Necessita-se revelar segurança vocacional e de missão não apenas na pregação mas em todas as atividades do ministério, assim como em todos os níveis de sua pessoa como instrumento de Deus.

Por pregação e ministério proféticos quiséramos identificar o tipo de vocação que participa das características dos profetas bíblicos, particularmente com as daqueles que foram chamados profetas reformadores .

Necessita-se revelar segurança vocacional e de missão não apenas na pregação, mas em todas as atividades do ministério, assim como em todos os níveis de sua pessoa como instrumento de Deus.

É curioso que, mesmo quando os judeus costumavam rejeitar aos profetas, geralmente quando um compatriota introduzia uma mensagem ou uma admoestação com um “Assim diz Jeová”, o povo se apressava a escutá-lo até com uma atitude dócil, algumas vezes. Porque no caso de que o profeta fosse autêntico, não era um mero cidadão o que falava, senão que era o próprio Deus falando através de um instrumento escolhido. O ministério de um profeta autêntico envolvia autoridade e demandava atenção.

Nas partes classificadas por subtítulos que se seguem estão algumas características do profetismo bíblico que os ministros e pregadores deveriamos possuir a fim de que nosso ministério pudesse ser mais eficiente.

Instrumento do Espírito

Quando o Espírito “descia” ou “caía” sobre um homem, ninguém tinha direito nem autoridade para detê-lo na comunicação da mensagem que havia recebido. Nem ele mesmo podia fazê-lo. Jonas foge, porém, acaba proclamando-a com eficácia. Quando Elias faz mais ou menos o mesmo, aparece como que fulminado por aquele afastamento. Jeremias sente-se como calcinado por dentro e não tem repouso até que se desobriga da mensagem que tem a dar. E Paulo declara: “Ai de mim se não pregar o Evangelho!” Possuído dessa convicção e com a palavra de Deus na alma e nos lábios, verte-a aonde deve e sem resguardo à maneira de manancial incontido do Espírito.

Reformador Enérgico

O profeta costuma surgir intentando conter abusos do povo e dos líderes políticos e religiosos. Ignora tradições e componendas estabelecidas. Unicamente responde ao originador de sua mensagem e vocação e à sua consciência iluminada. É inflexível. É seguro de si mesmo. Não é conformista. Só se aquieta quando cessam os fatos que contrariam ao Seu Mensageiro. Daí se conforma. Carece de vacilação e não é irresoluto; características estas que resultam quase numa prova de sua autenticidade do enviado de Deus. Parece individualista. Ocorrem circunstâncias em sua vida quando tem que permanecer sozinho. É um individualista de Deus que possui um fogo interno. Trata-se de uma chama divina que o inflama e que não é outra coisa senão sua mensagem. Tem que proferi-la nas ruas, nas praças, perante o povo, em concentrações, ou diante dos indivíduos que o requeiram, para sentir-se em paz e realizado em sua missão. Somente então cessa sua proclamação e se encerra tranquilo em seu refúgio.

Eleito por Deus

O ministério do profeta bíblico não vem por sucessão hereditária, como o de sacerdote. Não existe “casta profética” como existia a sacerdotal ; como tampouco existe a casta de ministros e pregadores, embora é certo que para o pregador e ministro seja uma honra que seus filhos também sejam chamados a tão elevada vocação.

“Minha poderosa ordenação”, respondia Whitefield aos que lhe imputavam ausência de transmissão apostólica por imposição de mãos ao seu ministério, “provém das perfuradas mãos do Senhor”. De Jesus Cristo é dito que “foi feito ministro” . S. Paulo declara o mesmo quanto a si: ele “foi feito” ministro pela vontade de Deus. Este tem sido e ainda é um fato desconhecido para muitos ministros cristãos que se fizeram ministros a si mesmos, estudando longos anos e invertendo tudo, às vezes mais do que dispunham, nesse propósito. Porém, não foram feitos. Poderíamos nós, os ministros adventistas, afirmar com humildade, firmeza e segurança, sem presunção, que deveras fomos chamados e feitos ministros e pregadores? Valeria a pena confrontar-nos com esta interrogação, porquanto a hora requer ministros e pregadores ao estilo dos profetas.

