Princípios bíblicos para envolver os membros na missão da igreja

André Clemente

Mobilizar pessoas para atuar na igreja de Deus sempre foi um grande desafio. Geralmente, cada congregação é composta por três grupos distintos. O primeiro é composto por membros que se envolvem por completo na missão, sem se importar com o tempo ou lugar, pois seguem o imperativo da grande comissão, em Mateus 28:19 e 20.
O segundo é formado por aqueles que nem sempre estão dispostos a acompanhar as iniciativas da igreja, embora participem, muitas vezes, a contragosto. Por fim, há quem se conforme com a mornidão espiritual e adote uma postura de consumidor, em busca apenas de bons sermões e programas especiais.

A igreja de Cristo está vivendo os últimos dias da história do mundo. Repousa sobre cada membro a responsabilidade de desempenhar seu papel na Obra de Deus. Nesse cenário, destaca-se o papel do pastor que mobiliza suas igrejas para o cumprimento da missão.

A Bíblia está repleta de exemplos de líderes bem-sucedidos nesse propósito. Certamente, Neemias foi um dos mais destacados mobilizadores da história sagrada. Ao se empenhar na obra de reconstrução dos muros de Jerusalém, levou em consideração seis princípios básicos, que podem ser seguidos por todos aqueles que desejam contribuir para que o reino de Deus se expanda na Terra.

Espiritualidade

Quando Neemias soube da situação em que seu povo se encontrava, ficou profundamente abatido, o que o levou a chorar, orar e jejuar com muita intensidade (Ne 1:3-11). Durante quatro meses, ele buscou incessantemente o Senhor e se consagrou para a tarefa que Deus estava despertando em seu coração. Aqui temos um detalhe importante: Quando o Senhor nos chama para uma missão, é preciso consagrar-nos e esperar o momento certo para agir. Ellen White lembra que “ninguem que vá ao Senhor com sinceridade de coração ficará desapontado”.1 Por isso, no tempo apropriado, ele foi falar com Artaxerxes a respeito do assunto.

Em primeiro lugar, portanto, o líder mobilizador é aquele que prioriza a comunhão com Deus antes de qualquer outra coisa. Tiberius Rata fez um comentário muito pertinente sobre essa característica. Ele disse: “Neemias combinou seu choro com a oração porque um líder piedoso é um homem de oração. O livro de Neemias registra apenas doze de suas orações, mas sentimos que sua vida foi imersa em oração. Muitos líderes da atualidade confiam em abordagens humanistas e orientadas para os negócios, em vez de se voltarem para o grande poder da oração.”2

Planejamento

Logo após escutar o relatório de Hanani sobre a condição das portas, dos muros e de cada parte da cidade de Jerusalém que precisaria ser restaurada, Neemias começou a traçar os planos para executar a tarefa. Neste ponto, percebemos a existência de dois tipos de planejamento. No primeiro, mais geral, Neemias considerou os recursos de que precisaria para realizar a obra. Depois, com a lista de necessidades pronta, ele apresentou seus pedidos ao rei (Ne 2:6-8). Tendo obtido aquilo de que necessitava, Neemias seguiu para Jerusalém. Chegando lá, começou a elaborar um plano mais específico de trabalho. Durante três dias, ele e alguns amigos saíram para percorrer a cidade e verificar a situação em que ela se encontrava, a fim de estabelecer a estratégia a ser utilizada para a obra de reconstrução.

Quando planejamos algo para benefício da missão da igreja, devemos considerar, em primeiro lugar, o elemento fé. Com fé, o planejamento se torna realidade, mesmo antes de acontecer.3 Um bom planejamento requer tempo, imaginação e foco. A grande tentação do líder é pensar que o tempo gasto na elaboração de um projeto é desperdício. O líder que não sabe aonde quer chegar, chega onde não deveria estar.

Alguns passos são necessários para elaborar um bom planejamento: (1) realizar um estudo preliminar; (2) dirigir perguntas estratégicas às pessoas que estarão envolvidas no projeto; (3) descobrir as necessidades locais; (4) dividir o projeto em etapas; (5) definir quem serão os líderes; (6) calcular os recursos necessários para a realização de cada etapa; (7) assegurar-se do recebimento desses recursos; e (8) estabelecer a data para o início do projeto.

Tendo definido o planejamento, deve-se seguir um cronograma, que geralmente envolve: (1) capacitação da equipe; (2) divisão das tarefas; (3) início das atividades; (4) avaliação das atividades; (5) reestruturação da equipe e (6) conclusão do projeto.

