Há quase 2.000 anos, um homem solitário decidiu fazer uma viagem entre Jerusalém e Jericó. A estrada que tomou foi um desfiladeiro rochoso e traiçoeiro que descia 9.700 metros numa extensão de 33 km através de alguns dos piores trechos do deserto inabitável da Judéia.
Não era o único caminho entre Jerusalém e Jericó mas era o mais direto. Era também o mais perigoso, pois o terreno natural apresentava muitos esconderijos para os ladrões e os criminosos.
De fato, a estrada era tão notória que foi chamada por muitos séculos “O Caminho de Sangue.” Mas neste dia êsse homem estava com muita pressa. Êle arriscou sua sorte e começou a sua viagem. Não havia viajado muito quando de repente, foi atacado por ladrões.
Foi roubado, atacado e deixado quase morto. Então, a Bíblia diz: S. Luc. 10:31-34.
Esta história, narrada por Jesus Cristo tem sido uma das mais conhecidas de suas parábolas. Nas palavras de um teólogo famoso: “Esta parábola tem sido a consolação para o viajante, o sofredor, o proscrito e herege em cada época e país.” O Desejado também relata que esta parábola não era uma cena imaginária mas uma ocorrência verdadeira, que era bem conhecida em Jericó e em Jerusalém.
Alguém pode pensar que esta história constitua um texto pouco próprio para uma ocasião especial como esta noite. O ponto que desejo enfatizar é que passamos tanto tempo discutindo o papel do Bom Samaritano que esquecemos outros detalhes da parábola.
Por exemplo: o judeu deixado quase morto, ao lado do caminho, significa os homens, em geral perdidos e roubados de sua imortalidade pelo diabo e seus anjos. O sacerdote e o levita eram membros oficiais do ministério organizado daquela época e mesmo assim, êles negligenciaram justamente a obra que o Senhor os incumbira de fazer. Falharam no seu ministério e’ no fim um leigo foi deixado a fazer o serviço que era dêles. O fato tornou-se ainda mais grave porque o samaritano não era ortodoxo — Era um pagão meio convertido. Que Deus tenha misericórdia de nós hoje, se por acaso, devido à nossa falha no ministério, pecadores fora da igreja, devam fazer a obra que a nós está sendo confiada. Um comentarista assim coloca esta questão de maneira muito hábil:
“Temos aqui a heresia com humanidade e a ortodoxia sem humanidade.”
Mas, hoje à noite gostaria que vocês consideras em por que o sacerdote e o levita falharam no seu ministério. O que aconteceu? Quais foram as razões por que falharam tão redondamente?
Em primeiro lugar, o sacerdote e o levita falharam por que tiveram uma concepção errada do ministério. Para êles, ministrar era fazer, fazer sempre, fazer em prol da edificação de uma grande organização eclesiástica. Para êles, o ministério consistia em mera atividade nas funções da igreja. O livro Parábolas de Jesus, pág. 382, conta-nos que ambos, o sacerdote e o levita, estavam voltando de fazer o serviço a êles designado no templo em Jerusalém. Já tinham passado uma semana oferecendo os sacrifícios, e cuidando dos deveres do templo.
O fato de que ambos escolhessem êste caminho perigoso quando uma estrada, via Belém, existia segura, embora mais longa, indica que estavam com pressa para voltar aos seus lares. Quando os sacerdotes e levitas não estavam de serviço no templo, êles serviam como autoridades da lei nas assembléias do povo. Dirigiam os serviços das sinagogas e faziam conferências para o povo. Possivelmente tinham de assistir a comissão de sua sinagoga local naquele dia, ou talvez tinham um sermão para preparar. Foi com grande inquietude mental que descobriram o homem ferido no caminho. O Espírito de Profecia diz, que, para o sacerdote e o levita ajudarem o ferido não era um serviço agradável. Coberto de tanto sangue e lama, era impossível descobrir se êle estava morto ou não. Tocar um corpo morto teria significado sete dias de poluição ritualista. Como poderiam sofrer um pêso tão indesejável quando tinham tanto que fazer? Além disso, aos funcionários do templo não era permitido tocar em um cadáver. Por isso foi muito fácil para êles evitar seu óbvio dever e passar de lado o problema. E assim é hoje. Muitos ministros falham em sua vocação porque não compreendem o verdadeiro propósito do ministério.
