Estratégias que farão você dar a Deus o seu melhor, e por mais tempo
A declaração do meu amigo pastor, ao telefone, pareceu autêntica e enfática: “Omar, estou desistindo do ministério!” Ele continuou falando sobre o estresse e as frustrações experimentados ao ministrar à igreja, às famílias e ao mundo.
O que poderia ter levado meu amigo a se sentir tão desanimado? Ele tinha mais de uma década de variadas experiências pastorais. Era um pastor expressivo e tinha grande capacidade de relacionamento. Era pregador efetivo, sábio conselheiro, tinha facilidade para resolver problemas e era bom administrador.
Quando ele parou de falar, perguntei-lhe se tinha havido alguma mudança repentina em seu trabalho ou vida pessoal. Sua resposta foi tão rápida quanto supreendente: “Não! É justamente a rotina; esse é um trabalho contínuo. Sinto que estou sempre entrando e saindo de uma crise após outra. Nunca estou calmo! Isso me desgasta!”
Depois de ouvi-lo, respondi: “Parece-me que você está se esgotando, ou à beira disso.”
Meu amigo ficou espantado! Admitiu que jamais havia considerado isso como sendo seu problema. Continuamos conversando sobre a possibilidade de fazer algumas mudanças importantes em sua vida pessoal, familiar, emocional, social e espiritual, bem como no trabalho, tudo com o objetivo de garantir a continuidade do seu ministério frutífero, alegre e efetivo.
Estratégias simples
Todos os meses, cerca de 1.800 pastores deixam o ministério.1 A razão principal é o esgotamento.2 De acordo com um artigo publicado pelo jornal New York Times, 40% dos pastores e 47% das respectivas esposas sofrem de esgotamento, horários irregulares e expectativas irreais. E 45% dos pastores dizem que têm experimentado depressão ou esgotamento, em um nível tão amplo que precisam ficar fora do ministério durante um tempo, ou até mesmo deixá-lo.3 Os números são sombrios, mas você não precisa se tornar um deles! Aqui estão nove maneiras pelas quais é possível ser proativo e se proteger contra o esgotamento.
Pense corretamente sobre Deus. Muitas vezes os pastores se esquecem de que só podem trabalhar dentro dos limites que Deus estabeleceu para eles. Tendem a querer fazer as coisas em seu próprio poder, em vez de usar o poder colocado por Deus à disposição deles. Esquecem-se de que o mesmo Deus que chama, também capacita, mantém e completa Seus escolhidos.
Essa não é uma questão nova. Note o que aconteceu em uma congregação problemática que Paulo repreendeu: “Quando, pois, alguém diz: ‘Eu sou de Paulo’, e outro: ‘Eu, de Apolo’, não é evidente que andais segundo os homens? Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isso conforme o Senhor concedeu a cada um. Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus. De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá o crescimento” (1Co 3:4-7).
Pense corretamente a seu respeito. Pensar corretamente sobre Deus permite que o pastor coloque a si mesmo na perspectiva apropriada. Então, ele pode desenvolver uma visão honesta sobre suas habilidades, seus dons espirituais e talentos naturais. Paulo escreveu: “Pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12:3).
Quando os pastores têm expectativas irreais a respeito de si mesmos, eles podem aterrissar em situações difíceis. Essas expectativas podem ter origem na comparação com outros pastores ou no próprio desejo por melhor desempenho. O ponto básico é este: as expectativas devem ser ajustadas para que sejam realistas.
Tenha períodos regulares de solidão. O ministério pastoral às vezes pode exigir muito tempo. Alguns pastores se sentem pressionados pelo trabalho, ao longo de toda a semana, muitas horas cada dia. Não encontram tempo para si nem para a família. Espera-se que o pastor trabalhe 24 horas todos os sete dias. Para ser um pastor de sucesso e cumpridor dos deveres, é necessário estabelecer tempo para cuidar das necessidades pessoais e da família – estudo, oração, exercício, repouso, relax e unidade familiar. Você nunca terá esse tempo, se não o estabelecer. Deus, sua família e sua igreja esperam o melhor de seu ministério.
Conheço pastores que tomam tempo pelo menos uma vez na semana para estar em quietude – talvez em um parque, numa biblioteca ou no escritório, sem interrupções. Esse período pode ser usado para estudar a Bíblia, orar, atualizar-se, ler, ou anotar pensamentos para um futuro sermão. O pastor não deve ser tão estrito em seus compromissos que não possa estabelecer tempo regular para rejuvenescimento, restauração e reajuste do foco.
