Não sejais como aquêle líder que disse:
“LÁ VAI MEU POVO; DEVO SEGUI-LO, POIS SOU SEU LÍDER.”
No registo das proezas dos poderosos de Davi, em I Crônicas, uma narrativa épica se distingue como magnífico exemplo de valor e dedicação à liderança, muito acima e além do exigido pelo dever. Davi, em risco de vida, ocultava-se nas cavernas de Adulão, temendo o rei Saul, que se propusera eliminá-lo. Exilado da cidade de sua infância, por uma guarnição de filisteus, “suspirou Davi, e disse: Quem me dera beber água do poço que está junto à porta de Belém!” (Cap. 11:17). Isto não era de modo algum uma ordem aos que o ouviam; era, antes, um pensamento transmitido em voz audível, motivado por uma reminiscência nostálgica. Bem reconhecia êle a completa impossibilidade do cumprimento de seu ocioso desejo, pois a guarnição dos filisteus estava então em Belém. Três dos homens de Davi lhe ouviram a expressão do desejo, e êste se lhes tornou verdadeira paixão. “Então aquêles três romperam pelo acampamento dos filisteus, e tiraram água do poço junto à porta de Belém, tomaram-na e a levaram a Davi.” V. 18.
Esta dedicação dos valentes de Davi, diz algo acêrca de seu calibre. Mas, o que é mais significativo, diz muito de Davi como seu líder. Esta espécie de liderança sábia e de dedicação de equipe não é totalmente inexistente em nosso século ou na obra organizada dos adventistas do sétimo dia. Ouviu-se certa vez o obreiro de uma associação dizer acêrca do seu presidente: “Se êle precisasse de um homem que fôsse de igreja a igreja para limpar as instalações sanitárias, eu me ofereceria.” Isto, confesso, diz algo acêrca daquele obreiro dedicado, mas também diz muito acêrca das qualidades de líder do presidente da associação.
A qualidade de liderança acima descrita não vem por acidente. Não é resultado de praxe financeira da organização, nem de situação geográfica. Não a podem comprar salários de muitas cifras, nem a produzem notas ilimitadas de despesas. Vem espontaneamente de satisfatórias relações humanas entre o executivo e seus subordinados. É produto natural da devida combinação de ingredientes situacionais e pessoais.
Não é segrêdo o fato de existirem obreiros que não vêem com bons olhos a perspectiva de visitas de seu presidente. Suas relações caracteri-zam-se mais pelo temor e apreensão, e por vêzes pela inveja eclesiástica. Tampouco é segrêdo aguardarem alguns obreiros a sessão bienal ou quadrienal na esperança de uma modificação no quadro dos líderes, ou na esperança de se tornarem substituto de um dêles.
A Dinâmica da Liderança
Qual é a dinâmica de uma diretoria firme, bem amalgamada, de uma associação, colégio ou outra organização, cujos líderes sejam dedicados mutuamente? Como pode um líder aperfeiçoar-se de modo a fruir a demonstração de um espírito dedicado, como o exemplificado pelos valentes de Davi? Executivos, administradores e aspirantes à liderança são convidados a considerar objetivamente as sugestões seguintes:
- 1. Sêde vós mesmos. Liderança não é o que o líder faz, mas o que êle é. Métodos, teorias e técnicas de homens dirigentes, podem ser estudados e comparados, mas temos de encarar o fato de que a diferença entre o êxito e o fracasso não reside tanto na técnica, como no próprio líder. Deve-se focalizar mais a atenção nos fatores de personalidade do próprio homem. Não quer isto dizer que se possa fazer uma relação de certas combinações de características pessoais que sejam o sumum bonum da liderança. Homens e mulheres de grande variedade de tipos de personalidade podem sair-se bem em situações de liderança. É satisfatório qualquer modêlo de personalidade que permita boas e profundas relações com outros sêres humanos. Mas, acima de tudo, melhor lidera o líder que seja êle mesmo. Se vossa liderança se deixar mover por molas de outra fonte que não VÓS MESMOS, sois então meros imitadores, e nos dias atuais mesmo as crianças descobrem o reles imitador, a cem passos de distância. Não é, pois, nada de admirar de que seja ineficiente o líder que funcione sob a guisa de qualquer outro que não seja êle mesmo. O cajado, a funda e cinco pedras lisas que são vosso próprio equipamento familiar, são-vos sempre mais eficazes do que a armadura de Saul.
