A influência espiritual do diaconato

No início do último trimestre do ano, nas igrejas adventistas, forma-se a comissão de nomeações. Sua atribuição é indicar pessoas para os diversos departamentos por um período de um ou dois anos, conforme estabelecido no Manual da Igreja. Entre estes, está o diaconato. Em muitos lugares, as funções dos diáconos e das diaconisas ficaram restritas ao recolhimento dos dízimos e ofertas e aos preparativos e serviço da Santa Ceia. Além disso, algumas vezes, quando alguém, por alguma razão, fica sem cargo, é sugerido que essa pessoa ocupe um lugar no diaconato. Essa postura em relação à importância do cargo levanta duas questões: O que é o diaconato? Quem é o diácono?

O livro de Atos registra a nomeação dos primeiros diáconos na igreja apostólica. “Então, os doze convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servirmos às mesas. Mas, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço” (At 6:2, 3).

Na igreja apostólica, três aspectos foram fundamentais na nomeação dos diáconos: boa reputação, dotação do Espírito Santo e sabedoria (v. 3). Os indicados para a função tiveram a aprovação da igreja de que eram pessoas de profunda experiência espiritual.

Estêvão

Entre os sete nomeados para o diaconato encontrava-se Estêvão. Seu nome significa “coroa”, “grinalda” e “louros da vitória”.1 Ele é descrito como um “homem cheio de fé e do Espírito Santo” (At 6:5). Além disso, era “judeu de nascimento, falava a língua grega e estava familiarizado com os usos e costumes dos gregos.”2 Para o desempenho de suas tarefas, os diáconos receberam a imposição das mãos (At 6:6). Isso indica que o diaconato abrange aspectos espirituais.

Estêvão deixou sua marca na história da igreja apostólica como um defensor fervoroso e inflexível da fé cristã.

“Levantaram-se, porém, alguns dos que eram da sinagoga chamada dos Libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e Ásia, e discutiam com Estêvão; e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito, pelo qual ele falava” (At 6:9, 10). Isso implica conhecimento da história de Israel e das profecias messiânicas.

Lucas, em seu relato, deixou claro que Estêvão foi além de servir às mesas na igreja. Como diácono, ele foi um evangelista e desenvolveu forte liderança espiritual. Consequentemente, também se tornou o primeiro mártir da igreja apostólica (At 7:58, 59). Ellen White escreveu: “O martírio de Estêvão causou profunda impressão em todos os que o presenciaram. A lembrança da aprovação de Deus em seu rosto e suas palavras que tocaram o coração dos que as ouviram permaneceram na mente dos espectadores e testificaram da verdade que ele havia proclamado. Sua morte foi uma dura prova para a igreja, mas resultou na convicção de Saulo, que não conseguiu apagar de sua memória a fé e a firmeza do mártir e a glória que resplandeceu em seu rosto.”3

De fato, o homem que servia às mesas se demonstrou um líder na igreja cuja marca principal foi sua profunda comunhão com Deus.

Diáconos e diaconisas

No Antigo Testamento, Deus designou os levitas como os responsáveis pela estrutura e manutenção dos serviços do santuário (Nm 1:50-53; 1Cr 15:1, 2). Sua função estava ligada à vida espiritual desses oficiais. Eles trabalhavam em contato com o sagrado, isto é, manuseavam os móveis e vasos sagrados do templo.

Em se tratando do funcionamento da igreja, os diáconos têm atividades semelhantes às dos levitas. Portanto, “a igreja deve escolher para o diaconato pessoas espiritualmente qualificadas e profundamente comprometidas com o ministério do serviço. Por isso, a seleção de diáconos e diaconisas é uma das mais importantes incumbências da igreja.”4

Embora Lucas e Paulo tenham enfatizado o trabalho dos diáconos (ver At 6:1-6; 1Tm 3:8-13), o cristianismo apostólico também deu testemunho de mulheres que praticaram a diakonia em favor de suas comunidades (Fp 4:2, 3; Rm 16:1, 2). É provável que Paulo tenha enviado sua carta aos Romanos por intermédio da irmã Febe, que estava indo de viagem para Roma.

