Cinco chaves para reduzir a apostasia na igreja local
Em nossa igreja temos nos preocupado com o processo de conservação dos novos membros. Ao longo dos últimos cinco anos tenho trabalhado com várias congregações cujo índice de apostasia é próximo de zero. Com o tempo, descobrimos cinco chaves para trancar a porta dos fundos. Elas podem ser vistas como comuns, mas são fundamentais, se queremos discipular e garantir a permanência dos recém-batizados.
Amigos espirituais
Fico perplexo pela maneira como, muitas vezes, os novos conversos são negligenciados. A maioria dos membros é amigável quando uma pessoa está entrando na igreja. Contudo, depois que ela é batizada,
os membros retornam aos seus velhos círculos de amizade. Acabam inadvertidamente se esquecendo dos novos membros, no momento em que estes estão fazendo grandes mudanças em sua vida.
O pastor Gary Gibbs, atualmente presidente da Associação da Pensilvânia, compartilhou comigo um programa que ele tem usado chamado Amigos Espirituais. Cada interessado da igreja ou aluno da classe bíblica é acompanhado por um amigo espiritual, um membro da igreja. Sua responsabilidade é cuidar do interessado durante três meses. O programa é simples: ele deverá entrar em contato com essa pessoa pelo menos uma vez por semana, sentar-se com ela na igreja, convidá-la para uma refeição, compartilhar literatura com ela, chamá-la para uma atividade social ou esportiva, apresentá-la a outros membros e ajudá-la a vencer aquilo que ela precisa mudar.
Não há nada excepcional nesse projeto. Seu sucesso está no fato de se atribuir responsabilidade. Uma vez por semana, os amigos espirituais devem enviar um e-mail para o coordenador do programa informando sobre o acompanhamento realizado. É incrível como um sistema simples pode nos ajudar a ser mais responsáveis com aqueles que Deus confiou aos nossos cuidados.
O programa deve ser lançado após um breve treinamento. Nele se enfatiza que o amigo espiritual deve ser discreto, não usar de fofocas ou críticas, não compartilhar seus pontos teológicos preferidos, mas se concentrar em estimular um cristianismo prático. O amigo espiritual deve entender a importância de apresentar o interessado a outros membros da igreja.
Costumo contar minha experiência quando realizo esse treinamento. Demorou cerca de dois anos para eu me “encaixar” na igreja. Uma família que sempre me convidava para estar em sua casa aos sábados foi o que me ajudou no processo de adaptação. O casal me tratava como se eu fosse um de seus filhos. Sendo um neófito, eles não se incomodavam com meus erros e, em vez de me censurar, demonstravam amor.
Pequenos grupos
Essa segunda estratégia foi uma surpresa para mim. Descobri que os pequenos grupos são uma maneira poderosa de firmar os novos conversos na fé. Digo surpresa porque nos Estados Unidos os membros não são acostumados com pequenos grupos. No entanto, os recém-conversos amam a ideia! Após uma série evangelística e o estabelecimento de uma nova igreja, inicio alguns pequenos grupos com aqueles que foram batizados, seus familiares e amigos.
Ao nos reunirmos nos lares dos novos conversos, podemos estudar de maneira mais descontraída os temas abordados e o estilo de vida do cristão. Separamos também um momento para confraternização, enquanto participamos de um lanche. É maravilhoso ver como os participantes se unem e crescem na fé. Isso realmente ajuda os novos membros a se sentirem menos estranhos e mais integrados na igreja.
É verdade que nem todos os pequenos grupos obtêm sucesso. Alguns são iniciados e, após algum tempo, encerrados. É necessário entender que eles também têm um ciclo de vida. Por exemplo, nos Estados Unidos, na época do verão e por ocasião das festas de fim de ano, a frequência dos participantes tende a diminuir, e pode ser necessário fazer uma pausa. É preciso ser flexível e se adaptar às necessidades do grupo.
