(Conclusão)
PERGUNTA 40
VI. Partir, e Estar com Cristo
Muito freqüentemente, quando apresentamos os pontos aqui expostos, citam-nos as palavras do apóstolo Paulo, acerca de partir e estar com Cristo. Se os santos não vão para o Céu ao morrer, que querería o grande apóstolo dizer quando, referindo-se a si mesmo, diz especificamente que tem “o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Filip. 1:23)? É claro que o melhor é estar com Cristo. Mas impõe-se a pergunta: Por que concluiriamos, dessas palavras, que o apóstolo esperava, imediatamente após a morte, comparecer à presença de Cristo? A Bíblia não diz isso. Afirma simplesmente o seu’ desejo de partir, e estar com Cristo.
Poderá alguém arrazoar que a passagem dá margem para deduzir que o estar com Cristo se seguiría imediatamente a sua partida. Temos, porém, que admitir que não é essa uma dedução necessária, e de modo algum é uma declaração positiva do texto. Nessa passagem Paulo não nos diz quando ele estará com o Senhor. Em outros lugares usa ele uma expressão semelhante a um pensamento expresso nessa passagem. Diz, por exemplo: “O tempo da minha partida é chegado” (II Tim. 4:6). O termo grego empregado nesses dois textos, analuo, não é muito usado no Novo Testamento grego, mas a palavra tem o sentido de “desamarrar-se como uma âncora.” É uma metáfora tirada do ato de livrar das amarras um barco, antes da partida. (Ver W. E. Vine, Expository Dictionary, Vol. 1, págs. 294 e 295.
Note-se que Paulo não diz que sua alma ou espírito iriam partir. Diz simplesmente que tinha um desejo, e que o tempo de sua partida havia chegado. Este é o modo com que se expressaria qualquer pessoa em vésperas de empreender uma viagem. Ao chegar o tempo da partida, a pessoa parte, integralmente. Não há separação entre corpo e alma. Por que mudar este conceito, logo que pensemos em morte?
Há uma ocasião em que Paulo poderá partir e estar com o Senhor, integralmente — corpo, espírito e alma — e isto será na ocasião da vinda do Senhor. É o que ele acentua em I Tess. 5:23. Então, corpo, alma e espírito — ele, e todos os remidos, hão de, ou ressurgir dos sepulcros para ir ao encontro de Cristo, ou, estando vivos, ser trasladados e ir ao encontro do Senhor, nos ares. Isto será na ocasião de Sua gloriosa segunda vinda, quando vier buscar os Seus santos. Este é o conceito que mantemos, e cremos estar em plena harmonia com os ensinos da Sagrada Escritura.
VII. Ausente do Corpo — Presente com o Senhor
Há outra expressão, em II Cor. 5:8, que muitas vezes se emprega, ao considerar este assunto. Eis a declaração do apóstolo: “Entretanto estamos em plena confiança, preferindo deixar o corpo e habitar com o Senhor.” Temos de reconhecer não existir neste texto coisa alguma que justifique a conclusão de que “habitar com o Senhor” ocorra imediatamente depois de “deixar o corpo.” O texto não diz quando isso se há de realizar. Reconhecemos, simplesmente, o intervalo da morte entre os dois acontecimentos. Isto é exatamente tão lógico como crer que um siga imediatamente ao outro, e é mesmo mais lógico, à luz do que o mesmo apóstolo ensina acerca da ressurreição, quando da segunda vinda de nosso Senhor. Observemos a passagem toda e notemos seus óbvios ensinos.
- 1. REFERÊNCIA À CASA TERRESTRE. — Evidentemente referindo-se ao corpo, escreve
O MINISTÉRIO 23
Paulo em II Cor. 5:1 da “casa terrestre.” No v. 2, então, diz que “neste tabernáculo gememos.” Chama a essa “casa” ou “corpo”, um tabernáculo. Afirma, no v. 6 que, “enquanto no corpo, estamos ausentes do Senhor.”