A função dos diáconos e diaconisas é muito importante na igreja. Suas atribuições no serviço de adoração (ofertório, organização), nas cerimônias (batismo, Santa Ceia) e em outras ocasiões são relevantes para o bom funcionamento da Casa do Senhor. No entanto, seu papel também implica liderança espiritual. Isso demanda comunhão com Deus e Sua Palavra. Por isso no dia a dia da igreja, eles devem ser vistos como referência de espiritualidade.

De fato, antes do “fazer”, diáconos e diaconisas devem “ser”, isto é, suas atividades na igreja devem refletir espiritualidade autêntica. Homens e mulheres que mantêm comunhão diária com Deus desempenharão suas atividades com critérios nobres, sabedoria, compromisso e excelência. A vida deles será um padrão de boas obras.

Ministério espiritual

Cristo disse à mulher samaritana: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que Eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:13, 14). Para que um cristão exerça influência espiritual sobre outras pessoas, ele deve estar ligado à fonte. Nesse caso, Jesus Cristo. Ninguém dá o que não tem.

Ao longo do ano, a igreja tem várias atividades que fazem parte do calendário eclesiástico: cultos, semanas de oração, cerimônias, programações e eventos, entre outras. Diáconos e diaconisas podem auxiliar os ministérios da igreja nessas diversas atividades. Por exemplo, durante uma semana de oração, o diaconato pode ajudar na visitação aos membros da igreja e também aos interessados que estão assistindo à programação. Além disso, pode prestar assistência aos enfermos e idosos.

Em uma série evangelística, estudos bíblicos podem ser ministrados por diáconos e diaconisas. Pessoas podem se tornar membros da igreja pela ação missionária do diaconato. Mas tudo isso está vinculado à vida espiritual desses oficiais da igreja. Assim, eles ocupam um espaço que vai além das atividades que convencionalmente têm feito.

O pastor e o diaconato

Como líder principal, o pastor tem papel importantíssimo a desempenhar no apoio e acompanhamento aos ministérios da igreja. As atividades e atribuições do diaconato estão muito próximas do ministério pastoral. Por exemplo, a visitação, o serviço de adoração e as cerimônias da igreja.

O pastor deve fortalecer o diaconato em sua igreja por meio de um ministério ativo em favor desses líderes. Isso pressupõe que esse grupo precisa ser visitado e orientado pelo líder maior. No apoio aos ministérios da igreja, o papel do pastor tem uma dimensão dupla: espiritual e pedagógica.

Na primeira, ele apascenta. Os homens e as mulheres que compõem o diaconato exercem influência espiritual e também são ovelhas que carecem de alimento espiritual. Eles têm necessidades e atravessam crises pessoais e familiares. Os dias difíceis que marcam nosso tempo têm atingido de forma contundente os membros da igreja. Muitos deles perderam o emprego, vivenciam conflitos conjugais, sofrem o drama de relacionamentos fragilizados ou lidam com questões econômicas e financeiras. Portanto, necessitam de condução espiritual. É nesse cenário que entra a figura do pastor para orientar e acompanhar o rebanho (Sl 23:4). Apascentar toda essa gente deve ser a função prioritária do pastor.

Na segunda dimensão, o pastor cumpre uma tarefa pedagógica. O ensino faz parte do ministério pastoral. Em toda a Bíblia, o ensino era uma das funções dos líderes espirituais (Êx 18:19, 20; Dt 24:8; 2Rs 17:27; At 15:35; 1Tm 3:2; Tt 2:7, 8). As pessoas precisam ser ensinadas quanto aos princípios espirituais, mas também devem ser capacitadas para desempenhar suas funções na obra de Deus.