Fortaleça seu casamento. Depois do seu relacionamento pessoal com Deus, o relacionamento com a esposa é o maior fator determinante para seu êxito no ministério. Sua esposa pode ajudar ou estorvar sua efetividade e frutificação para Deus. Portanto, você deve reconhecer a importância de tomar tempo para preencher adequadamente todas as facetas do relacionamento com ela. Quando as coisas ficam estressantes, nada melhor que tomar tempo a sós com a esposa.
Alguns anos atrás, recebi um chamado aflito de um pastor que tivera um ano difícil em seu trabalho. No fim daquele ano, sua esposa propôs o divórcio. A princípio, ele ficou atônito, sem compreender o que nem por que estava acontecendo. Mas, durante um período de separação que ambos impuseram a si mesmos, avaliando honestamente sua parte na situação, ele admitiu que logo depois de se casarem, ele se dedicou integralmente ao ministério e, pouco a pouco, o passar dos anos permitiu que seu relacionamento com a esposa enfraquecesse. O ano de trabalho extremamente difícil que havia passado serviu para desvendar o último vestígio das ruínas do casamento. Ele e a esposa buscaram aconselhamento, e ele passou a priorizar tempo diário e datas especiais com a esposa.
Aprenda a perdoar. O pastor pode ter um ponto cego sobre determinado tema e não perdoar outros nem a si mesmo. Todos nós vivemos neste mundo pecaminoso e fraturado, e vivemos entre pessoas que algumas vezes prejudicam em vez de ajudar. Uma coisa que tenho aprendido sobre relações humanas é que as pessoas prejudicadas acabam prejudicando outras. A falta de compreensão do pastor quanto a esse assunto pode prejudicar sua sensibilidade espiritual. Jesus nos deixou este poderoso conselho a respeito do perdão: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas” (Mt 6:14, 15).
Faça amizades. Ninguém é uma ilha. Todos necessitamos interagir. Nas palavras do apóstolo Paulo, “levai as cargas uns dos outros e, assim, cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6:2). Infelizmente, a realidade é que muitos pastores são lobos solitários, não têm amigos. Mas a vida e o pastorado serão muito mais fáceis e enriquecidos se houver conexão entre o pastor e outra pessoa que tenha os mesmos interesses e objetivos. Pessoas as quais ele possa amar e aceitar incondicionalmente, e a ele retribuam a mesma coisa.
Converse. Procure encontrar pessoas com as quais você possa falar aberta e honestamente sobre seus altos e baixos. “Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo” (Pv 27:17). Essa pessoa não precisa ser um conselheiro ou terapeuta especializado. Estabeleça tempo regular para conversar com ela sobre os mais profundos anseios do seu coração, sobre feridas, necessidades e expectativas insatisfeitas.
Estabeleça limites. Diga “não” quando achar necessário fazer isso. Os membros de sua igreja e seus amigos vão procurá-lo trazendo muitas questões, mas você tem limitações e não pode fazer tudo. Não negligencie o tempo que deve dedicar à esposa e aos filhos. Aprenda a delegar as tarefas administrativas menos importantes aos anciãos, diáconos e líderes de departamentos.
Cultive interesses variados. Estabeleça e desenvolva um hobby ou interesse. Faça alguma coisa que o restaure fisicamente, emocionalmente e espiritualmente. Pode ser algo simples como ler um bom livro, ouvir boa música durante alguns minutos no dia, ou cultivar o jardim. Separe tempo para cultivar esses interesses à parte do ministério em si, e colherá resultados positivos. Leve a sério o conselho de Salomão: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem de seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se? Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que Lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus” (Ec 2:24-26).
As exigências do ministério no século 21 podem verdadeiramente ser desafiadoras e exaustivas, mesmo para o mais dedicado e efetivo servo de Deus. Entretanto, discernimento e uso sábio de estratégias, como as que foram mencionadas aqui, podem habilitar você a evitar o colapso e dar a Deus seu melhor no ministério e durante toda a vida.
Referências:
- 1 “About Us Information”, Standing Stone Ministry, www.standingstoneministry.org, acessado em 29/12/2013.
- 2 “Top 2 Causes for Pastors Leaving Ministry and More Statistics”, Ibid.
- 3 George Stahnke, “Dealing with Burnout”, Thriving Pastor, www.thrivingpastor.org, acessado em 29/12/2013.