No protestantismo de hoje, o papel do ministro, de pregador da justiça tem sido perdido de vista.
Um jovem ministro, três ou quatro anos atrás, nos Estados Unidos recebeu esta carta de uma mulher desconhecida:
“Poderia o senhor, visitar meu genro que está no Hospital Público, pertinho de sua cidade? Minha filha fugiu de casa alguns anos atrás e casou-se com êle. Desde então, ela não mais desejou entrar em contato conosco. Agora tenho ouvido que seu marido está morrendo de câncer e tem sòmente algum tempo de vida. Poderia o senhor visitá-lo porque êle não conhece a verdade.”
Tal pedido desesperado devia ter recebido absoluta prioridade sôbre tudo mais. Mas o ministro tinha tanto que fazer! Sua igreja estava em meio de um programa de edificação. Tinha um sermão importante por preparar para a Associação local de pais e mestres, bem como outros deveres. Aquela carta ficou em cima de sua escrivaninha por quase 10 dias, antes que êle finalmente fôsse ao Hospital tão-sòmente para descobrir que o homem havia falecido 2 dias antes. Atordoado e abatido pela descoberta do seu êrro, o ministro saiu do Hospital. Tinha estado tão atarefado com a organização da igreja que, como o sacerdote e o levita, quando achou realmente uma alma em necessidade êle a pôs de lado.
Um dos perigos maiores dêste ministério moderno, é que os deveres externos da organização, os alvos e mais alvos que são jogados às costas do ministro são considerados como um fim em si mesmos enquanto que os verdadeiros deveres para com as almas ao redor de nós não são atendidos. Beneficência Social, págs. 46 e 47 diz: “Muitos olham com indiferença e desdém os que arruinaram o templo da alma . . . Estão trabalhando, crêem na causa de Cristo, e procuram empreender algo de valor. Sentem que estão fazendo grande obra e não se podem deter para notar as vicissitudes do necessitado e do infeliz . . . Apesar disso acham que tudo isto é justificado, porque estão cuidando em promover a causa de Cristo.”
A natureza essencial do ministro não é administrativa, social, educativa ou política, mas espiritual. O ministro hoje é chamado um pastor — da palavra latina “pascere” que quer dizer “alimentar.” O ministro verdadeiro alimenta seu rebanho. Êle prega a palavra. “Insta quer seja oportuno, quer não. Corrige, repreende, exorta com tôda a longanimidade e doutrina.” (II Tim. 4:2.)
No século XIX, na Inglaterra, o ministro foi chamado o “cura,” porque a vocação dêle era a cura das almas. “Porque os sãos não precisam de médicos e sim os doentes.”
O ministro é antes de mais nada, um líder espiritual que educa, aconselha e encoraja o crescimento espiritual de sua congregação. Êle é um médico espiritual — o médico da alma. A Bíblia chama seu serviço “O Ministério da Palavra” (Atos 6:4), “O Ministério da Reconciliação” (II Cor. 5:18), “O Ministério para testemunhar o evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24).
Precisamos de uma verdadeira fome por almas. E. G. White escreveu: “Nossa preocupação maior deve ser . . . a salvação de almas e para conseguirmos isso, devemos fazer tudo que estiver ao nosso alcance.” Precisamos uma fome por almas como Martinho Lutero teve. Como pastor, professor e reformador teve bastante deveres mas ainda assim, foi dito dêle: “Êle nunca perdeu de vista a alma individual.”
Precisamos ter a fome por almas que João Wesley teve quando fundou seu “Clube Santo” para a salvação dos seus colegas no Seminário.
