Conclusão

VI) O Homem, uma Vez Salvo, Pode Voltar para o Mundo

Jesus disse: “aquele, porém, que perseverar até o fim, será salvo.” S. Mat. 10:22. Ver também S. Mat. 24:13; S. Mar. 13:13. Não deve haver somente um começo na vida cristã, mas também uma continuação na Palavra de Deus.

De acordo com nossa compreensão, há dois cursos para os homens:

  • (1) “Dará a vida eterna aos que, perseverando em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade.” Rom. 2:7. “O dom de Deus.” Rom. 6:23.
  • (2) “Mas ira e indignação aos facciosos que desobedecem a verdade e obedecem à injustiça.” Rom. 2:8.

A salvação é oferecida gratuitamente a todos os homens, porém eles a recebem somente aceitando a Jesus Cristo como Senhor. E tendo-a recebido, eles devem “seguir em conhecer o Senhor.” Oséias 6:3. Isto é freqüentemente enfatizado por vários textos “se” da Bíblia. Assim: “Cristo, porém, como Filho, sobre sua casa; a qual casa somos nós, se guardamos firme até o fim a ousadia e a exultação da esperança.” Heb. 3:6; “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até o fim a confiança que desde o princípio tivemos.” Verso 14. “Disse, pois, Jesus aos judeus que haviam crido nEle: Se vós permanecerdes na Minha palavra, sois verdadeiramente Meus discípulos.” São João 8:31.

“Se permanecerdes em Mim e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito.” S. João 15:7. “Se guardardes os Meus mandamentos, permanecereis no Meu amor; assim como Eu tenho guardado os mandamentos de Meu Pai, e no Seu amor permaneço.” Verso 10. Parece-nos claro, portanto, que o homem, uma vez salvo, ainda pode voltar para o mundo.

Se isto não é assim, há muitos textos que seriam difíceis de entender ou de harmonizar com o ensinamento geral da Bíblia.

Temos por exemplo o texto: “Mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado.” I Cor. 9:27. O “desqualificado,” neste texto, é da palavra grega “ADOKIMOS,” a qual é traduzida como “rejeitado” (Heb. 6:8) e “reprovados” * (II Cor. 13:5 e 6; Rom. 1:28).

* Alguns mantêm a posição de que isto significa simplesmente “desaprovado” ou “colocado de lado,” como um que serviu de uma maneira útil na Causa de Deus, mas que agora é um “desqualificado,” “sendo colocado de lado” e que isto não envolve sua posição como um filho de Deus.

Outras interpretações do grego, entretanto, nos parecem fazer tal interpretação impossível. “ADOKIMOS” é apresentado como “reprovado” não menos de 6 vezes. E o contexto em cada exemplo é tal que não poderia ser aplicado como um verdadeiro filho de Deus.” Notemos:

Rom. 1:28 “O próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável” — uma referência a homens abandonados para iniqüidade ou entregues à iniquidade.

II Cor. 13:5 “Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.” Também os versos 6 e 7, os quais não podem se referir a um cristão nascido de novo, pois ele não está na fé, Cristo não está nele, ele está vivendo em pecado.

II Tim. 3:8 “São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto a fé.” (Aqui estão homens que resistem à verdade; homens que são corruptos).

Tito 1:16 “Reprovados para toda boa obra.” Pode isto se referir a um cristão? Notem que nega a Deus, é abominável, desobediente, enganador e contra toda boa obra.

Matthew Henry, comenta muito bem Rom. 1:28:

“Aqui ele, (Paulo junta uma lista negra de todas aquelas coisas incondizíveis das quais os gentios eram culpados, sendo entregues a uma mente reprovada. Nenhuma maldade tão hedionda, tão contrária à luz da natureza, à lei das nações e a todos os interesses da humanidade, poderia ser vista senão numa mente reprovada.”

Matthew Henry comenta sobre I Cor. 9:27:

“Um pregador da salvação poderá perdê-la. Ele pode mostrar a outros o caminho dos Céus e nunca chegar até lá ele mesmo. Para se prevenir disto, Paulo tomou tanto cuidado de subjugar e conservar dominadas suas inclinações carnais, para que não viesse ele mesmo, que tinha pregado aos outros, a perder a coroa, ser desaprovado e rejeitado pelo Juiz Soberano. Um temor sagrado de si mesmo foi necessário para preservar a fidelidade de um .apóstolo; e quão mais necessário não é para nossa preservação! Notem, temor sagrado de nós mesmos e não uma confiança presunçosa, é a melhor segurança contra a apostasia e a rejeição final por Deus.”