- 2. REFERÊNCIA À CASA CELESTIAL. — Referindo-se ao futuro estado, Paulo fala de um “edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos Céus” (v. 1), e diz que essa é “nossa habitação celestial” (v. 2). Quando se der a transformação, e nos revestirmos da imortalidade, observa ele que isso se dará para que “o mortal seja absorvido pela vida” (v. 4). Então, é por ocasião da ressurreição, concluímos nós, que Paulo esperava “habitar com o Senhor” (v. 8), pois diz ele, em I Cor. 15:53, que por ocasião da segunda vinda de Cristo, “o corpo mortal” se revestirá “da imortalidade.”
- 3. REFERÊNCIA AO PERÍODO INTERMEDIÁRIO. — Que o apóstolo tivesse em mente um período intermediário entre a vida na “casa terrestre” e o revestir-se da casa “eterna, nos Céus,” é evidente do que ele menciona na mesma passagem. Note-se o seguinte: Não desejamos ser encontrados “nus” (II Cor. 5:3); não estamos ansiosos por ser “despidos” (v. 4). Esse período intermediário cremos ser o estado da morte. O que realmente desejamos é “ser revestidos da nossa habitação celestial” (v. 2; comparar com o v. 4).
É em relação com isso que ele declara que o mortal será “absorvido pela vida” (v. 4). Assim a passagem toda, considerada cuidadosamente, torna claro o que o apóstolo tinha em mente. Está pensando, não na morte, mas no dia da ressurreição, quando “este corpo corruptível” se revestirá “da incorruptibilidade” e “o corpo mortal” se revestirá “da imortalidade.” (I Cor. 15:53.)
Isto mostra a importância de um cuidadoso estudo do contexto, a fim de chegar a uma exegese sadia de uma passagem da Escritura.
VIII. Apropriada Palavra de Advertência
Toda precaução foi tomada por nosso beneficente Criador, no princípio, para que não houvesse um pecador imortal. Tinha o homem livre acesso à árvore da vida. Ao pecar, porém, foi-lhe negado esse acesso. Não podia por mais tempo colher seu fruto maravilhoso. Foi banido do Jardim do Éden (Gên. 3:24). E por quê? “Para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente” (v. 22). Daí, é evidente que Deus nunca pretendia que existisse um pecador imortal. A imortalidade só é prometida aos pecaminosos homens sob condição de terem sido salvos pela graça e viverem em comunhão com Deus.
Satanás, por outro lado, é o autor responsável da doutrina de que o pecador há de viver para sempre. Encontramo-lo isto dizendo a Eva, por ocasião da queda. Deus dissera: “No dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gên. 2:17). O diabo, porém, contradisse abertamente a Deus, dizendo: “Certamente não morrereis” (Gên. 3:4). No hebraico a expressão é mais forte ainda: “É certo que não morrereis.”
Matthew Henry, comentando este passo, observa com muito acerto: “Isso foi uma mentira, rematada mentira; pois . . . era contrário à palavra de Deus.” Infelizmente o ensino de que o pecador não morrerá — em outras palavras, que viverá para sempre, independente de qual seja o seu caráter — tem, é claro, sua origem naquele que é “mentiroso, e pai da mentira” (S. João 8:44). O Salvador disse não só que o maligno é “mentiroso,” mas também “homicida desde o princípio.” Referia-Se evidentemente ao caso que acabamos de citar.
Outra advertência convém considerar. Falando em nome de Deus, devemos ter cuidado em não dar ao pecador a impressão de que ele possa obter a vida eterna sem se volver para Deus, arrependido de seus pecados, e tornando-se nova criatura em Cristo Jesus. A vida eterna é dom de Deus (Rom. 6:23; I S. João 5:12).
Há muitos anos, o profeta Ezequiel se referiu a alguns contemporâneos seus, homens que eram falsos profetas, que andavam a enganar o povo. Esses enganadores, disse Ezequiel, prometem vida ao pecador, mesmo que ele continue em Sua iniqüidade (Ezeq. 13:22). Damos graças a Deus por isso que o cristão pode dirigir-se a um mundo a perecer em seus pecados e levar-lhe o maravilhoso oferecimento de vida e salvação por Cristo, nosso bendito Senhor. Podemos proclamar a plenos pulmões que, se os homens O aceitarem, volvendo-se a Deus, nascendo de novo, obterão a “vida eterna.” Esta é a mensagem de S. João 3:16: “. . . que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. É este um oferecimento inefável, mas devemos também lembrar-nos sempre de que aquele que não crê no Filho “não verá a vida” (S. João 3:36). •