Precisamos a atitude de Ricardo Baxter, o pregador puritano, que escreveu: “Estarmos procurando suster o mundo, salvá-lo da maldição de Deus, aperfeiçoar a criação, atingir os meios da redenção de Cristo.”
Meus alunos, com relação a tôda a organização e promoção que vocês devam fazer, estas coisas são uma parte do ministério — Sim. Elas são muito importantes — Sim. Mas, elas não são fundamentais. Elas são meios para os fins. Mas não o fim em si mesmas. A verdadeira finalidade do ministério é criar a imagem de Cristo no povo. “Meus filhos” escreveu Paulo aos Gálatas, “porque de nôvo sofro as dores de parto, até ser Cristo formado em vós” (Gál. 4:6). Isto é ministério.
Em segundo lugar, o sacerdote e o levita falharam em seu ministério porque êles não sabiam como tornar prática a sua religião.
Creio que o compositor inglês do século 19, Vaughan Williams, descreveu o dilema dêles bem como o seu próprio, quando disse: “É um problema eterno que confronta todos aquêles que sentem que têm o impulso criador; devo isolar-me do mundo para seguir as ordens da minha consciência artística? ou descerei ao mundo dos homens para mostrar-lhes o que tenho aprendido sôbre a eternidade e a beleza?”
O sacerdote e o levita falharam porque êles nunca puderam descer ao mundo dos homens para solver os problemas práticos do homem. Sabiam tudo sôbre teologia sistemática, mas não sabiam nada sôbre teologia aplicada. Gostavam de especular sôbre o hipotético como quando chegaram a Jesus com a pergunta: “Uma mulher teve sete maridos, os quais morreram um após outro. Qual dêles será o seu marido no Céu?” Êles gastavam tempo em questões triviais, a exemplo dos discípulos, que podiam ignorar as necessidades óbvias de um homem doente e preocupar-se com a questão inútil: “Quem pecou, êste ou os seus pais?”
Eram famosos por seus longos discursos, argumentos complicados de lógica fraca, apoiada por muitas citações da tradição. Qualquer pessoa pode ler no Mishna e Talmude o método estereotipado que usavam na sua pregação. Cada regra de fé é introduzida em geral assim: “Rabino Bem Zacai disse que Rabino Bem Joana disse que Rabino Gamaliel disse que Rabino Helel disse,’’ e assim por diante. Mas o fato é que nada disso ajudava espiritualmente ao povo.
Acho que temos muitos sacerdotes e levitas em nossos púlpitos cristãos hoje também. Homens cujos sermões não são mais do que estudos teológicos pobres sobre pontos insignificantes de doutrina que nada tem a ver com as necessidades espirituais do povo. Como o pregador Harry Emerson Fondech disse: “Sòmente o pregador continua, ainda hoje, a pensar que o povo vai à igreja ansioso desesperadamente por descobrir o que aconteceu aos jebuseus.”
Outros ministros, pensam que devem ser jornalistas no púlpito, informando à sua congregação sôbre as últimas notícias do rádio e da televisão. Mas isso também é inútil. “Somos mandados” escreveu um teólogo, “não para pregar sociologia mas salvação; não para pregar economia mas evangelismo; não cultura mas conversão . . . não uma organização nova mas uma criação nova; não democracia mas o evangelho; não civilização mas Jesus Cristo. Somos embaixadores, não diplomatas.”
Outros há, todavia que têm alguma coisa para dizer e que vale a pena. Mas, não raro êles a escondem por trás de uma linguagem teológica que a maioria do povo não pode compreender.
Um diretor duma colônia de férias para jovens, uma vez, fêz um estudo sôbre o conhecimento religioso dos rapazes e môças que freqüentaram o campo durante um período de 3 anos. 70% dêstes jovens admitiram que não compreendiam bem, têrmos comuns usados no púlpito tais como Graça, Justiça, Redenção, Salvação, Justificação e Santificação.
