Introdução

I) Importância do Assunto

Como Adventistas do Sétimo Dia, somos um povo diferente. Nossas doutrinas e pontos de vista são de natureza contrária a muitos dos grupos religiosos e denominações protestantes. É verdade que temos muito em comum com outras denominações; todavia, há alguns pontos básicos que nos são inteiramente peculiares: a guarda do sábado, a doutrina do santuário, o Espírito de Profecia, a relação entre a lei e o evangelho, a imortalidade e estado dos mortos, o juízo investigativo e muitas outras fases de nossa doutrina, incluindo a reforma da saúde.

Temos sido acusados de ‘legalistas” pelas principais religiões protestantes, fato este que não é verdadadeiro. Para muitos, hoje em dia, a doutrina é unilateral. Existem aqueles que patrocinam apenas o Velho Testamento, como os judeus! Para eles o “Tora” é o fundamento de sua religião. São os cinco livros de Moisés, ou Pentateuco. Para outros, o Velho Testamento está encerrado, é só Jesus. Vivemos na Nova Dispensação, na graça, e não na lei. Aí encontramos a maioria das religiões protestantes, como o grande evangelista Billy Graham. Outros, ainda, crêem apenas no Espírito Santo. São os Pentecostalistas. Deve haver o dom de línguas. Todavia, diz a Palavra de Deus: “E vi outro anjo voar pelo meio do céu e tinha o evangelho eterno para proclamá-lo a todos os que habitam sobre a Terra, a toda nação, tribo, língua e povo.” Apoc. 14:6. Sim, este Evangelho Eterno abrange todos os tempos, tanto o Velho Testamento e o Novo Testamento como o Espírito Santo!

Veremos, portanto, nestas linhas, a relação dos Adventistas quanto a uma destas religiões. Qual o nosso ponto de vista com relação à salvação? Que atitude tomamos? Somos Calvinistas, Arminianistas ou quem sabe, temos uma doutrina peculiar diferente de todos? Isto é de importância relevante, principalmente quando observamos a tendência moderna para o liberalismo e princípalmente o Ecumenismo, quando muitas religiões modernas estão se unindo, rompendo barreiras doutrinárias e formando “simbioses” religiosas, se assim nos podemos expressar. Estariam os Adventistas a ponto de se unirem a tais movimentos? Que afinidade temos com as religiões protestantes modernas, baseando-nos em alguns dos reformadores do passado que se alienaram da Igreja Católica?

II) O Problema

O problema em questão é o da salvação. Dizem os Batistas, que “um crente uma vez salvo, sempre salvo.” Pode alguém, depois de aceitar a verdade, cair e ser salvo? Fomos predestinados para a salvação, como dizia Calvino, ou estamos sujeitos à eleição, à escolha, através de nossa fé, de nossa entrega ao Salvador? Bem, procuraremos analisar os pontos que nos elucidem um pouco mais esta teoria, esperando que cada um possa sentir-se entusiasmado e despertado para estas realidades espirituais. Apesar de termos muito em comum com os Batistas, mesmo assim discordamos em muitos outros pontos. Apesar de terem seguido o Calvinismo, hoje em dia há uma barafunda de pontos de vista entre os Batistas. O Metodismo tem pendido mais para o lado dos Arminianistas. Se nos aprofundássemos demais neste estudo, seria uma obra muito volumosa. Todavia, apenas abrimos as picadas, as clareiras, esperando que cada obreiro possa tomar interesse e pesquisar mais, conhecendo melhores diretrizes de aproximação àqueles com quem queremos formar prosélitos. Oxalá este estudo possa abrir novas fronteiras entre nós. É mister que conheçamos mais e estudemos mais. Um obreiro preparado é um obreiro eficiente!

CAPÍTULO I

DEFINIÇÃO DE TERMOS

I) Calvinismo

  • A) Dados Biográficos de João Calvino

João Calvino, o grande reformador francês, nasceu em Noyon, no dia 10-7-1509, e morreu em 27-5-1564, em Genebra, na Suíça.