- 2. Apercebei-vos das Necessidades Humanas. Os que lidam com pessoas precisam estar muito apercebidos das necessidades humanas, e sensíveis a elas. O tremendo poder demonstrado por Jesus em comover e liderar pessoas residia em Seu tremendo interesse nas pessoas. “Mas o mesmo Jesus não confiava nêles, porque a todos conhecia; e não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque Êle bem sabia o que havia no homem.” S. João 2:24 e 25. Êle de fato sabia o que levava os homens a tiquetaquear. Estava bem apercebido dos profundos anelos de seu coração. Possuía alma sensível, desde a infância. “Em todos os tempos e todos os lugares manifestava amoroso interêsse nos homens, e derramava a Sua volta a luz de uma animosa piedade.” — Desejado, 86. Especializou-Se no homem todo — tudo que concernia ao homem, preocupava-O também. Não era um manipulador de homens, dêles Se servindo como de degraus de uma escada para galgar uma posição mais alta. “Interessava-Se em todos os aspectos de sofrimento que vinha ao Seu conhecimento.” — Idem, 92. Seu interêsse e preocupação em relação aos Seus obreiros não era de modo algum uma preocupação egoísta, departamentalizada. Êle conhecia a Sua equipe.
O conhecimento que Cristo tinha dos homens não era resultado de um especial poder divino, inacessível para nós. Não usava de nenhuma vantagem que não nos fôsse oferecida. Seu conhecimento dos homens era resultado natural de Seu interêsse nêles.
Hoje, o líder de êxito reconhece as necessidades emocionais e os impulsos de seus obreiros, assim como suas necessidades financeiras. (O aumento de salário nem sempre produz um correspondente aumento de dedicação ou produção.) Todos têm necessidade de reconhecimento, e querem crer que valem alguma coisa na opinião dos outros. Nunca reluteis em expressar aprovação. O adequado reconhecimento de um bom comportamento é uma das melhores maneiras de produzir o continuado comportamento desejável. Carnegie, em sua conhecida obra Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas recomenda que sejamos calorosos em nossa aprovação e genuinamente pródigos em nossa expressão de louvor.
Mesmo quando é necessária a censura, pode ela ser encaixada entre louvor e aprovação. O Cristo das sete igrejas demonstra aptidão em semelhante método, pois diz: “Conheço as tuas obras, assim o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus. . . . Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.” Apoc. 2:2-4. Para a igreja as rudes arestas da censura são abrandadas com a gentil almofada do louvor. A aprovação mostra confiança. Vossos obreiros anseiam por ela, e em nada aumenta o orçamento!
Os líderes prudentes prevalecem-se da necessidade de seus obreiros, de terem a impressão de pertencer. O homem é animal gregário, por natureza orientado por grupo. Cada qual quer sentir que êle pertence, é apreciado, necessário, e valorizado por seu grupo. Ninguém simpatiza com o círculo que o exclui. Assim, dai lugar à impressão de que grande coisa é pertencer a vosso time.
Não deve ser esquecida a necessidade de uma causa. Tôda personalidade amadurecida, ajustada, bem integrada precisa de uma causa — uma superestrutura em volta da qual edifique sua vida e atividade, uma chama a avivar, um alvo que lhe ocupe a visão, um azimute para cartografar sua trajetória. O verdadeiro líder é causa orientada, e seus seguidores são do mesmo calibre. Êle lhes satisfaz a necessidade de causa com a sua própria causa. Êles a esposam como dêles mesmos, e na verdade se torna dêles. Serviço dedicado, muito além das exigências do dever e acima dos reclamos da fôlha de pagamento é a devida recompensa do executivo que é observador das necessidades de sua gente.
- 3. Desdém Próprio. Não vos arreceeis de ter na equipe alguns dissidentes, que divirjam de vós. Convém encorajar a independência de pensamento, não por amor à rebelião, e não em terrenos onde temos um “assim diz o Senhor,” mas como parte da necessidade de originalidade e integridade. Exigi que vossos homens sejam pensantes, não simples refletores de vossos pensamentos. (Ver Educação, pág. 17.) A concentração própria tem efeito mortal sôbre o progresso, e o excesso de conformismo pode resultar numa malfazeja estagnação. A crítica nem sempre é dirigida contra o líder em pessoa. Aprendei a manejá-la. Afastai-vos a certa distância e observai-a objetivamente. Bem pode ter mérito. Muitas vêzes estais demasiado perto de vosso problema para ver todos os pormenores de seu escopo e implicações. Servi-vos de vossa comissão como de um “depósito de pensamentos.” Muitos empregados têm espírito fértil, criador. Construí bem vosso sistema independente de valôres, mas sêde tolerantes com os pontos de vista que divergem dos vossos. Examinai bem o argumento do outro. Dai uns passos para trás e olhai de nôvo, antes de defender vossa posição.