Os membros da igreja, com seus diversos dons (1Co 12:4-11; Ef 4:11, 12), necessitam ser ensinados a trabalhar. Ellen White escreveu: “O que agora se necessita para a edificação de nossas igrejas é do aprazível trabalho de obreiros sábios para discernir e desenvolver talentos na igreja – talentos que possam ser preparados para o uso do Mestre. […] São necessárias instrução e educação. […]

“Muitos teriam boa vontade de trabalhar, se lhes ensinassem a começar. Esses necessitam ser instruídos e animados. Toda igreja deve ser uma escola missionária para obreiros cristãos. Seus membros devem ser instruídos em dar estudos bíblicos, em dirigir e ensinar classes da Escola Sabatina, na melhor maneira de auxiliar os pobres e cuidar dos doentes e de trabalhar pelos não convertidos.”5

Nessa declaração de Ellen White, algumas atividades diretamente relacionadas ao diaconato estão inclusas. “Os diáconos e diaconisas são encarregados de auxiliar os doentes, pobres e infelizes e devem manter a igreja informada de suas necessidades e obter o apoio dos membros.”6 O Guia para Diáconos & Diaconisas, no capítulo 8, contém uma exposição metódica, inclusive com sugestões, de como essas atividades podem ser realizadas.

Na dimensão pedagógica, o pastor cumpre um papel fundamental. Por meio de seminários de capacitação e da visitação aos membros em companhia de diáconos e diaconisas, o pastor pode formar um diaconato eficiente que será de grande apoio ao seu ministério.

Conclusão

Liderança compartilhada é um princípio bíblico de ação. “Solenes são as responsabilidades que pesam sobre os que são chamados a atuar como líderes da igreja de Deus na Terra. Nos dias da Teocracia, quando Moisés estava procurando levar sozinho fardos tão pesados que logo sucumbiria sob o peso deles, foi aconselhado por Jetro a fazer planos para uma sábia distribuição de responsabilidades.”7

A atuação do diaconato na igreja é um suporte indispensável para o ministério pastoral. O ministro precisa supervisionar um conjunto de igrejas, muitas vezes, distribuídas ao longo de uma área geográfica mais ampla. Cada igreja tem suas peculiaridades que envolvem pessoas, necessidades específicas e questões administrativas. Por isso, é fundamental que haja uma equipe de líderes que dê apoio ao ministério do seu pastor. Tais líderes devem ter essa consciência, pois “a ideia de que o pastor deve levar toda a carga e fazer todo o trabalho é um grande engano”.8 A liderança da igreja, em Jerusalém, teve essa visão.

Portanto, a função do diaconato não está restrita somente ao recolhimento dos dízimos e das ofertas. Tampouco se restringe aos cuidados com a ordem e os aspectos físicos da igreja. Trata-se de uma função altamente espiritual. Tanto é assim que o exercício dela requer o ato da ordenação (At 6:6). O apóstolo Paulo, ao descrever as qualificações dos líderes da igreja, uniu o ancionato e o diaconato no mesmo bloco (1Tm 3:1-13). Diáconos e diaconisas são oficiais que exercem influência na comunidade, ajudando-a a ter uma experiência genuína de reavivamento espiritual.

Referências

1 Francis D. Nichol (ed.), Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), v. 6, p. 184.

2 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 97.

3 Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 101.

4 Divisão Sul-Americana da IASD, Guia para Diáconos & Diaconisas (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2019), p. 26.

5 Ellen G. White, Serviço Cristão (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015), p. 58, 59.

6 Associação Geral da IASD, Manual da Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016), p. 81.

7 Divisão Sul-Americana da IASD, Guia para Diáconos & Diaconisas, p. 20.

8 Ellen G. White, Serviço Cristão, p. 68.

Diáconos e diaconisas são oficiais que exercem influência na comunidade, ajudando-a a ter uma experiência genuína de reavivamento espiritual.

Nerivan Silva, editor da Revista do Ancião, na Casa Publicadora Brasileira