Para a Espôsa do Pastor

Porventura já alguma vez vossos filhos, ao voltarem para casa, se queixaram de seus companheiros de brinquedo, por os haverem chamado “filhos de pastor?” Parece-me que êsse epíteto é-lhes muitas vêzes dado pelos que os classificam como diferentes das outras crianças. Por ser ministro o pai, presume-se que sejam mais santos do que qualquer outra casta, e os excluem da participação em muitas proezas normais da infância. Se participam e não se saem bem, outros os censuram muito mais severamente do que aos seus iguais, pois dêles se espera que façam melhor que os outros.

Às crianças não agrada serem diferentes. É lamentável que, no caso dos filhos de ministros, o povo tenha a tendência de formar uma imagem estereotipada do que deviam ser. É verdade que o comportamento de qualquer criança reflete, para bem ou para mal, a reputação dos pais. O ministro tem uma vocação solene e vasta influência. “O ministro que permite que seus filhos cresçam indisciplinados e desobedientes, verificará que sua influência no púlpito é anulada pela conduta desagradável dos filhos.” — Obreiros Evangélicos, pág. 201.

Nada existe de irrazoável nesta declaração. Não diz que os filhos dos ministros devam ser melhores que os outros. Diz, simplesmente, que o ministro é mais vulnerável do que os outros pais, se negligenciar a educação correta dos filhos.

“O rei em seu trono não tem função mais elevada que a mãe. . . . Ela tem em seu poder modelar o caráter dos filhos, para que estejam capacitados para a vida mais alta, imortal. Um anjo não desejaria missão mais elevada; pois em fazendo sua obra ela está realizando serviço para Deus.” — O Lar Adventista, pág. 231.

Para satisfazer ao repto da maior de suas tarefas, precisa a espôsa do ministro sabedoria divina para se manter na posição rigorosamente exata nesse problema. Como poderá ela proteger o filho das desvantagens de ser mais objeto do olhar público do que as outras crianças? Como poderá ela combater os efeitos detrimentes do tratamento que lhe dão as pessoas que como que o escolhem dentre os outros, observando-o rigorosamente? Há membros da igreja que adulam os filhos do pastor um dia, e no seguinte os criticam acerbamente. Mesmo professores da escola paroquial, não importa quão bem intencionados sejam, às vêzes expressam sua expectação de que os filhos do pastor cumpram de modo superior as tarefas. Isto é malsão, é lamentável.

Com tino e prudência pode a espôsa do ministro fazer muito para atenuar essa influência nociva, vinda de fora do lar. Seu dever mais importante, entretanto, é ajudar a eliminá-la no interior do lar. É fácil tornarem-se o ministro e sua espôsa exageradamente cônscios e preocupados acêrca do comportamento dos filhos, especialmente numa igreja e localidade pequenas, onde a família vive como que em casa de vidro. Nesse ambiente impressionável há o perigo de transmitirem o ministro adventista do sétimo dia e sua espôsa a religião a seus filhos com espírito rígido, dogmático e crítico. Os pais que estejam resolvidos a manter a norma a todo o custo, terão a tendência de esperar demasiado dos filhos e martelar em erros pequeninos e imperfeições infantis. Assim fazendo, criam tensões emocionais insuportáveis no ambiente doméstico. O resultado final é desastroso.

Devem os pais ser seguros e amadurecidos emocionalmente, de modo que aceitem e amem os filhos pelo que são, como pessoas que têm os seus direitos, e não pelo que sejam capazes de fazer para agradar os pais ou honrar o nome da família. Ensinar aos filhos que èles tèm de ser bonzinhos porque o pai é ministro, é incutir um falso senso de valores, e terá efeito oposto ao desejado. Devem èles aprender, por exemplo dos pais, que a única razão de serem bons é por amor aos princípios. Devem os pais amar os filhos o bastante para colocar acima dos seus próprios os verdadeiros interèsses e necessidades dos filhos. Devem criar um ambiente doméstico feliz, repousado, cheio de amor e risos. O lar deve estar livre de ansiosas preocupações, e ser cheio de fé, confiança e respeito mútuo. Como sempre, é o amor a solução. O amadurecido amor cristão assim exemplificado pelos pais, engendrará amor no coração dos filhos. Esta correspondência de amor não pode deixar de produzir em sua vida a obediência desejada. “Nunca vos esqueçais de que deveis tornar o lar alegre e feliz para vós mesmos e para vossos filhos, absorvendo os atributos do Salvador. Se introduzis a Cristo no lar, discernireis o bem do mal. . . . Estareis aptos a ajudar vossos filhos a serem árvores de justiça, dando os frutos do Espírito.” — Idem, pág. 17.

Os encargos maternos tornam-se mais pesados por estar tantas vêzes ausente do lar o espôso. Isto não deveria ser assim, e a Sra. White muito escreveu acêrca da responsabilidade do ministro para com a família (Obreiros Evangélicos, págs. 200-202, “O Ministro no Lar”), Um estudo recente revelou que o ministro protestante passa cêrca de vinte e seis horas por semana com a família (Pastoral Psychology, setembro 1960, pág. 12). Isto inclui as refeições, as saídas com a família, devoções, assistir a TV com os filhos, e ajudá-los nos trabalhos domésticos. Isto representa menos de quatro horas por dia, isto é, bem menos do que passa com os filhos um operário de oito horas de trabalho. Com as crescentes e avassaladoras tentações do corrupto mundo de hoje, os filhos mais do que nunca precisam da estabilizadora influência da presença do pai, e de demonstrações de seu interêsse pessoal nêles.

Certa ocasião, ao serem entrevistadas várias espôsas de ministros que foram felizes na criação dos filhos, tôdas acentuaram quanto lhes tinha valido o haver o esposo planejado cuidadosamente passar algum tempo com cada um dos filhos, e aproveitarem cada momento precioso da união da família. Essas são as paróquias das quais tèm saído jovens ministros que prazerosamente seguem as pegadas de pais queridos e respeitados, assim como uma legião de médicos, enfermeiros, professores e outros que fizeram grandes contribuições em dignos campos de esfôrço humano. Não importa quão tentados se sintam por vêzes os filhos de ministros de julgar que ser apelidados de “filho de pastor” seja um embaraço, a maioria dos que estão em condições de recordar um lar como êsse, confessará que foi alto privilégio.Termino citando palavras de uma notável mãe dentre as espôsas de ministro, conhecida minha. Quando lhe perguntaram a que atribuía a fidelidade de cada um de seus sete filhos à educação recebida na infância, e sua atividade na igreja, respondeu ela: “Tínhamos simplesmente um lar cristão normal, como é a média dos lares. A sinceridade não se ensina — vem por contágio. Nossa divisa era fazer o certo no tempo certo, e lembrar-nos de que um coração cheio de amor é a mais verdadeira sabedoria.” — The Ministry, nov. 1969.