Qual é a melhor forma de nos relacionarmos com membros afastados da igreja? Nem todas as portas estão fechadas, algumas se abrem. Precisamos encontrar a chave certa

Não sou um projeto!”, a mulher gritou furiosamente para Samanta1, integrante da equipe de resgate de membros afastados de sua igreja. “Não me incomode mais!” Com isso, bateu a porta, e Samanta saiu vagarosamente, chorando. Assim, ela relatou aquele encontro ao nosso grupo: “Ela me perguntou por que os irmãos estavam indo semanalmente à sua casa. Expliquei-lhe que havíamos criado um novo ministério, chamado Projeto do Amor, para alcançar os membros que não iam à igreja, e…” Nesse ponto do relato, comecei a entender. Talvez, o nome do ministério tenha feito com que a mulher sentisse que era vista apenas como “projeto”.

Alcançar membros afastados da igreja é um desafio tremendo. Muitos pastores e membros indagam qual seria a melhor maneira de se relacionar com aqueles que já fizeram parte da família da igreja. Nem todas as portas estão fechadas.

Depois que Samanta compartilhou sua experiência, nosso grupo se ajoelhou, orou pela irmã afastada e por todos os outros que se encontravam em igual condição. Também discutimos a respeito de como poderíamos reatar a comunicação com eles. Desde então, tenho aprendido algumas lições sobre a razão pela qual as pessoas abandonam a igreja e como fazer para resgatá-las. Aqui estão alguns fatores que devem ser lembrados.

Pessoas não são projetos

Samanta não teve intenção de identificar aquela mulher apenas como um projeto. Às vezes, nós também podemos recorrer a métodos menos relacionais e mais objetivos. Cartazes e convites têm seu lugar, mas eles não substituem o carinho pessoal. “Todos quantos se empenham nesse trabalho, como os próprios ministros que pregam a Palavra, devem ser muito cuidadosos para não agir mecanicamente. Devem aprender continuamente. Possuir zelo consciencioso em adquirir as mais elevadas qualidades, em se tornar homens eficientes nas Escrituras.”Há lugar para sistemas, planos estratégicos, mas o método mais simples é olhar nos olhos do outro e lhe dizer: “Eu me importo com você.”

Descobri que as pessoas que não mais frequentam a igreja podem rejeitar visitas formais e muito planejadas, tornando-se céticas em relação ao ministério cujo objetivo é apenas “puxá-las de volta” para o rebanho. Reconstruir relacionamentos requer tempo. Especialistas em resgate de membros afastados dizem que, quanto maior for o tempo de afastamento deles, maior será o número de contatos necessários para reconquistá-los.

“Criaremos mais oportunidades para que os afastados voltem à igreja, se nos inteirarmos de seus pesares”

Se desejamos resgatar membros afastados da igreja, devemos orar por pessoas que se interessam genuinamente pelo ministério. Precisamos orientá-las a demonstrar simpatia, sem tentar “corrigir” aqueles que se foram. Faremos melhor se procurarmos refletir a respeito de como amar genuinamente as pessoas, sem que estejamos preocupados em ser eficientes ou bem-sucedidos. O amor abnegado focaliza as necessidades dos outros.

De quem é o problema?

Assustei-me quando ouvi alguém dizer: “Pastor, este é um país livre. Se eles [os afastados] desejam abandonar a igreja, a escolha é deles. Acho que devemos respeitar e não incomodá-los.” A negligência é um dos maiores problemas nessa área. Certamente, Jesus não usou essa abordagem em relação a pessoas que deixam o rebanho (Lc 15:4). Paulo escreveu: “Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gl 6:10).

Em seminários que realizo, geralmente pergunto se alguém conhece algum membro que não está frequentando a igreja. A maioria conhece. Então, pergunto: “Quantos de vocês têm um familiar incluído nesse grupo?” Normalmente, mais de 75% levantam a mão. Há muita dor e preocupação na família da fé. Mais que teoria, essa é uma questão de família.

Alguns podem até encontrar explicações para a evasão de membros. Muitos atribuem esse afastamento a razões doutrinárias ou espirituais; mas isso pode ser apenas uma forma de reforçar seu status. Em outras palavras: “Comigo está tudo bem, estou na igreja. Eles têm um problema, porque se afastaram.” Essa explicação egoísta tira a responsabilidade dos que ficam na igreja e a coloca sobre os que saem. Ela nos torna cegos para o que podemos contribuir em relação a eles.

Embora não possamos afirmar que todos os ex-membros saíram pelas mesmas razões, há semelhanças a respeito da razão pela qual eles nos deixam. Qualquer que seja a razão, na maioria das vezes, por trás disso, há pessoas feridas. Essas feridas decorrem de eventos típicos da vida. Pessoas que se graduam, mudam de cidade, perdem o emprego, ou até divorciam. Um casamento desfeito é algo sobre que as pessoas não querem ficar o tempo todo dando explicações a quem pergunta. Assim, a maneira mais fácil é não aparecer na igreja.

Motivos relacionais do afastamento, na maioria das vezes, não são culpa de ninguém na igreja. Ocasionalmente, alguém culpa o pastor ou algum outro membro, como justificativa para seu gesto. Porém, nosso grande problema é a maneira pela qual lidamos com os que se afastam. É desperdício de tempo e energia tentar achar culpados. Outros querem julgar os que estão retornando. Mas, quando eles estavam se afastando, simplesmente os ignoraram.