O evangelista negro Skinner declarou o seguinte:

“Uma das coisas mais desventuradas da religião do século XX é que temos muitos líderes religiosos que nunca foram realmente eleitos por Deus”. 2

Incondicionalmente nas Mãos de Deus

O autêntico profeta é um porta-voz de Deus. Nem o interesse de outros, nem os seus próprios interferem e são levados em conta, em sua missão. Nem os do potentado, do sacerdote máximo, dos mestres do povo, nem os do próprio povo, se aqueles não estiverem alinhados com os de seu Deus. Todo seu ser está subjugado a Jeová e à Sua causa. É portador de uma revelação, uma missão, uma verdade que, por vezes conhecida, foi desmerecida em sua trajetória pela mente e no critério de homens que não tiveram, como ele, a consciência iluminada. Como reformador, tem então que desviar o curso das coisas e colocá-las em seu autêntico leito.

O profeta tem paixão por Deus, por Sua lei, sua própria Missão e pelo povo que se identifica com Deus. A Causa lhe é suprema. Não existe motivação ou ideal superior a ela. Quando se torna necessário, coloca todo seu ser em favor da missão que defende com ardor, sujeitando-se ao apedrejamento, ao cutelo e à própria morte em qualquer de suas formas. É um sentinela permanente de Deus, um cérebro intransigente no cuidado do que recebeu como depositário. Está arraigado na lei de Deus, na justiça, legalidade e verdade. É intransigente com o sincretismo, as ambigüidades, o farisaísmo, o formalismo, a adulação, as componendas, os prêmios, os obséquios e com qualquer desvio ou abuso. É valente e temerário até às próprias margens do atrevimento. É que sua vocação requer dele direção e firmeza tais. Assim é seu Deus. Ele O representa em suas atitudes e realizações. Não explora o povo nem a plebe, nem se vale da demagogia, pois não busca nem necessita votos. Tem o de seu Deus que lhe é suficiente. Esse o motivo porque às vezes fica sozinho. Como Elias. Após uma ação heróica, acompanham-no alguns ou muitos que preferem a razão e a verdade. Sua vocação é então satisfeita; realiza-se. Não costuma ser sempre popular, porque fala claro. Não é ele o homem mais apropriado para as “relações públicas” segundo concebida em certos tipos de diplomacia mundana e, às vezes, mesmo em círculos eclesiásticos.

As crises parecem atraí-lo, como o ímã ao ferro. É andarilho e inquieto. Algumas vezes provoca encontros em encruzilhadas com líderes fora de ordem, às vezes surge intempestivamente em um determinado cenário com uma exortação fatídica nos lábios ou com uma boa-nova para alentar a esperança. É sempre leal a Deus, à justiça, à verdade e com o inocente.

Frugal, Austero, Modesto

É possível que algum profeta cortesão pudesse ter sido diferente. Porém os profetas destacados como Elias, Eliseu, Isaías, Jeremias, Ezequiel, João Batista e outros têm características de leigos, desvinculados em geral da linha sacerdotal. Ninguém negaria que a combinação de sacerdote e profeta que se produzem em Jeremias e Ezequiel não fora apropriada. Estes dois ministérios, às vezes aparecem em oposição. Um deles é geralmente tradicionalista, formalista e ligado à monotonia. O outro surge despertando apatias. Um é identificado pelo uniforme. O outro veste-se de tal maneira que sua própria aparência pareceria implicar censura à opulência e à comodidade. É que com sua aparência rememora as gestas do deserto e ao povo que galgou em direção à terra prometida, carente de comodidades que somente as teria no fim da peregrinação.

Como nos faria bem aos ministros meditar em nossa missão profética! E como faria bem à igreja contar com ministros que tivessem algo de Elias, de Jeremias, ou de Batista, no que se refere à simplicidade e frugalidade de vida!

Se eles reaparecessem na Terra, qual seria sua mensagem para o ministério atual? Acaso não nos repreenderíam por não sermos mais leais aos conselhos do Senhor para nosso tempo em particular?

A Chave: o Espírito de Cristo

Sim, o ministério necessita do espírito, direção, estilo, forma e conteúdo do ministério dos profetas reformadores .

Afinal, estas características não são tão próprias do profeta comum como do PROFETA, com maiúsculas, aquele do qual falou Moisés que se levantaria em Israel, e que se levantou deveras. “O Espírito de Cristo que neles estava”3 tornou possível que reproduzissem seu Modelo, o Profeta dos profetas. Se consentíssemos, poderia reaparecer, ou afirmar-se, esse tão necessário ministério e essa tão urgente necessidade de pregação profética. A hora na qual vive a Igreja o requer com urgência. A capacitação divina para sua realização não se faria esperar se se cumprissem as condições. Então a igreja poderia começar a revelar a glória de Jeová que há de iluminar a terra.

Referências:

1. I Cor. 9:16.

2. Tom Skinner, Worlds of Revolution, p. 255.

3. I S. Pedro 1:11. 

Élbio Pereyra, Secretário da Divisão Sul-Americana