Visitamos em certa ocasião uma igreja e o seu pastor. O edifício era formoso; reunia todas as comodidades. Contudo, a congregação era pequena e não se via ali vida. A forma de cantar revelava apatia, e embora a reunião fosse no verão, sentia-se um vento gelado soprando sobre a vida dos adoradores.
“Esta é uma igreja sumamente difícil,” disse-nos o pastor. “Aqui nada dá resultado. Todo o plano que se elabora morre ao nascer. O pastorado desta igreja é um castigo
Voltamos dois anos depois à mesma cidade. Tudo parecia igual. Tudo… menos a Igreja Adventista. Algum fenômeno curioso estava ocorrendo. O morto havia ressuscitado! Os ossos secos haviam sido cobertos de músculos, nervos e sangue! O ar frio havia sido substituído por um calor vivificante! Aquela congregação outrora árida, estéril, agora revelava em seu rosto uma nova experiência! O inverno havia sido seguido pela primavera!
Que havia sucedido? Entendemos o fenômeno ao dialogar longamente com o pastor. Aquele homem tinha fé em sua igreja, tinha entusiasmo transbordante, cria que a igreja podia ressuscitar. . . e contagiou com sua fé, seu entusiasmo e sua confiança a toda a congregação. Que alegria dava ver seus olhos brilhando de felicidade ao pensar na nova família à qual começara a instruir na verdade, ou a relatar o sucedido na reunião que teve com um grupo de jovens de um clube, aos quais estava interessando na mensagem, ou de sua experiência como pregador a um grupo de outra igreja, os quais estava conduzindo à verdade presente. A própria congregação desfrutava daquela alegria e felicidade. Os rostos taciturnos de ontem são hoje rostos vivazes, animados e entusiasmados.
Esse ministro desfruta realmente de seu ministério, os adoradores desfrutam de sua pregação, que embora simples tem um profundo conteúdo espiritual.
Despedimo-nos da igreja e do pastor para continuar nossa viagem. As horas atrás do volante se fazem curtas ao pensar que há ministros que crêem na verdade que pregam e que estão dedicando tudo que são e quanto têm à extensão da mensagem. Agradecemos a Deus de todo o coração por eles. Porém, pensamos também nos outros — mui poucos talvez — porém que existem. São os que só vêem impossibilidades, monstros que enfrentar, montanhas a transpor. Aqueles que, como conseqüência de sua atitude, não têm fruto ou os têm exíguos, e que não desfrutam das possibilidades espirituais e inesgotáveis do ministério. Aqueles que ao apresentar um relatório, o fazem baseando-se em queixas e lamentos.
O que pode mudar esse deserto em primavera? Relembremos alguns conselhos inspirados que dão soluções a este problema:
- 1. O ministro deve esquecer-se de si mesmo e da cruz que possa significar o ministério. “O Senhor não dá lugar na Sua obra aos que têm maior desejo de alcançar a coroa do que de transportar a cruz. Deseja homens que pensem mais em cumprir o dever do que em receber recompensa, — homens que sejam mais amantes dos princípios do que da promoção. — A Ciência do Bom Viver, pág. 477.
Se tivéssemos que escolher “o melhor conselho jamais ouvido” teríamos talvez que reconhecer que — pelo menos o que mais nos ajudou no ministério — foi um que consta de apenas seis palavras: “Não tenha pena de si mesmo,” pronunciado por um presidente diante da apresentação de uma lista de razões, aparentemente destinadas a despertar compaixão, diante de uma situação realmente difícil, porém que exigia valor, entusiasmo e entrega total em lugar de auto-compaixão. “Necessitamos de evitar a compaixão de nós mesmos. Nunca alimenteis a impressão de que não sois estimados como deverieis, que os vossos esforços não são apreciados e que o vosso trabalho é demasiado penoso. A lembrança de que Jesus sofreu por nós reduz ao silêncio todo o pensamento de murmuração. Somos tratados melhor do que foi nosso Senhor.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 476.
- 2. A entrega completa e sem reservas à obra à qual nos hemos dedicado. A obra de um ministro não é como a do policial que cuida da esquina ou a do operário que inspecciona as garrafas de uma fábrica de bebidas ou do que carrega caixas sobre um caminhão. Eles necessitam pouca ou nenhuma imaginação; seu trabalho é mecânico. A obra do ministro, ao contrário, requer estimular o intelecto, procurar meios e métodos de progresso, estudar a psicologia teórica ou prática. As garrafas, as caixas, o caminhão carecem de personalidade. Entretanto, as pessoas com quem o ministro trabalha a têm. Nossa tarefa é difícil. Não podemos limitar-nos somente ao mecânico, ao indispensável. Devemos ser criadores, e o que é criador pode ver as maneiras de levantar uma igreja caída.
