(No Antigo Testamento)
O espírito filosófico pagão, tanto o grego clássico, como o romano ou o hindu, gabava-se de ser capaz de alcançar a verdade última acerca de Deus e Seu ser. Êste estado de espírito era bem diverso do possuído pelo povo teocrático. Através de todo o Antigo Testamento acentua-se a realidade de Deus, o fato de que Deus existe. A convicção teocrática do crente, de que era possível o conhecimento de Deus, em profundidade e para grande benefício pessoal, tomou-se clara através de sua história; mas quanto à verdade última de Deus e Seu ser, o espírito hebreu não especulou.
O crente hebreu veio a saber que era obtenível o conhecimento de Deus; isso não mediante especulações-filosóficas, não pela iniciação em cultos misteriosos, mas por uma sincera e inteira submissão à vontade divina, às divinas diretrizes. Procurando tornar conhecido a outros o seu conhecimento e compreensão de Deus, os hebreus usavam para Deus vários nomes, descritivos de Sua pessoa.
O nome mais geralmente usado para designar a Deus, no Antigo Testamento, é Elohim, que ocorre 2.555 vêzes, sendo que 2.310 vêzes se refere a Deus como o que é vivo e verdadeiro. A forma do nome é provàvelmente o plural de majestade, indicando a grandeza, a infinitude, a inexaustibilidade de Sua natureza. Formas mais simples e elementares de Elohim são Eloah, Elah e El, tôdas se referindo ao Deus verdadeiro, que é forte; o Deus de Israel. Essas palavras, embora muitas vêzes usadas sozinhas, são também freqüentemente empregadas na dependência de outro têrmo, como por exemplo “o Deus fiel, que guarda a aliança” (Deut. 7:9); “Deus grande” (Deut. 10:17); “Deus, o Santo” (Isa. 5:16); “Deus, minha rocha” (Sal. 42:9); “o Deus da sabedoria” (I Sam. 2:3); “Deus que é a minha grande alegria” (Sal. 43: 4); “Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em misericórdia e fidelidade” (Êxo. 34:6). Estas formas mais simples do nome Elohim encontram-se numerosas vêzes no Antigo Testamento. Há aí uma exuberância de conhecimentos acêrca de Deus, a desafiar nosso estudo.
Um dos mais maravilhosos nomes de Deus é El-Shadday, traduzido por “Deus Todo-poderoso.” A forma simples, Shadday é sempre traduzida por “Todo-poderoso.” É pena, pois a palavra quer dizer plenitude, riqueza, ternura. A raiz é shad, seio feminino, e tem afinidade com a palavra árabe para “umedecer.” Existe aí a idéia de terna misericórdia, abundância e doce ternura.
Outro nome que em hebraico expressa a natureza de Deus é Adonay, que dá idéia de firmeza, determinação, domínio, poder, direito de propriedade. Êste título implica a verdade de que Deus é Senhor e tem direito a nossa plena submissão e obediência. Mal. 1:6 expressa o dever do crente, implícito nas palavras: “O filho honra o pai, e o servo ao seu senhor. Se Eu sou Pai, onde está a Minha honra? E se Eu sou Senhor [Adonay], onde está o respeito para comigo?”
A palavra hebraica traduzida por “respeito” (“temor” na trad. antiga), é mora. Usada em relação a Deus é como o têrmo do Nôvo Testamento phobos, e não significa a terrível emoção covarde de mêdo. A palavra é da mesma raiz que a palavra temor do qual se diz ser o princípio da sabedoria (Sal. 111:10) e do saber (Prov. 1:7). Requer o afastar-nos do mal (16:6) e leva ao conhecimento de Deus (2:5).
O nome pessoal, ou próprio, de Deus no Antigo Testamento é Yahweh (Jeová), que se encontra cêrca de 5.500 vêzes. Êste nome sempre se achou envôlto em mistério, desconhecendo-se sua origem e significado exato. Os hebreus ligavam o nome a hayah, verbo ser. Em Êxo. 3:14 tem o equivalente de “Eu Sou o que Sou.” Êste nome foi, ao que parece, introduzido por Moisés em relação com o concêrto; encontra-se, entretanto, em Gênesis, o que dá idéia de seu uso já em tempos muito antigos. A transliteração Jeová era desconhecida até 1520, quando foi introduzida por Galatino; mas os judeus nunca ousavam pronunciar o nome hebraico, substituindo-o por outros, ao lerem as Escrituras. O nome Yahweh geralmente apresenta a Deus como o Ser absoluto e imutável, existente por vida própria, que cumpre tôdas as Suas promessas, o Deus da redenção.
