“Independentemente dos problemas e dificaldades, que mais posso pedir à vida senão desfrutar o privilégio de ser pastor?”
Formado em Teologia pela Universidade Adventista del Plata, em 1977, o pastor Bruno Raso liderou dois distritos pastorais e, em seguida, trabalhou nas Associações Argentina do Sul e Buenairense como secretário ministerial, diretor de Comunicação, Ministério Pessoal e Relações Públicas. Depois de servir como presidente da Associação Buenairense, foi nomeado para desempenhar as mesmas funções na União Austral, da qual também foi presidente até maio deste ano, quando foi eleito secretário ministerial da Divisão Sul-Americana.
Mestre e doutor em Teologia Pastoral, o pastor Raso é casado com Doritta Otto, de cuja união nasceram as filhas Doris Elizabeth e Cristina Ester. Nesta entrevista, ele fala ao seu novo rebanho sobre o pastorado e planos de trabalho.
Ministério: Qual foi seu primeiro sentimento, ao receber a notícia da nomeação como secretário ministerial da Divisão Sul-Americana?
Bruno Raso: A sensação de estar recebendo um privilégio e uma grande responsabilidade; a consciência de ser colocado frente a um desafio além da minha capacidade. Porém, o aceito amparado nas promessas dAquele que nos chamou para fazer parte do ministério pastoral. Reconheço que o pastor é a peça-chave e básica em toda a estrutura administrativa da igreja.
Ministério: Fale um pouco sobre seu chamado e experiência como pastor de igrejas.
Bruno Raso: Quando eu tinha apenas três semanas de vida, devido a dificuldades no processo de meu nascimento, os médicos disseram a meus pais que não havia condições para que eu continuasse vivendo. Porém, um milagre aconteceu e, agradecido por isso, desde cedo senti forte atração para servir como pastor na pregação do evangelho. Devo também reconhecer a influência exercida pelas professoras da Escola Sabatina e pela liderança dos pastores que tive na minha infância. Tive o privilégio de liderar dois distritos pastorais: um no sul da Argentina que era bastante desafiador por seu crescimento, e outro em Buenos Aires, desafiador pelo impacto de estar situado em uma grande cidade. Foram experiências muito felizes, em igrejas identificadas e comprometidas com a missão, com as quais aprendi bastante.
Ministério: Qual é, exatamente, o pa-pel da Associação Ministerial?
Bruno Raso: A Associação Ministerial tem a responsabilidade de prover instrumentos e recursos para facilitar o trabalho pastoral; acompanhar a formação de novos pastores (os aspirantes), bem como o processo que leva à ordenação. É dever da Associação Ministerial trabalhar para manter acesa, entre os pastores, a chama do serviço, do compromisso e da satisfação de servir a Cristo. O secretário ministerial deve atuar como pastor dos pastores e respectivas famílias; é o intermediário entre a administração e o pastorado. Além disso, também tem a responsabilidade pelo treinamento de anciãos e diáconos. Os anciãos representam uma parte muito importante na equipe ministerial. Eles são os co-pastores das igrejas. Cada sábado, em aproximadamente 80% das igrejas na Divisão Sul-Americana há um ancião que prega e lidera todas as atividades. A Associação Ministerial tem a função de ajudar a entender o papel do ancião e do diácono, realizando seminários de capacitação, e prover materiais e recursos.
“Precisamos suprir as necessidades dos pastores. Precisamos ter um pastorando feliz., sadio, fiel e produtivo para a igreja e sua missão“
Ministério: Quão longe o secretário ministerial deve ir no acompanhamento de um pastor que enfrenta problemas, antes de entregar o caso à administração do Campo?
Bruno Raso: Depende do tipo de problema enfrentado. Há problemas em que se pode ir muito longe no acompanhamento, e outros que requerem intervenção profissional, às vezes, imediata; razão pela qual devemos encaminhar o pastor a um especialista competente. Há outros problemas relacionados à ética e à moral, que também devem ser partilhados com a administração no momento certo. Porém, essa decisão sempre deve incluir o pastor, ou seja, não podemos decidir nada sem o conhecimento dele. Às vezes, podemos aconselhá-lo nestes termos: “Creio que este é o melhor caminho, o passo que deve ser dado; porém, a decisão é sua”. Então, devemos esperar que o pastor envolvido aceite o conselho e tome a decisão de comunicar o caso à administração, ou nos autorize a fazê-lo.
Ministério: Pelo que o senhor tem observado ao longo de seu pastorado, qual é a maior dificuldade que os pastores encontram em procurar o secretário ministerial?
Bruno Raso: Acredito que é a falta de confiança. O fato de o pastor expor seu problema e, posteriormente, ele se torne público na igreja ou em alguma comissão diretiva. Às vezes, existe o medo de que, sendo conhecido, o problema do pastor acabe interferindo em um chamado ou alguma decisão a seu respeito.
Ministério: Quais são os desafios específicos de sua nova função no âmbito de um continente, e como pretende superá-los?