Certa ocasião, visitei por acaso um jovem casal que, havia mais de um mês, não estava indo à igreja. Eu era pastor associado e realmente não havia notado a ausência deles. Apareci inesperadamente, e eles me receberam muito bem. Obviamente, imaginaram o motivo da minha visita. Mas, eu não sabia que estavam afastados até que começamos a conversar. Percebi que estavam frustrados porque a comissão de nomeações não os havia indicado para nenhum cargo. Imediatamente, os envolvemos em um ministério para o qual eram dotados, e eles ficaram felizes.

Precisamos avaliar cuidadosamente os motivos pelos quais somos levados a estender a mão a essas pessoas. “A melhor maneira de sabermos se estamos certos ou errados… está no modo de tratarmos os outros. Posso achar que estou certo quando, na verdade, estou abaixo da crítica em minha maneira de ser.”3

Respeite o direito que as pessoas têm de não declarar os motivos pelos quais se afastaram da igreja. Se quiserem falar, deixe que elas façam à sua maneira. Caso contrário, apenas mostre compaixão para com tudo o que podem estar passando na vida. Seja sensível no trato dos problemas dos ex-membros.

Maior habilidade

Tudo o que se ensina sobre métodos de resgatar membros afastados pode ser resumido em uma habilidade: ouvir com empatia. Embora existam muitas outras habilidades que podemos aprender, nada é tão importante quanto ouvir com atenção, colocando-se no lugar deles.

“Ele foi tratado injustamente; o diretor não gosta dele”, disse-me o pai de um adolescente. Ele não mais frequentava a igreja, porque o filho havia sido expulso de nossa escola. A mãe também não frequentava. O incidente havia ocorrido dois anos antes da minha chegada àquela igreja. Embora eu já soubesse da história, simplesmente ouvi. Houve momentos em que tive vontade de interrompê-lo, mas apenas disse a ele: “Sinto muito pelo que aconteceu.” Não concordei com tudo, mas demonstrei compreensão. Deixei-o ciente de que faria tudo o que pudesse para resolver a situação. No fim, aquela conversa ajudou a construir uma ponte entre eles e a igreja.

Criaremos mais oportunidades para que os afastados voltem à igreja, se nos inteirarmos de seus pesares, mesmo que sejam questões administrativas. Melhor que apenas dizer: “Sinto muito, isso não representa Deus nem a igreja”, será apropriado acrescentar: “Em nome da igreja, quero lhe pedir desculpas.” Tal atitude pode curar uma mágoa guardada por décadas.

Desespero é o sentimento daqueles que estão fora da igreja. Nessa condição, é comum questionarem o valor das coisas espirituais. Podem pensar: “A igreja não faz sentido, ninguém se importa com ninguém.” Se lhes dedicamos atenção e compaixão, demonstramos que a igreja não é inútil nem fria. Ouvir comunica amor.

Como pastores, ao visitarmos membros afastados, podemos encontrar pessoas iradas que despejam sua ira sobre nós. É fácil tomar essa atitude como sendo pessoal. Lembro-me de um idoso apontando o dedo para mim. Ele não frequentava a igreja havia anos, porque achava que Deus era injusto. Dizia: “Deus permitiu que minha filha morresse em um acidente de carro uma semana antes de se casar. Como posso adorar um Deus como esse?” Em circunstâncias assim, a tentação é teologizar. Simplesmente me aproximei dele e, com lágrimas em meus olhos, disse-lhe: “Realmente, sinto muito!” Pastores são representantes de Deus e, algumas vezes, as pessoas descarregam sua dor no clero, que, mesmo imperfeitamente, personifica o Senhor.

Resultados

Nosso projeto tinha como objetivo resgatar dez famílias. Embora tenhamos cometido erros, e sido obrigados a passar mais tempo aprendendo a ouvir, tivemos êxito. Iniciamos os contatos de maneira simples, levando pães, lembranças feitas pelas crianças e outros itens. Depois de dez semanas, passamos a entregar literatura. Então, os chamamos para uma refeição de confraternização social na igreja e os convidamos a voltar à igreja. Três famílias responderam positivamente.

“Há um lugar para sistemas, planos estratégicos, mas o método mais simples é olhar nos olhos do outro e lhe dizer: ‘Eu me importo com você’”

Uma dessas famílias havia tido problemas com outra família da igreja, referente ao aluguel de um imóvel. Até então, não haviam acertado a situação. Um dos integrantes do nosso ministério ofereceu ajuda e isso contribuiu para a “cura”. Depois de conversarem, os dois casais oraram, abraçaram-se e choraram. No sábado seguinte, as famílias se sentaram juntas na igreja.

Ao longo dos anos, descobri alguns itens básicos que podem ajudar no resgate de membros afastados. Primeiramente, sempre há um grupo, treinado, que se dedica a esse ministério. Seus participantes aprenderam a ouvir com empatia, sem julgar atitudes nem comportamentos. Dedicam-se não apenas a encontrar ex-membros, mas a dar atenção aos faltosos eventuais.

Eu realmente havia esperado que as dez famílias voltassem. Mas agora compreendo que ter um terço delas de volta é excelente resultado. Sentimos alegria em tê-las novamente conosco e saber que essas pessoas nos perdoaram. Métodos e estruturas são menos importantes do que demonstrar amor e atenção. Aprendemos que pessoas são mais importantes do que projetos.

Referência:

  • 1 Pseudônimo.
  • 2 Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 193.
  • 3 Arbinger Institute, The Anatomy of Peace: Resolving the Heart of Conflict (San Francisco, CA: Berrett-Koehler Publishers, 2006), p. 57.