Ministros perdem preciosas almas, muitas vêzes, porque êles não falam a elas na sua linguagem própria. Tomai por exemplo o pedido comum: “Dá o teu coração ao Senhor.”
Um leigo uma vez perguntou: “Como posso fazer isto? Meu coração é um músculo. Posso cortá-lo e colocá-lo na cesta de ofertas?” Esta é a razão pela qual os evangelistas, em geral, acompanham tal apêlo com o convite para que venham à frente. Dão assim ao povo alguma coisa tangível para fazer. Se tão-sòmente explicássemos que na Bíblia, quando os judeus usavam a palavra “coração,” queriam realmente dizer “mente”! Para êles, a mente era consciência, a sede da vontade, a sede de tôda a ação e da conduta. Quando dizemos “dá o teu coração ao Senhor” realmente estamos dizendo: “Dá o controle da tua consciência, de tua vontade e de tua conduta ao poder do Espírito Santo.” Desta forma, o povo nos pode entender melhor.
Agora vou dizer alguma coisa chocante a vocês. Já temos gasto um ano estudando teologia sistemática. Temos estudado entre outras coisas o existencialismo, de Schleiremocher, o liberalismo de Rodolfo Bultmann, e a neo-ortodoxia de Kari Barth: Em certo sentido quero que vocês esqueçam completamente êsses homens. O membro comum da igreja nunca ouviu falar a respeito dêstes homens. Como um leigo escreveu: “Precisamos a linguagem do povo na bôca do erudito, isto é, precisamos guardar a teologia profunda que temos estudado neste ano, mas agora, precisamos descer ao mundo dos homens, para colocar êstes pensamentos numa linguagem que os leigos possam entender.
Se não pudermos fazer isto, seremos como o sacerdote e o levita que sabiam tanta teologia especulativa mas não sabiam como realmente solver os problemas do homem.
Um filósofo falou certa vez: “Cada homem é um problema, senão a outros, pelos menos a si mesmo.” Se vocês tiverem 100 membros na sua congregação no sábado pela manhã, terão pelo menos 100 problemas — emoções confusas, complexos, mêdos, ansiedades, preconceitos, ciúmes, pecados e outros problemas. Cada sermão, sem exceção, deve ter como seu objetivo principal a solução de algum problema que tenha perturbado a mente dos fiéis e pesado na consciência da congregação. Cada sermão deve ser como psicoterapia de grupo em escala de massas.
Sinto pesar pelo pregador negligente que disse: “Minha responsabilidade é simplesmente explicar as doutrinas principais da nossa igreja e o dever do povo é aplicá-las.”
Meus alunos, se não podemos explicar ao povo como aplicar o evangelho, para solver seus problemas pessoais, então, como o sacerdote e o levita seremos também culpados de pregar uma teologia irrelevante, afastada completamente das necessidades verdadeiras do povo.
Em terceiro lugar, o sacerdote e o levita falharam no seu ministério porque não tinham nenhum amor verdadeiro pelo povo. O Desejado de Tôdas as Nações relata que:
“Os sacerdotes gloriavam-se de sua piedade; pretendiam ser os guardas do povo; eram, no entanto, faltos de simpatia e compaixão. O pobre, o doente e o moribundo em vão suplicavam favor. Seus sofrimentos não despertavam piedade no coração dos sacerdotes.”
Esta falha de amor verdadeiro entre os sacerdotes e os levitas pode ser vista, sobretudo, no seu orgulho. Alguém disse: “O ministro orgulhoso é um ladrão. Êle rouba a glória devida a Deus.” Deus disse: “A Minha glória, pois, não a darei a outrem.” (Isa. 42:8.)
O sacerdote e o levita magnificavam sua posição. Tinham orgulho de sua suposta autoridade. Tinham um sentido de superioridade que criava grande vácuo entre êles e o povo.
Marjorie Lewis Lloyd, no seu livro “Love on Fire,’’ preservou um poema maravilhoso entitulado “O Êrro do Pregador.”
