Convidastes-me para dirigir-vos a palavra na solenidade de vossa ordenação para o ministério evangélico. O que poderei dizer em seis minutos, que meus colegas e eu não conseguimos comunicar em seis semestres? Não há mais pérolas didáticas a serem distribuídas. O armário teológico está vazio.

Visto que não posso dizer nada sôbre como ser bem sucedido no ministério, sem repetir o que meus colegas e eu já ensinamos, resolvi falar a respeito do fracasso. Nesta plataforma há peritos na arte de fracassar em ministérios especializados: como fracassar na qualidade de ministro de Educação Cristã; como fracassar como presidente de uma associação; como fracassar como pregador; como fracassar como conselheiro pastoral. Mas trinta anos de experiência em diversas faculdades de teologia tornaram-me uma espécie de perito geral na questão do insucesso ministerial. Desejo fazer algumas observações a respeito.

Um caminho fácil para o fracasso consiste em livrar-se de todos os livros de teologia, algumas semanas após a ordenação. Esquecei tudo a respeito de bibliotecas; fazei parte de algum clube de livros, para manter as aparências; e lede àvidamente apenas o jornal matutino, algumas revistas seculares e os sermões que aparecem em periódicos mensais.

Convém nunca escrever os sermões, formar orações pastorais ou planejar os cultos. Se confiardes na inspiração da noite anterior, podeis — como logo descobrireis — misturar metáforas, usar adjetivos, verbos e advérbios, a torto e a direito, sepultar as idéias sob um amontoado de palavras desconexas, acomodar o Senhor aos últimos acontecimentos do mundo e da igreja, e, em geral, não dizer ou realizar nada que produza maior efeito do que se passásseis quinze ou vinte horas empregando a caneta ou a máquina de escrever.

Há muitas outras maneiras de fracassar no ministério. Conquanto pareçam conduzir a direções diferentes, seu destino é o mesmo.


Quando fordes chamados para uma nova localidade, podeis dizer à congregação que vossos pesados encargos administrativos e a necessidade de estudar tornam impossível seguir o antiquado método de fazer visitas. Quando os membros precisarem de auxílio, terão simplesmente de procurar-vos. Anunciareis as horas regulares em que podereis ser encontrados no escritório, como conselheiro matrimonial, psicólogo, logoterapeuta, operador de curas e outras coisas mais. No entanto, não procurareis travar conhecimento com as pessoas em seus lares, em seu trabalho ou em seus momentos de recreação. O fato de que alguns são bem sucedidos no ministério apesar de seguirem semelhante programa, não invalida a regra.

Por estranho que pareça, inverter êsse procedimento redundará em fracasso quase idêntico. Passai todo o tempo perambulando pelas calçadas de vossa igreja, tomando parte nas reuniões dos jovens, dos homens e das mulheres, assistindo a comissões congregacionais, cívicas e denominacionais, apoiando todos os projetos louváveis que aparecerem e participando de inúmeros banquetes de clubes e agremiações. Isso afastar-vos-á da espôsa e dos filhos, reprimirá a iniciativa por parte da congregação e tomar-vos-á um enfado.

Outra maneira de fracassar no ministério, embora leve algum tempo, é esvaziar o reservatório espiritual sem tomar qualquer providência para reabastecê-lo. Nunca leiais a Bíblia, a não ser na hora da pregação ou quando tiverdes de procurar uma passagem. Orai apenas em público. Passai o tempo conversando. Tornai-vos o centro de todo grupo de pessoas com quem entrardes em contato. Nunca tireis férias autênticas (sempre há púlpitos vagos a serem preenchidos). Evitai terminantemente tôda leitura de biografias. Com o tempo, até os membros menos perspicazes descobrirão que sois uma cisterna vazia.

A falta de tempo não me permite abordar devidamente êste assunto. Não falei nada sôbre demorar-se em questões insignificantes; usar uma linguagem teológica estropiada; pregar a respeito de tudo, menos das Escrituras Sagradas. Não mencionei também a contribuição prestada pelo êxito superficial, ou como fracassar cultivando arrogância racial, nacional, denominacional ou social. Há algumas maneiras de fracassar no ministério que vós mesmos tereis de descobrir.

No entanto, embora seja possível fracassar ignominiosamente no ministério, sem realmente fazer fôrça, também é gloriosamente possível ser bem sucedido. Para consegui-lo, deveis estar dispostos a dedicar o melhor que tiverdes para vossa elevada vocação. Para um ministério de êxito, pode-se inverter a maioria das regras para o fracasso.

Após a sua ordenação, o ministro pode continuar aumentando sua capacidade intelectual e profissional por meio de métodos de estudo e de aplicação do que êle aprende. (O eufemismo usado para essa prática essencial é: “Programa de Educação Permanente.”) Êle pode adestrar-se na arte de pregar com poder, por meio de esmerado e diligente preparo e mediante cuidadosa atenção ao conteúdo, estilo e fundamento bíblico do que pretende dizer. Pode travar conhecimento como o seu povo e auxiliá-lo, sem tomar-se excessivamente organizado e mesmo sem negligenciar seu lar e sua família. Assim como o homem da bem-aventurança do salmista

— aquêle cuja fôrça está no Senhor dos Exércitos — tal pastor poderá transformar o Vale das Lágrimas em fonte de alegria.

Vossos mestres, o conselho de ordenação e vossos futuros colegas desejam sinceramente que tenhais um ministério de êxito!

O PROCESSO DO POLIMENTO

“Não é sem propósito que Deus envia provas a Seus filhos. Êle nunca os dirige de modo diferente do que escolheríam, se pudessem ver o fim desde o princípio, e discernir a glória do propósito que estão cumprindo, como cooperadores Seus. Sujeita-os à disciplina para humilhá-los, para levá-los, através de provas e aflições, a verem sua fraqueza e atraí-los para junto de Si. Quando clamam a Êle pedindo auxílio, Êle responde, dizendo: Aqui estou.’” — ELLEN G. WHITE, em Review and Herald, 7 de março de 1912.