Tempos atrás, juntamente com um colega, visitei num hospital um bombeiro que sofrerá queimaduras, durante o ato heróico de debelar um incêndio. Seu caso não era grave, mas delicado. Tentando animá-lo, nós o felicitamos por sua bravura e espírito de serviço. Ele abriu os olhos e, com voz débil, mas convincente, nos respondeu: “Para isto vivemos”. Estive pensando muitas vezes naquele sermão de três palavras. Na verdade, um bombeiro não existe para se queimar; porém, no trabalho de proteger bens e vidas, é necessário arriscar a própria vida.
E quanto a nós, pastores, chamados por Deus? Para que vivemos? Estamos vivendo para o que temos que viver: buscar, resgatar, salvar, guardar, proteger e salvar vidas?
O capítulo 11 do livro aos hebreus destaca o papel da fé e da fidelidade, dois matizes interligados em todo o capítulo. Foi a fé que produziu ações e pessoas fiéis. Ela foi a comunhão que se expressou numa missão, a relação que foi evidenciada em resultados. A fé e a fidelidade estão enraizadas na esperança.
Nesse sentido, os heróis mencionados naquele capítulo sabiam para o que viviam, tinham bem clara a missão e o objetivo da existência. Viviam para o que tinham que viver.
Abel percebeu a promessa de um Redentor. Sua oferta não teve valor expiatório, mas a fé na promessa o induziu a apresentar o sacrifício ordenado por Deus. Abel agiu à maneira de Deus. A trasladação de Enoque mostrou que mesmo que o pecado separe o homem de Deus, Seu plano é recuperar Seus filhos. E há um caminho aberto: Jesus, o caminho, a verdade e a vida. Enoque se tornou amigo de Deus, andava com Ele e foi para o Céu. Todo aquele que, a exemplo desse patriarca, anda com Deus tem garantida a entrada no paraíso celestial.
Não havia evidências de que fosse possível uma catástrofe como o Dilúvio. O fato de se preparar para esse acontecimento foi um ato de fé da parte de Noé. A construção da arca foi um testemunho de sua decisão e seu estilo de vida, na contramão do mundo. Sua renúncia às vantagens mundanas testemunhou de sua fé em Deus. Noé não temeu o ridículo, aceitou a Palavra do Senhor e se deixou guiar pela vontade divina.
Abraão e sua família se dirigiram para a terra de Canaã, o que não significa que, ao deixar a parentela, conheciam o seu destino. Simplesmente obedeceram ao chamado de Deus. Obviamente, foi instruído quanto à direção em que deveriam ir e à rota a ser seguida. Abraão foi obediente à direção de Deus. Sara tinha 90 anos quando deu à luz Isaque. Sua esterilidade, até essa época, fez com que a concepção fosse um impressionante milagre. Não havia base humana para crer na promessa de Deus, de que ela teria um filho. Tudo o que tinha que fazer era aceitá-la pela fé. Sara o fez, porque acreditou no Senhor, e aprendeu que Ele é o Deus do impossível.
José não tinha evidências concretas sobre as quais fundamentar sua esperança de que a família voltaria à Canaã e ocuparia o país. Seu pedido de que fosse sepultado na terra prometida, quando sua família voltasse para lá, baseava-se nas promessas de Deus.
Moisés rejeitou as honras, a hierarquia e o momentâneo poder, por causa de sua confiança no elevado destino que Deus lhe havia traçado bem como a seu povo. Segundo todas as aparências, nada podia ser de menor valor que colocar a esperança em tais coisas, pois os hebreus estavam submetidos à mais vil servidão egípcia. Somente a fé nas promessas divinas pôde induzi-lo a rejeitar o trono do Egito.
Moisés tinha que escolher entre o trono do império mais poderoso do mundo, ou se juntar a uma raça de escravos e ser maltratado. Sofreu, mesmo sendo caudilho do povo hebreu. Os israelitas eram de dura cerviz e rebeldes; sempre murmuravam. Moisés escolheu um destino que, de qualquer ponto de vista, nada lhe podia oferecer. Pôs o olhar nas promessas e nos privilégios da aliança. Como fez Paulo 15 séculos depois, trocou voluntariamente a glória e o poder passageiros pelas menos vivíveis promessas e recompensas da aliança.
Mesmo Raabe, pagã e pecadora, mas convertida e protegida pelo sangue de Cristo, chegou a ser ancestral de Cristo. Todos esses e outros heróis sabiam para o que viviam e para isso viviam. Entretanto, não receberam a recompensa prometida, a fim de que a recebam juntamente conosco. Agradeçamos a Deus por nos haver considerado fiéis, ao nos chamar para o ministério pastoral. Fiéis, nos caminhos da fé, na comunhão, na missão, na esperança. “Pela fé podemos chegar até o limiar da cidade eterna e ouvir as afáveis boas-vindas dadas aos que, nesta vida, cooperaram com Cristo, considerando uma honra sofrer por Sua causa” (Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 601). Para isso vivemos.