Seus pais procuraram dar-lhe a melhor educação possível na época. No ano de 1523 ele foi para Paris, preparar-se para o sacerdócio. Sempre foi um estudante brilhante de Teologia; porém mais tarde, foi forçado pelo pai a mudar para Direito, em 1528. Humildemente obedeceu às ordens de seu pai, e foi para a cidade de Orleans, e logo em seguida para Bourges. Ali foi que esteve sob à influência de Melchior Wolmar, um humanista que era favorável à reforma.

Seu pai faleceu em 1531, e então ele volta a Paris, para o estudo dos Clássicos e Hebraico. No ano de 1532, Calvino se declarou abertamente Protestante. Naturalmente, já na Alemanha o Protestantismo havia-se iniciado em outubro de 1517, quando Lutero afixou as 95 Teses na Catedral de Wittemberg.

Foi em Paris que Calvino se inflamou com a Reforma que estava penetrando entre os Humanistas. Associou-se com Nicolas Cop, e crê-se que tenha ajudado a fazer o discurso de abertura, quando este foi eleito Reitor da Universidade de Paris. O tema era a “Filosofia Cristã” e realmente girava em torno da lei e do evangelho. Cop criticou os teólogos de Sorbonne de “sofistas” e como resultado teve que fugir de Paris. Naturalmente, João Calvino, que era seu amigo, fugiu também. Depois disto Calvino andou de lugar em lugar. Em Angouleme ele começou sua famosa obra os “Institutos,” e depois mudou para Nerac, em 4-1534, e depois para Noyon, e Paris novamente. Em 1534, publicou sua obra “Psychopannychia,” que era um tratado contra o sono da alma entre a morte e a ressurreição. Em janeiro de 1535, esteve em Strasburg, e no mesmo mês em Basel. Ali deu os retoques finais nos seus “Institutos da Religião Cristã” e os publicou em 3-1536, aos 26 anos de idade. Logo em seguida foi para Ferrara, em 5-1536 e depois a Paris mais uma vez. De Strasburg foi para Genebra, onde se associou com Farei. Em 1538, ele e Farei, foram ordenados a sair da cidade, e então Calvino seguiu para Basel e Strasburg. Ali casou; porém, sua esposa faleceu em 1549 e ele não casou mais. Mais tarde, à pedido de Farei e amigos, volta para Genebra, em 1540, para dirigi-la de acordo com seus “Standards.” Sua reputação, atraiu a fama para a cidade, e muitos ingleses, holandeses, italianos, espanhóis e estudantes afluíram para ouvir seus métodos e palestras. Calvino pregou por 30 anos na Catedral de São Pedro, e fundou a famosa Academia de Genebra.

  • B) Idéias de Calvino.
  • 1. Seu sistema era baseado no Credo dos Apóstolos. Suas reformas eram práticas; e mesmo a doutrina da predestinação tinha o seu sentido e preocupação práticos. Devido à ênfase colocada sobre esta parte, o povo de Genebra pensou de ser a pedra de esquina da fé cristã. Ele permitiu à igreja mais autoridade do que qualquer outro reformador. “A igreja é nossa mãe.” (Institutos, Vol. IV, i. 7).
  • 2.  Fora da igreja não há salvação.
  • 3. A igreja tem autoridade absoluta em questões religiosas; porém, as civis devem ser entregues ao Estado. Aqui vemos a Separação entre a Igreja e o Estado.
  • 4.  O governo ideal é aquele: democracia, aristocracia e um rei ou autocrata.
  • 5. Deus era o Deus de justiça, o soberano, o governador, mais do que amor em tudo, em Cristo, era o motivo de sua reverência.
  • C) Calvinismo.

1) Significado do Termo.