O poema conta a história de um pregador que se sentia tão santo que fêz o seu escritório na tôrre da igreja para estar mais próximo de Deus. Por muitos anos ficou lá, comungando com Deus, escrevendo seus sermões e cada sábado os jogava lá de cima, para o povo embaixo. Um dia, quando já velho, Deus lhe disse: “Desça e morra.” O ministro exclamou: “Onde Tu estás, ó Deus?” E Deus respondeu: “Estou embaixo, aqui entre o Meu povo!”
Meus alunos, precisamos descer e ficar entre o povo de Deus. Fala-se demais sôbre o fato de o pastor ser chamado na Bíblia um bispo, isto é, um supervisor. Um ministro não está acima da congregação, êle é no máximo um dos da congregação, e em certos aspectos êle está abaixo da congregação. Há três palavras gregas no Nôvo Testamento que correspondem a “ministro” e tôdas significam “um servo,” isto é: (a) huperetes —um subordinado; (b) leitourgos — um servo público (esta era a palavra favorita de Paulo para seu ministério); e (c) diáconos — servo.
O apóstolo Paulo escreveu: “Porque não nos pregamos a nós mesmos mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos por amor de Jesus” (II Cor. 4:5). Em outras palavras, o único poder verdadeiro que motiva o ministério é o amor. O ministro, por causa do seu amor, voluntariamente coloca a si mesmo em posição inferior à sua congregação, e a seu serviço para trabalhar para o bem-estar espiritual de todos.
Meus alunos, precisamos descer ao povo e amá-lo mais. Quero crer que a maior queixa dos membros leigos é que o pastor nunca os visita. Foi dito de Jesus: “Êle mesmo sabia o que era a natureza humana.” (S. João 2:25.) E sòmente quando estamos entre o povo no espírito de amor aprendendo a pensar como êles pensam, partilhando as mesmas experiências, as tristezas e alegrias, que podemos, verdadeiramente ajudar o povo em seus problemas.
O Espírito de Profecia aconselha: “Havendo pregado um sermão, a obra do ministro apenas começou. Há um trabalho pessoal para êle fazer. Deverá visitar o povo em seus lares, falando e orando com êles, com fervor e humildade.” — A. A., págs. 363 e 364.
Êste tipo de trabalho o sacerdote e o levita não podiam fazer. O resultado de tal falta trágica foi que seu ministério tornou-se áspero e opressivo. Parábolas de Jesus, pág. 292, diz: “Sobrecarregavam os homens com pesados fardos, obrigando-os à prática de cerimônias que se relacionavam com cada passo da vida. O povo vivia em contínuo desassossêgo porque não podia cumprir tôdas as exigências impostas pelos rabinos.”
Temos ministros hoje que estão constantemente ralhando com o povo e dando-lhe, como diz a gíria, “uma lavada.” Se tão-sòmente êsses pregadores pudessem descer da tôrre e andar entre o povo de Deus, o espírito dêles seria muito diferente. A Bíblia diz em I S. João 4:18: “No amor não existe mêdo; antes, o perfeito amor lança fora o mêdo.”
Paulo, em Filip. 1:16 e 17 menciona dois tipos de pregadores — aquêles que pregam “a Cristo por discórdia” e aquêles que pregam a Cristo por amor. Nunca deveria um ministro manifestar espírito argumentativo e belicoso no púlpito. Certamente numa época quando o amor se esfria de quase todos, devemos ser os primeiros a mostrar amor verdadeiro às nossas congregações.
