Cristo falou de noventa e nove ovelhas no redil, e uma perdida. A proporção de ovelhas perdidas é hoje muito mais elevada. Talvez haja mais acidentes no campo ou menos respeito para com o Pastor; o fato é que se perdem mais ovelhas. As estatísticas nos assustam, e preferimos não considerá-las muito seriamente ou não agasalhar o sentimento que nos envolve quando as consideramos. Ao fazer a previsão de crescimento para a década, trabalhamos na base de uns 48% de perda, isto é 48 pessoas perdidas para cada 100 batizadas. Isto inclui desaparecidos, mortos, apostatados e os que se perdem em virtude de extravio de cartas de recomendação.

Revendo estatísticas antigas ficamos assombrados ao ver a Divisão Norte-Americana em 1973 com uma eliminação de 56 para cada 100 acrescentados. Foi um ano excepcional em termos de limpeza de registros, mas isto significou 6.285 eliminados e 11.314 acrescentados. Nos doze anos compreendidos entre 1932 e 1943 foram eliminados dos registros da Divisão Norte-Americana 68.100 membros num total de 159.711 acrescentados. Em 1972 foram eliminados em todo o mundo 60.017 irmãos dos registros, o que equivale a 300 igrejas de 200 membros cada uma. A parábola de Cristo foi multiplicada de modo alarmante.

A apostasia sempre existiu. Rastreando os seus começos chegamos até o jardim do Éden, e aqui verificamos que ela é ainda mais antiga. Lúcifer foi o primeiro apóstata. Caim foi um apóstata que pisoteou com sanha os princípios mais elementares da fé e trouxe opróbrio à causa e desonra à família. Houve apóstatas quando a coluna de nuvem conduzia a Israel, como os houve quando o Sinai ardia com a presença de Jeová. E em ambos os casos foi uma apostasia inadmissível se pensarmos na certeza que podiam ter da origem divina de sua peregrinação. Houve apostasia quando Cristo fazia os Seus milagres: o próprio Judas havia-os presenciado. E houve também apostasia no momento em que o Espírito Santo havia transformado o grupo de amedrontados discípulos numa companhia poderosa. Geazi foi apóstata quando era servo do grande Eliseu. A lista continua interminável com nomes famosos como Balaão, Acã, Coré e seus companheiros de rebelião, Saul, Ananias e sua esposa, Demas, discípulo de Paulo, e outros.

Mas, ainda que comum, a apostasia é sempre dolorosa. É como a morte, sinônimo de pranto, despedida, luto, e produz tristeza no Céu e na Terra.. Contudo, alguma coisa devemos fazer. Sugerimos alguns passos juntos na busca da compreensão e solução do problema.

  • 1) Que é evangelização? Não é somente batismo para relatar aumento de número. Segundo Atos, o trabalho completo do obreiro se resume em testificar da verdade e exortar ao arrependimento; batizar os que aceitarem a verdade apresentada e finalmente confirmar os crentes na fé recebida (Atos 2:40-42). Vale dizer que o círculo não está completo se se não houver feito todo o possível para que os que receberam a verdade sejam firmados nela. Assim que, uma ovelha resgatada, conquanto já tenha estado dentro do redil antes, produz tanto gozo no Céu como a errante que vem ao redil pela primeira vez. Disto devemos estar convencidos. “Irmãos, se algum dentre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados”. S. Tia. 5:19, 20. Recuperar equivale a salvar almas.
  • 2) Pouco ou nada ganhamos com lamentar-nos; o que importa é encarar o problema, havendo-o entendido a fundo. Em The Ministry apareceram entre 1930 e 1960 pelo menos 67 artigos sobre este tema. Nenhum deles, porém, fala em mais do que dos sintomas. Não encontramos estudos aprofundados do problema que ofereça um diagnóstico claro e acertado, e então o remédio.
  • 3) Necessitamos esse estudo. Podemos imaginar causas e razões, mas talvez estejamos errados. Muito se tem falado da falta de preparo pré-batismal, de modo especial em relação com grandes séries de conferências. Talvez haja alguma razão para isto, mas até que ponto? Influirá a Escola Sabatina com seu sistema de classes ou de relatórios? Será a carga financeira da igreja sobre os membros? Será a falta de entusiasmo e fervor de alguma igreja? Será…? será. ..? será. ..? Que será? Isto devemos procurar saber a fim de corajosamente buscar as soluções e fechar rombos.