O ministro deve entregar-se ao seu trabalho. “Os que procuram dar o menos possível de suas faculdades físicas, mentais e morais, não são os obreiros que Deus pode abençoar abundantemente. Seu exemplo é contagioso. O motivo que os dirige é o interesse pessoal. Os que necessitam que se lhes vigie e que não trabalham a menos que se lhes indique a tarefa bem definida, não serão considerados bons e fiéis obreiros. Necessitam-se homens de energia, integridade, diligência e que estejam decididos a fazer qualquer coisa que deve ser feita.’’ — Necessidad del Obrero, págs. 43 e 44.
“Aqueles que desejam o sucesso devem ser corajosos e otimistas. Devem cultivar não só as virtudes passivas mas as ativas.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 497.
- 3. O ministro deve ter a certeza de que a tarefa que deve realizar é quase sobre-humana, porém que a seu lado está Aquele que é a fonte de energia, inspiração e sabedoria. Sua obra não é obra de homens. Seu êxito não depende somente de seu otimismo ou de seu trabalho. Embora estas virtudes sejam indispensáveis, se vão desprovidas da dependência do Príncipe dos Pastores, serão de pouco valor. Poderá talvez alcançar bom êxito em seu trabalho, porém este será como o do gerente de uma empresa comercial que alcançou o cimo de seu negócio sem haver jamais implorado a assistência do Espírito Santo.
O ministro que pastoreia um deserto deveria experimentar a visão de Jeremias. Raymond Calkins, em seu livro “Romance del Ministerio,” comenta o significado daquela “vara de amendoeira” que Jeremias viu no meio do deserto quando Deus lhe perguntou: “Que vês tu, Jeremias?” O profeta — diz ele — estava meditando em um desolado deserto, e ao contemplar a paisagem pensou que assim estava Israel: morto, sem vida, árido e seco. E ele, Jeremias, havia sido chamado para lograr a ressurreição daquele povo. “Senhor Deus! Eis que não sei falar, porque não passo de uma criança.” É tarefa sobre-humana. . . . “Que vês tu, Jeremias?” perguntou-lhe Deus. “Vejo uma vara de amendoeira,” foi a resposta. Calkins diz como comentário: “Tudo, por todas as partes era desolação e morte, tal com a própria nação. Pleno inverno. . . morte. Mas logo se deteve; uma nova expressão apareceu em seu rosto e em seus olhos brilhou uma nova luz. Em meio de suas idéias desesperadas quanto a futuro de seu povo e quanto ao seu próprio futuro como pregador de Deus, acerca de sua impotência para alterar ao mínimo a corrente de vida do mundo, havia levantado seus olhos e havia visto uma vara de amendoeira em pleno florescer. Subitamente recordou, de modo assombroso, que em meio daquela paisagem invernal, Deus estava vivo. Apenas um simples galho com uma vara florida ao abrigo de uma ladeira ensolarada. Entretanto, ali estava profetizada toda a glória da primavera, toda a formosura do verão, toda a áurea riqueza de uma próxima colheita.” — Romance del Ministério, pág. 218.
Voltemos à igreja ressuscitada do início. Naquela igreja surgiu uma flor em meio ao deserto. Talvez este seja um processo normal como é normal que chegue a primavera depois do inverno, porém chegou. O frio foi substituído pelo calor, o gelo pela água saudável. Porém também há ali um novo jardineiro que há logrado ver a vara de amendoeira e que não se desanimou, embora à vista fosse uma vara humilde. São Paulo viu a vara brotando na Roma pagã e disse: “Estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros que estais em Poma.” (Romanos 1:15.) Finalmente foi ali e conseguiu conversos até na casa do Imperador. Outros foram ao Egito e ali houve frutos, e outros até a Índia, com o mesmo resultado. O pior deserto, mesmo com a aridez do paganismo, pode ressuscitar.
Não haverá outros desertos também na América do Sul que também possamos ver neles a vara de amendoeira? Não haverá outras igrejas extenuadas e que possam ser reavivadas? Talvez seja algum campo que esteja passando pelo inverno em sua experiência. Deus está buscando obreiros que creiam na verdade e que estejam convencidos dela. Pessoas que digam, desafiando a possibilidade do fracasso e dos riscos: “É possível, e pela graça de Deus intentarei.”
Estimado pastor, está você pronto a ver a vara de amendoeira — ao Deus Eterno — que está anunciando a primavera de sua igreja?