Em último lugar, houve mais uma razão para a falta do sacerdote e do levita. Falharam no ministério dêles porque tinham perdido sua experiência religiosa. Não tinham nenhuma ligação vital com Deus. A irmã White escreveu: “Nenhum laço ligava os sacerdotes e principais ao seu Deus.” Possivelmente o sacerdote e o levita tinham começado sua carreira como pastôres devotos e sinceros do Senhor, mas de algum modo tinham negligenciado alimentar suas próprias almas até que realmente ficaram mortos espiritualmente. A tragédia de tudo isso era que não descobriram a sua condição verdadeira. O Desejado de Tôdas as Nações diz: “Os próprios sacerdotes que ministravam no templo haviam perdido de vista a significação do serviço que realizavam. Deixaram de olhar além do símbolo para aquilo que êle significava. Apresentando as ofertas sacrificais, eram como atores num palco.” — Pág. 26. O resultado de tal falta era que os sacerdotes e os levitas quase destruíram a imagem de Deus entre o povo.
“Lutando com Deus,” escreveu Ellen G. White, “quão poucos sabem o que isto significa!”
Oh! Vocês dizem: “Começarei minhas devoções particulares quando sair desta escola.” Absolutamente não! Vocês estarão mais ocupados no Campo do que jamais estiveram na Escola. Se vocês não iniciarem as devoções pessoais agora a probabilidade é que vocês nunca a farão.
É possível ser um aluno de teologia e ainda não conhecer a Jesus Cristo como o seu Salvador pessoal. De fato, é possível ser um ministro lá fora e não ser ainda convertido. Há poucos anos um ministro e professor de teologia aceitou a Jesus Cristo pela pregação de Billy Graham. Tinha 73 anos e depois de ir para a frente disse: “Em todos êstes anos que tenho ensinado, pregado e escrito, nunca tive paz nem a garantia de que houvesse nascido de nôvo. Hoje à noite descobri paz pela primeira vez na minha vida!” Que tragédia para nós quando desconhecemos completamente o poder do evangelho que estamos procurando proclamar. A obrigação do ministro na sua vida pessoal é muito grande. Um dia, um ministro bateu à porta da casa de um membro da sua igreja. Uma menina respondeu e quando ela viu o ministro, ela gritou: “Mamãe, Deus está à porta.’’ Tal declaração pode parecer ridícula, mas freqüentemente esquecemos que o ministro é o representante de Deus. Muita gente determina sua concepção de Deus, pelo que pode ver no caráter do seu ministro. Um teólogo escreveu: “Pregar não é meramente dizer alguma coisa, mas fazer alguma coisa; é tornar-se a arena viva, na qual Cristo pessoalmente confronta os homens em juízo e redenção.” “Porque nos tornamos espetáculo,” escreveu Paulo, “ao mundo tanto a anjos como a homens.” (I Cor. 4:9.)
Nunca devemos esquecer que não podemos converter a outros a menos que nós mesmos estejamos convertidos. Como João Crisóstomo lamentou: “Como é possível para um ministro persuadir por meio das suas palavras, quando seus atos estão em oposição à sua doutrina?” O povo quer mais do que uma religião de segunda mão ou uma teologia emprestada. Querem ver pastores com uma experiência de primeira mão com o evangelho.
Em geral, quando o apóstolo Paulo descrevia a história da salvação, êle usava o têrmo “o evangelho,” mas às vêzes usava o têrmo “meu evangelho.” (Rom. 2:16; 16:25 e II Tim. 2:8). Não significava que êle houvesse originado o evangelho ou tivesse feito alguma mudança nêle. O evangelho era seu porque já tinha experimentado pessoalmente o poder salvador da sua graça. Em II Cor. 5:20 Paulo adiciona: “Somos embaixadores em nome de Cristo, como se Deus exortasse por nosso intermédio.” A palavra “embaixador” aqui quer dizer “ser velho,” e veterano de experiência. O pastor, sòmente pode tornar-se um embaixador verdadeiro para Deus, quando se torna um veterano na experiência pessoal em Jesus Cristo.
Isto não significa que o pastor deve ser perfeito. Existiu sòmente um homem perfeito neste mundo. Nem quer isto dizer que o pastor deve ser um anjo. Mas se êle não estabelece um padrão mais alto de piedade do que é achado na maioria dos leigos, então o ministério é escandalizado e sua congregação dirá: “Médico, cura-te a ti mesmo.”
