“Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus.” II Crôn. 20:15.

Nas cidades grandes o tempo de que dispõe o povo é disputado febril e devastadoramente. Em bom português: Evangelista algum tem a mesma capacidade de atrair a atenção numa cidade como o Rio de Janeiro ou S. Paulo, que êle tem de consegui-lo numa cidade menor. Apesar da publicidade especial que se faça, uma campanha de evangelização numa metrópole tende a ser absorvida por multidão de acontecimentos seculares.

Nestas circunstâncias, que faremos? Recuaremos, abandonando as cidades grandes, por motivo de suas inerentes complexidades e desafios?

O ânimo e a determinação com que atacamos a evangelização urbana, bem podem determinar o crescimento futuro da igreja. Calcula-se que em 1980 a grande maioria do povo estará vivendo nas cidades grandes. A igreja que relaciona eficazmente seu programa evangelístico com a área metropolitana não só alcançará as massas com a sua mensagem mas também se manterá em crescimento.

Nosso Senhor passou boa parte do tempo nas cidades dos Seus dias. Amava particularmente Jerusalém. Regista a Escritura que Êle duas vêzes chorou, uma vez por ocasião da morte de Lázaro e a outra sôbre a cidade que amava.

Paulo também baseava suas estratégias evangelísticas nas cidades-chave de seu tempo. Qual sábio general promoveu o trabalho em Jerusalém, Antioquia, Éfeso, Corinto, Tessalônica e outras cidades, tornando-as baluartes para a expansão de suas operações.

Possuía-o também a paixão de pregar a mensagem da cruz em Roma — o eixo do império. Realizando afinal êsse desejo, escreveu de Roma: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César.” Filip. 4:22.

Eis aí a evangelização metropolitana em seu ponto mais alto. Paulo plantou o estandarte de Cristo não só na cidade principal do império, mas também no lar principal daquela cidade.

Além dos exemplos citados, Ellen G. White tem muito a dizer acerca de nossa responsabilidade em relação às cidades grandes (Evangelismo, págs. 25-44, 384-406). Qualquer que leia essas impressionantes mensagens verá claro o que Deus deseja que façamos nas cidades grandes. Por certo que o propósito de Deus é tudo, menos um êxodo em massa, da igreja para os subúrbios.

Consoantemente, tôda vez que consideramos a evangelização metropolitana, deparam-se-nos três fatores, em alto relêvo. Primeiro que tudo, qualquer medida de êxito numa campanha citadina requer correspondentemente mais poder do Espírito Santo, mais oração unida, mais testemunhar de casa em casa por fiéis membros leigos, mais expressa compaixão para com os pobres, e mais interêsse nos problemas que assaltam o solitário habitante de apartamento e o sofrido morador dos guetos ou favelas. Em suma: isto requer um interêsse cristão genuíno e perseverante no indivíduo muito antes do início da campanha.

Em segundo lugar, requer-se mais tempo para planejar, orar e preparar-se para uma campanha de cidade grande, do que se gasta na campanha propriamente dita. A propósito: uma campanha de cidade grande não termina quando o evangelista cessa a pregação. A terminação da campanha de pregação é o comêço de um bem planejado e eficiente trabalho de cuidar dos interêsses. Isto é tão decisivo, para o êxito da campanha, como o preparo para ela.

Uma campanha evangelística de cidade grande, afinal, requer o uso de todos os recursos que o Céu e a igreja possam prover. Por certo que temos que tomar em conta a Deus e ao Seu conselho, juntamente com tôdas as atividades da igreja, a cada estágio do planejamento e da execução. Em uma cidade grande, mais que em qualquer outro lugar, homem algum é uma ilha. É numa campanha de evangelização de cidade grande que nos apercebemos vivamente de que “a batalha não é vossa, mas do Senhor.”

Sem violentar seu conteúdo bíblico e objetivos, na evangelização citadina poder-se-ão acentuar as preocupações legítimas do público. Mais que outra qualquer geração, preocupa-se a atual com os jovens. Qualquer organização que participe dessa preocupação com os jovens de hoje, atrai imediatamente a atenção do público. Na maioria das vêzes essa espécie de atenção sobrepuja a multidão de atividade secular que de ordinário absorve a publicidade evangelística que se costuma fazer.

