tecnologia-o-segredo-da-vitoria-de-obama/>.

4 Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 105.

 Rafael Rossi, mestre em Teologia, é líder de Comunicação para a Igreja Adventista na América do Sul