Numa das velhas e históricas igrejas de Salvador estava eu, quando um religioso, antecipando a chegada do vigário, apelava aos poucos presentes a que incentivassem o desejo de outras famílias patrocinarem o pagamento de outras missas. Êle se responsabilizara por uma em determinado dia de cada mês; mas eram caras, era necessário que outros ajudassem!
Desci naquela noitinha a ladeira íngreme e tão velha quanto a igreja, com uma perfurante interrogação em minha mente de pastor!
Se uma missa custa tão caro, quanto deveria valer meu sermão?!
Nossos sermões não são pregados em têrmos financeiros, seus objetivos são bem outros; mas suponhamos que êles tivessem que ser pregados na base das missas daquele sacerdote. Quanto valeríam êles?
Num mês temos 4 domingos, 4 sábados e 4 quartas-feiras, isso em geral; portanto doze sermões, mas o primeiro sábado é missionário, cabendo ao pastor uma das partes tão-sòmente, ou às vêzes o sermão; geralmente no mês temos uma visita. Tomemos, por conseguinte, dez sermões por mês. Faze o cálculo dentro de teu salário, e te abismarás com o preço de teu sermão!
É uma realidade; quantas vêzes, lamentàvelmente, há sermões que não valem dois minguados cruzeiros!
Sermões sem objetivo, sem princípio nem fim, um emaranhado de medíocres pensamentos; produzindo mal-estar e dor de cabeça no ouvinte, na ânsia por buscar entender aquilo que o pregador apresenta!
Sermões-barafunda! Isto me leva a pensar no que ouvi uma vez em espírito de galhofa: “Um pregador pediu ao acompanhante que escolhesse o hino final. Êste ouviu atentamente a confusão de frases, e no final não houve outro hino senão ‘Um Dia Êle Esclarecerá.’”
Que valor tem tal sermão? Espiritualmente inexpressivo, financeiramente nulo!
Se nossa subsistência dependesse do gabarito de nossas pregações, como estaríamos vivendo?
Creio que todos estariam se esmerando na sua oficina (escritório), para apresentar o melhor!
Graças a Deus que não vivemos em função do material, mas não podemos divorciar-nos dêsse aspecto enquanto estivermos no mundo.
Graças a Deus que vivemos mais na base do amor pelos perdidos, e é disto que o mundo necessita.
“A época vigente pede homens fortes. Faz-se mister o aparecimento de um Moisés ou de um Elias; grandes e valentes condutores de povos que não pensem no salário, porém que mostrem ao mundo quão longe pode levá-los o amor.” 1
Tenho observado nestes dias conturbados, pregadores atarantados correndo para cima e para baixo, atrás de tudo, menos atrás das almas. São verdadeiras baratas tontas; mas recebem palavras de encômio: “Isso é que é um homem trabalhador!” Eu diria: “Isso é que é um homem descontrolado!”
Um pregador assim, cuida de tudo menos do preparo do seu sermão! É daqueles que rabiscam seu sermão na última hora ou vão ao público para dar um matado estudo bíblico.
Companheiros de luta, observei certa feita um pregador que ao assomar ao púlpito levava um superado livro de esboços, abria-o e lia ao público um daqueles arcaicos sermões. Dirigia êle, portanto, uma igreja fria, doente, caminhando para o túmulo.
João sabia que Deus o chamara para apresentar ao mundo uma mensagem, singular, por isso se esmerou no preparo para desincumbir-se de tão tremenda responsabilidade!
“Quando um homem é enviado de Deus, êle o sabe, e o mundo também o sabe. Dentre tôdas as preparações essenciais para o evangelismo, nada é mais importante do que a preparação do pregador. Precisamos sentir novamente nosso supremo chamado. ”2
“O único homem que vale alguma coisa no ministério é aquêle que não pode nem ousa fazer outra coisa.”3
A igreja necessita que lhe dediquemos parte de nosso programa, estudando e pensando. Ela não está interessada em sermões baratos, pregações arranjadas ao cruzar os batentes do templo; palestras assim qualquer homem pode fazer! Quando a igreja sabe que o pastor não estará pregando, diminui a assistência. Aí está evidenciado que ela confia no preparo do ministro; mas, oh como é lamentável quando a igreja sabe que o pastor pregará e mesmo assim não vai! Que valor está tendo teu sermão? É tempo de pensar sèriamente.
“Davi disse em II Samuel 24:24: ‘Não oferecerei ao Senhor meu Deus holocaustos que me não custem nada.’ Trazer um saco de ossos secos à igreja, na manhã de sábado, é um insulto ao povo que durante tôda a semana batalhou contra a tentação e lutou com seus problemas.”4
Sermões baratos produzem cristãos baratos! Deus pede a melhor dádiva; por que nós os pregadores não Lhe damos o melhor?
Mais estudo e mais meditação produzirão sermões mais fortes e, conseqüentemente, uma igreja mais forte, menos apostasia e mais convicção.
Cuidemos pois, companheiros, para que nossas pregações não sejam um canto fúnebre, mas uma marcha de vitória!
- 1 Rosalee M. Appleby, Melodias da Alvorada, pág. 62.
- 2 Roy Allan Anderson, O Pastor-Evangelista, pág. 46.
- 3 Idem, pág. 47.
- 4 Idem, pág. 289.