O sábado implica relacionamento, antes e acima de tudo, com Deus, e então, com Sua criação e Suas criaturas. Pensando nisso, não é distorção do seu significado compará-lo à experiência conjugal. Todo ser humano normal se relaciona com os semelhantes. Entre outras atitudes, afeto, confiança, lealdade, comunhão de interesses, alegria, companheirismo e respeito caracterizam esses relacionamentos. Porém, há um momento na vida em que toda pessoa encontra alguém especial, com quem passa a compartilhar a vida, com exclusividade, numa experiência máxima de prazer e intimidade.
Na moldura semanal, o que ocorre com o sábado não é diferente. Dos sete dias estabelecidos por Deus, cada um dos quais com o mesmo período de tempo (24 horas), a mesma estrutura (noite e dia), dispomos de seis para realizar nossas atividades seculares e cumprir nossa agenda pessoal. Mas, o sábado é diferente. Foi por Deus estabelecido com o propósito de vivermos uma experiência especial de relacionamento com Ele: adoração, comunhão, louvor, gratidão, celebração, serviço e prazerosa restauração. Ou seja, no casamento desfrutamos o máximo de prazer e intimidade com uma criatura especial, escolhida entre tantas outras. No sábado, desfrutamos o máximo de prazer e comunhão com o Criador, sem interferências de outras atividades, em um nível de plenitude não vivenciado nos outros dias.
“Aquele que criou o tempo dedica tempo para nossa restauração final. Aquele que descansou de Sua obra redentora num sábado não mede esforços para que nEle descansemos hoje”
“Deus abençoou o sábado. Colocou nele a plenitude de vida. Por isso, o sábado é vida, é alegria e é repouso. Nele se produz a união perfeita do prazer com a liberdade e a disciplina. O sábado foi estabelecido para que o homem, liberado de todas as coisas que não concedem santidade, se relacionasse com Deus que, como o Senhor do mundo, dava, assim, sentido à toda a criação” (Mário Veloso, O Homem Uma Pessoa Vivente, p. 46).
O autor do livro de Gênesis liga diretamente o sétimo dia com a criação, apresentando-o como memorial desse acontecimento, que é fundamental para a natureza e identidade humanas (Gn 2:1-3). Dessa forma, o sábado é revestido de significado cósmico, transcendente a limitações temporais, locais ou litúrgicas. Sua instituição é anterior à promulgação de todas as leis, tanto as cerimoniais mosaicas como o próprio Decálogo.
Os israelitas foram ensinados que o sábado também seria um memorial de sua libertação do cativeiro egípcio: “Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasses o dia de sábado” (Dt 5:15). O Deus que trouxe o Universo à existência é o mesmo que nos libertou do cativeiro do pecado. Essa libertação foi consumada na cruz, numa sexta-feira, o que torna significativo o fato de que, no dia seguinte, Jesus Cristo tenha descansado na sepultura e daí tenha saído no primeiro dia da semana. Aquele que criou o Universo cria em nós um novo espírito e uma nova vida. Aquele que criou o tempo dedica tempo para nossa restauração final. Aquele que descansou de Sua obra redentora num sábado não mede esforços para que nEle descansemos hoje.
Sendo memorial do poder criador e da graça redentora de Deus, o sábado será no futuro o ponto que levará o ser humano a decidir entre submeter-se à soberania divina ou à intolerância do homem:
“O sábado será a pedra de toque da lealdade; pois é o ponto da verdade especialmente controvertido. Quando sobrevier aos homens a prova final, será traçada a linha divisória entre os que servem a Deus e os que não
O servem” (Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 605).
À luz do seu grande significado, é necessário que renovemos a excelência do sábado entre nossos irmãos, orientando-os quanto à fiel observância das horas sagradas desse dia. Como pastores, precisamos reavaliar nossas atividades ministeriais, atentando para aquelas que subtraem o verdadeiro espírito de adoração e comunhão com o Senhor do sábado.
Zinaldo A. Santos