Desejamos que o primeiro semestre de 1975 seja o tempo para a realização desse trabalho. O material está preparado; somente desejamos a colaboração do ministério da América do Sul.

Faz alguns anos realizamos em Lima, Peru, um estudo semelhante com os alunos do colégio União. Logicamente abarcou somente um setor do vastíssimo campo sul-americano. Ao analisar os resultados obtidos depois de visitar quatro dezenas de ex-membros da igreja, sentimo-nos surpreendidos com o resultado do experimento. Temos aqui sobre a mesa em nosso escritório um resumo contendo os resultados de 17 entrevistas, as quais revelam o seguinte, digno de comentário:

Média de permanência na igreja: 5 anos.

Instrução prévia ao batismo: 12 sim, 2 não, 2 pouco.

Causas que motivaram o afastamento: 6 sábado, 3 casamento, 4 problemas humanos com igreja e membros, 1 enfermidade. Pertence a outra igreja: 2 sim, 15 não.

Deseja voltar à igreja: 13 sim, 2 não.

Mantém princípios sobre:

Observância do sábado: 13 não, 1 sim, 2 às vezes.

Alimentação: 9 sim, 4 não.

Bebidas: 10 sim, 1 não.

Recreações, diversões: 13 sim, 2 não.

Ao examinar detidamente estes dados, que podem não refletir a realidade de algumas áreas sul-americanas, saltam aos olhos certos fatos. O primeiro, difícil de aceitar, tomado assim à primeira vista, devido ao nosso enfoque tradicional, é que a a verdadeira causa da apostasia não pareceria ser somente a falta de preparo prévio. Todo Pastor e evangelista sabe que não correm sempre paralelas a pregação prévia e a permanência na igreja, como tampouco são sinônimos falta de preparo e apostasia. É elemento importantíssimo que não devia ser descurado em nenhum caso, mas há outros que correm paralelos e que são tão importantes, ou até mais do que este. Um deles é a atenção pós-batismal, de modo especial quando o irmão deva desafiar, tormentar e arrostar lutas. Há pessoas que conhecem perfeitamente a doutrina, que até a têm ensinado e pregado, mas que ao enfrentar sem ajuda humana uma situação difícil, fraqueja. Basta saber que de 17 pessoas entrevistadas, somente 2 aceitaram outras doutrinas, uma das quais havia sido Esoterista, voltando a sua antiga fé depois de breve estada conosco. Outro dado de real interesse é que enquanto 13 continuam mantendo os princípios sobre recreações, somente 1 continua sendo fiel à observância do sábado. As lutas no trabalho, no que se refere à fidelidade, necessitam o apoio a tempo e perseverantemente do Pastor encarregado do rebanho.

  • 4) O mais importante: nem os computadores, nem as cartas, nem sequer os anciãos da igreja substituem um Pastor divinamente chamado para curar as feridas de uma ovelha machucada.

“Porque ainda que tenhais dez mil aios em Cristo, não teríeis muitos pais, pois Cristo Jesus vos gerou por meio do evangelho”, dizia Paulo aos Coríntios (I Cor. 4:15). O Pastor é o Pastor. Ele é o grande médico que a ovelha espera. Uma visita, uma oração, o entusiasmo e a dedicação demonstrados na solução de um problema, ou a simples presença do Pastor consagrado, pode ressuscitar mortos, como aquele israelita cujo corpo lançado sobre a sepultura de Eliseu recobrou a vida só pelo contato com a tumba do profeta. II Reis 13:20, 21.

“Há muito que eu desejava voltar à igreja, mas sentia-me apreensivo e até envergonhado. Com esta oportunidade que vocês me dão, poderei cristalizar o desejo de voltar”, foi como se expressou um irmão que, afastado da congregação, sofria pela separação e foi ressuscitado.

Pastor, muitos mortos espirituais o esperam. Irá após eles? ▼