Nas palavras do Bispo Quoyle — Pregar não é arte de preparar um sermão e dizê-lo à congregação. Pregar é a arte de formar um pregador e apresentá-lo ao povo. Mas a história não termina aqui, porque segundo a parábola:
“Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e vendo-o compadeceu-se dêle. E chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhe óleo e vinho e colocando-o sôbre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dêle.” S. Luc. 10:33 e 34.
Era uma coisa perigosa o que êle fêz. Êle também tinha razões para passar de lado bem depressa. Não tinha nenhuma maneira de saber quão perto os ladrões realmente estavam. Possivelmente estavam esperando atacar uma segunda vítima. Mas êle não deu valor qualquer à sua própria segurança. Êle esqueceu completamente de si mesmo nesse serviço de amor. Ambos, O Desejado de Tôdas as Nações e Parábolas de Jesus, contam-nos que o bom samaritano era um símbolo do ministério de Jesus Cristo.
Hoje, o exemplo supremo para o ministério emular, e o maior de todos os ministros — Jesus Cristo. Êle disse a respeito de Si mesmo: “O Espírito do Senhor está sôbre Mim pelo que Me ungiu para evangelizar aos pobre; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos” (S. Luc. 10:11). Jesus chamou a Si mesmo “O Bom Pastor” (S. João 10:11), Pedro chamou-O “O Supremo Pastor” (I S. Ped. 5:4). Mas para todos os homens Êle é o grande médico espiritual — o bálsamo de Gileade para curar doentes do pecado.
No fim da parábola, nas suas últimas palavras ao homem que era um intérprete da lei, isto é, um teólogo, Jesus Cristo se referiu ao Bom Samaritano, e disse: “Vai, e procede tu de igual modo.” (S. Luc. 10:37.) Em outras palavras: “Vai, e imita aquêle ministério.”
Meus alunos, precisamos imitar o ministério de Jesus. Precisamos fazer a obra espiritual que Êle fazia. Em nossos sermões precisamos alimentar o rebanho como Êle fazia. Precisamos humilhar-nos e trabalhar entre o povo de Deus para fazer um serviço pessoal. Por causa das nossas congregações precisamos santificar-nos, como Êle santificava a Si mesmo.
“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Êle . . . antes a Si mesmo Se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-Se em semelhança de homem, e reconhecido em figura humana, a Si mesmo se humilhou tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.” (Filip. 2:5-8). Sobretudo, por causa do Evangelho, precisamos emular a abnegação de Jesus Cristo. Como o patriota inglês disse a caminho da forca.
“Se eu cresse no evangelho, eu andaria sôbre os meus joelhos e mãos, em cacos de vidro, e através da Inglaterra, a fim de contar aos homens que êsse evangelho é a verdade.”
Hoje à noite, gostaria de lançar-vos um desafio. O fim está muito perto. Não temos nenhum tempo a perder. A necessidade maior nestas últimas horas é a de um ministério dedicado que coloque o fervor do evangelho no coração dos homens.
Creio que Platão, ignorantemente, falou sôbre a pregação do evangelho quando descreveu o ensino da filosofia como “a chama que salta de orador a orador até que a alma mesma se incendeie.”
Pois foi João Batista que disse: “Eu vos batizo com água . . . mas Aquêle que vem depois de mim . . . vos batizará . . . com fogo.” (S. Mat. 3:11).
O grande problema é que muitos pastores tèm sido batizados com água, mas não com fogo.
Oro a Deus que todos vocês sejam batizados com fogo. E oro que sempre seja dito de vossos corações aquilo que foi dito do Santuário nos tempos antigos: “O fogo arderá continuamente sôbre o altar; não se apagará.” (Lev. 6:3.) — Sermão proferido em 10-12-1967, no Instituto Adventista de Ensino, aos formandos do 4.° ano Teológico.