Ao falarmos do Calvinismo pode nos ocorrer as seguintes idéias:

  • a) Trabalho individual de João Calvino.
  • b)  Sistema doutrinário das igrejas Reformadas, distintamente das igrejas Luteranas conhecidas, as igrejas Calvinistas, devido à influência de João Calvino.
  • c) De uma maneira mais ampla, o corpo de doutrinas e concepções teológicas, éticas, filosóficas, sociais e políticas, que sob a influência da mente mestra de João Calvino se levantou e dominou as terras protestantes na era Pós-Reforma, e deixou sua influência sobre o pensamento humano.

Nós consideramos a segunda idéia, que tem que ver com o sistema doutrinário das igrejas Calvinistas.

O fundamento principal do Calvinismo está baseado numa apreensão profunda de Deus em toda a Sua Majestade! O homem deve crer em Deus sem reservas e deve deixar que Deus domine todo o seu ser. No Calvinismo, o Teísmo tem todos os seus direitos, objetivamente falando. Subjetivamente, as relações religiosas atingem toda a sua pureza. Soteriologicamente falando a religião evangélica encontra a sua expressão plena e sua estabilidade. Tudo gira em torno de uma absoluta dependência de Deus. Deus é que deve dirigir tudo.

“A relação religiosa atinge sua pureza somente quando uma atitude de absoluta dependência de Deus não é mera e temporariamente assumida nos atos, como da oração, mas é sustida através de todas as atividades da vida intelectual, emotiva, e executiva. Uma religião evangélica alcança estabilidade somente quando a alma pecadora descansa num humilde esvasamento de si mesma e confia puramente no Deus da graça, como a fonte única e imediata de toda a eficiência a qual entra em sua salvação. Estes são os principais pontos formadores do Calvinismo.” — “The New Schaff Herzog Encyclopaedia of Religious Knowledge,” Vol. II, pág. 361.

  • D) Soteriologia do Calvinismo.

Salvação é Deus! A força e pureza de sua crença no Fato sobrenatural (que é Deus) salva de todo o embaraço face ao Ato sobrenatural (que é o milagre). (“Schaff Herzog,” op. cit., pág. 361).

Em todo o processo da redenção, a força motriz é Deus, a iniciativa é de Deus. É a revelação sobrenatural através da qual Deus faz conhecida a sua vontade para o homem, e seus propósitos da graça.

Um relatório sobrenatural desta revelação, dado num livro sobrenatural, no qual Deus dá à Sua revelação permanência e extensão!

“Graça irresistível,” “eleição efetiva.”

Talvez o ponto básico do Calvinismo seja o fato da exclusão absoluta do elemento humano na iniciação do processo redentivo, para que a graça de Deus seja amplificada. Calvino, com isto, quis expressar de certo modo a dependência completa do homem, como pecador, num Deus de salvação, e que oferece livre misericórdia.

Calvino se opõe firmemente ao “Auto-soterismo.”

“Acima de tudo está determinado que Deus, em seu Filho Jesus Cristo, agindo através do Espírito Santo a quem Ele enviou, será reconhecido como nosso Salvador verdadeiro. Para ele o homem pecador se defronta em necessidade, não de ser induzido ou assistido para se salvar a si mesmo, mas de salvação real; e Jesus veio, não para aconselhar, urgir ou induzir, ou ajudá-lo a se salvar a si mesmo, mas para salvá-lo. Esta é a raiz da Soteriologia Calvinista! (“Schaff-Herzog,” op., cit., pág. 361).

Deus é que escolhe o homem, e não o homem que escolhe Deus. Portanto, de acordo com Calvino, o homem deve toda a sua salvação em todos os seus processos e em todos os seus estágios a esta escolha de Deus. O homem seria um ingrato se não reconhecesse que Deus o escolheu através da inexplicável eleição de Seu amor.

“A pedra de esquina da Teologia de Calvino era a soberania absoluta de Deus, unida ao dever do homem de se submeter implicitamente à orientação desta vontade. Ele dizia que desde a eternidade, Deus elegeu ou predeterminou uma salvação eterna imutável ou perdição para cada indivíduo.

