Como somos Justificados — “Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e, sim, mediante a fé em Cristo Jesus, também nós temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois por obras da lei ninguém será justificado.” Gál. 2:16.
Há certas doutrinas bíblicas que são bem mais fáceis viver do que explicar. A justificação pela fé é uma destas doutrinas. Desde o início do movimento adventista tem havido celeuma em tôrno dêste fato, em verdade muito importante na experiência cristã.
De relance analisemos os passos que formam o conjunto do ato da justificação:
- a. (Rom. 2:4) O amor de Deus gera o arrependimento. Verdadeiramente nada podemos fazer para nos justificar. Ùnicamente podemos ACEITAR ou REJEITAR a oferta de Deus. Por nascimento somos escravos do pecado. Pela justificação podemos tornar-nos servos da Justiça, tal como pelo processo de naturalização podemos mudar de nacionalidade. O desejo desta mudança é o fruto do amor de Deus por nós. “Nós amamos porque Êle nos amou primeiro.” I S. João 4:19.
“Muitos se acham confundidos quanto ao que constitui os primeiros passos na obra da salvação. O arrependimento é considerado uma obra que o pecador deve realizar por si mesmo, a fim de poder chegar a Cristo. Pensam que o pecador deve por si mesmo conseguir a habilitação para obter a bênção da graça de Deus. Mas, conquanto seja verdade que o arrependimento deve preceder o perdão, pois é unicamente o coração quebrantado e contrito que é aceitável a Deus, o pecador não pode produzir em si o arrependimento, ou preparar-se para ir a Cristo. … O primeiro passo em direção de Cristo é dado graças à atração do Espírito de Deus; ao atender o homem a êsse atrair, vai ter com Cristo a fim de que se arrependa.” — Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 390.
Isto está muito bem ilustrado na parábola do filho pródigo. O amor do pai despertou-lhe os sentimentos adormecidos e atraiu-o, gerando o desejo de arrependimento, confissão e reconciliação: “Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e lhe direi: Pai, pequei contra o Céu e diante de ti. . . .” (S. Luc. 15:18.)
- b. (Rom. 3:24) O arrependimento torna eficaz a graça perdoadora de Deus em Cristo. A graça é a fonte de justificação. Dela jorra abundante o perdão divino.
Mérito algum é apresentado pelo pródigo. Confia tão-sòmente no amor paterno, e numa rendição incondicional lança-se aos pés do amante Pai. . . . Oh, profundidade, grandeza e maravilha do amor divino! Mal os nossos trôpegos passos se voltam em direção ao lar, e Êle vem correndo para abraçar-nos, e beijar-nos com seu beijo de perdão. Nada, absolutamente nada temos para apresentar a fim de receber as vestes de filhos. Todavia, elas nos são ofertadas e nelas somos envolvidos. Somos filhos. Isto é graça.
- c. (Rom. 3:28) A graça desperta a fé, o método de justificação. Quando o filho se lançou aos pés do pai, apenas desejava receber abrigo como jornaleiro. No entanto, segundo o relato inspirado, não pôde completar sua confissão e petição premeditada. Em muda eloqüência, os braços do pai o envolveram e estreitaram com tamanha afeição de amor, que dissiparam tôdas as dúvidas quanto a sua aceitação como filho. Perdeu tôda a argumentação para arrazoar com o pai sobre os bens esbanjados, sua condição estropiada. Tão-sòmente creu no amor do pai.
Compreendendo nada ser possível fazer para nos justificar, assoma espontânea e insistente, a inquiridora pergunta: “Que devo fazer para que seja salvo?” (Atos 16:30.) A resposta aponta para o tôpo do Calvário, onde um dia inesquecível sangrenta cruz fôra erguida: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo.” (Vs. 31.) Não podendo resistir a esta estupenda manifestação de graça, caímos genuflexos e exclamamos: “Eu creio, ajuda-me na minha falta de fé.” (S. Mar. 9:24.)
“A fé que é para salvação não é uma fé casual, não é o mero assentimento do intelecto, é a crença arraigada no coração, que abraça a Cristo como Salvador pessoal, com a certeza de que Êle pode salvar perfeitamente aos que por Êle se chegam a Deus. Crer que Êle salve a outros, mas não vos salvará a vós não é fé genuína; mas quando a alma se apóia em Cristo como a única esperança de salvação, então se manifesta fé genuína.” — Mensagens Escolhidas, Vol. 1, pág. 391.
- d. (Rom. 5:9) A fé nos induz a aceitar o sangue de Cristo, o meio justificador. O pródigo reconheceu não possuir méritos para ser recebido como filho, queria apenas ser servo. Todavia, a grandiosa manifestação de graça do pai, fê-lo quedar mudo e maravilhado. Recebeu as vestes de filho, não por méritos, mas pela fé no amor do pai. Sua ingratidão fôra enorme, contudo o amor perdoou a culpa e pagou o resgate. Humilhado e contrito recebe a filiação para a qual não pôde apresentar mérito algum.
