Nota Introdutória
Desejamos partilhar com todos os pastores da Divisão Sul-Americana, algumas das informações mais significativas apresentadas pelo Departamento de Educação à Mesa Administrativa da Divisão, reunida em Montevidéu em novembro-dezembro de 1972. Consideramos que se estamos melhor informados, todos poderemos enfrentar de maneira mais eficaz a crise em que, lamentavelmente, entrou nosso sistema educacional no território da Divisão.
Escolas Primárias (Básicas, Fundamentais)
Faz pouco mais de cem anos (1872), a igreja adventista lia o primeiro testemunho da pena da irmã White, no qual era apresentada, de maneira abarcante, a filosofia e os objetivos da “verdadeira educação.” Prontos a obedecer às instruções recebidas por inspiração, nossos dirigentes possibilitaram o estabelecimento da primeira escola adventista, poucos meses depois.
Quando chegaram à América do Sul os primeiros pregadores da tríplice mensagem angélica, uma de suas primeiras iniciativas foi criar escolas. Já em 1893 começou a funcionar a primeira. A partir daí, com persistentes esforços e sacrifícios, foram-se levantando centenares de escolas como pequenas “cidades de refúgio,” para as crianças de nossas igrejas. Ao contemplar os dados estatísticos que aparecem no quadro 1, notamos que em 1966 tínhamos 792 escolas em todo o território da Divisão Sul-Americana. É o ano máximo. Entristece observar, no mesmo quadro, que o declínio a partir daí tem sido acelerado, até contar em 1972 com apenas 465 escolas primárias. Se este ritmo se mantiver, quantas escolas teremos daqui a cinco anos?
Algumas razões podem ajudar a explicar a diminuição drástica no número de escolas:
- 1) A quase total eliminação, de nosso computo, das chamadas “escolas particulares,” ou “escolas do lar,” na União Incaica, explica, em boa medida, a diminuição notável de escolas nesta união.
- 2) A consolidação de duas ou mais escolas em diferentes cidades tem resultado na eliminação de umas poucas escolas pequenas, sem que isto signifique necessariamente diminuição no número de alunos adventistas.
- 3) Maiores exigências governamentais quanto à planta física de nossas escolas e à preparação profissional de nossos professores primários, têm levado ao fechamento de umas poucas escolas também.
- 4) A crescente competição das escolas oficiais, com ensino gratuito e melhores locais, tornou mais difícil a sobrevivência econômica de algumas escolas que se financiam em proporção apreciável com a presença de crianças não adventistas.
Embora estas razões expliquem parcialmente a diminuição do número de escolas, não encontramos razões que expliquem nossa atitude fatalista em face do fenômeno, se ainda cremos em nossa filosofia educacional. Sabemos bem que:
“Não há nada de maior importância do que a educação de nossas crianças e jovens.” — Conselhos aos Professores, pág. 126.
“Onde quer que haja alguns observadores do sábado, os pais devem unir-se para possibilitar um lugar destinado à escola diária, onde seus filhos e jovens possam ser ensinados.” — Test. Seletos, Vol. 2, pág. 457.
“Nas localidades onde os crentes são poucos, unam-se duas ou três igrejas, para erigir um humilde edifício como escola primária. Participem todos nos gastos. Já é tempo de que os observadores do sábado separem seus filhos das companhias mundanas, e os coloquem sob a direção dos melhores mestres que farão da Bíblia o fundamento de todo estudo.” — Idem, pág. 464.
“Em alguns países os pais são por lei obrigados a enviar os seus filhos à escola. Nesses países devem-se estabelecer escolas nas localidades onde há igrejas, mesmo no caso em que não houvesse mais do que seis crianças para freqüentar a cada uma delas. Trabalhai por impedir que vossos filhos se afoguem nas influências viciosas e corruptoras do mundo, como se estivesse trabalhando por vossa vida.’’ — Idem, pág. 458.
Como era de esperar, a diminuição no número de escolas tem significado também uma diminuição no número de alunos adventistas. As informações estatísticas que aparecem no quadro 2 permitem fazer uma análise da situação em cada associação, missão e união, no decorrer dos últimos 14 anos.
Observamos com preocupação que, conquanto em dois anos relativamente recentes tenhamos tido mais de 18.000 alunos adventistas em nossas escolas primárias (básicas, fundamentais), em 1972 tivemos apenas 13.616. Há uma diminuição líquida considerável. Mas a diminuição se torna alarmante quando recordamos que nos últimos nove anos a quantidade de membros de igreja em nossa Divisão tem mais do que duplicado. Como se observa no quadro recém-mencionado, em 1963 tínhamos 12,7 alunos primários adventistas para cada 100 membros batizados. Em 1972 tínhamos apenas 4,7. Sabemos que em 1963 a situação não era ideal (havia ainda muita criança adventista que não freqüentava nossas escolas). Quanto mais séria é, portanto, nossa situação hoje, quando este número tem-se reduzido, proporcionalmente, quase a um terço! Se esta situação continua por alguns anos mais, nossas escolas primárias deixarão de ser um fator significativo na formação das crianças adventistas na Divisão Sul-Americana. Se observarmos com cuidado os números dados no quadro 2, notaremos que todas as associações (missões) e uniões têm tido em algum ou alguns anos passados mais alunos primários adventistas do que em 1972. (A única exceção, pouco significativa, o Paraguai.) Este é um problema que a todos nos afeta.