E a razão e justificação final em cada caso particular é que Deus assim o quer. Os eleitos de Deus, conhecidos com Ele somente, constituem a Igreja, fora dos quais eleitos, não há salvação. A ênfase de Calvino era fortemente teocêntrica em contraste com a de Lutero, que era Cristocêntrica. Em epítome, é a diferença básica entre os dois.” — L. Froom, “The Conditionalist Faith of Our Fathers,” Vol. I, pág. 114.

Era na realidade uma teocracia sem tolerância e havia até a pena capital para ofensas espirituais. (Froom, op. cit., pág. 115).

De 1542-1546, num período de 4 anos, houve 58 execuções em Genebra, e 76 pessoas foram banidas da cidade.

  • E) Pontos Básicos do Calvinismo Apresentados Por Ocasião da Remonstrância.
  • (1) Que Deus, (como alguns disseram) tinha ordenado por um decreto eterno e irreversível, alguns dentre os homens (quem Ele não considerou como criados, muito menos como caídos) para a vida eterna; e alguns (que eram a maior parte) para a perdição eterna, sem qualquer consideração à sua obediência ou desobediência, para mostrar tanto Sua justiça como Sua misericórdia; tendo assim disposto os meios, que todos aqueles que Ele apontou para a salvação deveriam ser necessária e inevitavelmente salvos, e o restante necessária e inevitavelmente condenados.
  • (2) Que Deus (como outros ensinaram) tinha considerado a humanidade, não somente como criada, mas como caída em Adão, e Conseqüentemente sujeita à maldição; da qual queda e destruição Ele determinou de soltar alguns e salvá-los como exemplos de Sua misericórdia e deixar outros, mesmo os filhos do Concerto, sob à maldição, como exemplos de Sua justiça, sem qualquer consideração à crença ou descrença. Para o qual fim Deus, também, fez uso de meios através dos quais, os eleitos foram necessariamente salvos e os reprovados necessariamente condenados.
  • (3) Que, Conseqüentemente, Jesus Cristo, o Salvador do mundo, não morreu por todos os homens, mas somente por aqueles que foram (escolhidos) eleitos de acordo com a primeira ou segunda maneira.
  • (4) Que, portanto, o Espírito de Deus e Cristo, operaram nos eleitos por uma força irresistível, para fazê-los crer e ser salvos, mas que graça necessária e suficiente não foi dada ao réprobo.
  • (5) Que aqueles que uma vez receberam a fé verdadeira, nunca a perderão completamente ou finalmente. — A. W. Harrison, “The Beginnings of Armianism,” 1926, págs. 149 e 150, citado em “Question on Doctrine,” págs. 403 e 404.

II) ARMINIANISMO.

  • A) Dados Biográficos de Tiago Armínio.

Jakobs Hermanns, teólogo holandês, nasceu em Oudewater, no dia 10-10-1560, e morreu em Leyden, no dia 19-10-1609. Seu nome, Jakobs, corresponde em português a Jacó, Jaime ou Tiago. Adotaremos o nome Tiago, que é o mais usado. Seu último nome, Hermanns ou Hermanse, foi latinizado para Arminius, costume que era feito em seus tempos.

Seu pai faleceu muito cedo, e ele foi viver com Rudolph Snellius, professor em Marburg. Em 1576, voltou para casa e estudou Teologia em Leyden sob orientação de Lambert Danaeus. Ficou ali por 6 anos, e foi depois para Genebra e Basel, onde ficou sob Beza e Grynaeus. Ali lecionou sobre a filosofia de Petrus Ramus e a Epístola dos Romanos.

Em 1588, foi apontado pelo governo de Amsterdam como pregador da Congregação da Reforma, onde ficou 15 anos. Surgiram debates, especialmente com Petrus Plancius, com referência às suas idéias sobre a eleição e a condenação. Mais tarde, com a morte de dois professores, Armínio foi chamado para a Universidade de Leyden, e se tornou doutor em Teologia.

As disputas começaram quando Armínio começou a lecionar sobre a predestinação e o campo, então, se dividiu em dois: os Calvinistas queriam um Sínodo Geral para resolver a situação, porém os Estados Gerais se opuseram à idéia.