A parábola culmina com a morte de um novilho cevado, o preço do resgate: “Porque êste meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.” (S. Luc. 15:24.) Porque sem “derramamento de sangue não há remissão.” (Heb. 9:22.)
Assim, pela fé confessamos os nossos pecados e o sangue de Jesus nos purifica de tôda a injustiça. (I S. João 1:9.) Lavados no sangue de Jesus, somos envolvidos em Sua justiça e considerados como nunca havendo pecado, e Deus nos declara justos. “O Senhor imputa ao crente a justiça de Cristo e perante o universo o pronuncia justo.” “A imputação da justiça de Cristo vem mediante a fé justificadora.” — Mensagens Escolhidas, Vol. 1, págs. 392 e 397.
e) Aceitando o sangue de Jesus, sentimos a necessidade em dar expressão ao nosso amor. O sangue revela-nos o preço de resgate, pago para nos remir da condenação da Lei; mostra-nos o quanto pesou no coração de nosso amante Pai um ato de desobediência, e somos induzidos a amar, demonstrando-o pela obediência à Lei. “Esta fé leva seu possuidor a colocar em Cristo tôdas as afeições da alma; seu entendimento fica sob o controle do Espírito Santo, e seu caráter é moldado segundo a semelhança divina. Sua fé não é morta, mas sim que opera por amor, e o leva a contemplar a formosura de Cristo, e a tornar-se semelhante ao caráter divino.” — Mensagens Escolhidas, Vol. 1, págs. 391 e 392.
Desejamos dar ênfase a alguns pontos nesta altura: Pela fé no sangue de Jesus, Deus nos declara justos, isto é, em harmonia com a justiça. Portanto precisamos saber o que é a justiça.
Citando Salmo 14, o apóstolo Paulo diz em Rom. 3:10: “… não há justo, nem sequer
um.” Por que não há um justo sequer? Paulo responde no verso 23: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.” Sim, não há um justo porque todos pecaram. Vêm-nos a pergunta: o que é pecado? O apóstolo João responde em sua primeira carta, cap. 3 verso 4: “Todo aquêle que pratica o pecado, também transgride a lei: porque o pecado é a transgressão da Lei.” Portanto pecado é a desobediência aos ditames da Lei. Mas, o que é a Lei? Em Sal. 119:144 e 172 temos a seguinte categórica afirmação: “Eterna é a justiça dos Teus testemunhos . .e “ . . . todo os Teus mandamentos são justiça.” Logo, a Lei é a justiça eterna.
Em Rom. 6:18, Paulo faz esta importante declaração: “e, uma vez libertados do pecado, fôstes feitos servos da justiça.” Portanto temos: Pecado é a transgressão da Lei; a Lei é a justiça eterna; libertados do pecado somos feitos servos da justiça, seja, servos da Lei.
Para haver a permuta de escravos do pecado para servos da justiça, a questão é: Quem nos justifica? A Lei? Respondemos categoricamente: NÃO! A Lei é a justiça eterna em código, e um código não pode justificar. A justificação implica num ato, e ato é a obra de um ser consciente, inteligente e pensante. Então, quem nos justifica? Paulo responde em Rom. 3:24: “Sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.” Portanto a justificação é um pronunciamento de Deus a favor do pecador penitente. Somos justificados por um ato de graça da parte de Deus mediante Cristo Jesus nosso Senhor, a quem o profeta Jeremias assim identifica: “Será êste o seu nome, com que será chamado: O SENHOR JUSTIÇA NOSSA.” (Jer. 23:6.) O sangue de Jesus remove os nossos pecados mediante a fé, e por graça, Deus nos declara justos, isto é, em harmonia com a justiça — a Lei.
Aquêle que pagou o preço de nossa justificação diz em amorosa ordem: “Se Me amais, guardareis os Meus mandamentos.” S. João 14:15. E os mandamentos de Jesus são os mandamentos de Deus, porque Êle e o Pai são um. (S. João 10:30.) Não admitindo a possibilidade de duas leis em oposição. Caso fôsse real, teríamos no céu dois reinos. Em verdade, como Deus juntamente com o Pai, Cristo é o autor da Lei. Em Isa. 33:22, o profeta falando de Cristo, declara: “Porque o Senhor é o nosso juiz; o Senhor é o nosso Legislador, o Senhor é o nosso rei; Êle nos salvará.” “O mesmo Cristo dera tanto a lei moral, como a cerimonial.” — O Desejado de Todas as Nações, pág. 255.
Assim temos, na Lei a justiça codificada; em Cristo a justiça personificada. Ampliando, Deus envolvendo a Trindade, é a justiça. Nossa mente finita, porém, jamais alcançaria as orlas da justiça divina como pessoa, sem o devido esclarecimento. Para isto foi dada a Lei: “A lei de Deus é tão sagrada como Êle próprio. É uma revelação de Sua vontade, uma transcrição de Seu caráter, expressão do amor e sabedoria divinos.” — Patriarcas e Profetas, pág. 44. A Lei é a expressão perfeita do perfeito caráter de Deus o Pai, de Cristo, Deus o Filho, e do Espírito Santo.