Outro texto que deve ser considerado é Heb. 10:28 e 29:

“Sem misericórdia morre pelo depoimento de duas ou três testemunhas, quem tiver rejeitado a lei de Moisés. De quanto mais severo castigo julgais vós será considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e ultrajou o Espírito da graça?”

Sobre este, Dean Henry Alford, comenta devidamente:

“Há somente um sacrifício verdadeiro pelos pecados: se o homem, tendo se apropriado devidamente dEle, depois deliberadamente o lança para trás de si, não há um segundo sacrifício deixado para ele. Observaremos que uma coisa não é, e não precisa ser, especificada no texto. Que Ele tenha exaurido a virtude do Sacrifício único, não é dito: mas em proporção à sua rejeição voluntária dele, tem cessado de operar por ele. Ele tem realmente. . . fechado a porta do arrependimento para trás de si, pelo simples fato de estar num estado de habitação voluntária com o pecado. E isto é muito mais fortemente focalizado quando.. . a cena de ação é transferida para o grande dia da Volta do Senhor e ele for encontrado neste estado irreparável de impenitente.” — The Greek Testament, 1875, pág. 707.

Um texto mais: Ezeq. 18:20-24:

“A alma que pecar essa morrerá: o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do filho; a justiça do justo ficará sobre ele, e a perversidade do perverso cairá sobre este. Mas se o perverso se converter de todos os pecados que cometeu, e guardar todos os Meus estatutos, e fizer o que é reto e justo, certamente viverá; não será morto. De todas as transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele; pela justiça que praticou viverá. Acaso tenho Eu prazer na morte do perverso? Diz o Senhor Deus; não desejo Eu antes que ele se converta dos seus caminhos, e viva? Mas, desviando-se o justo da sua justiça, e cometendo a iniqüidade, fazenda segundo todas as abominações que faz o perverso, acaso viverá? De todos os atos de justiça que tiver praticado não se fará memória; na sua transgressão com que transgrediu, e no seu pecado que cometeu, neles morrerá.”

Nestes versos, dois homens são apresentados. O primeiro, um homem perverso que deixa o pecado e se torna obediente a Deus. Ele está perdoado; e se andar no caminho da justiça, nenhum de seus pecados antigos será mencionado diante dele. O outro, um homem justo que deixa o caminho da justiça e volta para o pecado. Se ele continuar em iniqüidade, nenhuma de suas manifestações anteriores de bondade será jamais mencionada. Estão anuladas todas as bênçãos da salvação e ele desce para a morte (verso 24).

O Dr. H. A. Redpath (“The Westminster Commentary”, sobre Ezeq. 18:24) diz:

“Toda a sua bondade (do justo) anterior não terá valor: morrerá em seus pecados… ‘se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu estado pior que o primeiro.’ II São Pedro 2:20.”

VII) Cristãos Aconselhados a Confirmar sua Eleição

“O apóstolo Pedro, sentindo evidentemente a possibilidade de derrota na vida cristã, escreve àqueles que têm sido ‘purificados’ de seus ‘pecados de outrora,’ urgindo-lhes com diligência cada vez maior de confirmar a sua vocação e eleição (II S. Ped. 1:9 e 10). E isto, pela graça divina eles podem fazer. Ele diz: ‘Associai com vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento, com o conhecimento, o domínio próprio, a perseverança; com a perseverança, a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fraternidade, o amor.’ Versos 5-7. Ele acrescenta: ‘Porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum. Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.’ Versos 10 e 11. Portanto, nós cremos que para confirmarmos nossa entrada no reino eterno, deveremos crescer na graça e virtudes cristãs através de uma presença interior de Cristo.

“Ele termina sua epístola com uma advertência, lembrando-lhes que muitos ignorantes e instáveis estavam deturpando as Escrituras para sua própria destruição (II S. Ped. 3:16). Então, ele diz: ‘Vós pois amados, prevenidos como estais de antemão, acautelai-vos: não suceda que, arrastados pelo erro desses insubordinados, descaiais da vossa própria firmeza; antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.’ Versos 17 e 18.