Em 1608, ele e F. Gomarus, seu colega, foram precipitados num debate. Os Estados da Holanda tentaram reconciliá-los, mas hão houve jeito. As negociações terminaram com a morte de Armínio, em 1609.

Em seu “Disputationes” encontramos sua teologia.

  • B) Idéias de Armínio.

Armínio não podia seguir a doutrina dos Calvinistas, de que Deus era o autor do pecado e da condenação dos homens. Ele procurou ensinar uma predestinação condicional, e colocou mais importância na fé. Seus seguidores expressaram suas convicções nos 5 famosos “Artigos Remonstrantes,” apresentados diante do Estado, como justificação de suas idéias. Adotaram esse nome porque se recusavam ser chamados Armínios.

“Arminianismo, em essência, ensina que a supremacia de Deus é condicionada à livre vontade humana, a qual Ele deu voluntariamente para o homem, e coloca taxativamente no indivíduo a responsabilidade pelos seus próprios pecados e pela sua decisão de aceitar a salvação.” — L. E. Froom, “The Prophetic Faith of Our Fathers,” Vol. IV, pág. 28.

Os princípios básicos do Arminianismo são:

  • a) Universalidade do benefício da Expiação.
  • b) Restauração da liberdade da vontade humana, como um elemento nos decretos divinos, em oposição à asserção da absoluta soberania de Deus. — “SDA Bible Commentary,” Vol. IX, “Source Book,” pág. 53.

Os Wesleys foram os seguidores de Armínio, e o que temos hoje como os metodistas. O reavivamento idealizado e efetuado pelos metodistas, era na realidade o “arminianismo em fogo.” — “Source Book,” op. cit., pág. 54.

  • C) Soteriologia do Arminianismo.

Para Armínio, a eleição deve ser entendida em termos “em Cristo.” Para ele há uma relação íntima com Cristo, ao contrário do que alguns tentaram acusá-lo! Cristo não estava apenas obedecendo a um decreto. Ele veio dar a Sua vida pelos pecadores. Ele não é só um agente, mas é o fundamento da eleição.

Sua posição era que o homem se torna responsável pelo que crê.

Dá a impressão, muitas vezes, de que Armínio construiu sua teoria na base de uma “fé prevista,” onde o homem escolhe Deus, sendo a decisão do homem a “causa.”

Deveria ser notado, no entanto, que Armínio coloca sua última noção em uma posição subordinada ao apontamento (ou eleição) de Jesus Cristo, e que a eleição em termos de uma “fé prevista” pode permanecer nem só, nem primeira. Muitos não têm feito esta distinção.

Isto pode levar a uma conclusão de “graça livre” à “livre vontade.”

“A livre graça de Deus em Jesus Cristo confrontou o homem com a questão decisiva” para Armínio, mas a resposta da fé não foi feita numa força como que uma sobra de bondade. Fora de Cristo não pode haver resposta, mas a resposta da fé, é não obstante, o ato do homem, um ato, para estar certo, não de realização e mérito, mas de entrega e aceitação. Neste ato, o homem dá a glória a Deus, mas por ele, o homem mesmo é responsável. Graça para Armínio originou a liberdade e responsabilidade, não as destruiu ou tirou-as de seu lugar.” — “Source Book,” pág. 55.

Gomarus dizia: “Deus considerou o homem, no decreto da reprovação, não como caído, mas antes da queda, e o próprio decreto da reprovação precedeu ao da criação.” — Newman, Albert Henry, “A Manual of Church History,” Vol. II, pág. 339, citado em “Arminianismo e Metodismo,” pág. 34.

Aí, nós podemos ver a predestinação selada, incondicional, estabelecida pela própria vontade de Deus, antes que tudo fosse criado. Naturalmente, Armínio não podia concordar com estes pensamentos. Ao invés de glorificar a Deus, isto o rebaixava, e empobrecia a obra redentora de nosso Salvador Jesus Cristo. Não haveria necessidade da cruz e a obra do Senhor no Calvário seria inútil, ou digo, perderia seu valor para a humanidade. O homem não poderia responder individualmente a Deus: “sim” ou “não”. Tudo já estava selado, predeterminado.

