Amor e respeito não significam aceitar as condutas rechaçadas pela Bíblia

As Escrituras descrevem os seres humanos como possuindo mente e vontade própria. Portanto, em sentido limitado, somos arquitetos de nossa própria conduta, nosso caminho e destino, sejam estes de acordo com a vontade de Deus ou não.

Lembremo-nos de que o livre-arbítrio ou direito de livre escolha é o atributo mediante o qual os seres humanos têm o poder de escolher e tomar suas próprias decisões. A doutrina do livre-arbítrio é uma das crenças fundamentais do cristianismo. Caso não fôssemos senhores de nossas decisões, por que haveríamos de ser julgados um dia? E, se não tivéssemos de ser julgados, Jesus Cristo teria vindo ao mundo para salvar-nos de quê?

“Deus poderia ter criado o homem sem a faculdade de transgredir Sua lei; poderia ter privado a mão de Adão de tocar no fruto proibido; neste caso, porém, o homem teria sido, não uma entidade moral, livre, mas um simples autômato. Sem liberdade de opção, sua obediência não teria sido voluntária, mas forçada. Não poderia haver desenvolvimento de caráter. Tal maneira de agir seria contrária ao plano de Deus… e teria apoiado a acusação, feita por Satanás, de governo arbitrário por parte de Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 49).

Exemplos bíblicos

Jesus disse que “o homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6:45). Disse mais: “Pois do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as imoralidades sexuais, os roubos, os falsos testemunhos e as calúnias” (Mt 15:19). A explicação final para a conduta humana é encontrada na autodeterminação do ser humano.

Alguns exemplos bíblicos da capacidade que o ser humano tem de escolher são encontrados em histórias como as de Salomão, que fez o mal diante dos olhos de Deus porque se havia distanciado de dEle ((1Rs 11:6, 9), ou Roboão, que agiu mal “porque não teve o firme propósito de buscar ao Senhor” (2Cr 12:14), o rei Zedequias, que “fez o que o Senhor, o seu Deus, reprova, tornou-se muito obstinado e não quis se voltar para o Senhor, o Deus de Israel” (2Cr 36:11-13). Deus perguntou a Jerusalém: “Até quando você vai acolher projetos malignos no íntimo?”, e apelou: “lave o mal do seu coração para que você seja salva” (Jr 4:14). Em Isaías 30:1, disse o Senhor: “Ai dos filhos obstinados… que executam planos que não são Meus, fazem acordo sem Minha aprovação, para ajuntar pecado sobre pecado.”

Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos sejam salvos (1Tm 2:4; 2Pe 3:9). Essas expressões não teriam sentido, não fosse o livre-arbítrio que nos foi outorgado. Jesus lamentou, dizendo: “Jerusalém, Jerusalém… Quantas vezes Eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram” (Mt 23:37).

Há um aspecto sumamente importante que devemos entender. Deus nos conferiu a capacidade de escolher fazer o bem ou fazer o mal; porém, não nos deu a capacidade de decidir o que é bem ou mal. Essa atribuição não pertence ao ser humano. Somente Deus pode estabelecer o que é correto e o que não é.

“Sendo a lei do amor o fundamento do governo de Deus, a felicidade de todos os seres inteligentes depende da perfeita harmonia com seus grandes princípios de justiça. Deus deseja de todas as Suas criaturas o serviço de amor, serviço que brote de uma apreciação de Seu caráter. Ele não tem prazer na obediência forçada; e a todos concede vontade livre, para que Lhe possam prestar serviço voluntário” (Ibid., p. 34).

Deus criou as condições necessárias para que o ser humano fosse plenamente feliz. Criou as leis que nos protegem e as instituições que nos brindaram com o ambiente adequado para que fôssemos plenamente felizes. É verdade que, como consequência da desobediência de nossos primeiros pais, perdemos o privilégio de continuar vivendo no Éden. Porém, a Bíblia repete muitas vezes a promessa de que voltaremos a viver no Éden restaurado, se decidirmos ser fiéis a Deus.

Felicidade divinamente projetada

Mesmo que hoje não vivamos no Éden, podemos desfrutar de duas instituições que permanecem ao nosso alcance, como fontes de felicidade: 1) O sábado, sétimo dia da semana, no qual celebramos Deus como nosso criador e desfrutamos mais plenamente de Sua companhia. 2) A família, que nos ama, protege e nos dá o sentido de pertencimento. Esse sentido é indispensável para todo ser humano. O maior sofrimento que o ser humano pode enfrentar não é a ausência de dinheiro, abrigo ou comida, mas o de não sentir que pertence a alguém ou que alguém lhe pertence; ninguém que o recebe quando chega ou se despeça quando sai. Pergunte sobre isso ao sem-teto que vagueia pelas ruas da cidade.