Motivação

Há pessoas que, por natureza, são motivadas; outras necessitam de incentivo para entrar em ação. Neemias inflamava o coração dos judeus com sua espiritualidade, prontidão e motivação. Ellen White afirma que “a santa energia e as elevadas esperanças de Neemias comunicaram-se ao povo. Contagiados por esse espírito, ergueram-se por algum tempo ao nível moral de seu líder. Cada qual, em sua esfera, era uma espécie de Neemias; e cada um fortalecia e apoiava seu irmão na obra.”4

A experiência de Neemias demonstra que para motivar é necessário ter boa comunicação. Isso não consiste somente em falar bem e usar palavras corretas. As pessoas percebem mais o espírito de quem fala do que suas palavras. A comunicação eficaz pressupõe um alto nível de relacionamento entre as partes comunicantes. Para que isso ocorra, considere estas dicas:

a) Ponha-se no lugar das pessoas. Procure saber o porquê de cada situação.

b) Valorize as pessoas. Dê atenção às suas palavras e ações, faça elogios sinceros e reconheça suas qualidades.

c) Demonstre interesse. Ajude-as em suas dificuldades, chame-as pelo nome e torne-as únicas entre a multidão.

d) Desenvolva cooperação. Ela só pode ser alcançada quando você considerar as ideias e os sentimentos das outras pessoas.

Se tivesse que resumir esse ponto em uma frase, seria: “Seja claro em sua comunicação e fortaleça seus relacionamentos interpessoais.”

Estruturação

Após motivar as pessoas, o líder deve estruturar sua equipe. Estrutura é o alicerce que proporciona sustentação ao projeto. O mobilizador deve providenciar as ferramentas necessárias para seus liderados. Precisa apresentar, de forma compreensível, cada componente necessário para a realização da tarefa.

Na reconstrução dos muros de Jerusalém, Neemias dividiu o povo em grupos familiarizados entre si, ou seja, por habitantes da mesma região e por atividade (sacerdotes, levitas, construtores, comerciantes).5 O trabalho foi tão bem planejado e estruturado que sua conclusão se deu em tempo recorde (Ne 6:15). Cada pessoa sabia onde devia estar. Sabia também qual era sua responsabilidade e o que se esperava dela. Podemos ver nisso o exemplo de um modelo de comunicação e delegação de atividades.

Por quase dois meses, as pessoas se esqueceram das suas atividades cotidianas. Todos, agora, tinham uma missão em comum: reconstruir os muros da cidade. Estrategicamente, Neemias colocou algumas famílias para trabalhar nas proximidades de suas residências. Isso facilitou o trabalho e trouxe mais motivação.6 Em todo o trabalho, houve coordenação de esforços.7

Supervisão

A supervisão é indispensável em qualquer atividade. Sem avaliar o trabalho que está sendo realizado, fica difícil saber em que etapa ele está e qual é o próximo passo a ser dado. É por meio da supervisão que se descobre os erros e acertos para o avanço do empreendimento.

Ellen White diz que “com incansável vigilância, [Neemias] superintendia constantemente a obra, dirigindo os obreiros, observando qualquer dificuldade e tomando providências para qualquer emergência. Sua influência foi sentida constantemente em toda a extensão daqueles cinco quilômetros de muro. Com palavras oportunas, animava ele os temerosos, aprovava os diligentes ou despertava os tardios. E de novo vigiava com olhos de águia os movimentos dos inimigos, que por vezes se reuniam a distância e se empenhavam em animada conversa, como se conspirassem, e então, aproximando-se dos obreiros, tentavam desviar-lhes a atenção e estorvá-los no trabalho.”8

Ao acompanhar o desenvolvimento de um projeto, não entre em cena com tom de cobrança. Elogie o que já foi feito. Procure unir as forças. Não dê atenção àqueles que sempre procuram atrapalhar a obra. Seu tempo é precioso!

Conclusão

Começar um trabalho é importante, porém concluir a tarefa é essencial. Alguns tentarão intimidar o líder ou distraí-lo de alguma forma. Neemias teve opositores desde o início do empreendimento. À medida que o tempo passava, a pressão sobre ele e seus colaboradores se intensificava. Felizmente, ele não permitiu que isso os atingisse (Ne 6:1-3). Então, após 52 dias, sua missão foi concluída. Os muros de Jerusalém estavam reconstruídos para a glória do Senhor e felicidade dos seus habitantes.

Neemias fez de Deus sua defesa segura, depositando Nele sua confiança. Em suas inúmeras atividades, não se esqueceu da fonte de sua força. Seu coração estava constantemente voltado para Deus, o Grande supervisor de tudo.9 Em toda sua obra, Neemias desejou somente exaltar ao Senhor. Esse também deve sempre ser nosso objetivo ao liderar o povo de Deus. 

Referências

1 Ellen G. White, Lições da Vida de Neemias (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010), p. 12.

2 Tiberius Rata, Ezra-Nehemiah: A Mentor Commentary (Ross-shire, Escócia: Mentor, 2010), p. 132.

3 Josué Campanhã, Planejamento Estratégico: Como assegurar qualidade no crescimento de uma igreja (São Paulo: Vida, 2013), p. 25.

4 Ellen G. White, p. 23.

5 Philippe Abadie, O Livro de Esdras e de Neemias (São Paulo: Paulus, 1998), p. 66.

6 Derek Kidner, Esdras e Neemias: Introdução e comentário (São Paulo: Vida Nova, 2006), p. 93.

7 Pat e David Alexander (org.), Manual Bíblico SBB (Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010), p. 335.

8 Ellen G. White, p. 26.

9 Ellen G. White, Profetas e Reis (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 640.

André Clemente, mestrando em Missão Urbana, é pastor em Juazeiro, Bahia