Para Armínio, a predestinação era condicional, isto é, o infralapsarianismo, ao invés do supralapsarianismo. Deus somente predestinou o homem após a queda, pela sua presciência, levando, naturalmente, em consideração a atitude do homem em face da tentação. A predestinação se tornaria então uma conseqüência do ato humano e não um decreto pré-estabelecido por Deus.

Se temos a predestinação absoluta, segundo Armínio, não há necessidade para o livre Arbítrio. Como podemos entender passagens como: “Aquele que quiser.” “Aquele que crer.” “Faze isto e vive.” “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” etc.?

Para Armínio também há um decreto de Deus. Só que era um decreto diferente do de Calvino. Por ele, Deus decidira enviar Seu Filho, na qualidade de Salvador. Aqueles que cressem nEle e aceitassem Sua obra redentora seriam justificados e salvos, mas quantos permanecessem voluntariamente em seus delitos e pecados, seriam condenados. A vontade de Deus era que todos cressem e fossem salvos. Este era o desejo de Deus, a salvação de todos os homens.

Para Armínio o homem salva-se não porque tivesse sido eleito, e sim, pelo contrário, aceitando a Cristo como seu Salvador é que ele se torna eleito. A eleição é uma conseqüência da identificação do pecador redimido com a obra do Filho de Deus. A salvação é uma cooperação entre o homem e Deus. Deus já fez tudo pelo homem; basta o homem ir ao encontro de Deus. Há a tendência de alguns colocarem muita força sobre o homem. Em outras palavras, o homem é que deve ir a Deus e então Deus vem ao encontro.

  • D) Pontos Básicos do Arminianismo.

Estes pontos foram levantados pelos discípulos de Armínio, por ocasião do ano 1610, quando lhes foi pedido pelos Estados da Holanda. Foi, então, que surgiu os “Remonstrantes,” como assim se chamaram os seus seguidores. Eles, então, prepararam estes pontos cardiais:

  • (1) Que Deus, por um decreto eterno e imutável, em Cristo antes da fundação do mundo, determinou eleger da raça humana pecadora e caída, para a vida eterna, aqueles que através de Sua graça, crerem em Jesus Cristo e perseverarem em fé e obediência; e pelo contrário, tem resolvido rejeitar os não convertidos e descrentes, deixando-os à condenação eterna. (S. João 3:16).
  • (2) Que, em conseqüência disto, Cristo, o Salvador do mundo, morreu por todos e cada homem, obtendo assim, pela Sua morte na cruz, reconciliação e perdão pelo pecado, para todos os homens; de tal maneira, no entanto, que ninguém senão os fiéis gozarão de tudo. (S. João 3:16; I S. João 2:2).
  • (3) Que o homem, por si mesmo, não poderia obter a salvação ou pela força de sua própria vontade, mas permaneceu em necessidade da graça de Deus, através de Cristo, para ser renovado em sua mente e vontade. (S. João 15:5).
  • (4) Que esta graça foi a causa do início, do progresso e finalização da salvação do homem; de tal forma que ninguém poderia crer, nem perseverar em fé, sem esta graça cooperadora; e, Conseqüentemente, que todas as boas obras devem ser atribuídas à graça de Deus em Cristo. Quando à maneira de operação desta graça, todavia, não é irresistível. (Atos 7:5).
  • (5) Que os verdadeiros crentes tiveram suficiente força através da graça divina, para lutar contra Satanás, o pecado e o mundo, sua própria carne e ganhar a vitória sobre todos; mas, se por negligência, eles se apostatarem da fé verdadeira, perderem a felicidade de uma boa consciência e perderem aquela graça, necessitam ser mais plenamente informados de acordo com a Palavra de Deus, antes que prossigam a ensiná-la. — Harrison, op. cit., págs. 150 e 151, ‘‘Questions on Doctrine,” págs. 404 e 405.

(Continua)