Bruno Raso: Nossa Divisão é caracterizada pela diversidade: grandes centros urbanos, como São Paulo, Lima, Buenos Aires, entre outros e, por outro lado, regiões de extrema pobreza. Acredito que um grande desafio é prover um programa que contemple essa diversidade. Quanto a desafios específicos, em primeiro lugar, pretendo dialogar com meu associado, pastor Ranieri Sales, com o presidente da Divisão, pastor Erton Köhler, e com os secretários ministeriais das Uniões, a fim de analisarmos juntos as necessidades e os desafios regionais, bem como receber deles informações sobre necessidades do pastorado. Precisamos trabalhar para suprir as necessidades dos nossos pastores. Precisamos ter um pastorado que trabalhe integrado, feliz, sadio, fiel e produtivo para a igreja e sua missão. Estou consciente de que essa é uma tarefa difícil e que requer muita oração, humildade e dependência de Deus.
Ministério: Com certa freqüência, ouvimos dizer que o pastor é um solitário. O que a Associação Ministerial pode fazer para que essa carência seja satisfeita?
Bruno Raso: Acredito que, às vezes, o pastor se sente só porque o deixam só; outras vezes, ele mesmo se isola. Seja como for, a Associação Ministerial tem que construir pontes adequadas de união, aproximação, de recursos legítimos que criem confiança, integração, participação e desenvolvimento. Creio que precisamos atender os obreiros de acordo com a faixa etária. Os aspirantes que ainda não foram ordenados não têm as mesmas necessidades dos mais experientes, os recém-ordenados ou os que já se encontram na reta final. Às vezes, analisamos uma problemática com um único enfoque para todas as idades e situações juntas. A maioria das vezes, o que serve para alguém não é o que serve para outro. Também devemos trabalhar por áreas, suprindo necessidades específicas, encontrando recursos que satisfaçam carências em todos os âmbitos e em todos os momentos do pastorado.
Ministério: Existe algum novo projeto de evangelismo para a Divisão Sul-Americana?
Bruno Raso: No momento, o programa que temos é o “Impacto esperança”. Toda a Divisão Sul-Americana está envolvida nesse projeto, na tentativa de que todos os setores formem parte de um programa discipulador. É importante lembrar que pastores e anciãos têm papel fundamental a desempenhar nesse projeto, inspirando, motivando e capacitando a igreja, além da supervisão da continuidade do programa. Não se trata de um evento em um dia, mas um processo evangelizador para causar impacto. Cremos no esquema básico missionário mantido e promovido pela Divisão: pequenos grupos, instrutores bíblicos, duplas missionárias, ministério de recepção, oração intercessora, os Revives e semanas de colheita e decisão. Tudo isso realizado através de comunhão permanente com Cristo. Em princípio, daremos continuidade a esses planos, mas o Senhor nos dirá que outras idéias deverão ser incorporadas para renovar e aprofundar a ação evangelizadora.
Ministério: Tendo sido evangelista em outra época, como o senhor vê o evangelismo público nos dias atuais?
Bruno Raso: Indubitavelmente, o evangelismo público tem seu lugar na missão da igreja; talvez, não da mesma forma que era realizado anos atrás. O mundo muda a todo o momento, e não podemos manter uma temática, um método, promoção ou tipo de publicidade que funcionava antes de ontem. A mensagem é inegociável, mas a metodologia é mutável e adaptável ao tempo e lugar. Temos que utilizar muito mais os meios e atuais recursos de comunicação, como internet, por exemplo, e estabelecer pontes entre os meios eletrônicos e cibernéticos e o contato humano, que é indispensável para testemunhar o poder do evangelho. Precisamos colocar vida nova em velhos métodos e criar novos métodos, para alcançar as pessoas. É importante lembrar também a inutilidade que pode ser o estabelecimento de um método padrão para todos os lugares. Às vezes, torna-se necessário fazer adaptações às realidades locais e regionais.
Ministério: Atualmente, o conceito de pastor-treinador é muito enfatizado. O senhor não acha que também é necessária a existência do pastor-pastor, presente na vida das pessoas?
Bruno Raso: O pastor-treinador é o mestre, docente; o pastor que inspira, motiva e equipa. Porém, um bom pastor-treinador é, previamente, um bom pastor-pastor, porque antes que alguém queira saber, conhecer ou aprender alguma coisa, necessita desejá-la. Ninguém quer saber como se faz algo, se antes não tiver o desejo de fazê-lo. Para isso, faz falta um pastor-pastor. Na verdade, tudo não passa de um jogo de palavras. Não existe um pastor-treinador, se primeiro ele não é pastor-pastor. Para treinar, o pastor tem que motivar, criar necessidade, e isso é feito através de sermões cristocêntricos e bíblicos, visitação nas casas e hospitais, aconselhamento a jovens, casais e famílias. O pastor invisível durante a semana é desconhecido no sábado. Pode até fazer um bonito sermão, mas se não foi visto durante a semana, talvez, não inspire ninguém e, Conseqüentemente, não terá ninguém para treinar.