Outro fator que preocupa é que em 1972, 56,7% dos alunos que assistiam a nossas escolas primárias (básicas, fundamentais) não eram adventistas. Nossos filhos estão em minoria. Há razões financeiras que podem explicar parcialmente isto. Mas também devemos reconhecer que este fator milita contra a essência mesma de nossa filosofia educacional. Colégios (Institutos) Secundários.
O quadro 3 mostra o crescimento desproporcionadamente baixo do número de alunos adventistas em nossas escolas institucionais de nível médio. Embora com menor intensidade, observamos outra vez o fenômeno de um rápido aumento no número de membros de igreja não sendo acompanhado por um número proporcional de alunos adventistas. Em 1966 e 1967 tínhamos dois alunos adventistas para cada 100 membros batizados. Em 1972 tínhamos apenas 1,5. Como ideal, considerando outros continentes onde o nosso sistema educacional não se estancou em seu desenvolvimento, devíamos ter entre 4 e 5 alunos secundários para cada 100 membros de igreja. Estamos muito longe deste alvo.
De outro ponto de vista, não podemos menos que fazer notar que nos últimos 22 anos só foram fundados dois colégios secundários com internato, um dos quais teve de ser fechado, na Bolívia. O outro, estabelecido em 1968, é o Colégio Adventista do Equador. Outras duas pequenas instituições com internato, uma estabelecida em 1963 (Educandário Espírito-Santense) e outro em 1968 (Instituto Adventista Agro-lndustrial do Amazonas), oferecem por enquanto apenas ensino de nível fundamental. Nestes mesmos 22 anos foram criados outros nove colégios secundários de externato, um dos quais já deixou de existir. Outro foi reduzido a escola básica (de 9 graus), e um mais também terá de sê-lo. Dos 5 restantes, só 2 oferecem o curso secundário completo.
Analisando o quadro com muito realismo notamos, porém, que em alguns países nossos colégios secundários com internato não conseguem número suficiente de alunos para lotar os seus dormitórios. Em alguns destes casos, aproximadamente 50% dos alunos internos não são adventistas. Aqui há um tipo diferente de problema. Em outros países, por outro lado, o problema é ter suficiente espaço em nossos internatos a fim de acomodar a todos os jovens, rapazes e moças, que desejam receber uma educação cristã. Lamentavelmente temos de admitir que em 1972, 40% dos estudantes de nossos colégios secundários não eram adventistas. Podemos afirmar em sã consciência que estes nossos colégios são “cidades de refúgio” para nossa juventude?
Nível Superior
É em nível superior que se conseguiu manter em forma mais estável um crescimento proporcional entre o número de membros de igreja e o número de alunos. Por uns nove anos tem estado a oscilar entre 0,3 e 0,4 alunos para cada 100 membros de igreja. Mas a só menção deste número insignificante deixa a descoberto outra de nossas grandes necessidades. Devíamos poder oferecer uma maior variedade de especialidades de nível superior para atrair a um número maior de jovens e senhoritas que se vêem obrigados a estudar essas especialidades em centros universitários não adventistas. Há pelo menos três fatores que tornam isto muito difícil :
1) Custa obter autorização oficial para oferecer cursos de nível universitário (para certas especialidades e em certos países, isto é praticamente impossível); 2) em outros países de nossa Divisão há limitações legais para o exercício de profissões estudadas em países estrangeiros, que embaraçam uma coordenação satisfatória das especialidades que oferecem em nível superior; e 3) o custo elevado do ensino de nível superior dificultará a iniciação de novas especialidades, que não podem ter assegurado um número suficiente de alunos cada ano. Em que pese tudo isto, cremos que devemos explorar as possibilidades de uma distribuição racional de especialidades entre nossos colégios superiores e um aumento das mesmas. Paralelamente — sendo que de todo modo haverá muitas especialidades que não poderemos oferecer — devia-se elaborar um plano concreto que vise uma atenção mais adequada aos mais de 2.000 estudantes adventistas que atualmente estudam em centros universitários não adventistas.
Que Faremos?
Nossa educação primária (básica, fundamental) está perdendo terreno aceleradamente. Nossa educação secundária também retrocede. Nossa educação superior está estancada e em perigo de retroceder também. Cremos que são válidas ainda hoje as palavras inspiradas de 1872? Então, que faremos? Que posso eu fazer, como Pastor de uma igreja ou de um distrito? Que posso fazer como empregado em alguma instituição? Que posso fazer, eu que tenho uma responsabilidade administrativa? Que posso fazer, como membro leigo da igreja? Que podemos fazer todos, se realmente cremos em nossa filosofia educacional? Apresentaremos algumas sugestões no próximo número.
Werner Vymeister, diretor de Educação da Divisão Sul-Americana.