Por que não usar as maneiras que a igreja organizou cuidadosamente para expressar sua preocupação com os pré-adolescentes e adolescentes, num preparo de longo alcance para a evangelização urbana?

Onde fôr possível, as Escolas Cristãs de Férias, os acampamentos, as clínicas de Deixar de Fumar em Cinco Dias e as classes de enfermagem doméstica podem ser suplementados por classes de auxílio às crianças paraplégicas ou outras, classes industriais para meninos, classes de trabalhos domésticos para meninas e clínicas de conselhos aos pais e adultos jovens acêrca do bem-estar de seus filhos.

É evidente que essa espécie de programa requer a coordenada cooperação do pessoal das atividades educacionais, médicas e de publicações. Seria possível que semelhante ação de uma comunidade religiosa escapasse à atenção dos líderes comerciais, sociais e religiosos da cidade?

Dificilmente!

Qualquer programa que contribua para formar cidadãos de responsabilidade e que promova o respeito às leis e à dignidade humana, atrairá forçosamente a atenção dos líderes cívicos. Sem que o saibamos, homens e mulheres que ocupam altas posições, muitas vêzes elogiam a mensagem evangélica e a investigam, depois de testemunhar nossa preocupação pelos menos afortunados.

Enquanto essa demonstração de cristianismo prático esteje em andamento, os colportores-evangelistas poderão empenhar-se numa saturação maciça da zona, com literatura evangélica adequada, ampliada pelo movimento da “A Bíblia Fala,” dos membros leigos. Êsses dedicados obreiros visitam mais lares e oram com mais pessoas do que qualquer outro grupo de obreiros entre nós. Sua participação na evangelização citadina é indispensável.

Portanto, quando o evangelho é proclamado com semelhante alicerce, podemos estar razoàvelmente certos de que a mensagem irá ter alto e bom som ao público em geral. Possivelmente é a primeira vez que êles não só ouvem mas mesmo vêem o evangelho eterno na prática.

Que é que nos detém?

Bàsicamente nossas congregações citadinas se ressentem da falta da dinâmica evangelística e precisam reaver a confiança em seu Senhor na mensagem divina para nosso tempo, e em si mesmos. Em outras palavras, as igrejas carecem de um despertamento, um avivamento. Sob a influência das impressionantes pregações bíblicas e da guia do Espírito Santo, nossas igrejas citadinas (e tôdas as outras, enfim) precisam ser preparadas, educadas e fortalecidas antes de se poderem dedicar aos que necessitam de seu auxílio.

Em vista disso, as uniões e associações locais talvez precisem de comissões de inspeção que definam de nôvo, adequadamente, sua missão evangelística citadina e seus objetivos. Talvez julguem necessário reformular sua estrutura evangelística em relação às necessidades do povo das cidades, de modo que os testemunhos evangelísticos verbais repousem sôbre base sólida de ação missionária intensiva.

Participação, e não emaranhamento deve ser a divisa das igrejas citadinas. Cada mesa da Associação e comissão da igreja deve constantemente buscar o melhor método de apresentar um equilibrado regime do amor divino, ao maior número de pessoas num distrito urbano. A evangelização numa cidade grande é programa do ano todo.

Caso falhe um método dado, não devem os líderes da Associação e da igreja hesitar em elaborar outro método de comunicação do evangelho. Em alguns distritos urbanos recolheu-se boa colheita trabalhando pelos de origem estrangeira. A experiência demonstra que os grupos minoritários correspondem de pronto à bondade cristã e aos apelos do evangelho. Portanto, de preferência a passar de nôvo pelo solo pedregoso, por que não lançar a semente do evangelho em solo mais fértil?

Mas, seja qual fôr o método usado, seja êle de modo a dar a impressão de que êsse pregador e sua igreja se preocupam com o indivíduo, tanto antes como depois que êle se integra na igreja. Todos nós precisamos ter em mente que sòmente quando se sente o amor a mensagem é ouvida. —The Ministry, jan., 1970.