- 4. Verificai Vossa Própria Maturidade. O líder de homens tem de ser homem. Também aqui Cristo serve de exemplo de perfeição em simétrica maturidade. Desde a infância, Sua vida foi caracterizada por um firme e harmônico incremento de varonilidade. Seu breve ministério foi repleto de provas de ser êle o único modêlo perfeito de maturidade física, mental, emocional e espiritual da História. Desde criança manifestou uma precocidade inédita. DÊle foi dito que “desde mui tenra idade, começara Jesus a agir por Si na formação de Seu caráter.” — Desejado, pág. 86.
Todo o capítulo do livro O Desejado de Todas as Nações intitulado “Dias de Luta,” acha-se repleto de descrições de traços que são prova de maturidade raramente vista mesmo nos mais avançados em anos. Os homens maduros não são auto-orientados, nem egoístas. Merecem compaixão os empregados que têm que trabalhar para um patrão egoísta.
O patrão amadurecido é apto a assumir responsabilidades. Não se apóia em outros em relação ao seu procedimento, nem põe em outros a culpa de seus fracassos. Ataca objetivamente os problemas e pontos controversos, e não as pessoas. É bastante amadurecido para reconhecer e separar os dois. É apto a dar tempo ao tempo, isto é, olha aos resultados mediatos, não imediatos. Êle não se acha centrado no “hoje” ou “agora.” O agora, ou hoje, o imediato é por êle avaliado como parte do grande quadro geral. Suporta o desconforto ou a dor presentes, por amor do ganho futuro. O homem amadurecido não tenta disfarçar a realidade nem dela fugir. Sabe êle que o método do avestruz, de aproximar-se de um problema metendo a cabeça na areia, não afastará nem resolverá o problema. Crê em si mesmo e em sua causa, e tem um compreensivo senso de otimismo e de “poder fazer.” Êle pensa em grandes dimensões, e fala em êxito, nunca em fracassos. Como o hábil oficial do exército, jamais dá uma ordem a menos que esteja confiante de que será obedecida. Líderes de água doce dirigem homens de água doce. Não sejais como o líder que disse: “Lá vai meu povo; devo segui-lo, pois sou seu líder.”
Líderes de êxito nunca ficam enfastiados de seu trabalho. Têm amplitude de interêsse. Há tantas coisas a ver e fazer! Existe tanto de bem, mesmo nas coisas comuns!
O homem amadurecido está bem apercebido de que surgirão situações negativas. Quanto mais relacionadas as engrenagens, tanto maiores as oportunidades de atrito. Não é preciso que as situações negativas nos apanhem de surprêsa. Elas ajudam a planejar para o futuro quanto a situações semelhantes, e reagem de modo pré-planejado. Também aqui, ataque-a a situação, e nunca as pessoas envolvidas na situação. Formulai perguntas: “Que aconteceu?” “Como se deu a coisa?” “Poderia o irmão repetir o trecho tal? pois quero certificar-me de que o entendo corretamente.” “Que acha que se possa fazer neste caso?” Então prestai atenção. A prontidão em ouvir dá ao outro oportunidade de soltar o vapor e, o que é mais importante, pode transmitir informações úteis. Bem haja o líder que sabe ouvir, mesmo quando o tempo é muito escasso.
O patrão amadurecido é compreensivo. Ser compreensivo quer dizer mais do que fazer uma coletânea de fatos e boatos. Envolve intuição e capacidade de promover harmonia entre pessoas. Líder semelhante não precisa preocupar-se com o que seus obreiros hão de comentar quando volver as costas, ou temer que se aproveitem dêle.
Afinal, a liderança benevolente desenvolve uma equipe benevolente. Dizem que um redator esportivo aproximou-se de Vince Lombardi, antigo treinador de um time de futebol, após um campeonato, e lhe perguntou qual o segrêdo da vitória de seu time. Vince respondeu com um sorriso largo: “Meus rapazes amam-se mùtuamente!”
Afinal de contas, “o maior dêstes é o amor.”