A classe pós-batismal também pode ser considerada um pequeno grupo. Os amigos espirituais dos recém-batizados devem acompanhá-los nessa classe. Os 15 primeiros minutos devem ser de diálogo sobre como estão indo em sua nova vida com Cristo. O tempo principal é usado para o tema bíblico a ser estudado.
Amigos espirituais e pequenos grupos são métodos fantásticos para conservar novos conversos, mas ainda existe um perigo. Os recém-batizados podem estar ligados a seu amigo espiritual, mas isso não significa que estejam conectados à igreja como um todo. É por isso que precisamos de outra chave.
Atividades sociais
Para ajudar na integração dos novos membros, também é preciso criar oportunidades para desenvolver amizades através de atividades sociais. As igrejas que recebem a série evangelística podem incluir em seu orçamento para as conferências encontros sociais com lanche, almoços e outros eventos para interagir com os novos conversos. Isso ajuda a preencher o “vácuo” que eles experimentam quando termina o evangelismo. Um modo simples de fazer isso é planejar um evento social para o último dia da série ou para a semana seguinte ao encerramento. O ideal é que este seja um excelente momento para eles. Tenho certeza de que será muito mais fácil integrá-los à igreja!
Envolvimento na missão
Embora as interações sociais sejam importantes, elas não são suficientes. Os novos membros precisam se comprometer com a missão da igreja. Assim como Jesus envolveu Seus discípulos em atividades missionárias, mesmo antes de eles estarem totalmente convertidos, precisamos envolver os interessados antes de se tornarem membros. De fato, eles são os mais motivados para atividades missionárias, porque estão vivendo o primeiro amor.
Envolver interessados da igreja em mutirões de divulgação de séries evangelísticas também é uma excelente oportunidade para integrá-los. Eles podem ajudar a distribuir literatura, convites e fazer pesquisas de interesse. Alguns até começam a dar estudos bíblicos antes de serem batizados. Quando realizei um grande treinamento para obreiros bíblicos leigos, um número significativo de participantes era de interessados que ainda não haviam sido batizados. Descobri que as pessoas desejam “pertencer” antes de “crer”. Uma das razões pelas quais estou no ministério hoje é porque quando eu era novo na fé, a igreja me envolveu. Mesmo antes de ser batizado, eu estava engajado em atividades missionárias e ensinava desbravadores a consertar motores de motocicletas. Após o batismo, fui nomeado diácono com apenas 15 anos, e ancião jovem aos 17. Ainda havia muitas coisas que eu precisava aprender, mas aquela congregação assumiu o risco e me delegou responsabilidades que eu poderia exercer sob a supervisão de líderes mais experientes.
Seminários de evangelismo
Pesquisas recentes revelam que, em média, leva de seis a 18 meses para que os recém-batizados de uma série evangelística se integrem à sua nova congregação.2 Durante esse período, enquanto tentam se firmar na fé, eles são muito vulneráveis. Talvez porque não conseguiram absorver tudo o que ouviram durante as conferências. Uma das melhores maneiras de fortalecê-los na igreja é convidá-los a participar de um seminário de evangelismo. Tenho observado que os neófitos são os mais atentos e comprometidos em meus seminários.
Logo após meu batismo, participei de um desses seminários. Fiquei tão motivado que, aos 16 anos de idade, realizei minha primeira série evangelística. A experiência me ajudou a fortalecer a fé e ser um pastor.
Conclusão
Essas cinco chaves não são infalíveis. As pessoas deixam a igreja por diversas razões. Nem todos os membros se responsabilizam pelos novos na fé, mesmo que sejam treinados para isso. No entanto, na maioria dos casos, se ajudarmos a se envolverem e se integrarem, eles permanecerão. Dessa forma, fecharemos a porta dos fundos e a manteremos trancada.
Alan Parker, doutor em Teologia, é professor e diretor da Faculdade Adventista de Teologia em Collegedale, Estados Unidos
Referências
1 Andrew McChesney, “Every Adventist Urged to Help Stem Membership Losses”, <https://goo.gl/pWqm8n>.
2 Pesquisas realizadas com mais de 30 igrejas nos Estados Unidos, entre 2009 e 2016.