IV. Cristo — Único Mediador do Homem

Como Sumo Sacerdote perfeito, que realizou uma propiciação completa pelos pecados de Seu povo, Cristo acha-Se agora à destra de Deus, aplicando a nossa vida os benefícios de Seu perfeito sacrifício expiatório, conforme foi muito bem declarado em páginas anteriores:

“O grande Sacrifício havia sido oferecido e aceito, e o Espírito Santo, que desceu no dia do Pentecostes, levou a mente dos discípulos do santuário terrestre para o celestial, onde Jesus havia entrado com Seu próprio sangue, a fim de derramar sôbre os discípulos os benefícios de Sua expiação.” — Primeiros Escritos, pág. 260.

Êle faz isso como nosso Mediador, pois há “um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (I Tim. 2:5). Ùnicamente por Seu intermédio podemos ter acesso a Deus. Como Deus, Êle é Mediador da Divindade para com o homem perdido; e como homem, Êle é Mediador do homem para com Deus. Seu sacerdócio constitui o único meio de viva comunicação entre Deus e o homem.

Só como sacerdote poderia Êle lidar com o pecado; c foi por isso que Se tornou sacerdote. Como Deus, Jesus não poderia oficiar como sacerdote, porquanto todo sacerdote precisa ser tomado dentre seus irmãos. “Por isso mesmo convinha que, em tôdas as coisas, Se tornasse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote.” Heb. 2:17. Lemos portanto que “todo sumo sacerdote” é “tomado dentre os homens” (Heb. 5:1). Por conseguinte, Seu sacerdócio está estreitamente relacionado com Sua encarnação. Lemos também que Êle, “pelo Espírito eterno, a Si mesmo Se ofereceu sem mácula a Deus” (Heb. 9:14). Cristo não sòmente Se ofereceu na cruz, mas foi o dom de Deus desde a “fundação do mundo” (Efés. 1: 4).

No cenáculo, pouco antes de dirigir-Se para o Jardim do Getsêmani, Êle, o Verbo Eterno, ofereceu ao Pai Sua oração sumo-sacerdotal. Aquêle que partilhara com o Pai a glória fulgurante da Divindade Eterna, apresentou-Lhe os Seus discípulos; e não só a êles, mas a todos os que, por meio do seu ministério, seriam conduzidos ao conhecimento da salvação. Comentando a êsse respeito, Ellen G. White descreve de modo impressionante o que ocorreu então:

“ ‘E Eu já não estou mais no mundo; mas êles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai santo, guarda em Teu nome aquêles que Me deste, para que sejam um assim como Nós.’ ‘E não rogo sòmente por êles, mas também por aquêles que pela sua palavra hão de crer em Mim; para que todos sejam um, . . . para que o mundo conheça que Tu me enviaste a Mim, e que os tens amado a êles como Me tens amado a Mim?

“Assim na linguagem de quem possui autoridade divina, Cristo entrega Sua igreja eleita nos braços do Pai. Como consagrado Sumo Sacerdote, intercede por Seu povo. Como fiel Pastor, reúne Seu rebanho à sombra do Todo-poderoso, no forte e seguro refúgio. Quanto a Si, aguarda-O a derradeira batalha com Satanás, e Êle sai a enfrentá-la.” — O Desejado de Tôdas as Nações, págs. 508 e 509.

V. O Conflito no Getsêmani

Dêsse lugar de comunhão Êle saiu para enfrentar a Satanás numa luta de vida ou morte. Cremos que no Jardim do Getsêmani Êle tomou realmente o nosso lugar, e tornou-Se profundamente consciente, em sentido especial, do fardo dos pecados do mundo.

Nessa hora sombria Êle exclamou: “Minha alma está profundamente triste até à morte.” S. Mat. 26:38. No Jardim, Êle não orou por Seus discípulos mas por Si mesmo. A Escritura declara que Jesus ofereceu, “com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem O podia livrar da morte” (Heb. 5:7). As linhas que seguem acentuam a realidade dêsse momento decisivo:

“Sentia que, pelo pecado, estava sendo separado do Pai. O abismo era tão largo, tão negro, tão profundo, que Seu espirito tremeu diante dêle. Para escapar a essa agonia, não deve exercer Seu poder divino. Como homem, cumpre-Lhe sofrer as conseqüências do pecado do homem. Como homem, deve suportar a ira divina contra a transgressão.“Cristo achava-Se então em atitude diversa daquela em que sempre estivera. Seus sofrimentos podem melhor ser descritos nas palavras do profeta: ‘Ó espada, ergue-te contra o Meu Pastor e contra o Varão que é Meu companheiro, diz o Senhor dos Exércitos? Zac. 13:7. Como substituto e refém do pecador, estava Cristo sofrendo sob a justiça divina. Viu o que significa justiça.” — Idem, pág. 514.