Dicas para preservar a saúde do relacionamento conjugal

Gábor Mihalec

Eu era jovem, ingênuo e inexperiente. Havia me casado há pouco mais de três anos e me tornado pai do nosso primeiro filho. Minha esposa, Dora, também era uma jovem que estava realizando o sonho de ser mãe. Eu me dedicava totalmente ao pastorado, cuidando das minhas igrejas e servindo a Deus em tempo integral. Naquela época, meu entendimento era de que se eu me entregasse completamente ao serviço do Senhor, Ele cuidaria da minha família.

Minha rotina habitual consistia em sábados repletos de atividades, fazer visitação, ministrar classes bíblicas, realizar séries de evangelismo e outras diversas atividades pastorais. De repente, mudanças dramáticas aconteceram na vida da minha esposa. Em poucos meses, seu peso caiu de 60 para 38 quilos. Ela começou a ficar muito retraída e quieta. Chorava a todo instante e se tornou incapaz de cuidar do nosso filho e da casa. Eu literalmente vi que ela estava morrendo. Foi um choque para mim. Imediatamente, reconheci que, em grande parte, eu era o culpado. Isso serviu de alerta para me despertar.

Olhando duas décadas atrás para essa experiência angustiante, posso ver claramente a mão condutora de Deus em nossa história. Ele queria nos proporcionar uma vida familiar realizada e feliz a fim de podermos ajudar outros casais. No entanto, minha teimosia pela perfeição no desempenho do pastorado, muitas vezes, frustrava o que Deus desejava fazer por meio de nós. A seguir, compartilho cinco lições que aprendi.

Prioridades corretas

Você já se sentiu em meio a um fogo cruzado de expectativas conflitantes? Deus o chamou para ser pastor. Mas, ao mesmo tempo, Ele também lhe deu uma família, fazendo de você o guardião do bem-estar físico, emocional e espiritual dela. Certamente, todos já tivemos momentos em que sentimos que essas dádivas do Senhor se opunham uma à outra. Priorizar uma delas pode nos fazer pensar que estamos negligenciando a outra.

A verdade é que Deus não joga conosco.1 Ele jamais nos daria um presente para ser destruído por outro que também veio Dele. Se existe algum conflito entre as dádivas que o Senhor nos concede é porque nós não estamos entendendo Seu plano.

Depois que passamos pela crise, no início do ministério, tomamos uma decisão importante. A família deve estar em primeiro plano, e a igreja, em segundo. Ellen White escreveu de maneira bastante enfática: “Uma família bem estruturada, bem disciplinada, fala mais em favor do cristianismo do que todos os sermões que possam ser pregados. […] A maior prova do poder do cristianismo que se pode apresentar ao mundo é uma família bem-ordenada, bem disciplinada. Isso recomendará a verdade como nenhuma outra coisa o poderá fazer; pois é um testemunho vivo de seu poder prático sobre o coração.”2

Em realidade, às vezes, tomar essa decisão dificulta nossa vida. Em várias ocasiões, tive que dizer não a certas demandas em meu ministério. No entanto, sinto-me agradecido pelos líderes que sempre compreenderam minhas intenções, e a Deus que nunca deixou de abrir novas portas para mim.

Tempo para a família

Lembro-me de que num domingo, enquanto tomávamos o desjejum, meu celular tocou. O primeiro instinto foi atender a ligação, mas depois me lembrei da decisão de colocar a família em primeiro lugar. Eu continuei comendo com minha esposa e meu filho. Não consigo esquecer a expressão de surpresa no rosto do meu filho. “Papai, seu telefone está tocando”, ele disse. “Você não vai atender?”

“Estou tomando café da manhã com as pessoas mais importantes do mundo”, respondi. “O que poderia ser mais importante que isso?” Eu não sou orgulhoso, mas senti orgulho naquele dia.

Esse foi o começo de uma nova era para mim. Com o passar do tempo, os membros das minhas igrejas se conscientizaram de que não era preciso preocupar o pastor a todo momento com situações sem importância. Eles começaram a respeitar e valorizar meu tempo com a família. Por outro lado, eu também desenvolvi o entendimento de que se algum membro da igreja me liga ou me procura em meu dia de descanso ou tarde da noite, o assunto deve ser de grande importância, e eu prontamente devo atender.

Assim como nos mantemos atentos à agenda de compromissos pastorais e ao calendário eclesiástico, precisamos dar atenção ao tempo para estar com a família. Devemos também reservar um tempo sem os filhos para nutrir o casamento. Kyle Benson, do Instituto Gottman, fundado pelo renomado conselheiro matrimonial John Gottman, observou que uma das diferenças significativas entre a alta e a baixa qualidade dos casamentos são as seis horas semanais que os casais passam juntos durante pequenas frações todos os dias.3

Ajuda profissional

Durante minhas sessões de aconselhamento, muitas vezes, tenho ouvido de pastores: “Por favor, não pergunte meu nome, porque se eles souberem que tenho problemas, posso perder meu emprego. Você pode somente ouvir minha história e me ajudar?”

É perigoso e desgastante ficar preso a esse tipo de situação. Se você vive sob a pressão de fazer tudo com perfeição, ser um líder invulnerável, que nunca está doente, não fica exausto nem esgotado, que está sempre cheio de novas ideias, sempre no topo, você está condenando a si mesmo à hipocrisia. E se as coisas não derem tão certo? E se a esposa começar a reclamar de algum conflito não resolvido que vocês têm varrido para debaixo do tapete? E se o filho adolescente começar a usar drogas? E se a filha namorar uma pessoa não cristã? E se você se sentir vazio e sem ânimo para preparar sermões?