Ministério: A seu ver, quais são as grandes ameaças à vida familiar do pastor, e que planos tem para enriquecer essa área?
Bruno Raso: Sempre ouvimos dizer que as grandes ameaças à vida familiar do pastor têm que ver com finanças e sexualidade. Mas, além do que sempre tem sido e continuará sendo um problema, são poucos os que, proporcionalmente, acabam caindo na lagoa maior e, talvez, sejam muitos os que pisam em poças menores e acabam sendo afetados da mesma forma. Pode ser que alguém não caia em uma tentação grande, mas viva em permanente distração. Cair na grande tentação pode causar impacto em um momento; mas, viver em permanente distração pode ser um mal que nos acompanhe durante toda a vida. Em suma, os grandes perigos da vida familiar do pastor passam por coisas que nem sempre são grandes, mas também passam por aquelas que parecem pequenas. Conseguir o equilíbrio entre cuidar da família e servir à igreja continua sendo o desafio de todos nós.
Ministério: Segundo o seu julgamento, qual é a maior necessidade do nosso púlpito hoje?
Bruno Raso: Estou convencido de que a pregação tem que ser bíblica e cristocêntrica. Pessoalmente, aprecio os sermões expositivos. Prefiro a pregação temática para uma série evangelística, em que temos que apresentar nossa doutrina. Porém, a pregação sabática produz maior impacto quando é expositiva, quando a irmandade pode desfrutar uma parte da Escritura, uma mensagem completa e, ao mesmo tempo, ser motivada a estudar a Bíblia dessa maneira. Logicamente, também há lugar para um sermão temático, no sábado. Em qualquer caso, a mensagem deve ser atual, relevante, pertinente e apropriada para as necessidades dos ouvintes. Tem que ser dinâmica, variada, ágil, prática.
“O pastor invisível durante a semana é desconhecido no sábado. Pode até fazer um bonito sermão mas, talvez, não inspire ninguém“
Ministério: Esta edição de Ministério inclui o “Dia do Pastor”. Que mensagem ou apelo especial o senhor deseja transmitir ao pastorado adventista sul-americano?
Bruno Raso: Em dezembro do ano passado, o pastor Victor Peto e eu sofremos um grave acidente automobilístico, regressando de uma viagem ao sul da Argentina. A camioneta em que estávamos capotou várias vezes, ficou totalmente destruída, e fomos salvos milagrosamente. Todos os que viram o estado do veículo se surpreenderam de que não tivéssemos nenhum ferimento grave. No dia seguinte, fizemos um check-up na Clínica Adventista Belgano e firmamos alguns convênios médicos para a clínica com um eminente médico não adventista. Quando lhe contamos o que nos havia acontecido, ele ficou grandemente surpreso e disse não se lembrar de ninguém que tivesse sofrido um acidente de tais proporções e estivesse falando com ele menos de 24 horas depois, fora de um centro cirúrgico. Disse ele: “Vocês perderam a última oportunidade para deixar de ser pastores”. Então, entendi que não posso ser outra coisa senão pastor. O pastorado é uma vocação para a qual não existem alternativas. Deus me deu esse privilégio e sou feliz com ele. Paulo o disse de outro modo: “O amor de Cristo nos constrange”, isto é, o amor de Cristo não me dá outra opção. Sinto que Jesus me ama e me convoca para ser um recurso ajudador em favor do cumprimento de Sua missão de resgate e redenção. Que mais posso pedir à vida, do que desfrutar esse maravilhoso privilégio, independentemente dos problemas, dificuldades, temporários dissabores ou escassez? Certo dia, quando eu tinha entre 14 e 15 anos, o pastor José Maria Hage, meu pastor, se aproximou de mim e disse: “Um arquiteto e um engenheiro constroem uma ponte, mas com o tempo, ela envelhece, quebra e fica inútil. Um artista pinta um belíssimo quadro, mas depois de certo tempo, ninguém se lembra dele. Porém, o que um pastor realiza perdura para sempre, por toda a eternidade.” Caríssimo pastor, desfrute o privilégio de ser pastor, chamado por Deus para trabalhar lado a lado com Ele na redenção da humanidade. Medite nestas palavras: “Há muito temos esperado a volta de nosso Salvador. Mas nem por isso é a promessa menos segura. Logo estaremos no lar que nos foi prometido. Ali Jesus nos guiará ao longo das vivas correntes de águas que fluem do trono de Deus… Ali veremos a cada lado as belas árvores do Paraíso e, no meio delas, a árvore da vida. Ali contemplaremos com clara visão as belezas do Éden restaurado. Lançaremos, ali, aos pés de nosso Redentor, as coroas que nos colocou na cabeça, e, tangendo nossas harpas de ouro, daremos louvor e ação de graças Àquele que está assentado no trono” (Conselhos Sobre Mordomia, p. 349, 350).