Um homem queixava-se ao seu pastor de que a igreja não parava de pedir.
— Isto está ficando um contínuo dar, dar, dar! — reclamou êle com evidente exacerbação.
Depois de meditar um instante, o pastor respondeu:
— Quero agradecer-lhe por uma das melhores definições que já ouvi do cristianismo.
Se desejássemos condensar os 66 livros que integram o sagrado Cânon, cm um só texto, poderiamos fazê-lo reproduzindo as palavras de Jesus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquêle que nÊle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” S. João 3:16.
Em uma pastoral às igrejas da Galácia, que estavam sendo levadas pelo fermento do “legalismo,” escreveu o apóstolo das nações: “Graça e paz da parte… de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual Se deu a Si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau.” Gál. 1:4.
Registando as agitadas e cruentas batalhas travadas pela Igreja contra a confederação do mal, os historiadores descrevem o admirável e extraordinário heroísmo dos mártires que desassombradamente deram o seu sangue em defesa dos ideais da cruz.
Sim, o Pai DEU o Seu Filho para resgatar o mundo. Jesus DEU a Sua vida para redimir o homem. Os mártires DERAM o seu sangue para testificar do poder redentor do Evangelho. Com efeito, neste verbo — DAR — encontramos uma síntese do Evangelho.
“Dar é viver,” diz o velho brocardo. A lei de servir ao próprio eu é a lei da autodestruição. A lei da renúncia e do sacrifício próprio é a lei da própria conservação.
Quando as células de nosso corpo começam a viver para si apenas, desenvolve-se o câncer e elas em breve destroem todo o corpo. “Não há nada, a não ser o coração egoísta do homem, que viva para si. Nenhum pássaro que fende os ares, nenhum animal que se move sôbre a Terra, deixa de servir a qualquer outra vida…. As flôres exalam a sua fragrância e desdobram a sua beleza em bênçãos ao mundo. O Sol derrama a luz para alegrar a mil mundos. O próprio oceano recebe as correntes de tôda a Terra, mas recebe para dar. Os vapores que lhe ascendem ao seio caem em chuveiros para regar a Terra, a fim de que ela produza e floresça.” — O Desejado de Tôdas as Nações, págs. 13 e 14.
Não podemos viver para nós mesmos. Como Igreja, temos a responsabilidade de dar ao mundo a tríplice mensagem angélica. Se negligenciarmos êste dever, o fogo morrerá nos altares adventistas, a luz perderá o seu fulgor e a determinação de ganhar o mundo para Cristo se apagará.
Uma senhora chegou atrasada à igreja, e a reunião de testemunhos já havia terminado. Decepcionada, exclamou: “Está tudo terminado!” Ouvindo-a em sua exclamação, replicou o pastor: “Não! Os testemunhos na igreja terminaram, mas ainda resta o testemunho que temos que dar ao mundo.”
Com efeito, um mundo ferido pela angústia, perturbado pela perspectiva de sua própria destruição, precisa receber com urgência o testemunho de nossa fé. Disse a serva do Senhor: “Há carência, há miséria e pecado por tôda par-te. ‘De graça recebestes, de graça dai.’” Carta l.a, 1894.
Há alguns anos, as agências telegráficas internacionais divulgaram, em forma lacônica, a seguinte notícia: “Trinta e quatro homens sucumbem lentamente no interior do submarino S-4, submerso nas profundezas do oceano.” Havia ocorrido um acidente, e os desventurados tripulantes estavam aprisionados no fundo do mar ao largo de Provincetown. O angustiado sinal S. O. S. repercutiu em forma dramática, e equipes de socorro surgiram de todos os lados. Um almirante da marinha dos Estados Unidos foi encarregado dos trabalhos de socorro. A nação emocionada acompanhava todos os deta-lhes daquela grande tragédia. As equipes de socorro tudo fizeram para salvar aquêles homens. Um inquérito judicial foi estabelecido a fim de determinar as causas do desastre.
Malgrado todos os esforços, os 34 tripulantes pereceram. O salvamento não os alcançou em tempo.
Mas, enquanto o trabalho de socorro prosseguia, foi estabelecida a comunicação entre os tripulantes aprisionados no interior do submarino e a equipe de socorro, por meio de golpes. A única mensagem transmitida, reiteradas vêzes, pelos homens condenados, foi esta. ‘’Quanto demoram ainda? Quanto demoram ainda?”
Há nesta dramática interrogação uma tragédia pungente e comovedora: “Quanto demoram ainda?” Um por um morreram. Aos poucos os golpes cessavam. A última súplica angustiada foi ouvida: “Quanto — demoram — ainda?”
Há dentro dos extensos limites da Divisão Sul-Americana, multidões submergidas no pecado, homens e mulheres náufragos, prisioneiros do vício e da dúvida. Acaso, não ouvimos a desesperada súplica dessas vítimas que clamam: Estamos condenados! Quanto demoram ainda?”
Descuidaremos a responsabilidade de salvar estas multidões? Deixaremos estas almas sem o testemunho do Evangelho?
Cristo deseja que, como obreiros, partilhemos com outros a esperança que nos anima. Êle nos diz: “De graça recebestes, de graça dai.” S. Mat. 19:8.