Será que seus administradores irão reconhecer seus problemas e permitir que você procure ajuda profissional? Será que a liderança das suas igrejas estará disposta a apoiá-lo? Em alguns lugares, sim, mas existem outros em que esse assunto é evitado.

Obter apoio da administração e da igreja é somente parte da questão. O outro lado da moeda é que o pastor deve buscar ajuda profissional sem se sentir impedido, envergonhado ou discriminado. Problema no casamento, na família ou na saúde nunca é algo isolado. Esses problemas, geralmente, estão conectados a lutas espirituais e/ou medos existenciais. Será que a igreja continuará a me empregar se eu tiver problemas? Na minha família foi uma longa jornada até a recuperação total.

No entanto, por meio desse processo, aprendemos muito mais a respeito de Deus e sobre nós mesmos. Aprendizado esse que nenhuma instituição teológica poderia nos ter ensinado. Ao buscar ajuda profissional, percebi quantas possibilidades estão disponíveis para as pessoas que delas necessitam. Tive acesso a novas ferramentas que posso usar em meu ministério, além do que aprendi sobre aconselhamento pastoral.

Grupo de apoio

É muito difícil usar o chapéu de um super-herói espiritual. Muitas vezes nos encontramos em meio a expectativas irrealistas. A questão se agrava porque não queremos admitir quando não conseguimos. Tenho experimentado quão perigoso pode ser expressar nossos temores e medos ou abrir áreas de nossa vida que podem se reverter contra nós na avaliação ministerial.

Lembro-me da grande decepção que tive quando fui avaliado para ser ordenado. O presidente da Associação fez questão de trazer à tona particularidades das minhas lutas internas que eu havia compartilhado com um membro da igreja que julgava ser confiável. Existe algum lugar seguro em que os pastores possam se abrir? Tenho que admitir que não é fácil de encontrar. Mas se você não tem esse oásis, você é um sério candidato a sofrer de depressão.

Fiz uma pesquisa com pastores sobre o que eles faziam depois de um sábado cheio de atividades. Seis em cada dez pastores não queriam ver ou conversar com ninguém. Tudo o que mais desejavam era sentar e assistir a algum programa na TV. Essa era a maneira que encontravam para lidar com seus sentimentos e emoções, porque não tinham segurança para se abrir com ninguém sobre suas preocupações.

Então, qual é a solução? Bem, para mim, tem sido sair com mais dois colegas de ministério para fazer caminhada, praticar algum esporte e nos encontrarmos uma vez ou outra durante o ano para conversar até tarde. Isso requer planejamento e disposição, mas o esforço vale a pena. Ao me tornar uma pessoa mais calma e equilibrada, também me torno melhor esposo, pai e pastor.

Proteção do casamento

Como pastores, ocupamos posições que podem despertar pensamentos, emoções e até desejos sexuais nos membros, sem que haja nenhuma intenção deliberada de nossa parte.4 Esses pensamentos estão frequentemente ligados à influência e à consideração dada ao nosso status, bem como à atenção, bondade e interesse que dispensamos às pessoas como parte característica do nosso trabalho.

Pode acontecer facilmente que depois de uma hora de conversa pastoral, alguém tenha recebido mais atenção de nossa parte do que recebeu dos pais ou do cônjuge. Como terapeuta, os casos mais traumáticos que tenho visto nas sessões de aconselhamento são os que o pastor está envolvido em infidelidade conjugal. Para impedir que isso aconteça, é preciso estabelecer regras a fim de proteger os limites do casamento.

Tenho sempre por costume levar minha esposa nas palestras e seminários que apresento, mesmo que tenha que pagar suas despesas. Quando estou no escritório, se tenho que atender uma mulher que vem sozinha para aconselhamento ou terapia, peço à minha esposa ou à secretária que faça algo na sala ao lado e deixo a porta entreaberta.

Também tomo o cuidado de não viajar sozinho no meu carro com uma mulher. Enquanto o livro de Provérbios fala dos perigos externos das tentações carnais, o apóstolo Paulo advertiu extensivamente sobre nossas fraquezas internas. “Não entendo o que faço. Pois não faço o que desejo, mas o que odeio” (Rm 7:15, NVI). Como o perigo é real, as medidas de proteção também precisam ser reais.

É possível, como pastor, desfrutar de um casamento feliz e satisfatório? Eu realmente acredito que sim. Por meio de atenção intencional e contínua e de decisões firmes, o casamento pode se transformar na mais poderosa fonte de força.5

Deus nos deu dois grandes presentes: a família e o ministério. Eu aprendi (infelizmente), da maneira mais difícil, que essas dádivas divinas sempre podem melhorar, em vez de se destruirem uma a outra.

Referências

1 Gábor Mihalec e Róbert Csizmadoa, No More Games: How to build a faithful and satisfying relationship (Grantham, UK: Autumn House, 2018).

2 Ellen G. White, O Lar Adventista (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 32.

3 Kyle Benson, “6 Hours a Week to a Better Relationship”, <gottman.com/blog/6-hours-a-week-to-a-better-relationship/>.

4 “Ethics and Sex” in Seventh-day Adventist Minister’s Handbook (Silver Spring, MD: General Conference Ministerial Association, 1997), p. 50, 51; John A. Trusty, Why Some Pastors Cheat… And What Can Be Done to Help Them to Be True (Gaithersburg, MD: Signature Books, 2010).

5 Gábor Mihalec, I Do: How to build a great marriage (Hagerstown, MD: Review and Herald, 2014).

Se você vive sob a pressão de fazer tudo com perfeição, ser um líder invulnerável, que nunca está doente, não fica exausto nem esgotado, que está sempre cheio de novas ideias, sempre no topo, você está condenando a si mesmo à hipocrisia.

Gábor Mihalec, pastor, terapeuta e diretor do Ministério de Lar e Família para a Hungria