Ao instituir a família, Deus também criou leis que podem garantir a felicidade dessa instituição. Temos o direito de obedecer ou não a essas leis; porém, não temos o direito de estabelecê-las ou modificá-las. Já foram estabelecidas por Deus.

O casamento é uma instituição estabelecida pelo próprio Deus antes da queda, quando tudo era “muito bom” (Gn 1:31). “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2:24). “Deus celebrou o primeiro casamento. Assim, esta instituição tem como seu originador o Criador do Universo… foi esta uma das primeiras dádivas de Deus ao homem, e é uma das duas instituições que, depois da queda, Adão trouxe consigo aquém das portas do Paraíso” (O Lar Adventista, p. 25, 26).

“Deus tencionava que o casamento de Adão e Eva servisse de modelo para todos os casamentos posteriores, e Cristo endossou este conceito original: ‘Então, respondeu Ele: Não tendes lido que o Criador, desde o princípio, os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher, tornando-se os dois uma só carne? De modo que já não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem’ (Mt 19:4-6). O casamento, assim instituído por Deus, é um relacionamento monogâmico e heterossexual entre um homem e uma mulher” (Manual da Igreja, p. 148).

Parâmetros do amor

“Deus nos criou como seres sexuais: homem e mulher, macho e fêmea. O Criador também instituiu o casamento e o fez com três propósitos: União, procriação e prazer. Usar um desses atributos fora do casamento é alijar-se do plano de Deus, que inclui respeito, fidelidade, amor e consideração para com as necessidades do outro. A relação sexual é o presente de casamento de Deus a Seus filhos. Portanto, para que agradeçamos também por esse plano, temos que evitar o sexo fora do casamento, e outras práticas, para ter nossa mente pura e para viver mais próximos de Deus. ‘Porque Deus não nos chamou para a impureza, mas para a santidade’ (1Ts 4:7)” (Divisão Sul-Americana, 2012, Documento Sobre Estilo de Vida).

A declaração a respeito da homossexualidade (DSA, 95-391) estabelece o seguinte:

“Os adventistas do sétimo dia cremos que a intimidade sexual é apropriada unicamente dentro da relação marital de um homem e uma mulher. Esse foi o desígnio estabelecido por Deus na criação. As escrituras declaram: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne’ (Gn 2:24). Esse padrão heterossexual é afirmado através de todas as Escrituras.

“A Bíblia não dá margem à atividade ou relação homossexual. Os atos sexuais realizados fora do círculo de um matrimônio heterossexual são proibidos (Levítico 20:7- 21; Romanos 1:24-27; 1 Coríntios 6:9-11). Jesus Cristo reafirmou o propósito da criação divina, quando disse: ‘Vocês não leram que, no princípio, o Criador os fez homem e mulher, e disse: Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne’ (Mt 19:4-6). Por essas razões, os adventistas se opõem às práticas e relações homossexuais.”

Cristo e a Igreja afirmam a dignidade de todos os seres humanos e estendem compassivamente as mãos às pessoas que sofrem as consequências do pecado. Cristo e a Igreja diferenciam Seu amor pelos pecadores de seus claros ensinos sobre as práticas pecaminosas. Hoje, à Igreja e a todos os que se consideram cristãos corresponde amar e respeitar todas as pessoas, independentemente da conduta que tenham escolhido seguir. Esse amor e respeito não significam aceitar as condutas rechaçadas pela Bíblia. Significa simplesmente aceitar a pessoa, assim como é e, na medida do possível, ajudá-la a ser plenamente feliz.

Nos dias em que vivemos devemos nos lembrar de que Deus criou todo ser humano dotando-o com livre-arbítrio. Também devemos nos lembrar de que toda pessoa merece nosso respeito, mesmo que não concordemos com o estilo de vida que ela adotou. Liberdade para escolher não significa liberdade para determinar ou modificar o que Deus já determinou como certo e errado.

Além do chamado para amar e respeitar todas as pessoas, cada membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia foi chamado também para manter os princípios estabelecidos pelo Criador e ajudar a quem desejar conhecer e praticar o estilo de vida proposto pela Bíblia.