Declaração muito significativa, que é uma promessa, foi feita por Deus a Moisés: “Eu serei contigo” (Êxo. 3:12). A promessa: “Servireis a Deus neste monte.” Esta promessa foi cumprida não só pela Presença e auxílio divinos providos a Moisés de modo maravilhoso no decorrer das negociações preliminares com Faraó, mas prosseguiu até o cumprimento completo de sua missão.
O cerimonial no monte abrangeu a doação da aliança. Esta é um laço entre Deus e Seu povo. Inclui uma revelação, uma lei moral que requer obediência: “Se ouvirdes a Minha voz,” “guardardes a Minha aliança.” Segue a promessa: “Então sereis a Minha propriedade peculiar dentre todos os povos” (Êxo. 19:5). A aliança é então uma predestinação. Implica em íntima afinidade entre Deus e o crente. Essa relação é mantida pela obediência à vontade de Deus, o que leva a um conhecimento pessoal e prático de Sua pessoa, Seus atributos.
Para conservar-se em relação de aliança com Deus, o crente tem de obedecer à lei divina. A lei acentua a transcendência e soberania de Deus; salienta o dever do crente, de viver de conformidade com as Suas diretivas, indicando assim o caminho do conhecimento de Deus.
No Antigo Testamento temos base moral para o conhecimento de Deus. Êle é pessoal, sublime e santo; todavia, próximo do crente arrependido. A obediência traz a paz e confiança, baseadas no conhecimento de Deus: “Tu, Senhor, conservarás em perfeita paz aquêle cujo propósito é firme; porque êle confia em Ti” (Isa. 26:3).
O povo de Deus deve conhecê-Lo. A aliança deve ser em sua vida uma dinâmica realidade. Infelizmente muitas vêzes tem sido justificado o lamento de Isaías: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o Meu povo não entende” (Isa. 1:3).
Através da história o povo de Deus se tem demonstrado muitas vêzes menos inteligente que os irracionais. O animal reconhece seu senhor; considera-o como fonte de seu sustento e bem-estar. O jumento e o boi encontram o caminho para o estábulo; o povo de Deus, porém, quantas vêzes ignoram a Deus como seu Senhor, amigo, e fonte da vida espiritual e física.
A ignorância acêrca de Deus é culpável, repreensível. Especialmente no Antigo Testamento o conhecimento de Deus é sinônimo de obediência à vontade divina. Diz o profeta Oséias que o Senhor deseja chesed de preferência a ofertas (Oséias 6:6). Esta palavra é traduzida por “misericórdia,” “bondade” ou “benignidade,” ou ainda “amor constante.” O léxico hebraico dá-nos tradução mais expressiva: “bondosa instrução,” e misericórdia e caridade como derivados, e não a idéia básica. Demais, a palavra chesed tem íntima e inalienável ligação com a aliança de Deus; exprime, ainda, firme adesão às condições da aliança, conservando sempre uma noção de fôrça, firmeza e constância. Assim, muito naturalmente o profeta completou. seu pensamento, dizendo que o que se requer é o conhecimento de Deus, e não holocaustos.
Deus instituiu os sacrifícios e ofertas; assim, o texto não pode significar que Êle não os desejasse, no sentido absoluto; requeria, porém, juntamente com êles, valores morais e espirituais. Os aspectos morais e espirituais são sempre a verdadeira finalidade da instituição de leis e ordenanças. Também o conhecimento de Deus, por Êle requerido, refere-se a conhecimento pessoal, de pessoa para pessoa, prático, experimental. O conhecimento de Deus vai de parceria com a piedade, amor e bondade; e tudo isso se acha implicado em chesed, com determinada relação ao concêrto. Acertadamente disse Norman H. Smith: “Shesed, em todos os seus vários matizes de sentido, subentende a existência de um concêrto. Sem a anterior existência do concêrto, de modo algum poderia existir chesed.” — The Distinctive Ideas of the Old Testament, pág. 94.
Não nos esqueçamos de que chesed abrange o sentido daquele amor e obrigação que devemos a Deus e ao Seu concêrto, e que se acha implicado intimamente no conhecimento de Deus.
O ministro hoje deve ter um conhecimento pessoal e experimental de Deus, a fim de transmiti-lo ao povo de Deus. Para êsse fim, um trabalho muito frutífero é estudar os nomes empregados para designar a Deus, na Palavra. “Os ministros devem tornar-se estudiosos da Bíblia. … A Palavra de Deus deve ser estudada cabalmente. Tôda e qualquer outra leitura é inferior a essa. … Se estudarmos a Palavra de Deus com interêsse, e orarmos para compreendê-la, veremos novas belezas em cada linha.” Deus promete revelar novas e preciosas verdades (ver Testimonies, Vol. 2, págs. 337 e 338). Não basta fazer que nossos sermões consistam em não pequena parte de citações de livros outros que a Bíblia. Temos de conhecer e apresentar a Palavra de Deus. — The Ministry, fev. 1970.