“Paulo apresenta os mesmos princípios em suas epístolas, apesar de serem declarados numa linguagem diferente. Ele nos diz para colocarmos a armadura de Deus; para pelejar a boa luta da fé; para vigiar e orar; examinar as Escrituras diligentemente; fugir da tentação e deixar a maldade; e como cidadãos do Reino de Deus rendermo-nos ao controle do Rei, para que possamos viver os princípios de Seu Reino. Para todas estas coisas, até as mínimas, precisamos de ser possuídos do poder do Espírito habitando em nós. Fazendo o que é certo, segundo os mandamentos de Deus, enfrentando qualquer ou todas as condições mencionadas, nunca salvou uma alma — e nunca jamais preservará um santo. A Salvação procede inteiramente de Deus e é um dom de Deus recebido pela fé. No entanto, aceitando este dom da graça, e com Cristo habitando em nosso coração, o crente vive uma vida de vitória sobre o pecado. Pela graça de Deus ele anda nos caminhos da justiça.

“Enquanto os adventistas nos regozijamos de que recebemos a salvação pela graça, e somente pela graça, também nos regozijamos que por esta mesma graça obtemos vitória sobre nossos pecados, como também sobre nossa natureza pecaminosa. E através desta mesma graça somos capacitados a suportar até o fim e sermos apresentados ‘imaculados diante de Sua glória.’ S. Jud. 24.

“A grande cena do julgamento nos Céus revelará claramente aqueles que têm crescido em graça e desenvolvido caracteres como os de Cristo. Alguns que professam ser filhos de Deus, mas que têm deixado Seu conselho, dirão admirados ao Senhor: ‘Não profetizamos em Teu nome? E em Teu nome não expulsamos demônios? E em Teu nome não fizemos muitas obras maravilhosas?’ A resposta para tais será breve, mas enfática: ‘Nunca vos conheci. Apartai-vos de Mim, os que praticais a iniqüidade.’ S. Mat. 7:22 e 23. Desde que eles mesmos se provaram indignos de Seu Reino, o Senhor em Sua justiça não pode fazer nada mais do que rejeitá-los. Eles PODERIAM TER FEITO A VONTADE DE DEUS, mas escolheram seus próprios caminhos de sua vontade.” — Questions on Doctrine, págs. 404-417.

Conclusão

Concluindo, fazemos a pergunta: “Uma vez salvo, sempre salvo?” Taxativamente, dizemos que não. Não podemos seguir a doutrina batista neste particular, e não podemos concordar de maneira alguma com os Calvinistas que dão ênfase a Deus, como Supremo, Absoluto! Deus realmente tem predestinado a todos, coletivamente, para a salvação! Isto quer dizer que Deus quer que todos cheguem ao arrependimento! É o Seu supremo anelo que todos os homens aceitem o sacrifício de Cristo operado na cruz do Calvário. A obra da redenção não é uma obra de última hora. Deus, desde a fundação da Terra, planejou a salvação do homem! É uma predestinação coletiva, não individual, no sentido em que Ele quer que todos se salvem, como o sangue de Cristo foi derramado por todos os homens, uma vez para sempre!

Esta predestinação envolve caráter! Aquele que atingir certa norma, este será o eleito de Deus. A previsão não é nominal, mas de um grupo!

Cristo é o foco de Unificação, o Eixo do Universo. Houve uma ruptura na ordem e beleza de tudo. Cristo uniu novamente Deus ao homem. Pela Sua própria justiça Deus Se tornou inimigo do homem. Cristo abriu o caminho através do amor, permitindo que houvesse paz entre Deus e o homem. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”

Muitos têm argüido: Um homem que era cristão toda a vida, de repente, num dado momento, briga com alguém, saca do revólver e mata um indivíduo! Ele será salvo? Bem, isto não nos compete responder! Quem somos nós para servir de juizes? Quem conhece as intenções do coração? Davi, por exemplo, pecou muito contra o Senhor, no entanto, ele se humilhou, ele se arrependeu! Saul, por sua vez, se colocou em lugar de Deus! Ele não tinha tantas mulheres, no entanto, seu coração era duro, orgulhoso à vontade do Senhor! Isto começou no Céu, com Satanás. . . . Eu, eu, eu! “Subirei acima das mais altas nuvens!” “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.” (I S. João 1:9).

Há, naturalmente, o pecado voluntário, o pecado premeditado! É verdade que há muita diferença! O sangue de Cristo, porém, nos lava e purifica de qualquer pecado! O ladrão na cruz não teve muito tempo, nem de se batizar, nem de alcançar uma vida pura e santificada! Todavia, ele reconheceu sua pecaminosidade e se entregou ao Salvador!

Oxalá o Senhor abra o nosso entendimento, e nos entreguemos a Ele, sem reservas, destituindo-nos de todo orgulho, de toda a maldade e possamos buscá-Lo de todo coração. Aceitemo-Lo como nosso Salvador, lavemos nossas vestiduras no sangue do Cordeiro! Somos salvos pela Graça Divina.